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sexta-feira, 9 de março de 2018

DIA CINZENTO



guia-nos, Deus,
na viagem através do deserto
até ao lugar da tua crucifixão
e da tua páscoa

guia-nos, Deus,
da via cinzenta dos nossos dias
à. via gloriosa da tua cidade.

seja este o tempo favorável
para a confissão do pecado e do louvor,
nós que vivemos na fragilidade do corpo nómada
o imaginário do oásis
e os lugares de repouso

guia-nos, Deus,
para a inquietação que permanentemente te nomeia,
Deus em Jesus Cristo e no Espírito consolador


José Augusto Mourão
In O Nome e a Forma, ed. Pedra Angular
Fotografia: Corbis
03.03.12

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sábado, 15 de abril de 2017

FELIZES OS PACÍFICOS


felizes

felizes os pacíficos, que suspendem a violência
e reparam as redes de logradas fainas
(ai a guerra, mãe da pobreza e irmã da morte)

felizes os que aos olhos do mundo
passam por inútil carga social ou rendimento zero
e que escondidamente participam da alegria
que aligeira a vida
(ai aqueles que a sede de poder afoga)

felizes os pobres de alguma pobreza boa
felizes os que lavam as feridas e vivem com os cegos
honrando neles o fundo de humanidade
que lhes é comum

felizes os que nas situações-limite
decidem da singularidade do fazer, da urgência
felizes os que, excluídos, despojados de qualquer imagem
no documento mortal pregado na cruz
inscrevem os seus corpos

felizes os que, intacta, guardam a sensibilidade
à injustiça, apegados só à força da Palavra que cura

felizes os que não pactuam com os anjos
escuros da morte total
nem desculpam os «erros humanos»
das nossas sociedades sem olhos
(ai os que no inferno climatizado sobrevivem
ai o terror mole do dia a dia sobre os ombros)

felizes os que, à imagem de Deus, perdoam
alargando o coração às dimensões de um mundo abençoado


José Augusto Mourão
In "O nome e a forma", ed. Pedra Angular

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