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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Natal

Ilustração de João Batel



Presépio

Nesta noite
De tanta acalmia interior
Fico-me a olhar o presépio
Absorto, por certo maravilhado.
Brota em mim um enlevo da inocência
Que julgava já perdida,
O sol já se escondeu.
O silêncio estreme
Convida-me a aproximar da fronteira do sonho.
Fico pasmado com tamanha transparência
Da cristalina doçura daquele menino risonho.

AH!
Só uma criança pode sorrir assim…,
Na imaculada pureza original.
Olhar para o mundo,
E crédulo,
Dar-se para O humanizar.

Apetece-me soerguê-lo das palhas
E levá-lo para longe do mundo, comigo
Para juntos passearmos no jardim da primavera
Não para falarmos de poderosos nem reis
Nem chorar penas das guerras, ou do medo que
já era

Ou da fome das crianças,
Ou da pomba do mundo substituída por feroz
fera.
Mas da chama de um novo sonho que remoça
Que nos leve à reconquista da distância
O mar, o mar de novas areias, o mar das ilusões
Navegar é preciso…
Para encontrar a alma de um mundo novo:
Ser Povo
De novo.


Senos da Fonseca


Em “MARESIAS”    

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

MARESIAS — Poesia de Senos da Fonseca


Foi lançado em Ílhavo, no anfiteatro do Museu Marítimo, no dia 22 de novembro, mais um livro de Senos da Fonseca, desta feita de poesia que ele tem vindo a publicar no seu blogue “Terra da Lâmpada”. O livro — MARESIAS —, há muito por mim  esperado, veio enriquecer, sobremaneira, o currículo bibliográfico de um ilhavense que à cultura das nossas  terras tem dado o seu melhor, que muito é.
Sei que Senos da Fonseca não costumava dar grande importância à sua poesia, dizendo até que não se considerava poeta que merecesse os escaparates das livrarias, mas a verdade é que saltava à vista de quem o segue regularmente no seu blogue a expressividade da sua arte, capaz de manifestar de forma bela sentimentos e emoções em estilo poético. Lia-o e continuarei a lê-lo com prazer, porque sou sensível à maneira como se expressa sobre amor, angústia, liberdade, solidariedade, saudade e amizade, tudo, ou quase tudo, embalado pela ria e mar, com vida e saudade. 
Soube no lançamento da obra que a sua relutância em se assumir como poeta foi vencida pela cuidada recolha dos poemas agora publicados feita  por outra ilhavense que muito estimo, Ana Maria Lopes, também permanentemente envolvida na cultura do nosso povo, e não só. Ainda bem que o fez. Contudo, Senos da Fonseca, que ficou agradado com a recolha dos poemas, não deixou de reconhecer, em “Confidências…”, a sua surpresa,  tendo sublinhado: «Quisera eu, que bem menos fossem, mas muito melhor fossem. Fiquei além do desejado. Como habitualmente.» Eterno insatisfeito, decerto como qualquer artista, mas notoriamente acima do muito que se publica, às vezes com grande parangonas publicitárias, que enganam os incautos.
Senos da Fonseca confessa que os seus poemas nascem «quase sempre» no fim da noite, considerando-os até «um pouco vagabundos, apesar da ordenação». Sem saber como nasceram, o poeta garante que sabe por que razões nasceram, o que é, para o leitor, a certeza de que saltaram da sua vida para a vida de quem os lê. E refere, como homem livre que é, sem peias de qualquer espécie, a não ser, por certo, as ditadas pela sua consciência, que a sua liberdade está na «capacidade de isolamento», onde parece que se esquece de tudo.
MARESIAS é um livro para ser lido ao ritmo das marés, meditado ao sabor da tranquilidade da laguna, de vez em quando ao som do mar revolto e sempre saboreando o amor e a solidariedade. 
Com edição do autor, a obra estende-se por 283 páginas. Recolha de Ana Maria Lopes e  ilustrações de João Batel. 

Fernando Martins