domingo, 31 de janeiro de 2010


Uma revolução democrática ou a vitória de extremistas?

«A queda da monarquia em Portugal, ocorrida há exactamente um século, não foi uma surpresa. O descontentamento com a evolução do regime que saíra da revolução liberal agudizara-se nas últimas décadas do século XIX - em particular após o Ultimato inglês de 1890 -, e a revolta falhada de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, fora um aviso de que a monarquia podia ser derrubada por um golpe militar.»

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Arte para começar este domingo


Van Gogh

Diocese de Aveiro: Colecta das missas para o Haiti

Só agora soube que neste  fim-de-semana, por proposta da Cáritas aceite pelo nosso Bispo, a recolha das ofertas nas celebrações destina-se ao Haiti. Quem não puder ou não tiver o hábito e a devoção para participar nas missas, pode, se assim o desejar, contribuir para a reconstrução do Haiti e para dar de comer aos milhares de desalojados e órfãos. Sejamos generosos.

FM

sábado, 30 de janeiro de 2010

HAITI: E tudo correu de forma excelente

Gerir a ajuda - Envolver quem precisa

“Não sabes a alegria que me deu todo este processo” – confidencia o Padre Serrano, coordenador do serviço social dos Jesuítas para o Haiti, em carta recente aos amigos. 
O processo referido diz respeito à descarga e distribuição da ajuda alimentar à população, após as peripécias do transporte de São Domingos para as localidades de destino.
“Uma alegria ligada a uma nova compreensão da situação, a uma referência muito concreta às pessoas, a uma nova forma de gerir a ajuda… Há que integrar as pessoas no próprio processo” – esclarece, emocionado e satisfeito. 
E para ilustrar a sua convicção, afirma: “Quando se amontoaram à nossa porta, recordo a voz e o rosto de Soucet, uma mulher vigorosa que exigia alimento, com irritação ostensiva. Recordo o meu temor perante tanta gente. Agora vejo caras amigas, pessoas com as quais se comparte e trabalha pela mesma causa… Agora temos segurança e protecção mais forte do que aquela que podiam brindar-nos as forças militares, temos o acompanhamento de quem pretendemos ajudar” – atesta, concluindo o seu precioso e comovente relato.
Gerir a ajuda, envolvendo os próprios necessitados, ouvindo-os e responsabilizando-os, reconhecendo as suas capacidades e valorizando-as, confiando no acerto da informação que chega e da que é transmitida – eis a proposta desafiante.
“Enquanto nos reuníamos para organizar a distribuição, um grande número de pessoas começou a dar murros na porta, pedindo alimento” – adianta aquele responsável que, de forma pedagógica, continua, “ suspendemos a reunião e pensámos no pior. Foi preciso chamar a polícia, mas a multidão não dispersou.”
E o Padre Serrano anota que, para se irem embora, foi preciso fazer a promessa de eu ir falar com eles, logo que pudesse, e de, no dia seguinte, lhes darmos da ajuda recebida.
“Nessa tarde tivemos uma excelente assembleia de moradores. Reconheceram ser necessário tempo para organizar a distribuição e nós verificámos que também eles deviam beneficiar dos bens chegados. Dei-lhes conta do nosso medo e dos sentimentos de insegurança.”
Garantiram que naquela zona seriam os garantes da ordem e da paz, organizaram-se para receber a ajuda e comprometeram-se a descarregar os camiões. 
“E tudo correu de forma excelente” – remata o coordenador do apostolado social dos Jesuítas para a zona das Antilhas.
Este modo de proceder está em profunda consonância com o pensamento social cristão que sempre descobre nas desgraças uma oportunidade de superação e de promoção dos atingidos. 
O “plano de reconstrução” do Haiti deve basear-se nos direitos humanos e ter em conta o princípio da subsidiariedade, valorizando as capacidades das pessoas e das suas organizações. Esta advertência é feita pelo representante da Santa Sé nas Nações Unidas, Dom Silvano Tomasi, que destaca como fundamentais os direitos: à vida, à nutrição, à agua, ao desenvolvimento, a uma esperança de vida adequada, a um trabalho digno. E acrescenta: “Estes direitos já estavam em grande medida ausentes”. 
A tragédia veio mostrar a sua falta, realçar a urgência da sua realização e indicar o caminho da superação: todos somos responsáveis uns pelos outros; cada um deve ser tido em conta nas suas aptidões e contribuir com o que pode; tem de haver quem coordene e impulsione as iniciativas adequadas às capacidades das pessoas e às exigências das situações. 

Pe. Georgino Rocha

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 169

PELO QUINTAL ALÉM – 6



A LARANJEIRA



A
Manuel de Mira e Maria Merendeira
Samuel e Silvandira
António da Rita



Caríssima/o:


a. É sempre com sensação repousante que me passeio por baixo das laranjeiras. O meu amigo Weber dizia que era preciso meter o nariz entre as folhas das plantas e respirar assim o oxigénio... Mas não é só, também o aroma das flores... e o zumbido das abelhas. E as memórias que saem destes troncos...

e. Não se plantavam laranjeiras nos nossos quintais. Escrevia o Padre Rezende, em 1940, que se ensaiavam os primeiros pomares...
Ali na nossa zona, foi o ti Samuel quem mais porfiou e conseguiu melhor êxito. Até me lembro que num Cortejo dos Reis levou uma laranjeira que arrancou e envasou! Bons tempos!
(Ficam para altura mais apropriada as aventuras dos gaios e dos melros que lhe rondavam o quintal e o espiavam para o golpe certeiro...)

Nesta altura de frio, surgia no ar o pregão:
- Laranjas de Miiiira! Laranjas de Miiiira!
Não me perguntem pelas laranjas, se eram doces ou azedas...
Eram palavras e imagens de encantamento: laranjas nunca vistas; Mira terra lá muito longe; e burro e carroça como nos apresentavam os livros!

Hoje podemos ver algumas laranjeiras pelos quintais e ouvir os queixumes de quem esperava pelos frutos; porém os químicos sorrateiros e a atrevida mosca mediterrânica adiantaram-se e apoderaram-se das promessas do ano...

i. Da laranjeira aproveitam-se as laranjas, o tronco e ramos, as folhas e as flores.

Era como fada boa quando oferecia um pau, guardado como tesouro e apresentado ao ti Manuel da Rita, o mago que do torno extraía o Pião!
As nossas monas a seu lado, triste figura! E a rijeza? As nossas, de pinho; aquilo era como se de azeite, moles que até as picadas alargavam; era cada lasca!...

E das flores? Deixem que nos falem as noivas!...

Crónica e um Professor: Passeio



Afinal ainda há pessoas altruístas
Por Maria Donzília Almeida

Foi numa daquelas tardes ensolaradas de domingo. A chuva e o vento em aliança cúmplice e de uma fidelidade mútua, a toda a prova, haviam dado umas curtas tréguas aos habitantes desta zona costeira.
Nem sequer podemos praguejar contra o mau tempo, pois ele está no seu tempo e no espaço que lhe compete. Seria mais preocupante se estivesse um calor de rachar, em pelo Janeiro. Tudo se quer no seu tempo, como ... pelo Advento, como lá diz o povo.
Este ar de graça do astro-rei originou um êxodo da cidade de Aveiro que veio desaguar a estas praias onde o farol ainda tem honras de atracção turística e é olhado com alguma pequenez!
Com esta enxurrada de gente à procura do seu raio de sol, era ver as esplanadas dos cafés a abarrotar de gente, a saborear uma bebida ou simplesmente a desfrutar do afago dos raios solares. Outras pessoas calcorreavam os passeios pedonais, vulgo passadiços, fazendo aquele recomendado exercício físico com a família por perto. Num ou noutro local, a tomar a bebida ou a brincar com os rebentos, sobre a relva, era ver os casais novos a partilharem momentos de bem-estar.
Com o ambiente agradável que um dia de sol proporciona, sentia-se na atmosfera evolar-se o aroma adocicado e quente da bolacha americana e das tripas. Neste dia, senti um desejo enorme, já que há muito tempo não saboreava o petisco.

Prémio Inês de Castro para Tolentino Mendonça

Poetas no interior da cultura


José Tolentino Mendonça é o vencedor do Prémio Literário  Fundação Inês de Castro 2009. No terceiro ano em que é atribuído, o prémio distingue a obra “O viajante sem sono”, publicado no final do ano 2009 pela Assírio & Alvim, de José Tolentino Mendonça.
Em declarações à Agência Ecclesia, o premiado afirma que “é sobretudo uma grande responsabilidade por aquilo que é o ofício da própria poesia”. Tolentino Mendonça sublinhou também o “investimento que isso representa em termos da vocação pessoal para a arte e para a criação”. O poeta e biblista recordou, ainda, “o contributo específico que os poetas são chamados a dar no interior da nossa cultura”.
A entrega do Prémio Literário  Fundação Inês de Castro 2009 acontecerá a 6 de Fevereiro, pelas 17 horas, na Quinta das Lágrimas em Coimbra, numa sessão em que estará presente a Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas.

Guimarães: Como Eduardo Lourenço reencontrou Portugal

Paço Ducal

«Visitar Guimarães fez com que Eduardo Lourenço tomasse "um banho de imersão pátrio". "Aqui vive-se um tempo muito particular, talvez o mais português dos tempos", sublinhou o ensaísta depois de percorrer as salas e claustros do Paço dos Duques de Bragança. E fez questão de conhecer o interior da Capela de S. Miguel, onde Afonso Henriques terá sido baptizado, e de ver de perto o castelo da cidade. O pensador esteve em Guimarães pela primeira vez aos 86 anos, no fim-de-semana passado, a convite da fundação que gere a Capital da Cultura de 2012. O motivo foi uma conferência sobre a Europa no âmbito da Capital Europeia da Cultura. O programa da Guimarães 2012 abriu assim com a presença de uma figura marcante do país, sinal da aposta na discussão acerca da construção europeia que vai ser central ao evento. Com uma vitalidade invejável, Eduardo Lourenço percorreu a pé as ruas do centro histórico, desconfortável com a atenção que lhe dedicaram os fotógrafos. Por ali diz ter "reencontrado Portugal". "Guimarães não me era familiar", confessou. Mas parece tê-lo conquistado, elogiando a "consistência arquitectónica" e o facto de estar perante uma "cidade jovem e cheia de futuro".»

No PÚBLICO de hoje

Mahatma Gandhi faleceu há 62 anos

Gandhi
Faz hoje anos que faleceu, em 1948, com 79 anos, Mahatma Gandhi. Ficou na história do seu país, a Índia, e do mundo como pacifista.
A sua vida é conhecida por todos os que assumem a defesa da verdade e a luta contra a injustiça de forma não-violenta. Exemplo raramente seguido pelo mundo civilizado.
Importa reflectir sobre a lição que nos legou Gandhi para uma sociedade mais pacífica.

HÁ QUATRO REVOLUÇÕES EM MARCHA


A humanidade sob ameaça

          de Anselmo Borges


Não há dúvida de que estamos a viver uma transformação prodigiosa do mundo, uma revolução talvez só parecida com a do "tempo-eixo", como lhe chamou Karl Jaspers.
Há quatro revoluções em marcha. Uma revolução económica, com a mundialização, que significa a concretização da ideia de McLuhan de que formamos uma "pequena aldeia" e a chegada ao palco da História de grandes países emergentes. Outra é a revolução cibernética, que, como disse Jean-Claude Guillebaud, faz nascer um quase-planeta, um "sexto continente". A revolução genética transforma a nossa relação com a vida, a procriação e pode fazer bifurcar a Humanidade: a actual continuaria ao lado de outra a criar. Também está aí a urgência da revolução ecológica, que, se a Humanidade quiser ter futuro, obriga a uma nova relação com a natureza. Sem esquecer o perigo atómico e do terroris- mo global.
Perante todas estas revoluções e face aos problemas que agora são globais, como a droga ou o trabalho, impõe-se, em primeiro lugar, pensar numa governança mundial. Depois, não sei de que modo o futuro será, como diz J.-Cl. Guillebaud, uma "modernidade mestiça", mas, para evitar o "choque das civilizações", impõe-se o diálogo intercultural e inter-religioso. Há anos que o famoso teólogo Hans Küng se não cansa de repetir que, sem paz entre as religiões, não haverá paz entre as nações, e essa paz supõe o conhecimento e o diálogo entre as religiões.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Navio-Museu Santo André



O Navio-Museu Santo André foi um campeão da pesca do bacalhau. Descansa agora como museu vivo da saga dos bacalhaus, junto ao Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré. Esta visita virtual não dispensa uma visita real.

Eduardo Lourenço: Cada Papa traz “a sua novidade e liberdade”

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Eduardo Lourenço

O diálogo de Bento XVI com Paulo VI
na «Caritas in Veritate»


Na encíclica «Caritas in Veritate», o ensaísta Eduardo Lourenço nota uma “espécie de diálogo entre Bento XVI e Paulo VI”. Organizada pela Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) realizou-se, ontem (28 de Janeiro), uma conferência sobre a última encíclica de Bento XVI.
Aos jornalistas, o ensaísta realçou o “estilo claro e transparente, mas semeado de citações rituais que são ao mesmo tempo intemporais e que podem aplicar-se ao presente”. Cada Papa traz “a sua novidade e liberdade” – disse.
Na sua partilha com os participantes reunidos num dos auditórios do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em Lisboa, Eduardo Lourenço começou por referir que “poucos actos de Bento XVI, o Papa teólogo, suave e elegante, que ocupa a cadeira de Pedro, me impressionaram e tocaram tanto – pelo seu carácter original e profético – como os do momento inaugural do seu pontificado” – frisou.
A hermenêutica de Bento XVI “inspira-se em Martin Heidegger” – disse Eduardo Lourenço. O actual Papa é contemporâneo, “discípulo ou até condiscípulo de vários teólogos que dedicaram – como Henri de Lubac – ao humanismo ateu memoráveis estudos e não meditou menos sobre essa nietzschiana «morte de Deus»”.
Bento XVI é sensível – “e naturalmente preocupado – com «o espectáculo» da indiferença, alheamento ou desertificação religiosa” verificadas no Ocidente. Na sua conferência sobre a encíclica «Caritas in Veritate», o professor universitário afirma que “espanta que uma época tão ensombrada como a nossa – embora sem o carácter trágico do último século -, Bento XVI aborda todas as questões numa tónica de serenidade intemporal”.

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Antiguidades na Figueira da Foz



Ontem visitei na Figueira da Foz uma loja de antiguidades. Não tanto para comprar, que a minha bolsa não daria para aquilo de que gosto, mas sobretudo para apreciar. Não sei explicar o porquê destes meus gostos, mas que sinto um certo prazer, sinto. Móveis, louça, livros, quadros, prata e ouro, arte sacra, postais antigos de personalidades, bustos. De tudo um pouco, ou muito, ali pude apreciar e... desejar. Quem sabe se um dia qualquer, mesmo longínquo, não poderei dar-me ao luxo de comprar qualquer peça, artística, daquelas de encher o olho!

Para a história do Mercado da Gafanha da Nazaré

Comecei hoje a registar aqui algumas notas avulsas para a história do Mercado da Gafanha da Nazaré. Quem possuir elementos interessantes, pode colaborar. Agradeço.

Ontem, o Papa recordou o labor de S. Tomás de Aquino

S. Tomás de Aquino

Bento XVI pede às Academias Pontifícias
que ajudem a Igreja
a dialogar com a cultura contemporânea

(...)
«No encontro, que ocorreu no dia em que se evoca a memória de S. Tomás de Aquino, o Papa assinalou que o frade dominicano representa um modelo inspirador para a acção e para o diálogo com as culturas.
Bento XVI recordou o labor de S. Tomás no diálogo com o pensamento árabe e judaico, bem como na conservação da tradição filosófica grega, “produzindo uma extraordinária síntese teológica, harmonizando plenamente a razão e a fé”.
O Papa instou as Academias a converterem-se “mais do que nunca em instituições vivas e vitais”, que respondam às exigências da sociedade e da cultura e às necessidades da Igreja, a fim de promover “um autêntico humanismo cristão”.»

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Já temos frio, vento e chuva para três anos


A árvore ainda adormecida continua corajosa, apesar de tudo, e não teme o sol, que tarda em aparecer. E também não teme o vento frequente na Figueira da Foz. Espera paciente que o Parque das Abadias retome a vida verdejante e fresca que não deve tardar. Assim o inverno corra para outras paragens e nos deixe em paz. Já temos frio, vento e chuva para, seguramente, uns três anos.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

“Portugueses sobrevivem apesar de Portugal

Circo, feira de vaidades
ou o caos que se aproxima?

Em entrevista breve, por motivo do Prémio Pessoa, o bispo do Porto disse que “Os portugueses sobrevivem apesar de Portugal”. Sempre num contexto sócio-económico, diz ainda que “Portugal é um país crítico”. E acrescenta: “Portugal, como estudo de caso, é uma coisa apaixonante, porque é um país que não tinha nenhuma razão para subsistir e subsiste” (Expresso, caderno “Actual” 18-12-2009).
Não vi reacção, positiva ou negativa, a estas palavras de opinião livre de uma pessoa culta e atenta, pessoa que, neste momento, não falta, na comunicação social, quem a traga, frequentemente, à ribalta.
Guardei o jornal e recordei o que fora dito, para poder, com o dedo na mesma tecla, opinar também sobre o palco político que se nos abre e convida, sobremodo, a reflectir outras facetas deste “estudo de caso” e deste “país crítico”, dado que se vão gerando e disseminando preocupações em catadupa.
O panorama partidário é preocupante, como está à vista: os interesses pessoais sobrepõem-se aos problemas comuns e urgentes; na casa desarrumada, à espera de quem aí ponha ordem, surgem novos arruaceiros; as muitas contradições, que ninguém quer assumir, multiplicam-se escandalosamente; o prestígio pessoal e o desdém antecipam e perturbam, sem razões de estado, acontecimentos de cariz público, sem que se atenda às consequências; desfazem-se referências necessárias em troca de palavras vãs, que já ninguém respeita; os debates políticos vão se tornando uma náusea e só favorecem o narcisismo de alguns intervenientes, deliciados por se ouvirem a si próprios; aos problemas vitais responde-se com floreados, em vez de dar razões convincentes e de tomar decisões que levem a soluções esperadas.

O holocausto é o lado mais negro da alma europeia».



Auschwitz, a dor da memória

1. Celebra-se 65 anos do momento da abertura libertadora das portas do holocausto. A 27 de Janeiro de 1945 o mundo acordou para a confirmação do mais horrendo atentado contra a natureza humana. Quem visita Auschwitz – um milhão de visitantes por ano – faz silêncio e medita na condição humana. Nestes dias, aquelas imagens a preto-e-branco que parecem remontar a séculos atrás, fazem-nos sentir que não foi assim tão longe no tempo nem no espaço. 65 anos foi “ontem”, e foi “aqui perto”, que o inqualificável crime contra a humanidade foi meticulosamente planeado; a médio prazo num nacionalismo de um povo, a curto prazo numa “solução final” aplicada silenciosamente para quem “o trabalho liberta” (esta a frase de acolhimento à entrada do campo).

Um poema de Orlando Figueiredo



a cegueira aproxima-se
como uma águia branca

os olhos
lembro-me dos teus
e da casa velha
e nomes
antigos
feitos de ruínas
e sal

e da festa na casa velha
mergulhada
na tinta
das letras

e do fumo na casa velha

os olhos
lembro-me dos teus
e do sorriso
das gaivotas
quando passeávamos
de mãos dadas

e do gato cego
que me lambia as mãos
com a doçura
de quem sofre
e não sabe


orlando jorge figueiredo

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Um livro de Ângelo Ribau: RETALHOS DAS MEMÓRIAS DE UM EX-COMBATENTE


O Ângelo Ribau acaba de editar um livro — RETALHOS DAS MEMÓRIAS DE UM EX-COMBATENTE. Não é uma daquelas edições que se compram nas livrarias por bom dinheiro e que, quantas vezes!, apetece atirar para o caixote do lixo. É simplesmente um livro para os seus mais íntimos.
Quem conhece o Ângelo sabe que ele sofreu, como tantos outros portugueses, a brutalidade da guerra. Dela fala sempre que a ocasião o proporciona, ao jeito de quem quer afugentar chagas que lhe marcam a alma. E talvez por isso mesmo é que ele escreveu estas páginas, na esperança de que, por esta forma, possa fechar à chave, em baú inviolável, revoltas cravadas na memória como carraças.
Começa este seu trabalho, que acompanhei ao longo do tempo, dirigindo-se «Àqueles que lutaram mas, por eles, nem os sinos dobraram. Tudo à Pátria deram, e dela nada receberam.» E só depois o dedica “Aos seus entes queridos, que sem culpa formada, sofreram como poucos terão sofrido as agruras da Guerra de Angola, sem sequer lá terem estado fisicamente.»
Em Angola, onde lutavam mais dois irmãos, o Ângelo sentiu, na pele e no espírito, a dureza provocada por opções políticas do «orgulhosamente sós», políticas essas que enlutaram famílias sem conta nesta Pátria multissecular.
Não se julgue, porém, que este livro nos vem só com histórias tristes, porque o humor de quando em vez alegrava a malta. Li ou reli, com gosto e com sentido de meditação, as memórias deste amigo que foi à guerra e que pegou nela para nos dizer como se sofre em nome de causas injustas.

O Desporto pode fazer bons vizinhos




A força educativa do desporto


1. Está em fase final o campeonato africano de nações, a decorrer em Angola. Após o atentado inicial em Cabinda contra a selecção do Togo, o jogo passou a ser jogado dentro do campo de futebol. A este caso contra a selecção do Togo podem-se juntar tantos outros onde o desporto é usado para outras finalidades nada desportivas. Pelas multidões que se juntam, pela representatividade dos países e, por isso, pela força sócio-política que o desporto tem, ele é usado desmedidamente como bandeira ora de orgulho nacional, ora de combate intolerante. Não passam muitas décadas em que no centro da própria Europa as modalidades dos jogos olímpicos ou os campeonatos de futebol, quando havia paz e segurança para se realizarem, esses torneios espelhavam bem as lutas “frias” entre os países em jogo.

Alexandre Cruz

Praia da Vagueira à espera do Verão



Passei hoje pela Praia da Vagueira. Não estava deserta, porque ali há alguma vida, mas estava muito longe da época balnear. É normal. Mas este barco do mar, próprio da arte da xávega, mostra bem como se descansa, atrás do barracão. Lá há-de vir  o tempo em que enfrentará, com galhardia, as ondas do oceano.

Por uma escola mais autónoma e plural



No seu comentário final, Eduardo Marçal Grilo, antigo Ministro da Educação e actual Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, sublinhou que hoje caminhamos para uma escola diversificada. “Cada escola, ou agrupamento de escola, tem o seu projecto educativo. E esse projecto não é um plano de actividades. O projecto educativo é uma ideia do que se quer que os alunos aprendam”, observou.
Marçal Grilo afirmou que a escola é “construída para os estudantes”, não é “dos professores, dos pais, da Câmara Municipal ou da comunidade”.
“É aos pais que cabe a educação pelos filhos”, defendeu.
12 anos depois da lei da autonomia das escolas, o antigo ministro da educação disse que “deve caminhar-se, tão rápido quanto possível, para a autonomia das escolas. Mesmo com riscos”.
Guilherme d’Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas, também antigo ministro da educação, falou da importância do pluralismo no sistema educativo, afirmando que “uma das expressões da crise social tem a ver com a ideia de que a escola está abandonada”.
“O professor vê-se muitas vezes obrigado a executar funções que não lhe competem, porque o professor não é o único educador. Ele é o profissional da educação mas a sociedade e a família têm uma função fundamental”, precisou.
No início dos trabalhos, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, destacou "a importância e a urgência em centralizar as competências de uma escola de prestígio". O Arcebispo de Braga realçou o "papel específico da Igreja" que deve ser o de "comunicar o pluralismo educativo”.
Neste sentido "a Igreja tem o direito para apresentar a sua especificidade, mas o dever de dar credibilidade aos projectos", pois a " escola é o primeiro espaço de esperança para a vida".

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Editorial do i: Um orçamento que não se lê

Ideia três, travar salários e admissões na função pública: esta fobia de congelar os salários da função pública – que levará sindicatos para a rua – não deveria ser usada apenas em momentos de grande aflição. O que afecta as contas públicas é a existência de funcionários que não trabalham – não a existência de salários ou dos próprios funcionários. Olhar remunerações de pessoas como um problema é supor que uma dieta começa pela comida – e não pelo gordo. Seja como for, a ideia é fácil e penaliza os mesmos – ainda que se saiba que fazer crescer estes salários é impossível para um país que quase não tem dinheiro para existir.

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Quem semeia tempestades não tem direito a bonanças


A sorte também
se constrói


1. Poderão existir determinadas situações em que se pense que só os outros é que têm sorte e que o próprio não… Essa ideia das sortes ou dos azares parece-nos reflectir uma visão menos correcta daquilo que são as referências de compromisso que haverão de presidir os caminho diário. Diz um pensamento que «a sorte protege os audazes», e pode-se acrescentar que a sorte é amiga da atenção zelosa e persistente e inimiga do descuido e do desleixo. O ditado que diz que «quem semeia ventos colhe tempestades» também ajuda a compreender a necessidade de sempre e cada dia, nem que custe (será o que lustra!), viver e semear os grandes valores assentes na bondade, no estímulo à dignidade e ética, no apego constante à responsabilidade de ser e fazer em cada momento o melhor possível.

Alexandre Cruz

Costa Nova Antiga




COMO NASCEU A PRAIA
DA COSTA NOVA DO PRADO

Uma Costa Nova denuncia a existência de uma Costa Velha. Documentos históricos relatam que os pescadores de Ílhavo estabeleceram suas Companhas de pesca do alto mar na Costa do Norte, em São Jacinto. A abertura da Barra Nova de Aveiro em 3 de Abril de 1808, barra artificial, foi, pela sua má localização, a causa do assoreamento da orla marítima da praia de São Jacinto, verdadeira calamidade que obrigou as Companhas de Ílhavo a transferir os seus assentos para as areias ao Sul do paredão da Barra, pois ali se tornava impraticável o exercício da pesca.




Desta emergência do abandono da Costa Velha pelas Companhas dos pescadores de Ílhavo surgiu, para estas, a imperiosa necessidade de procurarem sítio adequado onde pudessem trabalhar. O ilhavense Luís dos Santos Barreto foi o primeiro arrais a deixar a assoreada Costa do Norte e a estabelecer-se na Costa do Sul, assento da sua Companha, cujo local já tinha de antemão escolhido e que designou com o nome de Costa Nova, que, afinal, era um Enclave, pois esta zona não pertencia a Ílhavo.
Toda a orla marítima entre Ovar e Mira era pertença territorial e exclusiva do concelho de Ovar. Só em 1855, um decreto de 24 de Outubro, anexou ao domínio dos concelhos da Feira, Ovar, Estarreja, Aveiro, Ílhavo e Vagos, a faixa litoral marítima confinante com a terra firme pertencente a cada um destes seis concelhos.

Dinis Gomes

Aprender as lições do passado para preparar o futuro

 



Comemorar o passado a pensar no futuro

O regime republicano completa um século em Portugal. Atravessou períodos difíceis e no entanto sobreviveu. Nem Salazar o eliminou. Justifica-se, por isso, celebrar cem anos de República.

Mas, celebrar como? Certamente não evocando o passado com espírito saudosista ou propagandístico. Estudar a implantação da República e os anos que se lhe seguiram é importante. Mas numa perspectiva crítica e plural e, sobretudo, aprendendo as lições do passado para prepararmos um futuro melhor.

Francisco Sarsfield Cabral

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O divino não se manifesta no furor dos cataclismos, mas nos pequenos gestos que alteram a vida de quem nos rodeia


O Divino nas ruas

O nosso tempo tem grandes pensadores e esperamos que o terramoto no Haiti desperte as suas reflexões. Até porque os nossos contemporâneos merecem mais do que uma reportagem a “constatar” que o divino já não mora ali.

Em boa verdade, é quase inevitável perguntar por Deus nestas circunstâncias, mas não é honesto esquecer, com essa pergunta, aquilo que é da responsabilidade de cada ser humano. O divino não se manifesta no furor dos cataclismos, mas nos pequenos gestos que alteram a vida de quem nos rodeia, nesta aldeia global em que ninguém é um estranho.
Não será fácil perceber o que se passa no coração dos haitianos. Lembro, contudo, que muitos dos que têm sido salvos dos escombros atribuem a sua sobrevivência a uma força divina que, de uma forma ou outra, sentiram presente ao seu lado, quando a esperança desaparecia. Seria tentado a confiar mais em quem saiu vivo deste verdadeiro inferno do que num qualquer repórter demasiado lesto a expulsar o divino da vida de quem ainda sofre, ama e espera num futuro melhor. Porque há coisas que não se podem contabilizar.

Octávio Carmo




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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Busto da República Portuguesa para enganar perseguidores



Uma vida já um pouco longa tem sempre muitas histórias. Nem todas, porém, vêem a luz dos nossos mundos, porque, entretanto, outras mais recentes se tornam mais presentes.

Quando abordei aqui, há dias, as celebrações, durante este ano, do centenário da República Portuguesa, falei dos ideais republicanos, mas não omiti as perseguições que na altura se sucederam aos que ousaram pensar diferente.
O Ângelo Ribau veio com um comentário oportuno que reza assim e ao qual respondi que conhecia muito bem a história, se calhar contada por ele:




Amigo Fernando:


Às vezes vale a pena dar-te um "toque"...
Já agora mais uma achega, que talvez a desconheças. Eram tantos os ataques à Igreja e seus membros, que alguns para não serem incomodados, implantavam nos seus telhados, bustos com o símbolo da república. Já reparaste em dois desses bustos que estão no telhado da casa que foi do nosso Prof. Ribau? (Manuel Joaquim Ribau). Foram lá postos com esse fim. Como sabes, para ser padre só lhe faltavam as "Ordens de missa". Daí a perseguição de que começou a ser alvo. Colocados os bustos, não voltou a ser incomodado...
Esta história foi-me contada pelo próprio, uma tarde em que foi à nossa casa buscar um bocado de "bôla" de que gostava muito. E adivinhava sempre quando a minha mãe cozia... A bôla quente era melhor, dizia ele. Messe dia estava bem disposto, e eu que andava com ela ferrada, fiz-lhe a pergunta sobre os bustos.
E a resposta aí está...

Ângelo Ribau

Eu conhecia realmente a história há muitos anos, mas estava sentada num canto da memória, à espera de um "toque". Obrigado, meu caro.
Quem sabe mais histórias dessas?
Um dia destes fui tirar o retrato ao busto feminino da República Portuguesa. Um amigo, ao ver-me a olhar para o telhado, quis saber o que é que eu estava a mirar. Perguntei-lhe se sabia que bustos eram aqueles, que ali estavam ao seu lado há tanto tempo. Não sabia, nem fazia a menor ideia. Adiantou que seriam decorações dos telhados, muito habituais há anos.  Expliquei-lhe. Ficou admiradíssimo. Aqui ficam os retratos para os meus amigos apreciarem...

Fernando Martins

Ensaio de José Eduardo Agualusa, no i de hoje: O Príncipe Perfeito

No meu último romance, "Barroco Tropical", esforcei-me por expor a forma como, em regimes totalitários, o medo vai pouco a pouco corrompendo as pessoas, mesmo as melhores. O medo é uma doença contagiosa capaz de destruir toda uma sociedade.

Mais extraordinário é perceber como um regime totalitário consegue exportar o medo. Não já o medo de ir para a cadeia, é claro; ou o medo de ser assassinado na via pública durante um suposto assalto. Trata-se agora do medo de perder um bom negócio. Do medo de ofender um cliente importante.
Ver dirigentes políticos portugueses, de vários quadrantes ideológicos, a defenderem certas posições do regime angolano com a veemência de jovens aspirantes ao Comité Central do MPLA seria apenas ridículo, não fosse trágico.
Alguns deles, curiosamente, são os mesmos que ainda há poucos anos iam fazer piqueniques a essa espécie de alegre Disneylândia edificada pela UNITA no Sudeste de Angola, a Jamba, vestidos à Coronel Tapioca, e que apareciam em toda a parte a anunciar Jonas Savimbi como o libertador de Angola.

 
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Responsável europeu diz que Gripe A foi o maior escândalo médico do século

Wolfgang Wodarg, presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, diz que a Gripe A foi uma falsa pandemia e que é “um dos maiores escândalos médicos do século.”

A ser verdade, que mundo é este?



República: D. Manuel Clemente diz que Afonso Costa despertou católicos



 
Lei da Separação gerou
reacções contrárias
à intenção do legislador
 
 



Afonso Costa


Contrariando as previsões de Afonso Costa, a “Lei da Separação (1911) despertou nos católicos uma vitalidade insuspeitável” – disse D. Manuel Clemente, bispo do Porto, na primeira sessão de 2010 do Seminário «Religião, Cristianismo e Republicanismo». Promovida pelo Centro de Estudos de História Religiosa da UCP, esta iniciativa integra-se no Programa Oficial das Comemorações do Centenário da República.
Aos participantes no seminário, o bispo do Porto falou sobre a «A vitalidade católica no contexto da República». Nos anos seguintes à Implantação da República (5 de Outubro de 1910), a resistência do clero foi apoiada pelos cristãos. Reunidos em Santarém, a 10 de Julho de 1913, os bispos lançam um apelo aos católicos. O chamado «apelo de Santarém» alterou o panorama sócio-religioso da sociedade portuguesa.“Defesa e afirmação da Igreja; catequização e restauração da sociedade portuguesa com o contributo da Igreja” foram as linhas mestras que marcaram o catolicismo português no primeira metade do século XX. A “radicalização de Afonso Costa (pasta da Justiça e Cultos) não afastou os católicos. Pelo contrário deu-lhes força” – realçou o historiador e bispo do Porto, na sessão realizada, dia 21 de Janeiro, na Universidade Católica. A Igreja defendia a separação do Estado, mas “não neste quadro”.


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domingo, 24 de janeiro de 2010

Festa no Santuário Diocesano de Schoenstatt



Irmã Heloísa


Irmã Lúcia


Irmã Cecília

Para uma pessoa ser feliz,
tem de seguir a sua vocação

«Um jubileu é celebração da experiência de acolhimento da Palavra proclamada, rezada, vivida e testemunhada», mas é também «proclamação da alegria e certeza da bênção de Deus», afirmou D. António Francisco dos Santos, na eucaristia de acção de graças celebrada hoje, no Santuário de Schoenstatt. Três Irmãs de Maria — Heloísa, Lúcia e Cecília — festejaram a sua entrega a Deus, a primeira há 50 anos e as duas últimas há 25.
Dirigindo-se às Irmãs, em especial, referiu que é com os olhos em Cristo que podem «ver mais longe» e ser «construtoras do futuro», na certeza de que um jubileu «ilumina o vosso passado e vos abre horizontes para a missão, que consiste em anunciar a Boa Nova».
Em nome das Irmãs que festejaram os seus jubileus, a Irmã Heloísa explicou, no final da missa, a sua caminhada vocacional. Com a emoção sempre presente, contida umas vezes e outras vezes manifestada, referiu que «cada um de nós tem a história da sua vocação» e que foi grande coincidência celebrar os 50 anos da sua entrega a Deus, neste Ano Sacerdotal e numa altura em que também se comemora o centenário da ordenação sacerdotal do Padre Kentenich.

26 mini-repórteres estreiam acesso ferroviário ao Porto de Aveiro






Uma  equipa de 26 mini-repórteres, com idades compreendidas entre os sete e os 16 anos, coordenada por Fausto Correia, viajou ontem, sábado,  em máquina cedida pela FERROVIAS (máquina Estabilizadora Dinâmica de Via HTT TS-50), empresa que, a exemplo do que sucedeu com a REFER e com a NAVALRIA, se associou à iniciativa “Mini-Repórteres do Porto de Aveiro”.

Os meus livros antigos: OS FAMINTOS de João Grave




Hoje apresento mais um livro antigo da minha biblioteca. Trata-se de OS FAMINTOS — Episódios da vida popular, de João Grave, membro da Academia das Ciências de Lisboa. Esta terceira edição, com data de 1920, é da responsabilidade da Livraria Chardron, de Lélo & Irmão, do Porto.
Diz o autor, que este livro foi um romance de estreia, havendo nas suas páginas «uma frescura de sentimento e uma sinceridade de intuitos» que lhe parecem «incontestáveis».
João Grave nasceu em Vagos em 11 de Julho de 1872 e faleceu no Porto em 1934. Foi escritor, jornalista e director da Biblioteca Municipal do Porto.

Confraria Gastronómica do Bacalhau continua a promover o nosso Fiel Amigo




A Confraria do Bacalhau recebeu
mais de duas centenas
de confrades nacionais, espanhóis e franceses




O XI Capítulo da Confraria Gastronómica do Bacalhau teve início na Câmara Municipal de Ílhavo, no sábado, 23 de Janeiro, com a concentração das Confrarias e a recepção no Salão Nobre, onde usaram da palavra o Grão Mestre da Confraria do Bacalhau e Ribau Esteves, Presidente da Câmara, para saudar as Confrarias presentes, enaltecendo o espírito que anima estas instituições que se empenham na defesa e preservação das gastronomias nacional e regionais.
 A “Patanisca de Honra”, confeccionada pelo cozinheiro Jorge Pinhão, lembrou a todos os convidados que estavam na terra do bacalhau. Às 11 horas, na Capela de Nossa Senhora do Pranto, celebrou-se a missa solene, presidida por D. António dos Santos, Bispo Emérito da Guarda e antigo pároco de Ílhavo, tendo animado musicalmente a celebração a Música Nova de Ílhavo.
No Hotel de Ílhavo foi inaugurada uma exposição filatélica do ilhavense e docente da Universidade de Aveiro, Manuel João Matias, subordinada ao tema “Faina Maior” e de pintura do Confrade do Bacalhau e antigo Capitão da pesca, Manuel Correia.
O almoço teve como ementa derivados de bacalhau (pataniscas, bolos de bacalhau e carinhas), chora, e Bacalhau à Confraria, de autoria do Confrade Chefe Silva

PÚBLICO: Crónica de Bento Domingues



(Clicar na imagem para ampliar)

Para começar este domingo, a visita de um amigo emigrante


Alberto Margaça



Alberto Margaça é um dos muitos gafanhões emigrantes espalhados pelo mundo. Vibra sempre quando se fala da terra que o viu nascer, ali à beira da Escola da Cambeia, que fica no Bebedouro, Gafanha da Nazaré. Esta escola herdou o nome que tinha, na chamada escola da Ti Zefa.
Pois o Alberto, com quem gosto de conversar, teve a gentileza de me visitar ontem. Fálamos dos seus 36 anos de Canadá e da maneira como, longe da Pátria, os nossos emigrantes mitigam as saudades. Da nossa conversa vai sair, no próximo Timoneiro, a entrevista que lhe fiz. Para já, contudo, fica a sua paixão pela música popular portuguesa, que o levou a criar um grupo musical, Searas de Portugal. Deste meu recanto, aberto ao mundo, aqui fica o meu abraço para todos os emigrantes, com votos, também, de que o Alberto faça boa viagem de regresso ao Canadá.

sábado, 23 de janeiro de 2010

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 168

PELO QUINTAL ALÉM – 5


Ti Sarabando com Ti Mar'Joana

O PASTO

A
Ti Sarabando
e a sua Mar'Joana ( Maria Joana)

Caríssima/o:

Hesitei no título: erva... pasto...
Vendo bem as coisas, optei por “pasto”; “erva” nos dias que vão passando até nos dicionários se lhe junta outra conotação muito afastada daquela que nos levava junto dos animais para os alimentar...
Os tempos são outros e não apenas o sentido das palavras se alterou...

a. Pelo nosso quintal há muita erva mas não da que se criava com a sementeira e a adubação abundante para se cortar e levar para os currais das vacas, dos coelhos, dos porcos. Agora não se criam animais e a erva nasce sem ser semeada!

e. Também pelas muitas terras da nossa Gafanha que é da erva que se semeava depois da apanha do milho? Não se vê...
Naqueles tempos, as terras eram limpas de felgas e melhãs; logo “adubadas” com esterco dos currais. Depois deste espalhado, lançavam-se à terra as sementes de cevada, centeio ou aveia. A seguir, margeava-se o terreno.
Parte destas sementeiras destinavam-se a dar grão, mas a grande maioria serviria de alimento para o gado na invernia.
Era ver então como, foicinha na mão, ah!, corta que corta, se enchia a carroça ou ajeitava o molho que se levaria à cabeça ou aos ombros.

i. Quando a economia de subsistência era rainha, tudo se aproveitava. Destas plantas, os do nosso tempo se lembrarão, as folhas e os caules verdes iam alimentar o gado. Das searas, as paveias eram levadas para a eira, malhadas, ensacava-se o grão; a palha ia para os colchões, para a cama dos animais e, por vezes, para a manjedoura.

o. Directamente para a saúde, nada consta; convenhamos, porém, que muitos considerandos positivos se poderiam acrescentar sobre o equilíbrio fisiológico e emocional ...

u. E aqui se agiganta a figura do Ti Sarabando.

A IGREJA NO HAITI




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Jornal i: A pobreza não tem ideologia

O problema de procurar respostas para a pobreza é acreditar que numa delas está a solução. E procurar na ideologia esse bilhete premiado

Há 2 milhões de pobres em Portugal. Isto quando se adicionam apoios sociais do Estado aos seus fracos rendimentos: sem subsídios, são 4 milhões de portugueses que vivem com menos de 360 euros por mês. Impressionante? Estes números não servem para nada. Isso: não servem para nada - a frase, dura como ácido, valeu um prémio Nobel a Amartya Sen.


Para este indiano conhecido como a Madre Teresa da Economia, a pobreza não se afere pela existência de um ou mais dólares na carteira de cada um. O dinheiro importa, claro, mas para medir as necessidades que não se conseguem pagar com esse dinheiro. Parece a mesma coisa, mas não é: o que Sen mede é aquilo que cada pessoa consegue atingir com determinado nível de rendimento. Há gente a quem a falta de dinheiro não impede de se tornar rica - como existem crianças que nascem ricas e acabam pobres. Porquê?

A resposta valeu o prémio Nobel da Economia a Amartya Sen em 1998, mas nem ele ficou satisfeito com ela: a pobreza ou a ausência dela depende das circunstâncias em que vive cada pessoa, da sua genética, da sorte, dos seus pais, do clima, da roupa que usa, da voz que tem, das emoções que transmite e de um conjunto impressionante de outras possibilidades que salvam uns mas condenam outros.


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As sociedades humanas não podem subsistir sem o exercício do poder


Amor que serve

'Potestas' e 'auctoritas'



Mesmo não entrando em tecnicismos, esta distinção que os romanos faziam entre potestas e auctoritas pode ser fundamental, concretamente para os tempos que atravessamos.
Claro: há muitas formas de poder, desde os órgãos de soberania ao poder da moda, e Max Weber, por exemplo, distinguiu vários tipos de poder: legal, carismático, tradicional. Mas, aqui, poderíamos dizer, ainda que simplificando muito, que a potestas - vem de potis, com o significado de senhor de, que exerce o poder sobre - tem a ver com o poder no sentido institucional. Assim, os magistrados têm poder, os presidentes de câmara têm poder, os deputados, os bispos, os ministros, os presidentes de junta de freguesia, os polícias, os pais, os padres, os generais, os professores... têm poder. As sociedades humanas não podem subsistir sem o exercício do poder. Há sempre o poder enquanto domínio para que os grupos possam viver organizadamente e sem violência.

Para começar este sábado, poesia de Eugénio Beirão





“FINJO QUE SOU POETA”

Finjo que sou poeta
e construo flores de palavras
que uso na lapela.
Mas poeta eu não sou.
Assomo apenas à janela
a contemplar os astros;
e com luminosos traços
ensaio dizer o deslumbramento.

Eugénio Beirão
In Os Dias Férteis

Nota: Sobre o livro Os Dias Férteis, que ando a ler, hei-de publicar aqui, um dia destes, algumas reflexões. Como conheço o autor e as suas diversas capacidades literárias e culturais, adianto que precisa de ser mais lido.
FM

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

350 mil entradas no Pela Positiva

Como facilmente se pode ver, o meu blogue Pela Positiva acaba de registar 350 mil entradas. Motivo para saudar todos quantos, dos mais diversos pontos do mundo, entraram em sintonia comigo. Em sintonia pelo espaço, que não totalmente pelas ideias, como decerto se compreenderá. Enquanto tiver saúde e forças, já que determinação me não falta, por aqui estarei ao sabor da maré da Ria de Aveiro, que comanda os nossos humores.

Um abraço para todos

Fernando Martins

TÁCTICAS NA POLÍTICA

A política é mais complexa do que o futebol. Penso eu, claro. E porque é complexa, usa imensas tácticas em tudo. Umas que percebemos e outras que nunca descobriremos.  Vasco Pulido Valente, a propósito das negociações em curso para viabilizar o Orçamento do Estado, aponta duas tácticas.

No integrismo ou no igualitarismo não há diálogo



Ecumenismo e integrismos

1. Se formos elaborar um estudo exaustivo, mesmo que numa análise do campo exterior, a origem das religiões revela-se sempre imensa de ser universalista e totalizante, dador de sentido à existência de cada um e de todos. Nessa análise, na generalidade, detectar-se-ia uma frescura de interiorização e universalização capaz da inclusão das múltiplas diversidades e visões. Com o crescer e com o necessário realismo, como é natural, vem a procura de regulação e enquadramento, um estabelecer de balizas de ideias e de compreensões práticas, facto que, a partir de uma determinada racionalidade (porventura codificada), pode levar a excluir as diferenças, fazendo crescer a dura e crua semente do integrismo, fanatismo, fundamentalismo.


Crónica de um Professor: Já faltou mais para o equinócio da Primavera! Graças a Deus!



O Tempo

Quando não há outro assunto de conversa, fala-se do tempo. Entre os Britânicos, é assunto recorrente, quando a intimidade das pessoas não lhes consente outro tema de conversa. É suficientemente abrangente para tocar a todos e está sempre na ordem do dia. O tempo que fez, o tempo que faz e o tempo que se espera, cabem sempre nos interesses e no conhecimento de cada um.
Isto acontece quando o tempo é comedido e não extravasa os limites que lhe são atribuídos. No momento presente, é tema central de muitas conversas, digamos até que anda nas bocas do mundo, pelos excessos que tem cometido. Basta lembrar as cheias que têm acontecido no Brasil, uma calamidade, nos Estados Unidos, os nevões do norte da Europa e ultimamente os abalos telúricos no Haiti. Todos os dias nos chegam as imagens pungentes dum povo sofredor que está, neste momento, a tentar reerguer-se perante a catástrofe. É chocante, deprimente a exibição da tragédia humana que assolou um povo, já tão fustigado pelas intempéries da vida.

M.ª Donzília Almeida

O voyeurismo da tragédia

A realidade de algum jornalismo está bem retratada aqui. Concordo com o autor deste texto, publicado no blogue "A origem das espécies". Ajuda-nos a ver como se trabalha e como se joga "ao faz de conta". Há reportagens do Haiti que já enojam. Quando alguns repórteres começam a falar  já sabemos o que é que vão dizer. Até parece que lhes faltam as palavras. Ou então dizem sempre o mesmo. Como mostram imensas vezes as mesmíssimas imagens. Neste texto, fala-se, também, de um repórter fotográfico, gafanhão. O Pedro Loureiro não foge das guerras.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

ÍLHAVO: Prémios de Artes Plásticas e Design para finalistas

Autarquia quer estimular a criatividade
e homenagear figuras ilhavenses


A Câmara Municipal de Ílhavo aprovou a criação e atribuição dos Prémios “Artes Plásticas Cândido Teles” e “Design João Carlos Celestino Gomes” destinados a Alunos Finalistas em Artes Plásticas e Design das Escolas Superiores destas áreas, a nível nacional, relativos ao ano lectivo 2009/2010.
Com a atribuição destes prémios, a CMI pretende, além de estimular a criatividade artística, homenagear duas das mais importantes personalidades da cultura ilhavense, num projecto que se pretende afirmar como um dos mais importantes prémios a nível nacional.
Enquanto entidade promotora e patrocinadora deste evento, a autarquia atribuirá dois prémios de aquisição a duas obras seleccionadas pelo Júri constituído para o efeito, sendo cada um dos prémios — “Artes Plásticas Cândido Teles” e “Design João Carlos Celestino Gomes” — do valor de 1250 euros.
Todos os alunos interessados em participar deverão enviar até ao dia 30 de Abril de 2010, para o Centro Cultural de Ílhavo, a respectiva candidatura utilizando para o efeito os meios de comunicação habituais (e-mail e correio).

UE inaugura Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social



80 milhões de europeus
vivem abaixo do limiar de pobreza

«A Comissão Europeia e a Presidência espanhola da UE lançam esta Quinta-Feira o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social (AECPES), sob o lema “Acabemos com a pobreza já!”.
A campanha visa pôr a luta contra a pobreza, que afecta directamente um em cada seis europeus, no centro das prioridades em toda a UE durante 2010, refere comunicado da Comissão Europeia.
José Manuel Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, e José Luis Rodríguez Zapatero, Primeiro-ministro espanhol, inauguraram o Ano Europeu num evento que tem lugar em Madrid.
A Estratégia UE 2020 é essencial no combate à pobreza e deve assentar em medidas que apostem na criação de emprego, mas que vão para além de paliativos tradicionais, com políticas inclusivas e de solidariedade, defende Durão Barroso.
Falando na sessão de abertura da apresentação do Ano Europeu da Pobreza, em Madrid, o presidente da Comissão Europeia considerou que para oito por cento dos europeus o emprego "não tem sido suficiente para poder sair da pobreza”.
Uma situação “claramente inadmissível”, frisou, que obriga a políticas menos tradicionais, que incluam um rendimento mínimo garantido. “Aqueles para quem o trabalho não seja uma opção realista devem ter igualmente um rendimento mínimo adequado compatível com uma vida digna”, afirmou.
Durão Barroso insistiu na oportunidade que a Estratégia UE 2020 - que definirá as linhas mestras da política económica comum - pode ter no combate à pobreza, mas adverte que os indicadores nem sempre têm sido positivos, pelo que “chegou o momento de conseguir um novo consenso político sobre esta questão na Europa”.
Perto de 80 milhões de europeus (17% da população da UE) vivem actualmente abaixo do limiar de pobreza. Este facto alarmante encontrou grande eco junto da opinião pública, segundo um recente inquérito Eurobarómetro sobre as atitudes face à pobreza.»

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SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃO




A paciência do Espírito Santo

Está a decorrer a Semana de Oração pela Unidade dos Cristão. Ano após ano, esta iniciativa repete-se, no sentido de fortalecer os laços de proximidade entre os cristãos ligados a diversas Igrejas. Todos aceitam Jesus Cristo como Salvador e Redentor da humanidade. Porém, mantêm-se separados há séculos por motivos, por vezes, ridículos, para clérigos responsáveis.
Várias vezes me tenho interrogado sobre o porquê desta situação, para além dos conflitos que lhe deram origem. Muitos estão por dentro das “guerras” que os cristãos alimentaram entre si, por vontade própria ou por interesses vindos de fora. O que me impressiona é ver como a Boa Nova, legada por Cristo, desde as origens pautada pelo princípio da unidade, ainda não foi assimilada por todos. Será?
Desde sempre ouvi, na semana de oração pela unidade dos cristãos, que se espera do Espírito Santo um sinal ou uma ajuda para que a unidade plena se faça. Mas a verdade é que num milénio de cristianismo a separação persiste. Será assim? Será que o Espírito Santo concorda com esta realidade? Ou estará a testar a nossa paciência ou teimosia? Ou estará Ele, com a sua infinita paciência, à espera que compreendamos que a unidade, matizada por muitas correntes, está tão-só na aceitação de Jesus Cristo, como único Salvador?

FM

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Obama está a ser fiel ao próprio desígnio que apontou: «o caminho vai ser longo»


Obama

A ilusão e gestão das expectativas

1. Faz um ano (20 de Janeiro) que Barack Obama tomou posse como presidente dos Estados Unidos. No mundo das emoções, grandes expectativas podem conduzir a grandes desilusões. Após um ano de sua eleição e depois de um inédito estado de graça, Obama tem neste momento a popularidade em baixa, ou pelo menos não em tão alta. Como se sabe, das emoções sociais – um sintetizador de opinião sempre na ténue fronteira da sensibilidade – espera-se o melhor e o pior; mas a verdade é que Obama, crescendo acima de si próprio tornando-se mito quer pela sua eleição inédita de afro-americano quer envolto de uma nuvem clarividente de esperança inabalável, Obama continua a ter “razão”. Talvez tenha havido, e continua a haver, um problema de comunicação e de responsabilidade. O slogan «yes we can» está construído na primeira pessoa do plural, facto que não personaliza nele próprio o centro de referência.

Alexandre Cruz

XI Capitulo da Confraria do Bacalhau recebe Confrarias Gastronómicas Espanholas e Francesas

Catedral de Barcelona (interior)

Confraria Universal del Bacallà de Espanha presente
no XI Capitulo da Confraria Gastronómica do Bacalhau em Ílhavo,
no próximo dia 23 de Janeiro


Das Confrarias Gastronómicas já confirmadas no XI Capítulo da Confraria Gastronómica do Bacalhau, vai estar presente a Confraria Universal del Bacallà de Barcelona. Esta Confraria espanhola foi fundada em 1200 e reconhecida como de grande importância para Espanha pelo rei Alfonso V (O Magnânimo) em 1447, sendo detentora de um túmulo no chão da Catedral de Santa Maria del Mar, Barcelona. Após algum tempo sem actividade foi “refundada” em 1986.
Esta Confraria Espanhola faz parte da organização do I Congresso Mundial do Bacalhau a decorrer em 2011, em Barcelona, juntamente com o Gremio de Bacallaners e a Fundação do Instituto Catalão de Cozinha. Na cerimónia de Entronizações, a Confraria Universal del Bacallà entronizará o Grão Mestre da Confraria do Bacalhau, João Manuel Madalena.

Houve tempo, já lá vão séculos, em que a Igreja caiu na tentação de construir palácios com muralhas




Igreja em campo aberto


.A Igreja sempre esteve em campo aberto. É de sua natureza e, por isso mesmo, essa é a sua missão e seu modo natural de agir. Em campo aberto: ao calor do Verão, ao frio do Inverno, à beleza da Primavera, à serenidade do Outono. O Vaticano II veio dizer que assim é.
Porém, houve tempo, já lá vão séculos, em que a Igreja caiu na tentação de construir palácios com muralhas. À maneira de reis e fidalgos. Umas mais ostensivas a denunciar poder. Outras mais discretas, com frestas estreitas para poder espreitar, guardando da tentação de sair para o vento. Visto de longe, tudo parecia bem e iluminado. Assim, se tornou mais difícil entrar e sair, e mais cómodo estar de ouvidos cerrados ao rugir de vendavais e ao cair da chuva. O mesmo é dizer, estranho às intempéries da vida que geram sofrimento, e à luta inglória de muitos sem saberem como enfrentar o abandono.
As verdades foram ganhando bolor, as gargantas ferrugem, e o povo a ter de se contentar com a esmola ocasional e fugidia das palavras piedosas de algum frade pregador, que passava, de tempo a tempo, pelo povoado. Muitas casas paroquiais já nem eram do padre, mesmo com ele a viver lá dentro. E, onde ele ainda mandava, não raro as propostas de religião que apontavam para Deus eram limitadas, sempre iguais e de alcance reduzido para aqueles a quem chegavam, que, mesmo estes, iam escasseando, a pouco e pouco.
Um dia os maiores se aperceberam que, lá fora, em campo seu, se moviam outras forças e nelas estava o inimigo que era preciso esconjurar. Saíram, então, das muralhas para fazer guerra ao intruso. De defesa da fé e da verdade, dizia-se. Tarde de mais. Com a luz debaixo do alqueire não se pode estranhar que, na noite da vida, surjam lampiões. Os de fora equiparam-se com armas depreciadas pelos de dentro. A estas, outras se juntaram, de novo cariz e não menos poderosas. E a guerra de oposição não terminou mais.
Avisos do céu foram abafados. Palavras de profetas, não ouvidas. Sinais de novos caminhos, rejeitados. O bem que os outros faziam, desfeiteado…

António Marcelino

Padre Manuel Marques Dias foi agredido no sábado


 Bispo de Aveiro condena
acto de violência contra sacerdote

Soube hoje, pelo Correio do Vouga, que o Padre Manuel Marques Dias, de 81 anos, foi agredido e roubado. O Bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos, em nota pastoral, já disse tudo o que era preciso dizer sobre o assunto. Quaiquer outras considerações, mesmo pessoais, apenas servirão para manifestar a nossa solidariedade ao Padre Manuel e ao presbitério de Aveiro, através do nosso bispo.
Conheço o Padre Manuel há décadas. Entusiasmei-me, muitas vezes, com as suas inquietações sociais e com o seu envolvimento, concreto, na luta em favor dos trabalhadores e dos pobres. Falava com o coração na boca e era um padre incomodado e incómodo. Numa altura em que o comodismo, o medo e a falta de coragem campeavam no comum das pessoas e mesmo na Igreja, a sua atitude tornou-se notória. Por isso, parecia, imensas vezes, uma carta fora do baralho. Mas não era. O Padre Manuel nunca desligou, que eu saiba, o cristianismo da justiça social, como alavanca de uma sociedade mais fraterna. Foi incompreendido por muitos cristão e amado por outros. Na Igreja, como na sociedade, há sempre dois lados da barricada: uns remam para um lado e outros tantos para o outro lado, nem sempre em sintonia com a verdade do Evangelho. Mas o Padre Manuel nunca renegou os seus principios e os seus valores. Hoje fala-se dele por razões tristes. Amanhã seria bom que falássemos do exemplo de vida com que ele marcou muita gente.

Fernando Martins