quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Obama está a ser fiel ao próprio desígnio que apontou: «o caminho vai ser longo»


Obama

A ilusão e gestão das expectativas

1. Faz um ano (20 de Janeiro) que Barack Obama tomou posse como presidente dos Estados Unidos. No mundo das emoções, grandes expectativas podem conduzir a grandes desilusões. Após um ano de sua eleição e depois de um inédito estado de graça, Obama tem neste momento a popularidade em baixa, ou pelo menos não em tão alta. Como se sabe, das emoções sociais – um sintetizador de opinião sempre na ténue fronteira da sensibilidade – espera-se o melhor e o pior; mas a verdade é que Obama, crescendo acima de si próprio tornando-se mito quer pela sua eleição inédita de afro-americano quer envolto de uma nuvem clarividente de esperança inabalável, Obama continua a ter “razão”. Talvez tenha havido, e continua a haver, um problema de comunicação e de responsabilidade. O slogan «yes we can» está construído na primeira pessoa do plural, facto que não personaliza nele próprio o centro de referência.

Alexandre Cruz



2. Talvez o “mal” de Obama não tenha estado nele próprio, mas no que dele todos, sedentos de um farol de referência, projectaram. Mesmo quando o presidente insiste na «Era da Responsabilidade» de forma colectiva, pede-se-lhe bem mais do que um líder pode dar. Embora na capitalização da candidatura ou na imagem da eleição bem gerida da obamania, o certo é que Obama está a ser fiel ao próprio desígnio que apontou: «o caminho vai ser longo», esta a frase por ele muito repetida mas que os ouvidos práticos carentes de respostas para «hoje» não compreendem. O Nobel da Paz viu-se transfigurado, sendo atribuído não por realizações mas por ideais apontados; os seus discursos de multidões famintas de esperança no «atoleiro do Iraque» ficarão para a história como pólo motivador que, após o 11 de Setembro de 2001, abre a janela da Esperança ao século XXI.

3. O que pode fazer um homem sozinho? O paradigma da responsabilidade partilhada é o seu ideal sócio político; acerca do que fez, faz ou fará, não se esteja continuamente nesta asfixia descomprometida da espera de um milagre, de que um resolve os problemas de todos. Obama não é deus nem pode nunca ser endeusado. A esperança comprometida com a história é o seu lema em gestão…

Alexandre Cruz

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