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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Reformados, eméritos, etc

Crónica de Anselmo Borges 
no DN de sábado

Em tempos de crise, 
os governos, para a austeridade, 
têm sempre facilmente à mão os reformados, 
com este ou aquele nome

Há muito que me pergunto porque é que uns são reformados, outros jubilados, outros eméritos, outros pensionistas ou aposentados. Pus-me no encalço das palavras, à procura do seu sentido originário. O que aí fica é o resultado, confesso que um pouco apressado, desse exercício.

1. Claro que reformado vem de reforma. A reforma que, em certos contextos, aparece mais imediatamente é a Reforma protestante. Aqui, porém, ela tem que ver com a situação de ir para a reforma e receber uma reforma, que é, em princípio, um quantitativo em dinheiro. Reformado é, pois, o que passou à reforma, por ter atingido uma certa idade e trabalhado um certo número de anos, com os respectivos descontos, ou porque ficou pura e simplesmente incapacitado para o trabalho. De modo estranho, reforma vem do latim reformare, com o significado de voltar à primeira forma, restabelecer, alterar, e reformado é o que torna à sua primeira forma, mas também o desfigurado, modificado.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A nova geração dos aposentados úteis

Idosos com lugar cativo

Há gente que espera a aposentação para fazer companhia todo o dia à televisão, ver todas as telenovelas, dispor de tempo para conversar ao telefone e com os pés quentinhos, com amigos ou amigas. Outros começaram por terem olhado a tempo para os bancos dos jardins e aí marcaram lugar cativo. Nas aldeias, a vida dos aposentados, a menos que tenham regressado da cidade com o estatuto de funcionários públicos reformados, é de continuar a trabalhar, porque nunca fizeram outra coisa na vida e agora é difícil andar por outro caminho. Uma moda nova e de aplaudir é passear o país em camionetas da câmara para ver o que nunca se viu ou matricular-se em universidades seniores para continuar a aprender…
Mas há outros, já aposentados ou lá a chegar depressa, que encontram agora tempo para investigar e escrever sobre a sua terra, sobre a história de tempos vividos antes, sobre usos e costumes que o tempo banal inclemente vai apagando. Uma maravilha de criatividade intelectual, de frescura de alma, de sentido de transmissão gratuita, de “plantar nogueiras” que só darão fruto para os bisnetos… Gente que mostra que o país não entrou em falência e que não é preciso um requerimento para se fazer o que se gosta. Gente que prolonga o tempo com um bem-fazer discreto mas útil.
Aposentado não quer dizer resignado, acomodado, inútil. Quer dizer que há gente que descobriu finalmente na vida o que a vida pacientemente lhe reservou para o tempo sem horário, para a gratuidade generosa, para que, fora da lufa-lufa, possa saborear a outra face da vida.

António Marcelino
no Correio do Vouga de 15-12-2010