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domingo, 17 de janeiro de 2021

Vem Espírito Santo Criador!

Crónida de Bento Domingues no PÚBLICO


Bergoglio tem-se esforçado por realçar que o lugar das mulheres na Igreja está muito desfasado em relação ao papel que desempenham na vida social, cultural, económica e política em muitos países. Homens e mulheres gozam cada vez mais, ainda com muitas distorções, dos mesmos direitos e deveres cívicos.

1. Quando se pretende desqualificar as intervenções e os escritos do Papa Francisco, diz-se que lhe falta um pensamento estruturado por grandes princípios de alcance universal. Deixa-se levar pelas urgências da pastoral marcada pelo tempo, pelo lugar, pelas circunstâncias e pela vida e aflições das comunidades.
Parece-me uma observação bastante ridícula. Bergoglio não foi eleito para reitor de uma universidade pontifícia, mas para cuidar, segundo o Espírito e o método do irmão Jesus de Nazaré, das fraternidades cristãs, de modo que estas sejam o fermento de um mundo de irmãos [1].
Para caracterizar a sua tarefa, Jesus usou a palavra pastor porque, na sua cultura, era a que melhor designava aquele que vai à frente e cuida de todos. João XXIII, na Mensagem inaugural ao Vaticano II, observou que importa ter em conta, “medindo tudo nas formas e proporções do magistério de carácter prevalentemente pastoral”. Não opunha Teologia e Pastoral. Ele próprio nomeou alguns dos teólogos mais famosos pela sua abertura ao devir do mundo concreto. Ele não desprezava o contributo dos teólogos, antes pelo contrário. O que não lhe interessava era teólogos descolados do mundo em mudança.

domingo, 31 de maio de 2020

A Torre de Babel e o Pentecostes

Crónica de Anselmo Borges no Diário de Notícias 

"O fruto mais excelente do Espírito é o amor unido à benignidade, à bondade, à fidelidade e à mansidão"

Celebra-se hoje, na liturgia católica, a festa do Pentecostes, o acontecimento inaugural da Igreja cristã, que irradia luz fulgurante também para os tempos que estamos a viver, tempos de penúria e de noite, penúria no sentido do verso famoso de Hölderlin: "Wozu Dichter in dürftiger Zeit?" (Para quê poetas em tempo de penúria, indigência mais funda e abrangente do que a meramente económica?).
O Pentecostes apenas alcança a sua compreensão adequada em contraposição com Babel, o acontecimento mítico tão conhecido, descrito no livro do Génesis. É um mito, mas o mito transporta consigo uma verdade fundamental, "dá que pensar", como escreveu o grande filósofo do século XX, Paul Ricoeur.
Diz a Bíblia que Javé, ao ver a maldade grande dos homens sobre a Terra, maldade que não deixava de crescer, se arrependeu de ter criado o Homem e se sentiu magoado no seu coração. Por isso, mandou o dilúvio, mas Deus renovou a sua aliança com Noé e com a criação inteira, aliança figurada ainda hoje, ainda que de forma ingénua, no arco-íris, unindo o Céu e a Terra.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

DEIXA QUE O ESPÍRITO DA VERDADE VIVA EM TI

Reflexão de Georgino Rocha para o Domingo VI da Páscoa

“Devido ao estado de pandemia provocado pela Covid-19, o município de Vagos não irá proceder à realização das festividades de Nossa Senhora de Vagos e do Divino Espírito Santo. O investimento que estaria destinado às festas “está a ser aplicado na aquisição de testes Covid-19 e de equipamentos de proteção, a serem distribuídos posteriormente pelas autoridades, nas áreas da segurança, da saúde pública e do social”,  anuncia a autarquia.

Ao longo do tempo pascal, Jesus, como bom pedagogo, prepara os discípulos para a nova etapa que vão viver. O Evangelho deste domingo narra “a conversa”, cheia de confidências, tida antes de partir para o Jardim das Oliveiras e iniciar a Paixão que o levará à morte de crucifixão por ódio dos inimigos e determinação das autoridades. Após a ceia de despedida, fala-se da despedida e da situação em que ficam os discípulos. A hora é grave. O ambiente é carregado e desolador. A sensação de abandono é completa e a tristeza incontida. A saída para o Jardim das Oliveiras está para breve. Escutam-se as últimas palavras que ficam como parte do testamento espiritual do Mestre.
“Eu pedirei ao Pai que vos mande outro Defensor para estar sempre convosco. Ele é o Espírito da verdade…que vós conheceis porque habita convosco e está em vós”. Pedido, promessa, certeza. Jesus refere-se ao Espírito Santo e garante a sua presença activa e companhia amiga que preenchem a sensação do vazio e vencem o temor da orfandade. Ele é o Consolador, o Paráclito, o Advogado. O olhar dos discípulos é reencaminhado para o futuro e o coração alertado para o novo prometido. A partida de Jesus – sua paixão, morte e ressurreição – abre caminho ao Espírito da verdade e, por ele, aos horizontes infinitos do amor de Deus, às realidades definitivas da comunhão da vida plena e feliz. - Jo 14, 15-21

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Georgino Rocha: O Dom de Deus - Recebei o Espírito Santo


A festa de Pentecostes celebra o acontecimento pascal do Espírito Santo enviado por Jesus Cristo e por Deus Pai. (Jo 20, 19-23). É acontecimento tipicamente cristão, embora tenha raízes judaicas, designadamente a campanha das colheitas nos campos e a realização da Aliança, a entrega das Tábuas da Lei, a festa do Sinai. Tem como referências singulares o espaço público do Calvário e a casa onde os discípulos se refugiam após os trágicos acontecimentos, em Jerusalém. É seu agente principal Jesus Ressuscitado que, desta forma, cumpre a promessa feita. Pretende desvendar o agir humano do Espírito Santo, fiel companheiro dos discípulos/Igreja no desempenho da missão que lhes é confiada.
“Qual é o homem, interroga-se S. Basílio Magno, bispo do século IV, que ao ouvir os nomes com que é designado o Espírito Santo, não sente levantado o seu ânimo e não eleva o seu pensamento para a natureza divina? (...). Para Ele voltam o seu olhar todos os que buscam a santificação, para Ele tende a aspiração de todos os que vivem segundo a virtude; é o seu alento que os revigora e reanima para atingirem o fim próprio e natural para que foram feitos”.
A surpresa do Espírito Santo ocorre no primeiro dia da semana, ao anoitecer, quando os discípulos estão fechados em casa e cheios de medo. Jesus manifesta-se no meio deles, deseja-lhes a paz e mostra-lhes os sinais da paixão. Eles exultam de alegria por verem o Senhor. E neste ambiente cordial e nesta relação pacífica, Jesus faz o seu envio em missão, após lhes ter recordado que é Deus Pai, a fonte do envio missionário. E, enquanto sopra sobre eles, afirma: “Recebei o Espírito Santo” para o perdão dos pecados.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Georgino Rocha: O Ressuscitado convive connosco

Domingo da Misericórdia 2019 

  
  É ao cair da tarde. Em Jerusalém, cidade onde há dias havia ocorrido a morte por crucifixão de Jesus de Nazaré. A noitinha está prestes a chegar. Começam a rarear os últimos clarões de luz. A hora do tempo marca o ritmo do coração e indicia o estado de ânimo dos discípulos: Esperança muito em baixo. Refugiados em casa, estão cheios de medo e com as portas trancadas. Sobretudo as do espírito encerrado no futuro imediato. O desfecho dos seus sonhos, que duraram quase três anos, deixou-os em estado de choque. O Rabi, o Mestre em quem haviam depositado total confiança, teve morte trágica. E agora, que vai ser de nós? Será conhecido o nosso refúgio e esconderijo? Virão à nossa procura? Que nos farão? E muitas outras dúvidas e perguntas enchiam a sua imaginação.
Jesus apresenta-se no meio deles. De modo simples. Sempre Ele a tomar a iniciativa, a surpreender. E saúda-os amigavelmente: “A paz esteja convosco”. João, o narrador do episódio (Jo 20, 19-31), não faz alusão a qualquer censura pelo passado recente. Apenas refere que lhes mostra as mãos e o lado, com as cicatrizes da paixão, sinais da sua identidade de crucificado. Não haja dúvidas. É Ele mesmo. Está à vista.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Festa de Pentecostes - Vinde, Espírito Santo

Georgino Rocha
VINDE, ESPÍRITO SANTO, 
ENCHER OS CORAÇÕES HUMANOS E RENOVAR A TERRA


«Em qual destas esferas está o Espírito Santo a chamar-nos para crescermos em sabedoria e bom senso, em relação de proximidade e dedicação, em santidade de vida e de atitudes, em respeito pela criação?»

Hoje, a Igreja celebra a festa de Pentecostes, a festa do Espírito Santo que Jesus nos envia de junto de Deus Pai. Festa que é memória e profecia, celebração e invocação, dom e doação, comunhão e missão. Os narradores do acontecimento, Lucas e João, situam-no em datas diferentes. João faz-nos uma apresentação sóbria na tarde do domingo da ressurreição; e Lucas, passados cinquenta dias, quando os judeus vinham a Jerusalém para a comemoração da entrega da Lei no Sinai e do selo da aliança de Deus com o seu povo.
Ambos convergem na novidade feliz de que o Espírito se manifesta aos discípulos e lhes concede a abundância dos seus dons, dons que hão-de dar frutos ao longo dos tempos nas diversas culturas. Com o esforço humano. Deus nunca nos dispensa. Dons que, sendo diferentes, se harmonizam e enriquecem na comunhão. De contrário, nega-se o dom maravilhoso que nos manifesta: Fonte da diversidade na comunhão da unidade. Dar rosto visível e atraente e esta realidade constitui um verdadeiro desafio à Igreja de todos/as que somos nós e aos seus mais directos responsáveis.

domingo, 6 de maio de 2018

O Espírito Santo é um atrevido

Frei Bento Domingues

"O Espírito Santo é muito atrevido, mas não é louco, não se substitui a ninguém, não tem uma varinha de condão para eliminar conflitos, não quer fazer nada sozinho, mas também não se acomoda ao que sempre assim foi"

1. Entramos em Maio e no VI Domingo da Páscoa. O Espírito Santo resolveu não esperar pela festa do Pentecostes e meteu S. Pedro em sarilhos teológicos e pastorais [1]. Contam os Actos dos Apóstolos (Actos) que estava ele para começar a rezar, mas com muita fome. Veio do Céu uma toalha cheia de manjares, mas todos proibidos a um bom judeu. Foi o próprio Espírito Santo quem lhe disse para não ligar a essas proibições e comer à vontade. Insistiu ainda que entrasse na casa de um gentio, um centurião romano, que o recebeu desvanecido. Pedro anunciou aí um princípio teológico de alcance universal: reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, pois qualquer uma, de qualquer nação que O tema e pratique a justiça, Lhe é agradável. Não estava a criar um novo privilégio, pois Jesus Cristo, que é o Senhor de todos, até começou pelos filhos de Israel o anúncio da boa nova da paz.
O Espírito Santo mostrou que não estava para conversas nem muitas cerimónias. Desceu sobre todos. Os companheiros de Pedro ficaram maravilhados ao verem que os gentios tinham a mesma sorte que eles. Pedro rendeu-se à evidência: como negar o baptismo aos que já receberam o Espírito Santo? Nasceu ali uma nova comunidade.

domingo, 4 de junho de 2017

O Espírito sopra onde quer

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO


1. O Vaticano II, que foi o Pentecostes do século XX, tentou renovar, descentrar a Igreja e levar os cristãos a serem agentes da transformação da sociedade, segundo critérios de desenvolvimento, de liberdade, de justiça e de paz, em colaboração com todos os seres humanos preocupados em tornar melhor este nosso mundo. Foi a conclusão de muitos movimentos que o precederam, catalisados pela leitura que João XXIII fez dos sinais dos tempos.
~Para as novas gerações isto pode parecer mais antigo do que o Antigo Testamento (AT). Se não tivermos em conta que a sensibilidade eclesial e social muda rapidamente, também não compreenderemos a urgência do Papa Francisco em reinterpretar o Vaticano II no mundo actual, muito diferente dos anos 60 do século passado.
Não podemos esquecer que o movimento cristão começou por se enxertar no mundo judaico, mas também na perspectiva de se enxertar em todos os povos e culturas. É verdade que, nas suas primeiras manifestações, este movimento pensava que o fim estava para breve. Não valia a pena influenciar os destinos das sociedades humanas. Cada pessoa que esperasse o fim, segundo a situação em que se encontrava, casada ou solteira. Era mais importante salvar-se deste mundo do que salvar este mundo.
S. Paulo, na primeira carta aos tessalonicenses, preocupava-se mais em organizar o fim próximo do que em programar o futuro. Foi sol de pouca dura. Ele próprio, na segunda carta, apercebeu-se que se tinha enganado e não tenta elaborar uma nova concepção. Opta por medidas pragmáticas: “Quando estava entre vós já vos tinha dado a seguinte ordem: quem não quiser trabalhar, também não coma. Ora, ouvi dizer que alguns de entre vós levam a vida à toa, muito atarefados a não fazer nada. A estas pessoas, ordeno e exorto, no Senhor Jesus Cristo, que trabalhem na tranquilidade, para ganhar o pão com o próprio esforço.” [1]
Quando os Actos dos Apóstolos (Act) são escritos, o autor apresenta Jesus Cristo bastante decepcionado: “Estando reunidos, os discípulos interrogaram-no: Senhor, é agora que ides restaurar a casa de Israel? Resposta: Não vos compete conhecer os tempos e os momentos que o Pai reservou em seu poder. Mas o Espírito Santo descerá sobre vós e dele recebereis força. Sereis, então minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.” [2]
S. Lucas era um artista em compor cenários dinâmicos. Era como se Jesus tivesse dito: Eu acabei, mas a tarefa não. Pelo contrário, alargou o horizonte, mas seria uma energia nova, o Espírito Santo, que levaria os discípulos a realizá-la.

2. No Domingo passado, celebramos uma despedida que o não era. Ocultou-se dos seus olhos numa nuvem. Foi a Festa da Ascensão. Interpretada em termos espaciais, poderia sugerir o que um miúdo me perguntou: foi visitar os extraterrestres? Outros escritos do NT insistem em que Cristo, longe da nossa vista, continua connosco até ao fim dos tempos em toda a nossa vida, mas como um clandestino.
A habilidade de S. Lucas consiste em não querer discípulos pasmados a olhar para o céu, como se a sua missão não fosse a transformação da Terra. Representa, por isso, a diferença que existe entre a Igreja presa do medo e a Igreja sacudida, abalada pelo Espírito. “Quando chegou o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído semelhante ao soprar de impetuoso vendaval e encheu toda a casa onde se encontravam. Apareceram umas como línguas de fogo, que se distribuíam e foram posar sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os impelia.” [3]
Havia uma festa judaica para celebrar o dom da Lei com gente piedosa que vinha de todas as nações. Confusão geral. Como é que cada pessoa ouvia falar aqueles galileus, na sua própria língua? Estão com os copos. Aí, Pedro, em nome do grupo não aguentou. Ainda não é hora para bebedeiras. Está a cumprir-se a profecia de Joel: “Acontecerá, nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne. Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de profetizar, os vossos jovens terão visões e os vossos velhos hão-de ter sonhos. Em verdade sobre os meus servos e as minhas servas derramarei o meu Espírito.” [4]

3. Se, como vimos, os primeiros cristãos pensavam que o mundo estava a chegar ao fim, os Actos dizem-nos que está tudo a começar. Esta obra deveria chamar-se o Livro das Aventuras do Espírito Santo. Faz tudo às avessas do previsto no judaísmo. O próprio S. Pedro levou tempo a compreender a liberdade de Deus. Quando teve de justificar, perante os circuncisos, o seu comportamento de acolhimento dos gentios, confessa: “Apenas eu começara a falar o Espírito Santo caiu sobre eles, como sobre nós ao princípio. Lembrei-me, então, desta palavra de Senhor: João, dizia ele, baptizou com água, mas vós sereis baptizados com o Espírito Santo. Se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós, que acreditamos no Senhor Jesus Cristo, quem sou eu para me opor a Deus?” [5]
Os sarilhos vão ser mais que muitos e vai ser preciso reunir um Concílio, o primeiro da Igreja cristã, para reconhecer que o Espírito de Deus não faz acepção de pessoas, nem de povos, nem de culturas. É o Espírito da liberdade, do amor universal.
Não é para aqui a leitura de dois mil anos de história das Igrejas cristãs no mundo. No entanto, algo ficou testemunhado nos textos do NT. O caminho do poder de dominação económica, política e religiosa foi o ambicionado pelos discípulos e sempre recusado pelo Mestre. Disse-lhes, expressamente: quem quiser ser o primeiro, ponha-se ao serviço de todos; aqui, reinar é servir. Isto significa que a Igreja não anda para trás quando se confronta com este espelho. O que o Espírito de Cristo lembra a todos os cristãos é simples: o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro só é garantido pela contínua criatividade
Quiseram fazer do Vaticano e das suas Cúrias o lugar do depósito da Fé. Esta não é um depósito, é o caminho do mundo, como Evangelho da Alegria. É sintomático que o Papa Francisco surja, simultaneamente, com um programa de reforma da Cúria e com um programa de Igreja de saída, para todas as periferias. Talvez seja o mesmo.
Perante as novas experiências e expressões do Evangelho, Bergoglio poderá dizer como Pedro: estava eu no meio desses pobres e abandonados e o Espírito Santo caiu sobre eles como um novo Pentecostes. Quem sou eu para dizer que Deus é só para os que têm assento nos lugares de poder da Igreja?

[1] Cf. 2 Ts 3, 10-12
[2] Cf Act 1, 6-8
[3] Act 2, 1-4
[4] Act 4, 16-19
[5] Act 10-11

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Garantia de Jesus: Vou enviar-vos o Advogado defensor

Reflexão Georgino Rocha


Disse em Fátima o Papa Francisco: "Sob a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor”

Jesus está a fazer a sua despedida dos discípulos. Abre-lhes o coração e comunica os sentimentos mais profundos. Conhece bem a situação em que se encontram: tristeza e perturbação, desamparo e orfandade, inquietação e perplexidade. E consigna no seu testamento final: “Não vos deixarei órfãos. Rogarei ao Pai que vos enviará outro Paráclito para estar sempre convosco”. Promessa realizada com a vinda do Espírito Santo. Promessa que toma rosto humano em quem cultiva o amor de liberdade e observa os mandamentos com obediência filial. Promessa que encontra no acontecimento do Pentecostes a sua celebração sacramental e percorre os caminhos da história em tantas outras manifestações.

O discurso de despedida, hoje proclamado na liturgia, condensa o núcleo fundamental dõ mistério cristão: “Eu estou no Pai e vós estais em Mim e Eu em vós”. A comunhão nasce e manifesta-se na relação. A certeza do envio do Advogado consolador, o Espírito Santo, enraiza-se neste amor fontal. A confiança dos discípulos alicerça-se na Verdade que não pode mentir. O olhar de fé faz ver outras dimensões da realidade e brota da razão humana iluminada por Quem a habita, o Espírito Divino. O amor à vida sonha novas ousadias porque garante Jesus: “Eu vivo e vós vivereis”.

Que beleza de mensagem. Que densidade da realidade. Que maravilha de horizontes. Tudo a envolver-nos para saborearmos e agradecermos, celebrarmos e vivermos, irradiarmos e comunicarmos. Em cumplicidade responsável que nos faz viver uma alegria irradiante. Santa Teresa de Calcutá dizia às suas Irmãs da Caridade: “A alegria é para nós uma necessidade e uma força, até fisicamente. Aquelas irmãs que cultivam o espírito de alegria não sentem tanto o cansaço e estão sempre prontas a fazer o bem. Plena de alegria, uma irmã prega sem pregar. Uma irmã alegre é como um raio de sol do amor de Deus, a esperança de uma alegria eterna, a chama de um amor que queima”.

A promessa de Jesus alarga-se à missão dos discípulos. Ide e anunciai. Ide e curai. Ide e sede testemunhas da minha ressurreição. E, obedientes por amor, partem pelos caminhos do mundo. De temerosos, fazem-se audazes; de agarrados ao passado, abrem-se decididamente ao futuro; de sonhadores de poderes mundanos, tornam-se realistas empenhados no serviço humilde, de cuidadores de interesses pessoais, passam a generosos construtores de uma sociedade de todos, lançando as sementes de um mundo novo a surgir.

Não estão sós nesta aventura missionária. Têm consigo o Advogado defensor, o Espírito Santo, enviado por Jesus. Necessitam da sua luz para amar sempre a verdade e não se deixarem corromper; da sua consolação para aguentar os revezes da vida; da sua companhia para vencerem a solidão que esgota e esteriliza; da sua força, suave e firme, para enfrentar todos os poderes instalados e provocar fendas de novidade e de esperança para os esquecidos e marginalizados; da sua sabedoria, para valorizar tudo o que condiz com a dignidade humana e rejeitar toda a espécie de discriminação e de silenciamento imposto. Outrora como agora. Os cristãos, seguidores fiéis de Jesus ressuscitado, sentem a alegria do Evangelho a irradiar e a causar problemas na (des)ordem estabelecida e na Igreja “entrincheirada” nos seus redutos tradicionais que se vão esboroando progressivamente. Os cristãos, como os discípulos na manhã de Pentecostes, querem vibrar com a audácia do Espírito Santo que os impele para a praça pública a proclamar o amor que Deus nos tem e faz germinar a revolução da ternura em toda a humanidade.

Maria, a Mãe de Jesus e nossa Mãe é o exemplo perfeito de quem se deixa modelar por este Espírito, o escuta e acolhe, e se disponibiliza para servir com amor. O Papa Francisco na sua peregrinação a Fátima exortou-nos a que: “Sob a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor”.

sábado, 9 de julho de 2016

As dez heresias do catolicismo atual (3)

Crónica de Anselmo Borges 


Concluo a apresentação das dez heresias do catolicismo actual, segundo J. I. González Faus. 
7. "Apresentar a Igreja como objecto de fé". Que se entende por Igreja? É decisivo responder adequadamente a esta pergunta, para afastar o perigo em que caiu o Papa Pio IX, que se negava a renunciar aos Estados Pontifícios, alegando que "aqueles territórios não eram seus, mas de Cristo". A Igreja não é Deus, é comunidade de comunidades formadas por homens e mulheres que acreditam em Jesus e no Deus que Jesus revelou. Homens e mulheres que acreditam no Deus de Jesus formam a Igreja e é em Igreja que acreditam em Deus. Temos, pois, um erro quando "a Igreja se apresenta como objecto de fé, equiparando-se ao Deus trino e esquecendo que só em Deus, e em mais ninguém, é possível crer, no sentido pleno da palavra". Percebe-se também que a autoridade na Igreja só como serviço se pode compreender.
8. "A divinização do Papa". "Confessamos que o Papa romano tem poder para mudar a Escritura e aumentá-la ou diminuí-la de acordo com a sua vontade. Confessamos que o santíssimo Papa deve ser honrado por todos com a honra devida a Deus e com a genuflexão maior devida a Cristo." Estas "palavras incríveis" provêm da profissão de fé que os jesuítas propunham aos protestantes húngaros para passarem à Igreja Católica nos finais do século XVII. O Papa Bento XVI, quando era professor, denunciou esta profissão como "monstruosa", reconhecendo depois que o magistério nunca a condenou.

sábado, 23 de maio de 2015

Domingo de Pentecostes — Cheios do Espírito Santo

Reflexão de Georgino Rocha



Cheios do Espírito, 
sabem interpretar o que acontece 
e descodificar os enigmas humanos


O acontecimento do Pentecostes manifesta como o Senhor Jesus coopera com os seus enviados. Jo 20, 19-23. Enche-os do seu Espírito e traça-lhes, mais uma vez, os horizontes da missão. De outro modo, como seria possível àquele grupo ir por todo o mundo, anunciar o Evangelho de forma acessível em todas as línguas, semear a paz em gestos de perdão, garantir um futuro melhor, abrir as portas do amor misericordioso, criar condições para que todos se reconheçam como irmãos porque filhos do mesmo Deus Pai?! Humanamente, impossível. O grupo estava ainda traumatizado pelas atrocidades da paixão, temeroso pelo que podia suceder-lhe, debilitado em forças e reduzido em número.

domingo, 17 de maio de 2015

Não é preciso ir à “terra santa”

Crónica de Frei Bento Domingues no PÚBLICO

"O segredo da simbólica da Ascensão 
é o Pentecostes, uma Igreja de saída 
que o Papa Francisco veio acordar"

Frei Bento Domingues

1. Quem se sentir desafiado por Jesus Cristo não deve ignorar que, para além da sua experiência vital e do conhecimento afectivo, tem de recorrer também aos estudos que ajudam a ler os escritos do Novo Testamento (NT) e os ziguezagues da sua influência, ao longo dos séculos. A não ser que se aposte na preguiça piedosa: quanta mais ignorância, mais devoção.
Os resultados da investigação histórica e os frutos da hermenêutica das configurações simbólicas, legadas pelas primeiras gerações cristãs, não devem servir apenas para compor as estantes das bibliotecas das faculdades de teologia.
O seu estudo livre e rigoroso será sempre o melhor remédio contra a manipulação de algumas censuras eclesiásticas, feita em nome da salvaguarda da fé. Só é possível acreditar, de modo decente, interpretando e dialogando com outras interpretações. Como já disse nestas crónicas, a defesa da tradição cristã não se faz com os métodos das indústrias de conserva. É vitalizada no confronto e no diálogo com os desafios de cada época, na diversidade dos povos, a partir dos guetos sociais e culturais criados pelos interesses financeiros e económicos da nova desordem do mundo. 

domingo, 3 de maio de 2015

Não vos conformeis com este mundo

Crónica de Frei Bento Domingues 
Frei Bento Domingues


1. Nada mais irritante, no plano religioso, do que a invocação da vontade de Deus para justificar situações, acontecimentos trágicos, doenças, injustiças e misérias. Essa invocação é um insulto à inteligência humana e ao mistério insondável da divindade e da natureza.
A laicização dessa mentalidade justificou a imoralidade de medidas de ordem económica, financeira e política, repetindo, anos a fio, que não havia alternativa à austeridade. Austeridade que, segundo outros, colocou milhares de pessoas na zona do insuportável e paralisou as energias criadoras de vastos sectores da sociedade.

sábado, 7 de junho de 2014

ABRI O CORAÇÃO AO SOPRO DE JESUS

Uma reflexão semanal 
de Georgino Rocha

«O sopro de Jesus dá “rosto” expressivo ao sopro de Deus que estabelece a harmonia no caos original e faz humano o ser criado. O sopro de Jesus é portador de vida em todas as situações de morte como no seu processo de condenação que abre as portas à feliz ressurreição. O sopro de Jesus, tal como nos discípulos, impele a Igreja a abrir as portas e a sair ao encontro, a testemunhar a alegria que a invade, a esperança que a anima. O sopro de Jesus gera em nós um coração novo, um olhar puro, uma audácia ousada, uma experiência feliz que nos impulsiona a partilhar esta força que nos anima e eleva, fortalece e equilibra; que nos leva a desejar a purificação da consciência e a fazer festa de comunhão; que nos faz amar a verdade que liberta e a honestidade que nos responsabiliza.»

domingo, 1 de junho de 2014

CORAÇÕES AO ALTO

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

«Nunca posso deixar de sorrir quando alguns católicos trazem ou pedem para trazer água do rio Jordão para o baptismo dos filhos ou dos netos, como se ela fosse dotada de especiais virtudes. O futuro de Jesus não veio dessa água, mas de um banho no Espírito recriador do mundo, a essência do baptismo cristão.»

sexta-feira, 23 de maio de 2014

DEIXA QUE O ESPÍRITO DA VERDADE VIVA EM TI

Uma reflexão semanal de Georgino Rocha

“O amor, sem estratégia, é aquele que dá a vida àquele que ama. 
O que seduz no cristianismo é esta economia do dom sem medida 
que o Filho encarna e que a Eucaristia torna presente”.
 José A. Mourão


«Não somos órfãos, temos família: a humanidade, a comunidade cristã. Não andamos enganados, seguimos a Verdade. Não vegetamos apenas, saboreamos desde já a vida abundante e aspiramos à sua plenitude. Não esgotamos a felicidade num momento, mas – como o sedento que se sacia da fonte de água fresca e confia na reserva para novas necessidades – integramos o momento no tempo e valorizamos a satisfação que nos proporciona.»


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Hino ao Espírito Santo





Num clima místico, 
poucos meses antes da sua deportação 
para Auschwitz, 
nasce uma das mais belas orações 
de Edith Stein, 
Santa Benedita da Cruz. 
Um hino ao Espírito Santo. 
Foi o seu «último pentecostes».



Quem és tu,
Doce luz que me preenche
e ilumina a obscuridade do meu coração?
Conduzes-me como a mão de uma mãe
E se me soltasses,
não saberia nem dar mais um passo.
És o espaço que envolve todo meu ser e o encerra em si.
Se Fosse abandonado por ti
cairia no abismo do nada,
de onde tu o elevas ao Ser.
Tu, mais próximo de mim que eu mesmo
e mais íntimo que minha intimidade,
E, sem dúvida,
permaneces inalcançável e incompreensível,
E que faz brotar todo nome:
Espírito Santo — Amor eterno!



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