domingo, 23 de outubro de 2011

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 260

DE BICICLETA ... ADMIRANDO A PAISAGEM – 43 



HISTÓRIA COM BICICLETA DENTRO 

Caríssima/o: 

Curioso este escrito de António Mota, no Diário de Notícias, e que nos transporta mais uma vez ao reino dos galináceos sem nos afastarmos das bicicletas: 

«Quem é que não te uma história para contar com uma bicicleta metida nesse enredo? 
Eu tenho várias. E para não perdermos tempo ponho-te já à disposição uma. Assim: 
O meu pai tinha uma bicicleta, roda vinte e oito, muito antiga, muito pesada e muito resistente. Nesse tempo ter uma bicicleta era um luxo. Para ir à feira da vila não era preciso fazer a caminhada. Só era necessário pôr os pés nos pedais e fazê-los dar voltas. E nos sítios em que os caminhos eram muito a pique ou estavam cheios de pedregulhos ou buracos andava-se com ela pela mão. 
E eu fartava-me de namorar a bicicleta, mas o meu pai, por causa das tentações, mal chegava a casa, a primeira coisa que fazia era esvaziar o ar que havia nos pneus. E eu suspirava. 
Mas uma vez (há sempre uma vez, como toda a gente sabe...) o meu pai chegou a casa e esqueceu-se de tirar o ar aos pneus. E eu, sem dar satisfações a ninguém, na tarde do dia seguinte, que calhou num domingo, peguei na bicicleta e levei-a para o adro da igreja, que era planinho e avantajado em tamanho. E comecei as aulas de equilíbrio com a moçarada da aldeia a correr atrás de mim. Cai-não cai, cai-não cai (e às vezes caía...), aprendi num instantinho a guiar a bicicleta. Ainda não era capaz de fazer um oito muito apertado e sem pôr o pé no chão, mas a andar sempre em frente estava a ficar um ás. 
Envaidecido com a sabedoria resolvi deixar o largo e pedalei com toda a força em direcção à rua empedrada que atravessava a aldeia. 
Lá ia eu a pedalar a toda a força, e a descer, muito senhor do meu papel, quando ao fim de uma curva apertada vi uma galinha choca, com uma ninhada de pintainhos atrás a atravessar a rua... 
Alarmado, comecei a gritar: fujam, senão eu mato-vos! Fujam seus palermas! Toquei a campainha, tirei os pés dos pedais, apertei os travões com toda a força e levantei voo. 
Aterrei à beira do cancelo da cozinha do Manuel Bigodes e fiquei com os cotovelos numa lástima. 
A bicicleta estava intacta e os palermas dos pintos lá continuavam atrá da mãe, piu-piu-piu, como se nada tivesse acontecido. 
Claro que, nesse dia, houve em minha casa sermão e missa cantada!» 

Manuel                    

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