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domingo, 23 de maio de 2021

Um poema de Jorge de Sena para este domingo

A escritora Lídia Jorge sugeriu há dias que os poemas seleccionados 
por José Tolentino Mendonça e Pedro Mexia, 
que fazem parte do livro "VERBO - Deus como interrogação na Poesia Portuguesa", poderiam ser incluídos nas Eucaristias. 
A título de exemplo, apresento, para este domingo, um expressivo poema de Jorge de Sena. 
SÚPLICA FINAL

Senhor: não peço mais que silêncio,
o silêncio das noites de planície como enevoadas águas,
o silêncio dos montes quando a tarde acabou e as pedras
se afiam na friagem que é azul-celeste,
o silêncio do sol encarquilhando as folhas,
e o vento na areia depois de ter passado,
o silêncio das ondas ao longe espumejando tranquilas,
o silêncio das mãos e o dos olhos,
e o das aves negras que pairam nas alturas
de um céu silencioso e límpido. Não peço
mais que silêncio. O silêncio das ideias que deslizam
no tecto escorregadio da memória silente.
E o silêncio dos sonhos coloridos, e o dos outros
a preto e branco imagens desejadas
que não pensei que desejava e esqueço
ao querer lembrá-las. E o silêncio
dos sexos que se possuem sem uma palavra.
E o do amor também, tão silencioso esse,
que não sei quem amo.

Não peço mais. Afasta
de mim o estrondo: não o das cidades,
ou dos homens, das águas, do que estala
na memória ou penumbra das salas desertas.
Afasta de mim o estrondo com que a vida
se acabará contigo, num rasgar de súbito
em que ficarei inerte e silencioso. O estrondo
em que não ouvirei mais nada. O estrondo
em que não mexerei um dedo. O estrondo
em que serei desfeito. O estrondo
em que de olhos abertos
alguém mos abrirá.

Senhor: não peço mais do que o silêncio do mundo,
o silêncio dos astros, o silêncio das coisas
que outros homens fizeram, e o das coisas
que eu próprio fiz. E o teu silêncio
de senhor que foi. Não peço mais.
Não é nada o que peço. Dá-me
o silêncio. Dá-me o que não fui:
silêncio (porque calei tanto):
o que não sou (pois que calo tanto):
o que hei-de ser (já que falar não adianta):
Silêncio.
Senhor: não peço mais.

Assis, 1961

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Grupo Poético de Aveiro evoca Jorge de Sena: Dia 7 de Novembro, na Livraria Buchholz, pelas 18 horas



Jorge de Sena nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e faleceu em Santa Barbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978. É hoje considerado um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da cultura do século XX.
O Grupo Poético de Aveiro vai evocar a obra poética de Jorge de Sena, no dia 7 de Novembro pelas 18h00, no espaço da Livraria Buchholz Aveiro (Praça Marquês de Pombal). Será uma tertúlia onde todos poderão intervir, se assim o desejarem, no entanto, por uma questão de organização, seria conveniente saber os poemas que cada um irá ler para não haver leituras repetidas.
Depois da sessão de homenagem a Jorge de Sena na Livraria, quem estiver interessado em continuar a tertúlia entre amigos poderá inscrever-se para o jantar a realizar no restaurante O Buraco, junto à capela de S. Gonçalinho (perto da Praça do Peixe). O preço do jantar é de 12,5 euros e as inscrições terão de ser feitas até ao dia 30 de Outubro.