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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Na Rádio Renascença: Ponto de Vista de Francisco Sarsfield Cabral



Uma perspectiva mais ampla 

Quase todos os dias somos sobressaltados por más notícias económicas e financeiras. Apetece não ler ou ouvir notícias, para não ficar deprimido. 

Mas fugir à realidade não é solução para coisa alguma. Ora uma visão cristã da grave crise que atravessamos diz-nos duas ou três coisas. 

Em primeiro lugar, indica-nos a importância de participar na discussão da res publica na perspectiva do bem comum. Valoriza a actividade política como algo que pode e deve ser nobre, por muito que os políticos nos desgostem. Depois, da fé decorre o imperativo da preocupação com aqueles que passam pior, não tendo capacidade para satisfazer necessidades básicas. 

Porventura mais importante ainda, a fé assegura-nos que Deus nos ama. E que o futuro nos levará à felicidade total de viver para sempre no amor de Deus. Esta esperança não pode ser um escape para fugir aos problemas do mundo, nem um consolo fácil. É, sim, um factor que nos leva a não desanimar perante a gravidade da crise. E também a relativizar os dramas que ela traz, colocando-os numa perspectiva mais ampla. 


Na RR

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Crise provoca medidas drásticas

A crise de que todos falamos já provocou estragos. Descida de salários, subida de um imposto, cortes nas prestações sociais, congelamento de pensões, reduções em grande parte dos sectores do Estado. Como de costume, muitos portugueses protestam. Uns com razão, sobretudo os mais pobres e de fracos recursos, e outros por razões políticas.
Portugal está a cair no grupo dos países com ameaça de bancarrota ou lá perto. Todos acham que é preciso evitar cair-se no descrédito internacional. Todos clamam que é preciso tomar medidas urgentes e capazes de suster o descalabro iminente. Todos apontam soluções e muitos falam sem dizer nada de jeito.
Uma coisa é certa: é preciso avançar antes que seja tarde, na esperança de que o clima melhore. Na esperança de que a qualidade de vida se recomponha. Os sacrifícios de agora podem ser compensados num futuro próximo. Os que podem, que mostrem a sua solidariedade para com os mais frágeis. Não podemos alinhar com os que gritam por medidas corajosas, desde que sejam os outros a sofrer as consequências.

FM

sábado, 20 de junho de 2009

A alergia dos cristãos à política

É interessante constatar que nos anos 60 e 70 os movimentos cristãos juvenis e universitários acalentavam um grande entusiasmo pelo compromisso social e político, discutiam-se acaloradamente as formas de participação política dos cristãos, qual o seu lugar e missão na edificação de um mundo novo ou de um mundo melhor. É verdade que houve ambiguidades e derivas, tornando-se a política não uma dimensão, mas o centro e, em alguns casos extremos, a totalidade, relegando para um plano secundaríssimo a função eminentemente espiritual da proposta cristã. Mas a verdade é que hoje se corre o perigo oposto: o de buscar apenas uma espiritualidade, desenhada à maneira de um bem-estar íntimo, ou intimista, em que a Fé se torna um assunto privado, uma gestão exclusiva do eu, onde as necessárias implicações históricas e colectivas não entram. Será possível conjugar um grande amor por Deus com um grande desinteresse pelos homens? A rarefação do entusiasmo e da presença dos cristãos nas várias dimensões da vida pública é um sintoma preocupante na Igreja portuguesa. O Deus em que os cristãos crêm não plana acima das questões escaldantes da história: Ele aparece claramente comprometido com a justiça e uma ordem social de equidade, manifestando-se a favor dos mais pobres. A opção pelos pobres, a escolha preferencial pelos sem voz nem vez remonta ao próprio Cristo e ressoa claramente nos textos das origens cristãs. Como resume a 1 Carta de São João (1 Jo 4,20): «Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas não amar o seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê». A Fé para ser vital tem de aceitar o risco de ser uma Fé encarnada. O Evangelho para ser vital tem de ser recebido como palavra transformante, como fermento colocado na massa. O cristianismo não coincide com nenhuma realidade política, mas em todas introduz uma tensão de amor, de justiça e de verdade. O cristianismo tem um sonho. Aqueles cristãos que dizem, “eu não quero sujar as minhas mãos na realidade do mundo”, como lembra Charles Péguy, “acabam rapidamente por ficar sem mãos”. José Tolentino Mendonça