sábado, 10 de julho de 2010

O que seria a felicidade?


Aristóteles

QUE QUEREMOS? SER FELIZES

Anselmo Borges

Não há dúvida de que é realmente isso que queremos: ser felizes. Mas, quando se trata de dizer em que consiste a felicidade, encontramos tremendas dificuldades.
A felicidade é o sumo bem. Mas já Aristóteles escreveu: "Todos os homens estão praticamente de acordo quanto ao bem supremo: é a felicidade. Mas, quanto à natureza da felicidade, já não nos entendemos." Também Kant se referiu a essa coisa indefinível, que é o objecto dos nossos sonhos, trabalhos e anseios, nestes termos: "O conceito de felicidade é tão vago que, embora toda a gente deseje alcançar a felicidade, nunca ninguém consegue dizer de forma definitiva e constante o que realmente espera e deseja."
Uma das razões da dificuldade reside no facto de a felicidade ter tanto de subjectivo. A prova está em que encontramos pessoas felizes, apesar de, na nossa percepção, a sua situação as dever levar à infelicidade.

Não deixa de surpreender, por exemplo, que segundo o Happy Planet Index publicado em 2006 pela New Economics Foundation é no Vanuatu, um arquipélago da Melanésia, que as pessoas são mais felizes, no sentido de terem um grau mais elevado de satisfação com a vida. A surpresa é tanto maior quanto, comparando estas ilhas vulcânicas com os países do mundo industrializado, esperaríamos que fossem estes os mais felizes, atendendo ao seu progresso, à alta esperança de vida, oferta de bens materiais e consumo. Ora, a Alemanha, que é o quarto país mais feliz da Europa, depois da Itália, da Áustria e do Luxemburgo, ocupa o 81.º lugar na escala. Os países escandinavos estão ainda mais para trás: 112.º lugar para a Dinamarca, 115.º para a Noruega, 119.º para a Suécia e 123.º para a Finlândia, ocupando a França o lugar imediatamente a seguir: 124.º. Na China, na Mongólia ou na Jamaica, é-se mais feliz do que nos Estados Unidos, que ocupam o 150.º lugar.
Isto significa, conclui o filósofo Richard D. Precht, num bestseller inteligente e estimulante, com o título Wer bin ich und wenn ja, wie viele? (Quem sou eu e, se sou, quantos?), que devemos tirar algumas lições da experiência desta gente do Pacífico Sul: afinal, não é no dinheiro, no consumo, no poder e numa elevada esperança de vida que reside a felicidade. Se nos fixarmos na escala de valores da "economia da felicidade" (happiness economics), constatamos que a maior parte das pessoas dos países ricos se engana ao dar tanta importância ao dinheiro. De facto, no nosso sistema de valores, o dinheiro e o prestígio ocupam o lugar cimeiro, exactamente ao contrário da avaliação dos economistas da felicidade, que diz que nada causa tanta felicidade como as relações interpessoais, isto é, a vida em família, a vida de relação boa com o parceiro ou a parceira, os filhos, os amigos. A seguir, vem o sentimento de ser útil e, depois, segundo as circunstâncias, a saúde e a liberdade.
Quem coloca a base da felicidade na procura incessante de bem-estar material e de estatuto social para impressionar os outros revela um comportamento de carência e, assim, não pode ser feliz. Aliás, o capitalismo leva consigo a lógica da insatisfação: quanto mais se tem mais é preciso ter.
Quem chama a atenção para isso é Richard Layard, professor na London School of Economics and Political Science. Na sua opinião, seria necessário rever toda a lógica dos países industrializados, pois o pleno emprego e a paz social são mais importantes que o aumento do PIB. O novo slogan deveria ser felicidade para todos e não o crescimento para a economia, resume Richard D. Precht, que, referindo a World Values Survey, insiste que são as relações sociais que ocupam o primeiro lugar, de tal modo que um divórcio é tão negativo para o bem--estar como a perda de dois terços do rendimento.
Um estudo recente do ISCTE também revela que metade da população portuguesa tem dificuldades em sobreviver. No entanto, 73% dizem que são felizes e a razão principal é a família e os amigos.
O que seria a felicidade? Uma mistura de tudo isto: "uma vida agradável", com prazer, "uma vida boa", "uma vida preenchida", realizada, conclui Precht.

In DN

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