segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Maria

Crónica de Maria Donzília Almeida

Barra
Do alto do seu pedestal, 
sua majestade o Farol da Barra 
assistiu, abençoou e piscou o olho 
a mais esta cena da vida real


Tomar um banho nas águas bem frescas, do Oceano Atlântico, na orla que abraça a nossa praia da Barra, é um ato que só os corajosos empreendem.
Ouço, a cada passo, os banhistas queixarem-se que são águas geladas, que afugentam a maioria das pessoas. Menosprezam o efeito revigorante das suas temperaturas baixas em favor de águas mais temperadas e quase mornas, na costa vicentina do Algarve. Aqui, o mar parece ”caldo”, no dizer de alguns friorentos.
Apesar de apreciar muito o nosso Algarve por muitas e variadas razões, não subestimo as nossas praias de areia branca e macia, beijadas pelo ímpeto de altas ondas que arrojam ao areal as conchas e burgos que muitos colecionam.


E…depois de um banho revigorante, de jogar uma partida de beach ball, o ritual de sempre – saborear uma tripa, ali junto ao Café Farol, sob o amplexo do majestoso Farol da Barra.
Ali, na barraquinha da Dª Elisa, a bicha cresce, mas o prazer que se desfruta compensa sempre. Os clientes habituam-se e criam uma certa fidelização a um determinado vendedor. O aroma que se evola da chapa, onde o polme é colocado espalha-se na atmosfera que rescende a bolacha americana.
Alinhava eu nesse tempo de espera que se vai gastando com a conversa aqui e ali, estando no momento, a distrair o Telmo, um garotinho de três anos, quando vi chegar a Maria. Vinha pela mão de uma jovem e cheia de energia, queria meter-se com toda a gente. Era lourinha e com um olhar tão vivo que cativou toda a gente. A jovem sorria extasiada perante a admiração e a interação despertadas pela Maria, como qualquer mãe que se revê no seu rebento e segurava-a na mão, não fosse ela fugir-lhe para o meio da rua, ou perder-se na multidão.
A certa altura, estava toda a gente a acariciar a Maria, incluindo o Telmo que descera do colo do pai, ainda à espera, na minha frente. Com a atração que tenho pela pequenada, que me está na massa do sangue, também fiz uma carícia na cabecita da Maria.
Com estas cenas de convívio intergeracional a ocuparem a atenção dos aspirantes à famigerada tripa, quase nem se dá conta do longo tempo de espera.
— É a minha amiga…a minha confidente…até dorme comigo na cama! — confessou a jovem moça, num assomo de bonomia.
Com todos estes atributos…devo esclarecer… a Maria era uma cadelinha ainda criança, arraçada de Labrador,  já não propriamente bebé, mas situar-se-ia numa adolescência incipiente. Cativou toda a gente pela sua energia incontrolável e foi o centro das atenções daquela tarde de verão.
Do alto do seu pedestal, sua majestade o Farol da Barra assistiu, abençoou e piscou o olho a mais esta cena da vida real.

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