O que resta do Pai?
José Tolentino Mendonça
«O que resta do Pai?», pergunta-se o psicanalista Massimo
Recalcati no seu oportuníssimo estudo sobre a paternidade na época pós-moderna.
A preocupação que partilha com os leitores é esta: resta muito pouco. E para
classificar os tempos que correm ele recupera uma expressão de Jacques Lacan:
«a evaporação do pai». De facto, a nossa cultura tem praticado, com razões mas
sem razão, uma demolição sistemática da figura do pai. O pai deixou de ser
referência de valor para avaliarmos o sentido, para delinearmos a fronteira do
bem e do mal, da vida e da morte. Vivemos muito mais uma suspeita permanente em
relação ao que o pai representa ou mergulhados num luto obsidiante, promovendo
o desencanto e a incerteza ao estatuto de novas formas de felicidade (e de
ilusão). O que defende Recalcati é que a figura do pai precisa de ser
recuperada.