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domingo, 22 de janeiro de 2017

Não à lógica do tudo ou nada

Crónica de Frei Bento Domingues 


Nisto, uma criança desata a chorar: 
"não vos preocupeis porque a pregação de uma criança na igreja 
é mais bonita do que a do sacerdote, do bispo ou do Papa. 
Deixai-a chorar, porque é a voz da inocência que nos faz bem a todos"

1. Perante o rumo assustador que a política internacional está a tomar e a múltipla inconsciência na “União Europeia”, fui interpelado por alguns católicos, que se identificam com a herança do Vaticano II, para a urgência de reunir pessoas de “boa vontade”, não apenas para interpretar os sinais deste tempo, mas sobretudo para encontrar formas activas de responder à pergunta dos Actos dos Apóstolos: que fazer?
É tarefa para quem não acredita no determinismo histórico. Um amigo mandou-me, entretanto, o hebdomadário, Le Point[i] (5 de Jan.) com a fotografia do filósofo ateu Michel Onfray na capa e a referência ao seu último livro – Décadence – anunciando que a civilização baseada no judeo-cristianismo está absolutamente esgotada. Os seus valores de outrora estão mortos e nada nem ninguém os pode reanimar.
O Islão, pelo contrário, está forte, tem um exército planetário, constituído por inumeráveis crentes prontos a morrer por Alá e o seu Profeta, ancorados em apetecíveis recompensas celestes.
A referida Revista está recheada com uma entrevista a M. Onfray, extractos do seu livro e algumas mansas réplicas.

sábado, 10 de dezembro de 2016

O islão e as luzes. 2

Crónica de Anselmo Borges 
no DN


Continuo com o Manifesto 
a Favor de Um Islão das Luzes,
de Malek Chebel. 
As outras propostas urgentes:

8. "Sancionar de modo mais severo os autores de crimes de honra." Mas não basta a sanção. É preciso ir mais fundo, libertando os valores de vontade pessoal e escolha amorosa feminina. "Enquanto a mulher não tiver a possibilidade de formular escolhas amorosas independentes, não poderá ser tomada a sério."

9. "Modernizar a lei civil e o código pessoal." Impõe-se um direito positivo mais conforme com o espírito do tempo, não identificado com a sharia, a lei religiosa. Sem se ser radical, "examinar o conjunto do potencial do direito islâmico, determinar a parte ainda viva, isto é, capaz de evoluir, depois adaptá-lo às novas condições de existência dos muçulmanos, afastando o que se tornou caduco. Este estudo deverá denunciar os aspectos mais retrógrados da sharia: cortar a mão ao ladrão e a língua ao mentiroso, colocar de quarentena a mulher durante a menstruação, aplicar a lei de talião, divisão injusta da herança, etc.".

10. "Reavaliar o estatuto da mulher." Toda a misoginia ligada à suposta inferioridade da mulher "desfigura o islão e dá uma má imagem do terceiro monoteísmo". "Repúdio, poligamia, casamentos forçados (e sobretudo casamentos precoces com 11 ou 13 anos), raptos de jovens raparigas, difamação das mães celibatárias e assassinatos perpetrados em nome da honra: aí estão alguns aspectos - flagrantes - da inferioridade jurídica da mulher muçulmana em relação ao homem", fundada na sua anatomia e fisiologia, muitas vezes consideradas mais importantes do que "o seu ser profundo". A mulher não pode ser considerada menor toda a vida.

sábado, 3 de dezembro de 2016

O Islão e as Luzes (1)

Crónica de Anselmo Borges 

Malek Chebel 

Quando, há mais de 15 anos, Malek Chebel lançou a expressão "Islão das Luzes" não imaginava o sucesso que ela havia de encontrar. Nascido na Argélia, M. Chebel morreu no passado dia 12 de Novembro, com 63 anos. Antropólogo das religiões, psicanalista, especialista reconhecido no islão, sobre o qual escreveu obras fundamentais, ensinou em várias universidades, tendo-se tornado particularmente notado pelo seu Manifeste pour Un Islam des Lumières (Manifesto a Favor de Um Islão das Luzes).
Dada a importância da obra e no contexto dos grandes debates em curso sobre esta questão tão complexa como urgente, dedico--lhe a crónica de hoje e a do próximo sábado. Faço-o no mesmo espírito de Malek Chebel: "Na realidade, não há crítica válida a não ser que seja, por essência, autocrítica." O seu valor mede-se pelo "amor que se tem à coisa criticada". Não se trata, pois, de "agredir inutilmente os leitores de sensibilidade muçulmana, mas de fazer apelo à sua capacidade de discernimento e ao seu sentido das responsabilidades". O Manifesto tem 27 propostas para reformar o islão. Assim:

sábado, 8 de outubro de 2016

Excepcionalismo islâmico

Crónica de Anselmo Borges 






1.Na religião, como tentei tornar claro no Sábado passado, o decisivo é a experiência religiosa, mística, do encontro pessoal com Deus, com todas as consequências de comprometimento com o amor ao próximo, também na política. Mas, num mundo pluralista, em ordem à convivência e à paz, há condições essenciais, nomeadamente o Estado aconfessional. De facto, sem a separação da religião e da política e sem um Estado laico, não se vê como é possível garantir a tolerância e a liberdade religiosa de todos. Evidentemente, a laicidade nada tem a ver com o laicismo pelo qual, desgraçadamente, muitos sectores, sobretudo da esquerda política e cultural, se batem.

2 Quando a laicidade não foi garantida, imensos atropelos foram cometidos no âmbito do mundo cristão, como mostrei no Sábado. De qualquer forma, o fundador, Jesus, tem aquelas palavras decisivas: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". O cristianismo foi durante 250 anos uma religião pacífica e não pretendia conquistar o poder político. Aliás, seguindo o exemplo de Jesus que, chegado a Jerusalém, não exerceu violência, pelo contrário, mandou que Pedro metesse a espada na bainha, e foi crucificado.

sábado, 2 de abril de 2016

Sobre o radicalismo islâmico

Crónica de Anselmo Borges 

«Só um Estado não confessional 
pode garantir a liberdade religiosa de todos»

1. Face aos ataques terroristas que se têm multiplicado, a condenação tem de ser inequívoca. O próprio Papa Francisco não tem poupado nas palavras: "Violência cega dos atentados", "estes cruéis actos abomináveis, que só causam morte, terror e horror", "a violência e o ódio homicida só conduzem à dor e à destruição", "atentado execrável", "crime vil e insensato"...
Depois de tudo quanto foi dito e escrito, não sei o que poderia acrescentar, mas há uma questão que não pode ser evitada: se há relação ou não entre o islão e a violência. Como disse Michael Walzer, consciência crítica da esquerda americana, à revista Philosophie Magazine (Fev. 2016), "são muitos os intelectuais de esquerda que, preocupados com evitar toda a acusação de islamofobia, não ousam qualquer crítica ao islamismo radical. Preferem insistir no facto de que a causa do fanatismo religioso não é tanto a religião como a opressão do imperialismo ocidental e a pobreza que criou. Não é completamente falso. O Daesh não teria nascido no Iraque sem a invasão americana em 2003. No entanto, o Califado não é produto dos Estados Unidos, mas fruto de um retorno do religioso, hostil aos valores ocidentais."

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O sal e a religião

Crónica de Anselmo Borges 
no DN de sábado

Anselmo Borges


A propósito dos trágicos e bárbaros 
acontecimentos em Paris 
ficam aí algumas reflexões

1. Estamos confrontados com a questão do outro. Somos, por natureza, sociais: fazemo-nos uns aos outros, a nossa identidade é sempre atravessada pela alteridade. Mas o outro enquanto diferença é ao mesmo tempo espaço de fascínio — quem não gosta de viajar para conhecer outros povos, outras culturas? — e de perigo — o outro é o desconhecido perante o qual é preciso prevenir-se.
Viveremos cada vez mais em sociedades multiculturais e multi-religiosas. Aí está a riqueza da diferença, mas, simultaneamente, o sobressalto dessa mesma diferença. Isto impõe o conhecimento mútuo, o diálogo intercultural e inter-religioso. É cada vez mais claro, como há muito repete o teólogo Hans Küng: não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões; não haverá paz entre as religiões sem o seu conhecimento e o diálogo entre elas; urge um consenso ético mínimo global.

sábado, 14 de junho de 2014

JERUSALÉM E ROMA

Crónica de Anselmo Borges
no DN

1 A política está em tudo mas não é tudo. A oração também pode ser força política. E condição essencial para a paz é a conversão interior, do coração. Por outro lado, a História não está pré-escrita em parte alguma e, por isso, é preciso construí-la e ao mesmo tempo ter a capacidade de se deixar surpreender por ela. Cá está: quem poderia supor há apenas um mês que seria possível o Presidente de Israel, Shimon Peres, e o Presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, encontrarem-se no Vaticano para rezar? Mas o inesperado, o que se diria impossível, aconteceu.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

BÍBLIA: Palavra de Deus em palavras humanas


O Cristianismo e o Islão em diálogo?

Anselmo Borges

A sua finalidade é estabelecer pontes para o diálogo entre as religiões e as culturas. Olhando para o futuro, elaborou já um programa de actividades, como: colaboração multi-religiosa para a sobrevivência e bem-estar das crianças - o primeiro projecto terá lugar no Uganda, em aliança estratégica com "Religiões pela Paz" -, um ciclo de conferências sobre "a imagem do outro", um projecto internacional para futuros professores de religião e líderes religiosos com um profundo compromisso com o diálogo inter-religioso e intercultural.
Estou a referir-me ao Centro Internacional para o Diálogo Inter-Religioso e Intercultural King Abdullah bin Aziz (KAICIID), com sede em Viena, cujo Comité Directivo se reuniu pela primeira vez nos dias 1 e 2 de Fevereiro, em Madrid, como aqui anunciei no sábado passado. Os seus fundadores são a Arábia Saudita, a Espanha e a Áustria. Tem o nome do monarca saudita, que teve a iniciativa.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Família condenada a 15 anos de prisão por conversão ao Cristianismo



«Um tribunal egípcio condenou uma mulher e os seus sete filhos a 15 anos de prisão por terem tentado alterar os seus documentos para reflectir uma conversão ao Cristianismo. 
De acordo com a agência católica AsiaNews, Nadia Ali Mohamed nasceu numa família cristã, mas converteu-se oficialmente ao Islão para poder casar com um muçulmano. Depois de enviuvar, contudo, procurou converter-se novamente ao Cristianismo, juntamente com os filhos. 
Uma vez que a religião está registada nos documentos de identidade dos egípcios, para o fazer foi necessário tentar alterar a documentação, algo que já estava a ser feito, quando a polícia tomou conhecimento do caso. Levados a tribunal, tanto a mulher como os filhos foram condenados a 15 anos  de prisão. 
A lei egípcia dificulta ao máximo a conversão do Islão para qualquer outra religião. Já o processo inverso é permitido e, frequentemente, até encorajado.»

Transcrevi da RR online

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

NOTA: No Ocidente, as pessoas são livres de poderem ou não manifestar a sua fé, declarando, em privado ou publicamente, a religião que têm ou não têm. Também podem declarar-se ateus, agnósticos ou indiferentes. Ainda podem aderir ou mudar de religião quando lhes apetecer, não tendo que prestar contas seja a quem for. E mais: Em Portugal e na Europa, por exemplo, qualquer religião pode erigir os seus espaços de culto, em pé de igualdade com os cristãos. Não foi sempre assim, infelizmente, mas depois de instaurada a democracia não há qualquer problema nessa linha. 
Em certos países árabes, sobretudo de governos ligados ao Islão mais radical, é expressamente proibido construir templos cristãos ou outros e até se condenam os que, sendo islamitas, resolveram converter-se ao cristianismo. Isto dá que pensar. 
Não sou dos que pregam o direito à reciprocidade, isto é, o direito de pagarmos na mesma moeda em relação aos países que proíbem a prática religiosa cristã, nas suas diversas variantes. Mas defendo negociações ao mais alto nível, entre a UE e os países islâmicos. Ficarmos calados perante injustiças como a que se verificou no Egito é pura covardia e crime de lesa-civilização cristã. 

FM

sábado, 29 de setembro de 2012

Assim está o mundo

Por Anselmo Borges 
no DN

No quadro da presente situação nacional e global de crise, e de violência dos extremistas radicais no mundo islâmico, retomo alguns ditos e duas histórias de ou sobre Jesus, plenos de sabedoria e ensinamentos, provenientes da tradição muçulmana
É preciso saber que o Alcorão se refere várias vezes a Jesus como Profeta que anuncia o Deus único, criador e senhor da vida. Nasceu miraculosamente de Maria. A sua mensagem é de paz, mansidão e humildade. É "servo de Deus" e "Verbo da Verdade". Deus deu-lhe o poder de fazer milagres. Nega-se expressamente a crucifixão, tendo Jesus sido elevado miraculosamente para Deus.
Na literatura muçulmana, o amor e o respeito por Jesus são uma presença constante. Assim, Tarif Khalidi, que foi director do Centro de Estudos Islâmicos e membro do Conselho Directivo do King's College (Cambridge), reuniu em livro - Jesus Muçulmano - um conjunto das chamadas "máximas e histórias de Jesus", em que se encontram várias alusões aos Evangelhos.