domingo, 26 de junho de 2011

Reflexão para este domingo: Há mais alegria em dar do que em recebe


 FICAR EM NOSSA CASA

Georgino Rocha

Esta feliz expressão pertence a uma mulher, sem nome identificado, que vivia em Sunam. Sabe-se que era uma distinta senhora, atenta ao que acontecia, casada, sem filhos. Vendo passar Eliseu, o coração segreda-lhe: É um santo homem de Deus. E vai dizê-lo ao marido. Decidem convidá-lo para descansar em sua casa e comer com eles.
O acolhimento, a conversação, a união em torno à mesa, proporcionam-lhes uma experiência de felicidade tal que resolvem construir um quarto onde ele pudesse hospedar-se, sempre que por ali passasse. Eliseu anuiu e assim fazia, satisfazendo o desejo diligente do casal.

 A gratuidade do encontro e do acolhimento despertam a consciência do profeta que se interroga: Em que posso ajudá-los? Que necessidades têm? Em nome do meu Deus, em que lhes posso valer? Recolhe mais informações e vem a saber que não têm filhos, situação vexante entre os judeus, sinal de desfavor divino. Resolve interceder junto do seu Deus em favor deste casal a quem faz a promessa de virem a ser pais. E de facto assim acontece.

Este episódio, na sua singela, encerra uma mensagem admirável. Talvez, tenha algum fundamento histórico, mas é sobretudo uma narrativa sapiencial Expurgada de pormenores culturais, tem validade para todos os tempos.

A casa de acolhimento é, sobretudo, o coração que vê para além das aparências ou melhor, sabe passar destas e ir mais longe e mais fundo, à realidade que identifica pessoas e situações. Daí a importância de educar o coração, fonte de luz intuitiva, sede de afectos e de paixões, força inebriante do amor humanizado.
Ver com o coração é abrir-se aos demais, vencer as barreiras e os preconceitos do desconhecido e do estranho; e aventurar-se a arriscar, a criar oportunidades, a estender a mão, a dar espaço interior e exterior aos “sem abrigo” de todas as intempéries.

Acolher o outro não só pela situação concreta, mas pelo que é: ser humano, necessitado de ajuda e dotado de capacidades. Saber potenciar estas e satisfazer aquelas faz-nos crescer em humanidade, ser fecundos em benefício da vida. Ninguém empobrece, todos nos tornamos mais ricos. A sabedoria popular de inspiração bíblica diz-nos que há mais alegria em dar do que em receber, que fica sempre um pouco de perfume nas mãos de quem oferece rosas.

Reconhecer o outro na sua dignidade abre a casa do nosso coração a uma nova dimensão: a da Jesus Cristo, que realiza uma forma de  presença real, embora discreta, em cada pessoa, designadamente nos necessitados, nas crianças, nos enviados em missão. Por isso, nos deixa a garantia confirmada de que não ficará sem recompensa quem der um copo de água fresca a um destes pequeninos por serem meus discípulos.


1 comentário:

  1. É sempre com enorme gozo interior que leio as reflexões do Pe. Doutor Georgino Rocha.É que estas não são feitas somente de lindas palavras que falam à nossa alma de crentes. São muito mais que meras palavras alusivas à passagem bíblica, cheiram a verdade a esforço de coerência entre o que se diz e o que se vive. E é isto o que me fascina neste e noutros sacerdotes da sua têmpera.
    Bem-haja

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