quinta-feira, 19 de julho de 2012

Formação dos novos padres e promoção vocacional


Por António Marcelino




«A crise vocacional, a nível do país, persiste. Numa ou outra diocese notam-se sinais de melhoria. O seminário menor foi dando lugar ao pré-seminário ou ao seminário em família, e decresceu em muitos padres e comunidades o interesse por novas vocações. Estas exprimem-se agora mais em idade adulta e com jovens vindos das universidades, alguns com cursos já completados.
Passados cinquenta anos, à luz ainda bem viva do Vaticano II, torna-se de novo necessária uma reflexão cuidada sobre escolas teológicas, seminários, vocações e formação pastoral dos novos padres.»



Ao tempo do Concílio já havia boas experiências em andamento e vários caminhos abertos em ordem à formação dos novos padres. Requeriam-se, porém, orientações gerais e concretas que pudessem sublinhar o rumo a dar em todas as dioceses, uma vez que esta formação constitui um aspeto da maior importância para a vida e para a ação da Igreja, em si mesma e no mundo.
O decreto conciliar em causa assinala os seguintes pontos: elaboração de normas pelas conferências episcopais, promoção das vocações para o ministério ordenado, organização dos seminários maiores, maior atenção à formação espiritual, revisão dos programas dos estudos eclesiásticos, maior preocupação com a formação estritamente pastoral, continuação da formação dos padres ao longo da vida.
Em Portugal, se o cuidado nestes pontos era já comum, os caminhos ainda divergiam, dadas as experiências vividas e as possibilidades de cada diocese. Se havia passos em frente, também havia hesitações e até medos exagerados.
Os últimos anos da monarquia foram, neste aspeto, calamitosos. Os padres, de modo geral, tinham pouca formação e até duvidosa vocação. As dioceses depararam-se, então, com problemas difíceis, com a agravante de terem perdido os seus seminários e de escassearem formadores em que pudessem confiar. Iniciaram-se, onde foi possível, esforços para edificar as casas e proporcionar preparação aos novos professores e educadores. Lisboa recorreu a responsáveis vindos de fora, acolheu alunos de outras dioceses e fez, a partir da década de cinquenta, um cuidadoso investimento, em Roma, na preparação teológica de padres destinados aos seminários. Outros bispos seguiram igual caminho, ao mesmo tempo que empenhavam as suas dioceses na construção de um novo seminário. Até ao fim da década de sessenta, construíram mais de uma dezena de seminários diocesanos e formaram-se muitos padres para os gerirem, sobretudo na Pontifícia Universidade Gregoriana.
O trabalho vocacional foi estimulado a nível nacional por um secretariado próprio. Promoveram-se encontros com mestres de outros países, prepararam-se responsáveis diocesanos, interessaram-se as comunidades cristãs por esta tarefa. Criou-se a Obra das Vocações Sacerdotais (OVS) e viram-se resultados positivos.
Na formação notou-se uma melhor qualidade do clero, maior atenção à formação espiritual e pastoral nos seminários, múltiplas iniciativas, nacionais e diocesanas, inspiradas no Vaticano II, promoção de equipas sacerdotais de vida e de ação, experiências válidas de pastoral orgânica ou de conjunto. Sentia-se bem o efeito das orientações conciliares.
E qual a situação hoje? Os alunos de teologia passaram a frequentar a Universidade Católica e institutos teológicos superiores, restando apenas um seminário maior diocesano, em Angra do Heroísmo. As escolas superiores, em geral, privilegiam mais a formação académica, dado que nem todos os alunos se destinam ao ministério sacerdotal. Os seminários residenciais têm, por dever, completar os estudos necessários ao padre. Ao mesmo tempo, proporcionam-se experiências pastorais concretas, tarefa menos fácil quando os alunos estudam em escolas distantes das suas dioceses.
Já se notam falhas na formação, que, em alguns casos, geram justificada preocupação. Os padres das últimas décadas não têm referências históricas, nem teológicas e pastorais, que ajudem a perceber e implementar as orientações conciliares e, por isso, se passa ao lado de muitas delas, deixando empobrecida a ação pastoral diária.
A crise vocacional, a nível do país, persiste. Numa ou outra diocese notam-se sinais de melhoria. O seminário menor foi dando lugar ao pré-seminário ou ao seminário em família, e decresceu em muitos padres e comunidades o interesse por novas vocações. Estas exprimem-se agora mais em idade adulta e com jovens vindos das universidades, alguns com cursos já completados.
Passados cinquenta anos, à luz ainda bem viva do Vaticano II, torna-se de novo necessária uma reflexão cuidada sobre escolas teológicas, seminários, vocações e formação pastoral dos novos padres.

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