sábado, 19 de outubro de 2013

Fazei-me justiça, Senhor

Georgino Rocha


O contraste é radical, embora não pareça. Surge na parábola “da pobre viúva e do juiz iníquo” narrada por Jesus a propósito da necessidade de fazer oração sem desanimar. Faz parte da sua pedagogia narrativa e visa provocar os discípulos. Manifesta a diferença abissal entre o proceder de Deus e o do juiz sem escrúpulos. Realça a figura da viúva incansável na procura da justiça que lhe é devida. “Retrata”, de algum modo, a situação actual.
Apesar de tantos profissionais qualificados pelo seu desempenho, é clamor generalizado contra o funcionamento da justiça: burocracia complexa, tráfico de influências, recursos fáceis e lentidão nos processos, adiamento de prazos, leis com “alçapões” de refúgio para os mais hábeis, custos avultados. A nível pessoal e internacional. O mundo está “doente” tal a grandeza e extensão do que acontece e é fomentado por interesses egoístas descarados ou ocultos.


A viúva é, na Bíblia, uma das figuras mais emblemáticas de quantos estão expostos à intempérie desapiedada dos prepotentes e gananciosos. Por isso, o seu clamor persistente e insistente dá voz a quem se encontra injustiçado, esquecido no seu infortúnio, privado dos seus direitos, atirado para as margens do “rio” da vida, sem abrigo de nenhuma espécie, atormentado por males sem conta. Por isso, pede sem descanso: “Faz-me justiça contra o meu adversário“, tantas vezes camuflado e insidioso.

Jesus, após a narração da parábola, faz a sua leitura teológica. Destaca a acção de Deus no seu proceder para com aqueles/aquelas que lhe suplicam. Garante que “lhes fará justiça bem depressa”. E conclui que é preciso ter fé, viver na confiança, entrar no ritmo do Pai que tem em curso a realização do seu projecto de salvação, aceitar os seus silêncios que nos fazem crescer na paciente espera. É preciso fazer oração sem desanimar.

Deus sabe ajustar-se ao curso da história, é justo e fonte da justiça. Este seu modo de ser e de proceder constitui a referência fundamental para o agir justo de quem faz leis, as interpreta e aplica, estabelece sanções para os prevaricadores e define modalidades de recuperação do direito ofendido. São mediações necessárias para Deus ir realizando connosco o seu projecto de edificar uma humanidade feliz, justa, equitativa. Daí, a responsabilidade comum, sobretudo de quem está investido nas funções específicas de “fazer justiça”. Daí também a urgência de nos ajustarmos a Jesus Cristo, o Deus connosco para bem de todos/as.


Georgino Rocha

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