quarta-feira, 6 de junho de 2012

No melhor pano cai a nódoa

Por António Marcelino





«O ambiente geral da Roma vaticana, também, desde novo, o vi e o senti, pejado de invejas, ciúmes e interesses pessoais, que tentavam esconder o carreirismo, sonhado, desejado e procurado. De quando em quando, vinha, ao de cima, a pobreza e o fedor de tumores não lancetados e de feridas nunca curadas. Os mais doentes escondem-se e atiram para a ribalta, com argumentos falaciosos, os menos culpados e indefesos.» 


Tocar-me-á, para sempre, o testemunho evangélico dos Papas que, ao longo dos anos, conheci. E já foram seis. Conheci também, em Roma, cardeais santos. Quanto sei, alguns deles, pela sua virtude comprovada, já com processos de beatificação a fazer caminho. Recordo, e só falo dos já falecidos, o Cardeal Gantin, do Benim; o Cardeal Pirónio, da Argentina; o cardeal Van Thuan, do Vietname… Todos ao serviço da Cúria Romana. Também daí recordo gente mais discreta, que não se deixou contaminar; serviu, em permanente fidelidade, o Povo de Deus; colaborou, em total gratuidade, com os bispos diocesanos que demandavam os serviços da Cúria romana.
O ambiente geral da Roma vaticana, também, desde novo, o vi e o senti, pejado de invejas, ciúmes e interesses pessoais, que tentavam esconder o carreirismo, sonhado, desejado e procurado. De quando em quando, vinha, ao de cima, a pobreza e o fedor de tumores não lancetados e de feridas nunca curadas. Os mais doentes escondem-se e atiram para a ribalta, com argumentos falaciosos, os menos culpados e indefesos.
Em clima de Concílio fez-se apelo veemente a que se limpassem de vez, na Igreja, tradições e planos humanos, denunciadores da tentação do carreirismo que, em Roma e nos seus braços estendidos, impediam o serviço do Evangelho. Há relatos curiosos e vivazes de intervenções de bispos, mormente sul-americanos, a clamar neste sentido. A Igreja de Cristo devia habituar-se a andar às claras, ainda que por caminhos duros, nunca por caminhos escusos e contraditórios da verdade que propõe.
Todos nos sentimos doridos com o que se vai sabendo, mas mais com o que se passa e se esconde. Os Papas são sempre, nos tempos que agora correm - em tempos idos alguns deles foram cúmplices e culpados - os que mais sofrem, incapacitados de atingir a hidra que envenena e mata. É um facto. A Igreja de Cristo está mais presente nas pequenas comunidades de crentes do que em palácios do Vaticano. Por isso, nada poderão, a não ser escandalizar, os que se aproveitam da Igreja em vez de a servirem, servindo as pessoas. João XXIII, na sua inteligente bonomia, dizia que se nem os cristãos conseguem acabar com a Igreja, não se gastem em vão os que a perseguem.

Sem comentários:

Enviar um comentário