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sábado, 18 de julho de 2015

Já não há mordaças, nem ameaças

Maria Barroso


Já não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada, em que os
poetas são os próprios versos dos poemas e onde
cada poema é uma bandeira desfraldada.

Ninguém fala em parar ou regressar. Ninguém
teme as mordaças ou algemas. – O braço que
bater há-de cansar e os poetas são os próprios
versos dos poemas.

Versos brandos… Ninguém mos peça agora.
Eu já não me pertenço: Sou da hora.
E não há mordaças, nem ameaças, nem algemas

que possam perturbar a nossa caminhada, onde
cada poema é uma bandeira desfraldada e os
poetas são os próprios versos dos poemas.


Sidónio Muralha, "Soneto Imperfeito  da Caminhada Perfeita"

Nota: Por sugestão do Caderno Economia do EXPRESSO, como um poema que Maria Barroso (1925-2015) mais apreciava dizer em público.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Abafai meus gritos com mordaças

Maria Barroso


Abafai meus gritos com mordaças,
maior será a minha ânsia de gritá-los!

Amarrai meus pulsos com grilhões,
 
maior será minha ânsia de quebrá-los!

Rasgai a minha carne!
 
Triturai os meus ossos!

O meu sangue será minha bandeira
 
e meus ossos o cimento duma outra humanidade.

Que aqui ninguém se entrega
 
— Isto é vencer ou morrer —
é na vida que se perde
Que há mais ânsia de viver!

Joaquim Namorado, "Promete"

Nota: Sugestão do Caderno Economia do EXPRESSO, como um poema que Maria Barroso (1925-2015) mais apreciava dizer em público.

domingo, 31 de julho de 2005

Maria Barroso: “Os poemas da minha vida”

 O BELO E O BOM: 
Alimentos para a alma

Esta semana vou ler e reler “Os poemas da minha vida”, seleccionados por Maria Barroso, da colecção de o “PÚBLICO”. Colecção que abriu com Mário Soares e que encerra com sua esposa Maria Barroso. 
Antes de mais, diga-se que Maria Barroso, embora conhecida por ser esposa de quem é e pela vida social e cívica em que se envolve, também se empenhou, como actriz e como declamadora, na arte de divulgar a poesia.
Como actriz e aluna da Faculdade de Letras teve a “felicidade de encontrar e fazer amizade com vários poetas”, como foi o caso dos seus colegas Sebastião da Gama, Matilde Rosa Araújo e David Mourão-Ferreira. Desses contactos, nasceu o seu gosto pela poesia, que foi ainda crescendo mais quando conviveu com outros mais velhos e já consagrados, como se lê no prefácio do livro “Os poemas da minha vida”. 
A selecção que Maria Barroso elaborou revelam, segundo ela própria, “os poemas que inspiraram ou iluminaram” uma parte da sua vida. Mas também foram os poemas que a deslumbraram e que a enriqueceram, como simples cidadã que sempre foi e se moveu “na busca do belo e do bom como alimentos” para a sua alma. 

F.M.

Um poema de Antero de Quental 

À VIRGEM SANTÍSSIMA 

Num sonho todo feito de incerteza, 
De nocturna e indizível ansiedade, 
É que eu vi teu olhar de piedade 
E (mais que piedade) de tristeza… 

Não era o vulgar brilho da beleza, 
Nem o ardor banal da mocidade… 
Era outra luz, era outra suavidade, 
Que até nem sei se as há na natureza… 

Um místico sofrer… uma ventura 
Feita só do perdão, só da ternura 
E da paz da nossa hora derradeira… 

Ó visão, visão triste e piedosa! 
Fita-me assim calada, assim chorosa… 
E deixa-me sonhar a vida inteira!