domingo, 26 de junho de 2011

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 243

DE BICICLETA ... ADMIRANDO A PAISAGEM – 26


O ÁS DE PEDAL! 

Caríssima/o:

“... e de louco, todos temos um pouco”.
Venha o primeiro que tenha coragem de lhe atirar uma pedra!?...

«Lá fora, avistou Zé Paulo em acrobacias de ás do pedal. 
Quando a fantasia lhe dava para isso, nunca mais sabia como ia acabar. Ao vê-lo voar, de cabeça baixa, rente ao guiador, André pressentiu um novo desastre. E não se enganou. 
- Não sejas maluco, perde essa mania de imitar os corredores da Volta a Portugal- suplicou, baixinho, na esperança de que o amigo captasse a mensagem. 
Qual quê! Lançado em grande velocidade, ou não fosse o sábado o dia ideal para provas mexidas, Zé Paulo imaginava-se na última tirada da prova maior do nosso ciclismo. Neste faz-de-conta vivido na pista, o contra-relógio individual era a oportunidade de reconquistar a camisola amarela. Fosse lá alguém dizer-lhe o contrário. 
Colado à bicicleta, pedalando furiosamente em luta contra o tempo, o ciclista embalou para o sprint final. 
- É agora ou nunca - decidiu Zé Paulo, de dentes cerrados, como um profissional. 
Imóvel como um bloco de granito, André não teve forças para abrir a janela, para soltar um grito, para fazer a tempo o que quer que fosse. 
Naquele momento, um gesto, um grito, a mais pequena distracção poderia causar um grande acidente. 
Infelizmente assim aconteceu. Ao entrar na curva que levava à meta, a roda traseira derrapou numa casca, os travões falharam e, em menos de um segundo, o esforçado ciclista saiu disparado em linha recta, direitinho à porta da Mercearia Ideal. 
Temendo o pior, André resolveu abrir a janela, esticou o pescoço o mais que podia e suspirou de alívio, ao se lhe deparar uma cena quase angelical. 
O candidato a herói da Volta a Portugal estava sentado, encostado à porta como se esta fosse uma fofa almofada. 
Sorria mesmo, de olho na roda que, suspensa no ar, ainda girava. "Deve estar a ouvir uma orquestra de passarinhos e a contar as estrelas que fugiram do céu", concluiu André, respondendo ao adeus meio apalermado que o amigo lhe mandava.» 

Fernando Bento Gomes, Que é do Verde desta Rua?

Manuel          

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