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domingo, 26 de julho de 2020

Os meus avós

Avô Facica (Os seus olhos mostram bem que era de personalidade forte)
Maternos: Manuel José Francisco da Rocha
                 Custódia de Jesus

Paternos: Manuel Martins
                Maria de Jesus Lourenço

Evoco hoje os meus avós, sobretudo os que conheci: Manuel José Francisco da Rocha e Maria de Jesus Lourenço. Os outros faleceram sem eu os poder conhecer. O meu avô Manuel José Francisco da Rocha ficou para a minha história de vida como avô Facica, do seu apelido Francisco; a minha avó Maria de Jesus Lourenço, ficou como avó Briosa, decerto a condizer com a sua forma de se apresentar. 
A minha avó Custódia terá falecido por doença que não consegui apurar e o meu avô Manuel Martins era diabético. Terá sucumbido a qualquer ataque provocado por aquela doença, na altura de tratamento difícil. Deixou cinco filhos por criar... 
Os que conheci, o avô Facica e a avó Briosa, trataram-me sempre com muito carinho. O avô, que morava perto de nós, passava muito tempo em nossa casa e eu percebia que alimentava uma natural ternura por mim. Um dia, teve uma atitude que me marcou para a vida: Alguém lhe pediu dinheiro ao que ele anuiu. Era preciso ir a sua casa buscar o dinheiro. E quando o interessado se dispunha a fazer o serviço, ele adiantou: — Só o Manuel Fernando é que lá vai! 
Quando o meu professor, Manuel Joaquim Ribau, passava pelas nossas casas, a pé, para a escola, o meu avô questionava-o frequentemente para saber como me comportava eu. A resposta era sempre a mesma... Ele (era eu) é bom menino. E o meu avô sorria feliz. Morreu vitimado por ataque de um assaltante, mas ainda resistiu cerca de um mês. 
A avó Briosa era, realmente, duma simpatia extrema. O seu rosto mantinha-se permanentemente sorridente. Nunca me lembro de a ver carrancuda. Um dia a minha mãe adoeceu dos pulmões e ficou acamada. O médico aplicava-lhe um tratamento especial para a época: ventosas nas costas... E foi a avó que passou a fazer esse serviço, durante uns tempos, ajudando também nos serviços de casa.
Recordo-os vezes sem conta, porque souberam sensibilizar-me positivamente para a vida, com o exemplo de dedicação e amor à família. 

Fernando Martins

terça-feira, 24 de julho de 2018

Dia dos Avós na Biblioteca Municipal de Ílhavo



A Câmara Municipal de Ílhavo convida todos os avós e netos a participarem na comemoração do Dia dos Avós que terá lugar na Biblioteca Municipal, na quinta-feira, dia 26 de julho, pelas 14h30. Nesta comemoração, não hão de faltar atividades para serem vivenciadas por todos os que se associarem à festa. Realmente, quando avós e netos se juntam, há sempre uma festa de franco e salutar convívio.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

MaDonA — O avô Manel


«O avô Manel é o último sobrevivente do clã familiar. Fui visitá-lo, um dia destes, e ia rever uma pessoa que me é tão grata. O que estou a escrever será uma homenagem, a minha homenagem, em vida. É em vida que se apreciam os afagos, os mimos, o carinho. Depois...restam apenas as flores... 
Qual não foi a felicidade do avozinho, ao receber a visita de entes queridos, que lhe atenuam a solidão dos dias. Com idade avançada, prestes a completar 95 anos, as forças do avô foram minguando, trazendo consigo as maleitas próprias desta faixa etária. A força nas pernas diminuiu, e depois de várias quedas, o destino foi o recurso a uma cadeira de rodas. Foi uma inevitabilidade! A única e a possível.»

“A gratidão é a memória do coração.” 

Antístenes

O avô Manel é o último sobrevivente do clã familiar. Fui visitá-lo, um dia destes, e ia rever uma pessoa que me é tão grata. O que estou a escrever será uma homenagem, a minha homenagem, em vida. É em vida que se apreciam os afagos, os mimos, o carinho. Depois...restam apenas as flores... 
Qual não foi a felicidade do avozinho, ao receber a visita de entes queridos, que lhe atenuam a solidão dos dias. Com idade avançada, prestes a completar 95 anos, as forças do avô foram minguando, trazendo consigo as maleitas próprias desta faixa etária. A força nas pernas diminuiu, e depois de várias quedas, o destino foi o recurso a uma cadeira de rodas. Foi uma inevitabilidade! A única e a possível. 
Foi o prenúncio de um fim anunciado, já que a mobilidade é uma força que nos prende à vida e nos faz lutar por ela. O avô Manel ficava privado da sua deslocação ao jardim, onde poderia enxergar as flores que outrora cultivara, e as uvas americanas que pendiam em latada, nos longos passeios pelo quintal. 
Um véu de tristeza escurecera o seu semblante, que gradualmente se foi dissipando com a nossa presença. Foi um raio de luz a iluminar-lhe o rosto e trazer ao seu olhar, o brilho de tempos antigos. De vez em quando, os seus olhos ficavam marejados de lágrimas, quando, à memória, vinham recordações antigas, dos seus tempos de pujança. Em frente àquele rosto, agora encanecido, passou na minha tela mental, o filme do Avô Manel, em que foi o protagonista de uma grande epopeia. 
Após a sua retirada do mundo do trabalho, o avô dedicou-se, de alma e coração, à sua horta biológica, uma atração para os domingueiros que apreciavam o kitchen-garden do Sr Manuel. Aí, sentia-se nas suas sete quintas! 
“Vou semear um rego, dois regos...de ervilhas, favas, tomateiros, pimentos, cebolas, etc, etc” era uma expressão recorrente, no linguajar simples do avô Manel, com marcado acento tripeiro. 
E assim, nasciam os canteiros, rigorosamente talhados a régua e esquadro, dada a perfeição com que os desenhava. Reminiscência dos seus tempos de marceneiro em que projetava e fabricava móveis, com a perícia de um mestre. A bordejar esses canteiros de hortaliças, havia sempre renques de dálias, gladíolos, cravinas. No meio desse jardim, da casa até à linha do comboio, no fundo do quintal, estendia-se um largo passeio em cimento, ladeado por videiras. Em dossel, uma ramada de uvas americanas, que no verão nos ofereciam a sua sombrinha refrescante. Depois de maduras e vindimadas, davam o vinho americano, que antes de fermentado era aquele vinho doce tão apreciado. Era o autêntico, genuíno sumo de uva que distribuía pela família e amigos. Ainda tenho guardada, na minha retina e no olfato, a imagem das ervilhas de cheiro, que trepavam à volta dos esteios em ferro, da ramada, libertando para a atmosfera, a sua fragrância adocicada e fresca. 
Dava gosto ver o sentido estético que ele punha em tudo que fazia. Espantoso! E os produtos vegetais que saiam das suas mãos, arrancados à terra preta, fecunda, do Porto, eram de alta qualidade, hoje designados por produtos gourmet. 
Por tudo isto e outras coisas que, involuntariamente, possa ter omitido, tenho um profundo sentimento de gratidão, pelo avô Manel. 
Bem-haja, por tudo o que fez pela sua prole. 

Mª Donzília Almeida 

26 de julho de 2017