sábado, 13 de outubro de 2012

BOM MESTRE, QUE HEI-DE FAZER?


Por Georgino Rocha




Esta pergunta existencial é emblemática da condição humana. Feita no tempo de Jesus, percorre toda a história. Um homem sem nome simboliza a pessoa que toma consciência das suas aspirações mais profundas. A pressa no correr marca o ritmo do coração. O gesto de se ajoelhar manifesta a humildade da procura e a confiança do encontro. O apelativo “bom mestre” desvenda o segredo que o anima na sua busca inquietante: alcançar a vida eterna. A pergunta é pertinente e decisiva e a resposta ansiosamente aguardada.

Jesus acolhe-o com solicitude e sintoniza com o seu desejo mais profundo. Centrado na bondade, inicia o diálogo e eleva o referencial. “Ninguém é bom senão Deus”. E reconhece a sua honradez expressa na prática dos mandamentos. Aprecia o seu amor à vida, a fidelidade conjugal, o respeito pelos bens dos outros, o amor à verdade, a honestidade, a dedicação solícita ao pai e à mãe. Olha-o com simpatia e faz-lhe uma proposta aliciante e exigente: libertar o coração da “amarra” das riquezas e servir os pobres com os seus bens. Esta é a “coisa” que lhe falta para ter um tesouro mais valioso, a vida eterna. Esta é a atitude mais indicada para satisfazer a aspiração mais profunda do coração e realizar o desejo mais forte de felicidade.

Momento crucial se segue. Cena comovente ocorre. Confiante, Jesus dirige-lhe um convite audacioso: “Vem e segue-me”. Instantes que condensam anos… O jovem cai numa tristeza profunda, endurece o rosto e retira-se cheio de pesar.

O seu coração estava demasiado “amarrado” pelas riquezas que o impediam de ser livre, de “voar” mais alto, de ser mais radical, de corresponder ao que ansiosamente procurava. E, desiludido, regressa à monotonia da vida, continuando a “ruminar” aquele sonho “frustrado”. E tudo pelo amor desmedido às riquezas!

Jesus insiste na necessidade de cultivar a liberdade do coração. Com muito ou com pouco. Outrora para os discípulos, testemunhas da ocorrência; agora, para nós que sentimos o “garrote” de tantas coisas que a sociedade de consumo nos impõe e a crise global agrava escandalosamente.


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