sábado, 20 de abril de 2013


DOU A VIDA A QUEM ME SEGUE
Georgino Rocha




Esta garantia é dada por Jesus na sequência da parábola do Bom Pastor. Surge no diálogo tenso com as autoridades dos judeus. Não faz nenhuma excepção. Está aberta a todos. Apenas indica algumas condições. E a observância destas são indispensáveis para que a garantia/promessa seja efectivamente realizada. É feita aquando da festa da Dedicação do Templo, em Jerusalém. Mas tem como horizonte as “rotinas” do tempo comum e os acontecimentos da história de toda a humanidade. Desde que sejam satisfeitas as condições apresentadas.

Jesus dá a sua própria vida “por causa de nós homens e da nossa salvação”, causa que sempre o apaixonou e que a Igreja lembra no Credo. Dá-a de uma vez para sempre. Em todas as circunstâncias: na simplicidade de Nazaré, na companhia dos discípulos, nas festas de familiares e amigos, no passeio dos campos, na esplanada do Templo, no Jardim das Oliveiras, na crucifixão no Calvário, na ressurreição do túmulo de José de Arimateia. E esta doação faz-se palavra que prolonga a sua voz, faz-se sacramento que é sinal e instrumento do seu amor, faz-se proximidade que assinala a sua presença amiga e benfazeja. A vida que nos dá fica acessível a todos no tempo presente e será possuída em plenitude na comunhão definitiva e eterna com Deus.

Seguir Jesus é escutar a sua voz que nos chega em tantos sons e tons; é colocar os nossos passos nas pegadas que nos deixa nos caminhos da vida; é (re)conhecer o chamamento que nos faz; é aceitar ser membro da sua comunidade que, em linguagem pastoril própria da época e da cultura do seu tempo, se designa por rebanho de ovelhas de que Ele é o belo e o bom Pastor.
A relação do pastor com o rebanho visualiza a relação de Jesus connosco: conhece o nome, a consciência; acompanha-nos nos caminhos da vida, alerta-nos para a responsabilidade do presente e indica-nos a satisfação do futuro. Não nos substitui, mas oferece-nos o seu amparo e protecção, garante-nos segurança e respeita a liberdade.

A ilustrar o tipo desta relação, conta-se que um actor deliciava os convivas durante o serão realizado num castelo na Inglaterra. Declamava textos de Shakespeare. No fim e perante o agrado geral, dispôs-se a que lhe pedissem um bis. Os convidados ficam em silêncio. Então um padre católico, perguntou-lhe se sabia o salmo 22. “Sim, sei. Mas só o declamarei se, depois de mim, o recitar o senhor”. Tímido, o padre aceita. (Este salmo narra com grande beleza e realismo a acção de Deus como pastor solícito). A declamação do actor entusiasma os convivas a ponto de o aplaudirem de pé. Depois segue-se a intervenção do padre que faz uma recitação diferente. À medida que avançava, um silêncio mais profundo se sentia e num ou noutro rosto assomava uma lágrima sentida. Gerou-se um ambiente especial em que se respirava algo espiritual. Não houve palmas, mas surgiu a voz do actor a dizer “Senhoras e senhores, espero que tenham compreendido o que aconteceu aqui esta noite. “Eu declamei como um artista que sabe o salmo, o padre mostrou bem que conhece o Pastor. Parabéns!”
Que belo depoimento! E como são precisos os padres que conhecem e testemunham o bom e belo Pastor!            

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