sábado, 16 de junho de 2012

A SEMENTE É A PALAVRA DE DEUS

Por Georgino Rocha




Jesus anda em missão. Encontra-se com pessoas de diferentes níveis de compreensão. A todas respeita e procura ajudar. Recorre por isso a diversos modos de comunicar. Escolhe cada modalidade de acordo com a capacidade dos ouvintes. Para apresentar o reino de Deus a marítimos, serve-se das lições de quem trabalha com redes, anda na pesca, conhece os segredos do mar. De igual modo, faz com comerciantes, camponeses, escribas letrados, políticos de carreira, homens do culto oficial.
É belo este modo de proceder! É exemplar esta pedagogia! É apelativa esta proximidade para todos os que são chamados a lançar a semente da Palavra no coração humano, tendo em conta o o pulsar do seu ritmo, das suas alegrias e dores.

O reino de Deus é a expressão bíblica que melhor designa a realidade nova anunciada por Jesus: Deus é Pai, os humanos são filhos deste Pai comum e, por isso, irmãos por natureza e por graça, os bens pertencem a todos por mandato divino, a biodiversidade faz parte da harmonia e do equilíbrio dos seres criados e dos sistemas em que se desenvolvem, a vida é “sagrada” e, enquanto peregrina na terra a caminho da situação definitiva, está marcada pelas regras do tempo e da cultura, a convivência social alicerçada no amor e na justiça constitui uma das manifestações humanas mais qualificadas do “rosto” público deste reino em germinação na história.

Todos os que tinham o coração disponível exultam de alegria, ao ouvirem em linguagem acessível o anúncio entusiasta desta realidade envolvente e familiar, e dão largas à esperança renascida e ao alento recebido. A mudança de disposição interior representa o início de uma caminhada que, por vezes, vai prosseguir em novos passos de adesão à mensagem e de seguimento da pessoa de Jesus. E surgem as multidões que se organizam em comunidades e grupos de discípulos que testemunham ser humanamente viável a mensagem proclamada por Jesus. Assim, ao longo da história. Assim, hoje.

Um homem lança a semente à terra, um grão de mostarda é colocado na horta. Neste cenário tão simples, Jesus dá a conhecer o “mistério” do reino: a sua presença discreta, a energia fecunda da sua seiva, a tendência universal do seu crescimento, a certeza inabalável da sua realização em benefício do ser humano chamado a adoptar livremente a atitude responsável mais congruente. Que contraste com a forma tradicional de apresentar o reino de Deus! Que impacto não começa a provocar na gente ilustrada e curiosa que acorria a ouvir Jesus para examinar a sua ortodoxia!

As árvores frondosas e robustas cedem lugar a simples grãos de semente. O messias “arrasador” surge como um humilde semeador de hortas e campos, amigo de excluídos sociais pelos líderes políticos e religiosos. As técnicas vitoriosas não têm a ver com a manipulação indiscriminada das sementes nem com o controle hegemónico do sistema alimentar ou a quantidade numérica da produção; tem a ver sobretudo com a proximidade, o cuidado, o serviço e a confiança. Os frutos apetecidos manifestam-se no acolhimento aberto a todos, na fecundidade generosa, na aceitação humilde das leis do crescimento, na qualidade do relacionamento.

As parábolas são como o pavio fino de uma vela que, aparentemente, não têm valor nenhum, mas sem ele não surge a luz que ilumina, aquece e atrai; são como um tesouro escondido que encerra o “valor divino do humano” e a sabedoria das culturas surgidas da experiência da vida partilhada. Realmente, “a semente é a Palavra de Deus e o semeador é Cristo”.

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