sábado, 30 de janeiro de 2010

Crónica e um Professor: Passeio



Afinal ainda há pessoas altruístas
Por Maria Donzília Almeida

Foi numa daquelas tardes ensolaradas de domingo. A chuva e o vento em aliança cúmplice e de uma fidelidade mútua, a toda a prova, haviam dado umas curtas tréguas aos habitantes desta zona costeira.
Nem sequer podemos praguejar contra o mau tempo, pois ele está no seu tempo e no espaço que lhe compete. Seria mais preocupante se estivesse um calor de rachar, em pelo Janeiro. Tudo se quer no seu tempo, como ... pelo Advento, como lá diz o povo.
Este ar de graça do astro-rei originou um êxodo da cidade de Aveiro que veio desaguar a estas praias onde o farol ainda tem honras de atracção turística e é olhado com alguma pequenez!
Com esta enxurrada de gente à procura do seu raio de sol, era ver as esplanadas dos cafés a abarrotar de gente, a saborear uma bebida ou simplesmente a desfrutar do afago dos raios solares. Outras pessoas calcorreavam os passeios pedonais, vulgo passadiços, fazendo aquele recomendado exercício físico com a família por perto. Num ou noutro local, a tomar a bebida ou a brincar com os rebentos, sobre a relva, era ver os casais novos a partilharem momentos de bem-estar.
Com o ambiente agradável que um dia de sol proporciona, sentia-se na atmosfera evolar-se o aroma adocicado e quente da bolacha americana e das tripas. Neste dia, senti um desejo enorme, já que há muito tempo não saboreava o petisco.

Esta saída à rua após uma longa quarentena, fizera espicaçar em muita gente jovem esse mesmo desejo, pela tripa. Foi ai, junto ao farol que a bicha se formou e cada vez parece que crescia mais. Resolvi lá colocar-me, na certeza de que iria passar ali um bom bocado. A conversa com pessoas amigas que distraíam o passar do tempo, ocupava o tempo e diminuía-lhe a duração. Depois de ter lá permanecido uma boa meia hora, eis que a dona do quiosque sai do seu aposento e põe-se a contar as pessoas, no sentido de saber para quantas dava a massa remanescente. Passou por mim, ah que alívio e três pessoas atrás, informou que já não havia massa para mais. Houve um sussurro de consternação e um sentimento de frustração por uma espera malograda. Mas, enfim, todos acataram com maior ou menor decepção, à excepção de um jovem senhor que exclamou p’ra todos ouvirem: - Sou marido duma senhora grávida e... não acabou a frase, mas certamente esperava uma qualquer reacção por parte das pessoas que faziam bicha. Na verdade a resposta não se fez esperar e uma senhora uns passos à frente imediatamente disponibilizou o seu lugar para a futura mamã poder degustar o saboroso paladar da tripa.
Afinal ainda há pessoas altruístas neste mundo cão em que nos movimentamos.

Maria Donzília Almeida

30.01.10

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