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domingo, 24 de novembro de 2019

BÍBLIA - Tradução de Frederico Lourenço

Adquiri hoje o Tomo 2 do IV Volume da BÍBLIA, numa tradução do grego de Frederico Lourenço. Para mim, é um prazer enorme reler a BÍBLIA nesta edição da Quetzal, enriquecida pelos comentários do tradutor, oportunos e esclarecedores. Frederico Lourenço não é um tradutor qualquer, pelo que sei. E também é um escritor de mérito. É mesmo especialista e docente universitário  de Literatura Grega. 
A Bíblia faz parte da minha biblioteca desde que os livros começaram a despertar-me interesse. Direi mesmo uma certa e salutar paixão que se tem mantido viva e atuante. 
Gosto de ler o Livro Sagrado ao ritmo da maré. Serenamente, sem provocar cansaço e na perspetiva de saborear a presença de Deus no mundo... Ele anda por aí. 

«O importante é esta Bíblia, um grande livro que decerto perdurará muitos, muitos anos na reduzida prateleira da Grande Arte da nossa Literatura, pelo seu rigor, pela sua beleza, pela sua absoluta e luminosa fidelidade. Como português agradeço do coração a Frederico Lourenço. Como escritor agradeço-lhe do fundo da alma. A Arte não é um desporto de competição e a Casa do Pai tem muitas moradas.» 

[António Lobo Antunes] 

Na cinta do livro 

Para onde irei, longe do Teu espírito? 
E longe do Teu rosto para onde fugirei? 
Se eu subir ao céu, Tu estás lá; 
se eu descer ao Hades, estás presente. 
Se eu tomar as minhas asas de madrugada 
E habitar nas extremidades do mar, 
Também aí a Tua mão me conduzirá; 
E a Tua dextra me segurará. 
E eu disse: «Então escuridão me espezinhará; 
E a noite será iluminação no meu prazer.» 
Porque escuridão não será escurecida devido a Ti; 
E noite como dia será iluminada. 

Salmo 138 (= 139 BH), 7-12 

Capa da contracapa

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Revista Visão: De profundis, de António Lobo Antunes



"O meu pai tinha quatro irmãs mais novas e um irmão que morreu pequenino, de meningite, por volta da idade em que tive essa doença. Parece que comecei com muita febre e horas depois estava em coma. Inexplicavelmente sobrevivi. Há de certeza pessoas que, pelo que vou dizer, me acharão tonto, mas ninguém me tira da cabeça que Santo António me salvou. E lá me levaram, aos sete anos, a Pádua, tocar no túmulo do Santo e fazer a primeira comunhão. A minha relação com Deus tem sido sempre tumultuosa, cheia de desacordos e discussões: longos períodos em que me afasto, alturas em que me aproximo, amuos, quase insultos, discussões. Creio firmemente que, nos livros que escrevo, é Ele que guia a minha mão e não passo de um instrumento da Sua vontade. Quantas vezes me vem à cabeça aquele pequenino poema de Sebastião da Gama: a corda tensa que eu sou o Senhor Deus é quem a faz vibrar; ai linda longa melodia imensa: por mim os dedos passa Deus e então já sou apenas som e ninguém se lembra mais da corda tensa. É que não escrevo assim tão bem, trabalho sem plano e quase me limito a assistir ao que vai ficando no papel. O meu único mérito é fuçar o dia todo, até ser apenas som. Componho-os numa espécie de febre, no fundo de um abismo em que me perco, cego e surdo, não resultam nunca de uma deliberação mental, um propósito, um plano definido. Não concordo com Jean Daniel, quando afirma que a única desculpa de Deus é não existir: há alturas em que o sinto tão fortemente em mim, alturas em que o sei tão longe.