segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Um artigo de Francisco Sarsfiel Cabral, no DN

PAZ
Já foi divulgada a primeira mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial da Paz (1 de Janeiro). Quem esperava um documento conservador, retórico e defensivo terá tido alguma surpresa. Bento XVI acentua a linha, que vem sobretudo de Paulo VI (mas João Paulo II continuou), de dar força às organizações internacionais, às quais manifesta "gratidão". Confirma a confiança da Igreja Católica na ONU, desejando-lhe uma reestruturação que a torne eficaz nesta era de globalização. E apela ao respeito pelo direito internacional humanitário, mesmo em situações de guerra, incluindo o combate ao terrorismo. Ora não é isso que está a acontecer em relação aos suspeitos de terrorismo capturados por forças dos EUA.
Esta mensagem condena as armas nucleares como meio de garantir a segurança dos países que as possuem. Bento XVI considera preocupante a actual subida dos gastos militares e do "comércio sempre próspero das armas", bem como o contínuo investimento na produção de armas e na pesquisa para criar novas. E propõe que sejam relançados os esforços de desarmamento.
Bento XVI aponta o niilismo e o fanatismo religioso ("hoje frequentemente denominado fundamentalismo") como inspiradores do terrorismo. E adianta "niilismo e fundamentalismo relacionam-se de forma errada com a verdade: os niilistas negam a existência de qualquer verdade, os fundamentalistas avançam a pretensão de poder impô-la com a força". Têm em comum o desprezo pelo homem e pela vida.
As palavras do Papa dirigem-se a todos e não apenas a um ou outro país. Mas é impossível não notar que elas vão contra os sentimentos manifestados por grande parte da chamada "direita cristã" norte- -americana. E divergem de muitas posições tomadas pela Administração Bush, que se apoia nessa direita. Será o Papa ouvido em Washington?

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