sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Mas porquê tanta obsessão com consumo?

Por Camilo Lourenço, no Negócios

 Não há "bicho careta" neste país que não critique as medidas de austeridade por causa do efeito que têm sobre o consumo. 

Segundo esta corrente, não se pode reduzir o consumo porque acelera a contracção da economia. Que por sua vez gera desemprego, que por sua vez faz cair as receitas dos impostos, agravando o défice. É estranho que nem os mais informados insistam nesta "fixação". Porque têm obrigação de saber que o nosso ajustamento tem de passar pela quebra do consumo. Não há volta a dar: com PSD e CDS no poder, com PS no poder ou com qualquer outro partido. Quando não se tem rendimento para financiar o consumo, que é o que se passa em Portugal (e passou-se nos últimos dez anos), a solução é só uma: reduzi-lo.

Isso tem implicações graves para a economia, nomeadamente na redução da actividade económica e no desemprego? Claro que tem. Mas é inevitável: porque já ninguém nos empresta dinheiro para mantermos o nível de consumo que tivemos durante uma década. Quanto mais tempo levarmos a entender o problema, pior. Aliás, se há prioridade que devíamos ter é assumir essa inevitabilidade e reconverter a economia a todo o gás (protegendo os desempregados enquanto se faz a reconversão): numa economia como a nossa, o consumo não pode pesar 2/3 do PIB. Isso significa que o sector "interno" tem de desaparecer? 

Não. Mas tem de se adequar ao nível de procura consentâneo com o equilíbrio da conta corrente. Se isso não acontecer, daqui por quatro anos voltaremos a ter défices insustentáveis da balança coerente e... o regresso da Troika (por alguma razão fomos à falência três vezes em 34 anos...). É assim tão difícil perceber isto?

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