quarta-feira, 24 de julho de 2013

A arte do inacabado



É-nos dito e repetido que o tempo bem aproveitado é um contínuo, tendencialmente ininterrupto, que devemos esticar e levar ao limite. A maioria de nós vive nessa linha de fronteira, em esforçada e insatisfeita cadência, a desejar, no fundo, que a vida seja o que ela não é: que as horas do dia sejam mais e maiores, que a noite não adormeça nunca, que os fins de semana cheguem para salvar-nos a face diante de tudo o que fica adiado.
Quantas vezes damos por nós a concordar automaticamente com o lugar comum: “precisava que o dia tivesse quarenta e oito horas” ou “precisava de meses de quarenta dias”. Desconfio que não seja isso exatamente o que precisamos. Bastaria, aliás, reparar nos efeitos colaterais das nossas vidas sobreocupadas, no que fica para trás, no que deixámos por dizer ou acompanhar.
(...)

Uma reflexão de José Tolentino Mendonça

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