quarta-feira, 29 de junho de 2005

Recordando Ferreira de Castro

Posted by Hello O autor de A SELVA faleceu há 31 anos
José Maria Ferreira de Castro, mais conhecido como Ferreira de Castro, nasceu a 24 de Maio de 1898, em Salgueiros, freguesia de Ossela, Oliveira de Azeméis, e faleceu no Porto, em 29 de Junho de 1974. Talvez com a alegria de ter vivido a Revolução dos Cravos, por que tanta ansiara. Órfão de pai aos 8 anos, aos 12 vê-se obrigado a emigrar para o Brasil, onde trabalhou num seringal, no interior da Amazónia, período que evoca, com cruel mas autêntico realismo, no seu mais apreciado romance, que foi e é A Selva. Quatro anos depois de viver nesse ambiente de inclemente semiescravatura, regressa a Belém do Pará, e ali vive pobremente. Em 1917, com apenas 19 anos, funda, com o seu amigo e compatriota João Pinto Monteiro, o semanário PORTUGAL, ao mesmo tempo que se entrega a uma intensa actividade literária e jornalística. Em Setembro de 1919 volta a Portugal, para se impor como romancista, sendo considerado, com o seu romance Emigrantes (1928), um precursor do neo-realismo. Depois, escreveu A Selva (1930), Eternidade (1933), Terra Fria (1934), A Tempestade (1940), a Lã e a Neve (1947), A Curva da Estrada (1950), a Missão (1954), o Instinto Supremo (1968) e Os Fragmentos (obra póstuma), entre outros trabalhos. Fernando Martins Uma página de Ferreira de Castro “Não levava já a ânsia de volver, como há nove anos, quando partira para o Brasil; desejava apenas ocultar em Lisboa a sua miséria e que nunca mais se lembrassem dele, que o esquecessem para sempre. A camioneta passou rente ao palacete do Nunes, que emanava para a estrada perfume intenso de rosas; parou junto à porta do Tavares, pela mala do correio, obrigando-o a dizer lá para dentro, com máscara improvisada, que talvez voltasse brevemente, que ia gozar uns dias a Lisboa e depois se estabeleceria lá ou regressaria, conforme resolvesse… Retomada a marcha e aliviado da obrigação de mentir, espraiou os olhos, em derradeiro adeus, pela freguesia. Veio-lhe, então, um desejo enorme de chorar – de chorar a sua vida inutilizada, o passado que não volveria, as ilusões que fora abandonando ao longo da áspera jornada. Sentia agora o irremediável, o tempo perdido, os anos em que se esgotara, avelhentando-se, correndo, correndo, atrás da quimera fugidia. A camioneta rodava velozmente, levando-o para o esquecimento, roubando-o à sua vida de fecundador da terra, para entregar, indefeso, vencido, a uma outra vida que era ainda, para ele, um enigma. Tudo passava lesto; tudo, casais, árvores e caminhos, se confundia, humildemente, na mansidão bucólica da tarde. De altivo, berrante, orgulhoso, só o palacete do Nunes, que enriquecera sem ir a nenhum país da América – que enriquecera com os que tinham ido e por lá ficaram, entregues aos acasos da sorte, ou haviam regressado pobres, desiludidos e gastos como o Manuel da Bouça!” (Últimos parágrafos do romance EMIGRANTES)

Sem comentários:

Enviar um comentário