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domingo, 10 de maio de 2020

UM ASTROFÍSICO E UM FILÓSOFO FRENTE À COVID-19

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


Têm outro horizonte de compreensão e, por isso, podem ajudar-nos no discernimento da presente hecatombe. Ambos muito conhecidos. Um é astrofísico, o outro é filósofo. Do alto do seu saber e da sabedoria que a idade, 88 e 98 anos, respectivamente, também dá, vale a pena ouvi-los. Foi o que fiz, pela intermediação de entrevistas que deram, a partir do seu confinamento. 

1. O astrofísico é Hubert Reeves, que conversou com Luciana Leiderfarb para o Expresso. E que disse? 
Constatou o facto: em casa, confinados, por causa de um vírus invisível. “A única coisa que não é clara para mim é se a poluição e a degradação do planeta a que estamos a assistir e a que chamamos a ‘sexta extinção’ estão ou não relacionadas com este vírus.” Embora não seja especialista na matéria, pensa que “está perto da verdade: a pandemia não foi causada directamente pela sexta extinção, mas indirectamente, facilitando as condições para o coronavírus se expandir tão depressa.” 
De qualquer modo, somos muito maus a fazer antecipações: “Ninguém sabe do futuro. É a imprevisibilidade da realidade que quero destacar. A realidade é difícil de prever, e somos muito maus a fazê-lo.” Mas temos hoje excesso de poder que nem sempre queremos ou somos capazes de controlar, e aí está o perigo: “Temos duas formas de nos autodestruirmos: através de uma guerra nuclear ou da sexta extinção. Ambas podem eliminar-nos e dependem do nosso autocontrolo.”

sábado, 24 de novembro de 2012

É fabuloso aonde a ciência está a chegar


O CERN e Fernando Pessoa 
Anselmo Borges 

A descoberta do bosão de Higgs (ainda não há provas totalmente definitivas) aproximou-nos um pouco mais dos instantes que se seguiram ao Big Bang. 
É fabuloso aonde a ciência está a chegar. Mas é claro que ela não poderá alcançar o Big Bang enquanto tal, pois trata-se de uma singularidade. Como é ainda mais claro que para a ciência não tem sentido perguntar: "e antes do Big Bang?", já que o tempo apareceu com o Big Bang. O "antes" tem já a ver com questões filosóficas e religiosas. 
Começa, pois, a ser tempo de cientistas, filósofos e teólogos se juntarem para reflectir sobre a criação do Universo. E foi isso precisamente que aconteceu no passado mês de Outubro em Genebra. "Dei-me conta de que é necessário discutir isso", disse Rolf Heuer, director-geral do CERN. Como cientistas precisamos de "discutir com filósofos e teólogos o antes do Big Bang". 
Para alguns, trata-se de uma questão sem interesse. Assim, para Lawrence Krauss, um físico teórico da Universidade Estatal do Arizona, aquela reunião não significava que os cientistas estejam interessados em Deus. "Não se pode refutar a teoria de Deus. O poder da ciência é incerto. Tudo é incerto, mas a ciência pode definir essa incerteza. Por isso, a ciência progride e a religião não." 

sábado, 31 de março de 2012

René Descartes

Texto de Maria Donzília Almeida 


A minha relação com o René... estreitou-se, naquele encontro, com hora marcada! Deixou-me brilhar.... deu-me protagonismo! Daí, em diante, nunca mais se varreu da minha memória esse meeting
Reporto-me a uma cena tão longínqua, que quase se perde na bruma dos tempos. 
Tinha eu os meus frescos dezoito anos e o coração cheio de paixão e filosofia! Encontrámo-nos naquele que iria ser o meu local de trabalho, numa sala de aula, em que perante um mestre que me examinava, eu tinha que dissertar sobre René Descartes. Tratava-se da prova oral do exame de filosofia, no 7.º ano do liceu; depois de ter papagueado a matéria pretendida, o Doutor Godinho pergunta-me pela máxima que tornou célebre este filósofo. — Cogito, ergo sum! Retorqui, com a mesma prontidão, com que o padre recitava a missa, nos tempos em que o Latim só era língua morta nos compêndios de literatura. 
— A senhora é de Letras? Inquiriu o examinador, surpreendido com o uso do vernáculo. — Claro que sim! Respondi, com ar ufano de quem fizera uma boa opção. Até hoje, ainda não mudei de ideia!

sábado, 14 de maio de 2011

DEUS: Ou quis e pôde; então, donde vem o mal?

Andrés Torres Queiruga

Deus e o mal
Anselmo Borges

Penso que Andrés Torres Queiruga, da Universidade de Santiago de Compostela, é um dos mais vigorosos e penetrantes teólogos católicos vivos, numa ousadia única de colocar a fé cristã em confronto radical com a modernidade e vice-versa. Acaba de publicar em castelhano uma obra seriamente original sobre o tema em epígrafe: Repensar el mal, que obriga a pensar.
Lá está o famoso dilema de Epicuro: Ou Deus pôde evitar o mal e não quis; então, não é bom. Ou quis e não pôde; então, não é omnipotente. Ou quis e pôde; então, donde vem o mal?
São precisamente os pressupostos do dilema que o autor começa por desmontar, a partir de uma ponerologia (de ponerós, mau): tratar do mal, antes de qualquer referência a Deus. De facto, o mal atinge a todos, crentes e não crentes, os próprios animais também sofrem. Todos passam por crises e doenças e todos morrem. E perguntamos: donde vem o mal?