sábado, 28 de dezembro de 2013

Bom Ano Novo!


Pequenos pensamentos para 2014
Anselmo Borges

«Envelhecemos, mas, por mim, não tenho inveja da juventude. Pelo contrário, agora, à distância, o que quero é que os jovens vivam intensamente cada tempo. Na dignidade livre e na liberdade com dignidade. O que deveria ser norma para todos. Que vivam com atenção e intensidade, pois tudo passa muito rápido.»


É. Quando se chega a uma certa idade e mais um ano passa, o que mais dói é cair sobre nós as ausências de tantos que partiram. Partiram para onde? Ah, esse partir sem deixar endereço, e a falta que nos fazem!
Um novo ano novo começa. Novo: 2014. Por mais diagnósticos e prognósticos, é novo, imprevisível. Não está pré-escrito em parte alguma. Também é nosso: vamos fazê-lo. Mas é na surpresa que ele vem.
Envelhecemos, mas, por mim, não tenho inveja da juventude. Pelo contrário, agora, à distância, o que quero é que os jovens vivam intensamente cada tempo. Na dignidade livre e na liberdade com dignidade. O que deveria ser norma para todos. Que vivam com atenção e intensidade, pois tudo passa muito rápido.
Essa norma também pode ter outra expressão, que vou buscar ao início do Evangelho segundo São João, o passo mais filosófico do Novo Testamento. "No princípio, era o Verbo. Mediante Ele tudo foi criado. E o Verbo fez-se carne." Encontra-se aqui todo um programa para a existência. No princípio, era o Verbo. No original grego, está: era o Logos, a Razão, a Palavra. E tudo foi criado mediante o Logos, a Razão, a Palavra. E o Logos, a Razão, a Palavra, fez-se carne, tornou-se um de nós, por amor. Chama-se Jesus Cristo. O que sustenta o mundo é o Logos, a Razão, a Palavra, que não é impessoal, mas uma pessoa.
Onde deve então assentar a vida senão no vínculo da Razão e do Amor? Tantas vezes perdemos a vida, porque agimos sem razão e até contra a razão. Afinal, de que valem o ódio e o rancor e a exploração dos outros e a inimizade e a imensa estupidez de não pensar? Mas não basta a razão, pois a razão, só, pode ser cruel e mortal. Tem de ser a razão aliada à bondade e a bondade vinculada à razão, pois a bondade, só, sem a razão, pode lutar em vão e perder-se. Uma vida humana plena vive dessa aliança entre a razão que não olvida a bondade e a bondade que se ilumina com a razão.
O objectivo final só pode ser a felicidade, uma tarefa simples, que é ao mesmo tempo terrivelmente complexa. Como todos sabem por experiência. De qualquer forma, se me fosse permitido, gostaria de deixar aqui que muitas vezes fui chamado à cabeceira - isso: à cabeceira - de quem estava de partida, a tal de que falei no início. E devo dizer que não era propriamente a carreira - é certo que alguns/algumas nem carreira tiveram - que os ocupava ou preocupava naqueles momentos derradeiros nem o dinheiro ou a fama. Apenas a verdade maior, que tinha que ver com a família, com os amigos e o pouco tempo para eles e para o mais importante e decisivo. E queriam arrumar com verdade as coisas do aqui e do Além.
Mas isto tudo que para aí fica talvez se diga melhor de modo mais simples. Socorro-me de algumas regras para o bom viver de Manuela Santos, no seu blogue "umavidacomsentido". "Aproveite cada dia para aprender algo diferente. Não viva apenas para o trabalho, pois existe outra vida para além dele. Cuide da sua família todos os dias com amor. Aproveite para cuidar do seu bem-estar interior. Ouça música. Dedique-se a um hobby. Conheça os seus limites e não vá além deles. Aprenda a perdoar. Cultive a honestidade, a verdade, a humildade. Ame-se e namore todos os dias. Seja feliz! Dedique algum tempo à meditação, é muito importante."
Algum tempo, todos os dias, para meditar. É realmente muito importante, decisivo mesmo, vital. Significativamente, meditação, moderação e medicina têm o mesmo étimo: mederi (radical med-, "pensar, medir, julgar, tratar um doente"), que significa: cuidar de, tratar, dar remédio a, medicar, curar.
Quem quiser uma vida sensata e feliz tem de ir por aqui: dedicar todos os dias algum tempo à meditação, para ir ao encontro do essencial, do mais fundo, que é também o mais perto, porque mora dentro de cada um de nós, para ouvir a Palavra primeira, que fala no silêncio e diz a sabedoria do viver na sabedoria e que leva a cuidar do mais importante e melhor e a pensar e a julgar, a dar remédio e a curar. Seja feliz! Bom Ano Novo!

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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