Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO
1. Todas as celebrações cristãs implicam três dimensões: não perder a memória, enfrentar os desafios do presente e abrir o futuro. A essência do cristianismo não é uma ideia abstracta. Está intrinsecamente ligada a uma pessoa histórica viva: Jesus de Nazaré.
S. Paulo advertiu que ninguém pode colocar um alicerce diferente deste [1]. Como observa Hans Küng, a vida, os ensinamentos e a actividade de Jesus de Nazaré destacam-se, claramente, em comparação com outros fundadores de religiões. Jesus não foi uma pessoa formada na corte, como aparentemente foi Moisés, nem filho de príncipe como Buda. Também não foi um erudito e político como K’ung Fu-tzu nem um comerciante rico e cosmopolítico como Maomé. É precisamente pela sua condição social tão insignificante que se torna tão espantosa a sua inultrapassável importância.
Não defende: a validade incondicional de uma lei escrita que se desenvolve sem cessar (Moisés); um modelo de vida monástico, dentro de uma comunidade regulamentada (Buda); a renovação da moral tradicional e da sociedade estabelecida, em consonância com uma lei cósmica (K’ung Fu-tzu); as revolucionárias conquistas violentas, em luta contra os infiéis, e a fundação de um Estado teocrático (Maomé).
Não se identifica com os poderosos, com os rebeldes, com os moralizadores nem com os submissos. A sua vida é um permanente desafio inovador [2].