sábado, 28 de setembro de 2013

Deixa-te convencer




“Deixa-te convencer” é exortação velada e insinuante que encerra a parábola do rico Epulão e do pobre Lázaro. “Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas, também não se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dos mortos”. Esta resposta está posta na boca de Abraão como ponto final a um diálogo persuasivo sobre o valor das coisas vistas da “outra margem do rio”, sobre a importância de saber aproveitar as oportunidades que o tempo nos proporciona, sobre a articulação consequente que existe entre a fase presente da vida e o futuro definitivo.

Deixa-te convencer, pois a vida é só uma, no tempo e na eternidade, embora com ritmos diferentes, tem uma dignidade própria que se manifesta progressivamente nas opções que fazemos e nas atitudes que assumimos, nas relações que criamos e alimentamos e nas associações que organizamos, na sociedade que constituímos.

Deixa-te convencer, pois os bens são pertença de todos e a todos se destinam, de forma equitativa e solidária, estando nas nossas mãos para serem bem geridos, segundo o propósito do Criador que se revela, de modo original, em Jesus de Nazaré, o Filho único de Deus, e as leis justas estabelecidas pela autoridade humana.
Deixa-te convencer, pois o futuro definitivo, a vida eterna, está germinalmente contido no presente, como a árvore na semente, tem a força de atracção mobilizadora das nossas energias e talentos, e oferece-nos a capacidade de aguentar e superar as contrariedades que, frequentemente, surgem no nosso peregrinar; garante-nos que tudo o que fazemos é parcela do bem de todos e está cheio de consequências.
Deixa-te convencer, pois a aspiração à felicidade é fundamental no ser humano, como manifesta o rico Epulão tanto no luxo das vestes e nos esplêndidos banquetes, como sobretudo na experiência de frustração que lhe provoca sofrimentos horríveis e na súplica aflitiva por ajuda, ainda que mínima; aspiração que comanda a vida nas horas de infortúnio e nos períodos de sucesso. Todos nascemos para ser felizes e vamos construindo a felicidade, sobretudo com pequenas coisas e em momentos fugazes.
Deixa-te convencer. Este é o tempo em que Deus coloca à nossa disposição todos os seus dons, a sua Palavra em tantas vozes humanas; o seu Filho Jesus em tantos rostos (des)figurados que urge reconfigurar; o seu Espírito que livre e discretamente vai agindo em nós para agilizar a nossa resposta coerente, o nosso envolvimento generoso; a sua Igreja que, apesar das limitações, nos abre as portas e acolhe como família de irmãos e nos proporciona o que tem de melhor: a mesa do Senhor, a comunhão de todos uns com os outros em Deus; as pessoas que fazem parte da nossa comum humanidade, familiares, vizinhos, próximos ou distantes. Deixa-te convencer: o futuro feliz está ao nosso alcance, por graça de Deus e esforço de cada um de nós.       

Georgino Rocha              

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