domingo, 23 de dezembro de 2012

Chegou num dia de chuva miudinha...

A prenda! 
Maria Donzília Almeida



Chegou num dia de chuva miudinha, que enche de humidade o ar e cria uma saturação tal, que tudo parece escorrer à nossa volta. É a morrinha de uso tripeiro, que nos penetra até aos ossos. Assim estava o aposento, onde a prendinha foi depositada. 
Apesar de já ter passado a idade da inocência, quase acreditaria que foi prenda do Menino Jesus, que a colocou no meu sapatinho, quatro dias antes do Natal. Apareceu, assinaladamente, no dia em que aconteceu o solstício do inverno, 21 de dezembro. 
Evoco aqui, as palavras de ST Éxupery: “Mal nos conhecemos, inaugurámos a palavra amigo!” 


Foi amor à primeira vista, num olhar penetrante, inquiridor e assim se selou uma relação de grande cumplicidade! Espero seja uma relação duradoura e não tão efémera como a anterior, que marcou a minha vida, apenas numa curta década. Para não exacerbar mais a curiosidade do leitor, informo que se trata duma criaturinha de quatro patas de raça canina e... que vai ser a luz dos meus olhos! Tem a cor duma seara de trigo maduro, logo irá iluminar a minha vida. Ao sair do carro que o transportara, aproximou-se de mim, que lhe abrira os braços num amplexo amistoso. Confirma-se o ditado popular: “O cão e o menino, vão para quem lhe dá mimo! 
Não se sabe a origem do canino, já que a família de acolhimento, que o encontrou na rua, não dispõe de qualquer elemento de identificação. Não é portador de chip, como é vulgar na era atual, mas adivinha-se pelo aspeto cuidado de pêlo lustroso, que foi um cão abandonado, por alguém em desespero. Crise... 
É um ser dócil, cheio de energia e vivacidade, que teve a grande sorte de encontrar uma família adotiva, com um extremado amor aos animais. O elemento mais novo, dessa família italiana, referiu no facebook a história de abandono do seu novo amiguinho. Após uma curta troca de mensagens, ficou, ali mesmo, combinada a adoção do Scott. O nome, de sonoridade britânica, agradou particularmente, à nova dona, que há muito procurava um digno sucessor para o Boris. Este continuará a ter o seu cantinho cativo, no coração da dona, mas, diz o povo que: “Morte de cão, cura-se com pêlo de outro cão.” 
Quando aquele veículo, enorme, entrou na garagem, com a família italiana, velhos amigos, acompanhados pelo Scott, a alegria explodiu nas duas criaturas: a adotada e a adotante! Uma lambi-dele. (convém fazer a concordância de género, já que se trata de um macho!!!) foi o primeiro contacto físico, ali, entre os dois. Seguiram-se momentos de agradável convívio, num pequeno lanche, onde se recordaram peripécias da “matilha” existente na casa, em Viseu. O amor, a dedicação aos animais, no seio deste agregado familiar é tal, que teriam adotado mais um elemento a juntar a três cães já existentes, dois felinos e dois patinhos. Todos convivem pacificamente, partilhando o mesmo espaço, sob a vigilância protetora dos italianos. 
A inesperada chegada, do Scott, viera desestabilizar as relações já existentes, provocando algum ciúme e inimizade. 
Deste modo, o herói foi recebido, carinhosamente, nesta sua nova residência e, de dia para dia, está a conquistar terreno e a simpatia e amizade dos novos donos. Por ser uma “criança” espigada, para a tenra idade que aparenta, oito meses, faz umas pequenas diabruras, que não são mais que o seu comportamento infantil. 
Trepa pela dona acima, quase da sua altura, pousando, suavemente, as patinhas nos seus ombros, como se dissesse: — A menina dança? Corre pelo vasto jardim envolvente da casa, escarificando a relva e pegando, às vezes no chinelo da dona, na sua irreverência infantil. Mas o malandreco, precisa duma surrinha no rabito, pois levantou o chão de cerâmica, do aposento do menino Jesus!
—Tem que ser catequizado, o Scott! — Sentencia a dona com bonomia.
Esta tem pela frente um longo trabalho de educação, treino do “menino”, mas está convicta que obterá melhores resultados, que com alguns alunos, refratários à aprendizagem. 

23.12.2012 

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