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domingo, 28 de outubro de 2018

Pessoas que nos marcam...

Professora Helena Pessoa

MaDonA

A figura do professor primário sempre constituiu uma referência, sobretudo nos meios rurais. A par com o regedor e o padre era um marco e uma autoridade, pois levava a literacia ao povo, quando o ensino primário ainda nem era obrigatório. Nos meios pequenos como eram as Gafanhas, havia apenas um professor para todos os alunos que iam à escola. Ouvia da boca dos meus progenitores os nomes de Prof Cesário e Mª Augusta, que ensinaram as primeiras letras a gerações de alunos, que ainda os guardam na memória. Hoje, são topónimos em ruas próximas do lugar que habito. 
O ensino primário era uma das fases mais importantes na vida de uma pessoa. Afinal, é nela em que alguns traços de personalidade são construídos, e o ambiente escolar desempenha um papel socializador em que a criança começa a ampliar sua rede de relações, sendo que é através do professor que ela consegue construir conhecimentos expressivos. 
Por isso, o papel do professor é fundamental pois ele é o mediador entre a criança e o conhecimento. como elas veem e sentem o mundo, criando oportunidades para elas  manifestarem seus pensamentos, linguagem, criatividade, reações, imaginação, ideias e relações sociais. 

sábado, 10 de março de 2018

O REVERSO DA MEDALHA

MaDonA



Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, 
não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? 

1 João 3:17


Foi no dia de S. Valentim, adotado pelo mundo ocidental como o Dia dos Namorados. Uma correria desenfreada às lojas, às floristas, aos grandes hipermercados, na ânsia de adquirir a prenda mais requintada ou um simples mimo, com o mesmo objetivo – demonstrar ao mais-que-tudo, a prova, a intensidade do amor. 
Faço parte do mundo atual, com tudo o que tem de bom e de mau e não me refugio “No meu tempo...” como muitos seniores fazem num saudosismo a saber a mofo. 
Fui também fazer as minhas compras do dia, já que celebrar a amizade, o amor, enfim a vida é a palavra de ordem, todos os dias. 
Foi neste contexto comercial, na entrada de um hipermercado da zona, que me deparei com a cena: um homem mal vestido, com ar subnutrido e aspeto acabrunhado, a pedir. Confrangeu-se-me o coração, ao constatar as desigualdades de uma sociedade consumista e hedonista, que gasta o dinheiro em coisas supérfluas, futilidades, enquanto há uma franja da população que não tem com que matar a fome. O olhar suplicante do pedinte cruzou-se com o meu, mas não obteve resposta. Há tanta gente desnaturada, insensível à miséria alheia, que responsabiliza o governo por este estado de coisas e delega nele a resolução do problema, enquanto grassa a fome!

domingo, 22 de outubro de 2017

MaDonA — Dia Internacional da Gaguez


A data, estabelecida em 1998, visa mostrar as dificuldades, traumas e receios que as pessoas com gaguez enfrentam, diariamente, no ato de comunicação. 
De um modo geral, a gaguez é uma perturbação da fluência do discurso em que se verificam bloqueios, repetições e prolongamentos de sons. Estas manifestações podem ser acompanhadas de movimentos faciais e ou corporais. 
 A pertinência da sua avaliação verifica-se porque a gaguez afeta a comunicação e provoca um profundo sentimento de desconforto ao seu portador, pois quer comunicar e acaba por ser discriminado pelos demais que dele fazem chacota. Em regra, o gago apresenta problemas de isolamento social, de angústia e de um aumento da ansiedade. 
É comum que, as pessoas que gaguejam não sejam capazes de assumir o seu problema, pelo que tendem a aparentar uma falsa tranquilidade. 
 Como estratégia para evitar serem vistos como gagos, costumam fugir às palavras e letras em que gaguejam mais o que compromete o sentido do discurso. 
 Nesta situação o gago fica com a frustração de não ter dito o que queria ou obriga-se a reformular a conversa passando novamente pelo suplício de falar.  
Neste contexto, a gaguez é tida como um problema vital e uma limitação na qualidade de vida do sujeito.  
Perante este cenário, estas pessoas precisam de ajuda técnica para aliviarem esse sofrimento. O apoio familiar é fundamental, bem como o do grupo de amigos, na escola e demais atividades em que participa.  
 Um exemplo clássico de autossuperação, relativamente ao problema, foi Demóstenes (384 a.C. a 322 a.C.) um proeminente orador e político ateniense. A sua oratória constitui uma importante expressão da capacidade intelectual de Atenas e um olhar sobre a política e a cultura da Grécia antiga, durante o século IV AC. Demóstenes aprendeu retórica estudando os discursos dos grandes oradores antigos. 
Garoto ainda, Demóstenes assistiu a um julgamento no qual um orador chamado Calístrato teve um desempenho brilhante e, com a sua verve, mudou um veredicto final. Demóstenes ficou impressionado com o poder da palavra, que parecia tudo vencer. Assim, alimentou a esperança de se tornar um grande orador - sonho que parecia impossível devido à sua gaguez. Conta-se que Demóstenes, à força da sua perseverança, ultrapassou o problema declamando poemas enquanto corria na praia contra o vento e forçando-se a falar com pedrinhas na boca. 
Do Latim balbutius (=pedra) derivou para português, por via erudita, o verbo balbuciar (gaguejar). Após treino intenso, Demóstenes venceu a gaguez e tornou-se o maior orador da Grécia. 
Desta lição de vida, se pode tirar a ilação: querer é poder. 

MaDonA 

11.10.2017

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

MaDonA — Dia Mundial de Combate ao Bullying


"Você tem inimigos? Que bom. 
Isso significa que você luta por algo 
em algum momento da sua vida." 

Winston Churchill 

O termo em inglês "bullying" é derivado da palavra "bully" (tirano, brutal).
Corresponde à prática de atos de violência física ou psicológica, intencionais e cometidos por um ou mais agressores, contra uma determinada pessoa.
Essas vítimas ficam marcadas e podem ter sequelas para toda a vida. Em alguns casos, a ajuda psicológica é fundamental para amenizar a difícil convivência com memórias tão dolorosas.
O agressor, em geral, tem uma mente perversa e às vezes doentia. É consciente dos seus atos, mas agride como forma de se afirmar no grupo.
Se “O melhor do mundo são as crianças” como diz Fernando Pessoa, e “Não há rapazes maus” como afirmou o Pe Américo, também é verdade, que por vezes são muito cruéis no relacionamento interpares.
Conflitos entre crianças e adolescentes são comuns, numa fase de insegurança e autoafirmação. Porém, quando os desentendimentos são frequentes e partem para humilhação, aí instala-se o bullying.
Em meio escolar, as agressões são praticadas fora do alcance dos adultos. Ocorrem normalmente, na entrada ou saída do edifício, ou ainda quando os professores não estão por perto. Podem também acontecer de forma camuflada, em sala de aula, na presença do professor, com gestos, bilhetes, etc
Os agressores procuram vítimas que se destacam da maioria por alguma peculiaridade. Os alvos preferenciais são: os caloiros; os tímidos; os que se distinguem por algum traço físico particular; os bons alunos, pois despertam inveja aos menos estudiosos ou cábulas. A frustação daqueles que não conseguem impor-se pela positiva, gera agressividade que descarregam nos mais vulneráveis.
As praxes académicas que ocorrem, anualmente no início do ano letivo, são uma forma mascarada e institucionalizada de bullying. Não está longe a memória das trágicas consequências, resultantes da sua aplicação a estudantes indefesos.
As agressões físicas levam, por vezes, a família a transferir o aluno para outra escola, desenraizando-a do seu ambiente.
Esta data é um alerta internacional para o problema que muitos jovens enfrentam.
Consciencializar a população mundial para esta forma de violência, apoiar e incentivar as vítimas a denunciarem estas situações e preveni-las, são os desafios que se colocam. A luta contra o bullying não é uma tarefa de um dia, nem de um grupo de pessoas, mas sim de todos os dias e de todas as pessoas.
Família e escola são estruturas importantes na prevenção e no combate à violência praticada contra crianças e jovens. Os pais devem dialogar, diariamente, com os filhos sobre o dia-a-dia na escola e despistar qualquer sinal indicativo de bullying. Encorajar os filhos a expressarem o que sentem sobre atos de violência dos colegas.
Felizmente que nos meus quarenta anos de prática letiva, metade passada na Escola Básica 2/3 da Gafanha da Encarnação, não me dei conta desta realidade. Se a houve, passou-me ao lado. Na metade anterior, que passei no distrito do Porto, o anglicismo bullying não tinha entrado na nossa sociedade.
A mansidão da nossa ria terá influenciado, certamente, a compostura, o respeito pelo outro, das nossas crianças e adolescentes. Graças a Deus e à ação dos seus professores!

MaDonA

20.10.2017

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

MaDonA — O Dia Mundial do Sorriso


A cada passo, nos cruzamos com pessoas de rosto crispado, que parecem estar de mal com Deus e com o mundo. São incapazes de esboçar um sorriso, ao seu semelhante, (Será que paga imposto?) como se vissem em cada pessoa, um adversário, um inimigo. Por isso, resolvi debruçar-me sobre o tema.  
O Dia Mundial do Sorriso, conhecido como World Smile Day foi criado em 1999, sendo celebrado, na primeira sexta-feira de outubro. Deve-se a Harvey Ball, um artista de Worcester, Massachussets, sendo esta imagem do smiley, reconhecida internacionalmente. Um ícone, profusamente, usado por todos. 
Já que rir é a melhor terapia, a mais económica, ao alcance de todos, o sorriso abre-lhe a porta, de par em par. 
Pode ter múltiplos sentidos: desde o sorriso acompanhado de um piscar de olhos, como o do JRS no Telejornal, ao sorriso de cumplicidade, num aceno/intenção de conquista, ao sorriso amarelo de ironia, desdém, conveniência, até ao sorriso genuíno e cândido de uma criança que cativa e cria, imediatamente, empatia nas pessoas. 

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

MaDonA — Dia Internacional do Direito ao Saber - 28 de setembro


Longe vão os tempos do obscurantismo, em que manter um povo analfabeto era condição sine qua non para manter o poder instituído e dar-lhe continuidade. Um povo iletrado não contesta, não reivindica não se queixa e aceita passivamente o status quo. 
Até meados do século XX, quando cheguei a este mundo, o ensino obrigatório era o ministrado, até à quarta classe, nas Escolas Primárias. A sua criação começou a ser regulamentada em 1835, pleno século XIX, mas muita gente ainda lhe escapava. 
Já em 1960, quando ingressei no LNA (Liceu Nacional de Aveiro) o prosseguimento de estudos contemplava uma faixa muito restrita da população, quer por razões económicas quer pelo número limitado de estabelecimentos de ensino públicos. A distância a que ficava a escola, apenas nas capitais de distrito era outro óbice. Graças a Deus e à visão larga do Zé da Rosa de dar um bom futuro aos filhos, eu fiz parte dessa minoria. O meu eterno agradecimento a ambos! 
Esta efeméride enaltece o direito de acesso à informação de toda a gente e as vantagens de um governo transparente. Promover a liberdade de informação como condição essencial para a democracia e para a boa governação foi um dos objetivos traçados em 2002, num encontro de organizações mundiais que trabalham com liberdade de informação, em Sófia, Bulgária. Deste encontro resultou o primeiro Dia Internacional do Direito ao Saber. 
Sendo um direito humano fundamental, neste dia, apela-se à partilha de informação governamental a todos os cidadãos. 
Todos os anos se realizam, nesta data, campanhas de sensibilização para o direito à informação e para conseguir sociedades abertas e democráticas onde o cidadão pode efetivamente participar. 
Realizam-se, neste dia, conferências, concertos, competições, peças de teatro, filmes, abertura de novos de sites, lançamento de livros, etc. Podem participar todos os cidadãos, com destaque para os jornalistas, os professores, os ativistas, os funcionários públicos, os membros de organizações não-governamentais e os membros das organizações civis. 
Neste âmbito, os mass media desempenham um papel de relevo na apresentação e divulgação da informação. 
A liberdade de expressão, como veículo da informação, foi uma das conquistas da Revolução de abril. Usemo-la com discernimento e não como arma de arremesso. 

MaDonA, 28 de setembro de 2017 

sábado, 2 de setembro de 2017

MaDonA — João Marquinhos


O Ensino Recorrente integrou a Educação de Adultos, que visava proporcionar uma segunda oportunidade de formação, conciliando os estudos com o exercício de uma atividade profissional. 
Foi nesta modalidade de ensino que conheci pessoas gradas da nossa terra. Pessoas de origem humilde, mas cujo percurso de vida as fez chegar ao topo dos seus sonhos. 
Neste âmbito, recordo um aluno, de idade já avançada, mas de espírito jovem que frequentou as minhas aulas. De seu nome João Marquinhos é uma referência na nossa terra, com a provecta idade de 83 anos, 38 como ele refere, gracejando. Oriundo de Aveiro, desde tenra idade veio para a Gafanha da Encarnação, adotando-a como sua terra natal. 
Concluiu o e ensino primário, com distinção, a menção honrosa dada aos alunos que sobressaiam no seu desempenho, numa época em que não havia, nas escolas, o Quadro de Honra e Excelência. Partilha o orgulho que sinto de ambos meus progenitores, que também concluíram a 4.ª classe com distinção. Uma façanha para a altura, em que o ensino primário não era obrigatório. Alguma coisa, por osmose, terá passado para esta humilde criatura? 
Desde muito cedo se lançou na vida de trabalho, tendo começado com apenas onze anos, na bilheteira do cais de embarque, na Costa Nova. Eram as barcas que faziam o transporte dos banhistas na Gafanha da Encarnação, ancoradouro da Bruxa, para a praia. Apesar da sua tenra idade, não foi alvo da CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens) por exploração de trabalho infantil. A ociosidade, como dizia o meu progenitor, é a mãe de todos os vícios...e o pai? Será mãe solteira, provavelmente! 
Nesse tempo eram poucos os que prosseguiam estudos e a maioria das crianças ajudava os pais nas atividades agrícolas ou da pesca. O trabalho que o menino João ia desempenhar não lhe exigia esforço físico, mas apenas mental – fazer contas, matéria em que era um ás. Dada a sua pequena estatura, precisou, certamente de um banquinho, para chegar ao guichet. 
A sua vida foi decorrendo sem sobressaltos, tendo passado pelo comércio, onde se terá iniciado nos meandros dessa atividade, até aos dezassete anos.
Nessa idade, já começava a “olhar para a sombra”, isto é a pensar nas “cachopas” e a querer catrapiscar alguma sua favorita. Com o intuito de comprar cerejas para oferecer a uma que tinha debaixo de olho, foi à festa da N.ª S.ª de Vagos, onde se deu o primeiro grande revés da sua vida. Uma derrapagem na areia, com o seu Cucciolo de estimação, levou-o às portas da morte...mas não chegou a entrar! A recuperação do coma em que esteve dois dias e a sua reabilitação física levaram o seu tempo e originaram o handicap da sua mobilidade: a locomoção com duas canadianas, imagem que sempre o acompanhou pela vida fora. Se fisicamente ficou debilitado, a sua força anímica redobrou, vindo à tona e a partir daí foi ver este homem mexer-se, a um ritmo quase vertiginoso. 
Não ficou de braços cruzados, à espera da compaixão do próximo, e fez-se à estrada da vida, cheio de energia e vontade de vencer. Já que a vida lhe dera um limão, ele haveria de fazer a sua limonada!
Assim, começou a idealizar uma profissão que se coadunasse com a sua limitação física e surgiu a ideia de ser alfaiate. Aprendeu com os melhores mestres, tendo feito uma formação em Lisboa que lhe haveria de mudar o rumo da vida. Ainda se lembra do n.º 852, na Rua da Prata. 
Iniciou-se na vida de alfaiate e depressa viu a sua clientela aumentar exponencialmente, chegando a ter dez costureiras no seu atelier. 
Como qualquer jovem que se preza, foi namoradeiro e teve os seus devaneios amorosos, como ele conta com um sorriso brejeiro “Ainda eu namorava com a Celeste, veio uma rapariga e enfeitiçou-me. Fui atrás dela até Amarante. Levava a motoreta no comboio até ao Porto...” 
Dado o seu dinamismo e uma vontade férrea de contribuir para o desenvolvimento da sua terra, hoje vila da Gafanha da Encarnação, ocupou lugares de relevo na administração local. Na autarquia, participou ativamente na Assembleia Municipal. Na Junta de Freguesia, desempenhou as funções de secretário, tesoureiro, tendo declinado o cargo de Presidente, por motivos de conciliação de agenda.
A sua paixão pelo futebol granjeou-lhe o cargo de presidente, do clube da terra, o NEGE (Novo Estrela da Gafanha da Encarnação). 
O Sr. João Marquinhos é o protótipo do self-made-man, o homem empreendedor, que não tendo ganho a meia-maratona, alcançou o podium na maratona da vida. 
Nas aulas, marcava a sua presença assídua e vestígios do seu trabalho, pousavam na sua roupa – as linhas com que costurava a vida. 
Foi um Homem que a pulso e com horizontes largos, construiu um império, um modelo de tenacidade e auto superação. Um exemplo a seguir pela juventude hodierna, que apesar dos dotes que a natureza lhe dá, anda à deriva, num desnorte confrangedor. 
O bichinho da profissão de alfaiate ainda não esmoreceu, pois criou um estaminé, adjacente ao banco, onde ainda dá uns pontos e atende a solicitação de algum cliente/amigo. 
Sempre que vou levantar dinheiro ao Totta (Quem quer dinheiro vai ao Totta!), situado no rés-do-chão do prédio onde habita, dou dois dedos de conversa ao Sr. João Marquinhos. Recebe-me sempre com um sorriso amistoso e não se cansa de elogiar a “sua professorinha” que um dia o teve, como aluno atento, na sua sala de aula. 
Que a vida lhe sorria e, quem sabe? a vila da Gafanha da Encarnação, um dia, lhe dê o tributo que merece este filantropo – um topónimo... para a posteridade. 

Mª Donzília Almeida 

29 de agosto de 2017

quarta-feira, 26 de julho de 2017

MaDonA — O avô Manel


«O avô Manel é o último sobrevivente do clã familiar. Fui visitá-lo, um dia destes, e ia rever uma pessoa que me é tão grata. O que estou a escrever será uma homenagem, a minha homenagem, em vida. É em vida que se apreciam os afagos, os mimos, o carinho. Depois...restam apenas as flores... 
Qual não foi a felicidade do avozinho, ao receber a visita de entes queridos, que lhe atenuam a solidão dos dias. Com idade avançada, prestes a completar 95 anos, as forças do avô foram minguando, trazendo consigo as maleitas próprias desta faixa etária. A força nas pernas diminuiu, e depois de várias quedas, o destino foi o recurso a uma cadeira de rodas. Foi uma inevitabilidade! A única e a possível.»

“A gratidão é a memória do coração.” 

Antístenes

O avô Manel é o último sobrevivente do clã familiar. Fui visitá-lo, um dia destes, e ia rever uma pessoa que me é tão grata. O que estou a escrever será uma homenagem, a minha homenagem, em vida. É em vida que se apreciam os afagos, os mimos, o carinho. Depois...restam apenas as flores... 
Qual não foi a felicidade do avozinho, ao receber a visita de entes queridos, que lhe atenuam a solidão dos dias. Com idade avançada, prestes a completar 95 anos, as forças do avô foram minguando, trazendo consigo as maleitas próprias desta faixa etária. A força nas pernas diminuiu, e depois de várias quedas, o destino foi o recurso a uma cadeira de rodas. Foi uma inevitabilidade! A única e a possível. 
Foi o prenúncio de um fim anunciado, já que a mobilidade é uma força que nos prende à vida e nos faz lutar por ela. O avô Manel ficava privado da sua deslocação ao jardim, onde poderia enxergar as flores que outrora cultivara, e as uvas americanas que pendiam em latada, nos longos passeios pelo quintal. 
Um véu de tristeza escurecera o seu semblante, que gradualmente se foi dissipando com a nossa presença. Foi um raio de luz a iluminar-lhe o rosto e trazer ao seu olhar, o brilho de tempos antigos. De vez em quando, os seus olhos ficavam marejados de lágrimas, quando, à memória, vinham recordações antigas, dos seus tempos de pujança. Em frente àquele rosto, agora encanecido, passou na minha tela mental, o filme do Avô Manel, em que foi o protagonista de uma grande epopeia. 
Após a sua retirada do mundo do trabalho, o avô dedicou-se, de alma e coração, à sua horta biológica, uma atração para os domingueiros que apreciavam o kitchen-garden do Sr Manuel. Aí, sentia-se nas suas sete quintas! 
“Vou semear um rego, dois regos...de ervilhas, favas, tomateiros, pimentos, cebolas, etc, etc” era uma expressão recorrente, no linguajar simples do avô Manel, com marcado acento tripeiro. 
E assim, nasciam os canteiros, rigorosamente talhados a régua e esquadro, dada a perfeição com que os desenhava. Reminiscência dos seus tempos de marceneiro em que projetava e fabricava móveis, com a perícia de um mestre. A bordejar esses canteiros de hortaliças, havia sempre renques de dálias, gladíolos, cravinas. No meio desse jardim, da casa até à linha do comboio, no fundo do quintal, estendia-se um largo passeio em cimento, ladeado por videiras. Em dossel, uma ramada de uvas americanas, que no verão nos ofereciam a sua sombrinha refrescante. Depois de maduras e vindimadas, davam o vinho americano, que antes de fermentado era aquele vinho doce tão apreciado. Era o autêntico, genuíno sumo de uva que distribuía pela família e amigos. Ainda tenho guardada, na minha retina e no olfato, a imagem das ervilhas de cheiro, que trepavam à volta dos esteios em ferro, da ramada, libertando para a atmosfera, a sua fragrância adocicada e fresca. 
Dava gosto ver o sentido estético que ele punha em tudo que fazia. Espantoso! E os produtos vegetais que saiam das suas mãos, arrancados à terra preta, fecunda, do Porto, eram de alta qualidade, hoje designados por produtos gourmet. 
Por tudo isto e outras coisas que, involuntariamente, possa ter omitido, tenho um profundo sentimento de gratidão, pelo avô Manel. 
Bem-haja, por tudo o que fez pela sua prole. 

Mª Donzília Almeida 

26 de julho de 2017 

sábado, 8 de julho de 2017

Maria Donzília Almeida — Dia do Amigo


Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo»
é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

Alexandre O'Neill

“Possuir um amigo é ser dono de um tesouro! “ Esta parece ser, para o senso comum, quase uma verdade do Sr lapalisse, dada a evidência do significante. Na realidade, este conceito reveste-se de tal importância e significado, que a língua portuguesa dispõe de várias expressões para o designar. Assim, temos:

amigo do peito,
amigo do coração, 
amigo de Peniche,
amigo da onça,
amigo presente,
amigo ausente...

Há também os amigos do alheio, que proliferam, na era moderna, como ratazanas em tubos de esgoto, et cetera!
Como “A língua é um processo dinâmico que acompanha o evoluir do homem...!” Cf “Língua e Costumes da Nossa gente”, vai-se adaptando à evolução social e incorpora, no seu léxico, novos termos que traduzem essas mesmas alterações. A semântica também acompanhou a mudança e, a palavra amigo adquiriu outras nuances, outras tonalidades – amigo colorido! Este veste-se de qualquer roupagem e satisfaz o desejo de requinte de qualquer freguês(a)! Tal como o Ambrósio, do ferrero rocher!
É uma invenção desta era e já remonta aos finais do século XX, sem data precisa da sua “inauguração”! A estrutura social evoluiu e assim, a amizade se revestiu de novas nuances, para se manter, sempre, up-to-date!
É uma espécie de amigo polivalente, um pau para toda a colher. Está sempre ali, disponível para o que der e vier, mas sem compromisso algum, para além da amizade, claro! Que é já, um grande vínculo!
Foi esta a explicação que me foi dada, mas não sei se percebi muito bem! Aqui, sou como os alunos, que, às vezes, têm dificuldade em perceber a matéria nova! Nem sei por que razão me exaspero com eles, se, em situação idêntica, também revelo dificuldades de compreensão! Precisarei de APA? Terei de ser submetida a um Plano de Recuperação, para  vencer as dificuldades de aprendizagem? Ou será um Plano de Acompanhamento, agora no final do ano? Ou ainda...um Plano de Tutoria? Aqui, os meios determinam o fim, ou seja, a transição de ano, que é o cumular do sucesso educativo! Aquilo que é mais grato para a tutela!
Bem, é melhor deixar o assunto para o próximo ano letivo, já que os professores têm direito às suas merecidas férias! Deixemo-los desanuviar, que bem merecem!
Acho que, se compreendi...e dada a dificuldade em encontrar mão-de-obra (!?)
especializada...toda a gente deveria gostar de ter um Amigo Colorido!?
Passo a refletir sobre a verdadeira amizade:
Muitos são os amigos que fazemos ao longo da vida, mas só ficam os verdadeiros. Os outros são colegas, de profissão, de trabalho, de equipa.

Ser um amigo:

• É mais que abraçar. É passar num abraço todo o amor e carinho.
• Não é estar presente em todos os momentos, mas fazer-se presente quando
necessário.
• Mais do que ser otimista, é ser convincente.
• É chorar quando eu choro e rir quando eu rio, não o contrário.
• Não é perdoar tudo. É saber relevar e compreender, quando possível, as falhas dos outros.
• É mais que olhar juntos na mesma direção. É olhar um para o outro e aceitar-se mutuamente, com defeitos e virtudes.
• É preocupar-se com o outro e não se importar de ouvir, quando está pronto para sair, um telefonema a pedir ajuda. E ir mesmo com vontade de ficar, sem se arrepender.
• Ser amigo é ser a esperança de alguém, ser a luz, ser o guia, o protetor.
• Ser amigo é esquecer-se de si e doar-se ao outro, por inteiro.

Termino com as sábias palavras do grande poeta, António Aleixo:

Contigo em contradição,
Pode estar um grande Amigo.
Duvida mais dos que estão
Sempre de acordo contigo!

 08.07.2017

 Mª Donzília Almeida

terça-feira, 4 de julho de 2017

M.ª Donzília Almeida — Dia Internacional sem Sacos Plásticos


Já que há Um Dia Europeu Sem Carros, Um Dia Internacional Sem Sacos Plásticos, por que não Um Dia Nacional Sem Corrupção? Haverá algum ideólogo corajoso que leve a proposta ao parlamento?
Como sou muito sensível a questões ambientais e uma defensora acérrima da reciclagem, achei interessante haver um dia dedicado a este tema.
As práticas aqui defendidas, que para mim, são já uma rotina diária, tornam-se mais prementes, no atual contexto nacional.
Um dia, estando eu, numa loja de comércio local, reencontrei uma antiga aluna, atualmente a residir em França. Depois de calorosos cumprimentos, a conversa versou sobre questões ecológicas e o contributo do homem para a preservação do ambiente. Constatámos que ambas partilhávamos as mesmas ideias sobre a defesa de um ambiente saudável, alguma semente por mim deixada? Na despedida, ofereceu-me um saco de nylon, que guardado na carteira, leve e prático, está sempre à mão para uma compra inesperada. Além de tudo, tem uma inscrição que para mim é uma lição para a vida.
O mundo assinala hoje, o Dia Internacional Sem Sacos Plásticos, uma efeméride institucionalizada com o objetivo de alertar a sociedade para a necessidade de reduzir o consumo e utilização excessiva de objetos descartáveis.
O 3 de julho é promovido pela Fundação Privada Catalã para a Prevenção de Resíduos e Consumo Sustentável e pretende sensibilizar a população para esta problemática.
Segundo o Programa das Nações Unidas Para a Ambiente, PNUA, estima-se que um cidadão, na Europa, consome cerca de 500 sacos plásticos por ano, que acabam no lixo ao fim de meia hora de utilização ou então no meio-ambiente, criando-se vastas ilhas de lixo plástico nos oceanos (80% da poluição marinha). Como os animais confundem o plástico com alimentos, acabam por morrer pela ingestão desse material, como as tartarugas e outros anfíbios.
Os sacos de plástico são constituídos por resinas tóxicas, provenientes do petróleo, e levam cerca de 500 anos a decompor-se. Apesar da gravidade da situação, apenas 2% da população mundial recicla sacos plásticos
Nesse sentido, já foram sensibilizadas algumas lojas e  supermercados para o uso de sacos de papel, biodegradáveis. Para além do consumo de recursos, o uso excessivo e insustentável de sacos, é potenciado pela falta de valor que lhe é atribuído, pois é oferecido. Neste momento, em alguns hipermercados, já se paga pelos sacos, o que é dissuasor para o consumidor, sendo esta medida, amplamente, defendida pelos ambientalistas.
Perante este panorama desolador de incúria e irresponsabilidade, faço um apelo a toda a gente e em particular às mulheres, a quem está, maioritariamente, atribuída a tarefa das compras. Será um estímulo para a dona de casa ir ao baú, onde tem guardadas aquelas preciosas obras artesanais: crochet, bordados, patchwork, ou um simples bocado de chita...que as noivas levavam no enxoval. E reabilitar as saquinhas do pão!
Os tempos modernos apelam a um facilitismo e funcionalidade das tarefas, mas quem sofre é o ambiente. Os resultados falam por si!

M.ª Donzília Almeida

03.06.2017

sábado, 1 de julho de 2017

Maria Donzília Almida — Solidariedade

M.ª Donzília Almeida

“Não temos, nas nossas mãos, as soluções para todos os problemas do mundo, 
mas diante de todos os problemas do mundo, temos as nossas mãos.” 

Friedrich Schiller

Canal de S. Roque

Nas grandes cidades, como nas pequenas urbes, estacionar começa a ser tão difícil como encontrar agulha em palheiro. Os lugares onde antigamente se podia fazê-lo, e eram muitos, foram invadidos por parquímetros, onde é obrigatório o condutor deixar a moeda. 
Um incentivo ao uso de transportes alternativos, como os transportes públicos, as bicicletas? As bugas, em Aveiro, postas à disposição dos utentes, são já uma medida a apoiar. Será, também, uma forma de combater o sedentarismo, já que há pessoas que não se deslocam 100 metros a pé. Por ter nascido, na planura das Gafanhas, sou uma adepta fervorosa da bicicleta. 
Como meio de transporte, esta tem-se tornado popular, em várias cidades europeias, como noutros pontos do globo. É muito comum ver-se os executivos das empresas, pedalarem, de fato e gravata, para o local de trabalho. Eu própria usei a bike, na minha deslocação para a escola, ou ia a pé. Morava a dois quilómetros de distância... Ainda pensei usar a trotinete que me tinham oferecido pelos anos, mas… onde levava a pasta e o PC? Não passou de uma ideia peregrina. 
A bike tem superado o uso de automóveis em vários países desenvolvidos, como a Holanda, onde existe em grande número. E, com o tempo, outros lugares estão a seguir esse exemplo saudável, ecológico e económico. Melhora-se a qualidade de vida, o ambiente e as condições de mobilidade urbana. Em Amsterdão, quase toda a população adotou este meio de transporte, pois há muitas ciclovias para os ciclistas. 
Há outras cidades nas quais a implementação da bike, é bem visível. Copenhague, na Dinamarca, foi escolhida como a primeira cidade do mundo a incentivar o uso da Bike City. Atualmente, tem mais de 200 quilómetros de ciclovias, com novas auto-estradas de bicicleta, em desenvolvimento, para chegar aos arredores. A cidade tem uma das mais baixas taxas de parque automóvel da Europa. 
Em Paris, quando os níveis de poluição atmosférica subiram muito, a cidade proibiu o uso de carros, por uns tempos. A poluição diminuiu, drasticamente, e desta forma, a cidade pretende desencorajar o uso de automóveis nos próximos anos. No centro da cidade, não poderão utilizá-los ao fim de semana o que será alargado no futuro. Em Berlim, na Alemanha, vai crescendo o número de ciclistas. São investidos milhões para melhorar a segurança nas ciclovias e construção de novas vias. Recentemente, foi criado um serviço gratuito, de aluguer de bicicletas, com o objetivo de estimular o seu uso e facilitar a vida de moradores e turistas que desejam conhecer a região. A Angela Merkl deve rejubilar, por ser para o mundo, o exemplo de um país superdesenvolvido e preocupado com o ambiente, em oposição ao polémico Donald Trump. 
Em Tóquio, no Japão, o uso de bicicletas é tão frequente, que algumas empresas criaram estacionamentos subterrâneos. São realizados, diariamente, passeios culturais pelas principais atrações desta metrópole. 
Porque a distância, até Aveiro, é de cerca de oito km, apesar de eu ser muito sensível a questões ambientais, não me desloquei de bike. Lá tive que me socorrer do automóvel para chegar ao me destino. 
Foi, precisamente, quando procurava lugar para estacionar, que algo de insólito ocorreu. O Canal de S. Roque é um dos poucos lugares, na cidade, onde o estacionamento é gratuito, mas estava à pinha. Depois de muito procurar qualquer buraquinho remanescente, dei sinal para estacionar, quando um carro se interpôs e ocupou o lugar. Buzinei, reclamando o lugar que me tinha saído na lotaria. Ato contínuo, um jovem todo sorridente, de óculos espelhados, retrocedeu, libertando o lugar que era exíguo e pedindo-me desculpa. Comecei a ficar (bem) impressionada! Nos dias de hoje? Assiste-se a cada picardia entre condutores! 
Tive alguma dificuldade em alinhar o veículo, deixando espaço para os carros adjacentes poderem fazer as suas manobras. O jovem que observava a minha imperícia, ofereceu-se, prontamente, para me estacionar o carro. A princípio, mostrei alguma relutância e receio, em lhe pôr a chave na mão. Um sentimento de insegurança perpassou na minha mente, considerando o que os telejornais vão apresentando, diariamente. Só desgraças, burlas, violência, pedofilia e outras coisas quejandas. Resolvi arriscar e confiar, dando-lhe o benefício da dúvida. Em boa hora o fiz, pois em três tempos, o carro estava devidamente estacionado. Não fui lesada…mas não estava lá a TVI (!) para testemunhar o “incidente” e alimentar o espírito altruísta das pessoas. O sentido mórbido é a especialidade desse canal de televisão. 
Sensibilizada, por este ato de genuína solidariedade, agradeci efusivamente ao jovem, e pensei com os meus botões: Afinal, dizem tão mal da juventude de hoje, eu tive a clara demonstração do contrário! Bem haja a juventude hodierna! 
Bem lá no fundo do meu ser, uma ponta de narcisismo veio à tona. “A quem é boa pessoa, até o vento lhe apanha a lenha!” 

Mª Donzília Almeida 

29.06.2017 


quinta-feira, 22 de junho de 2017

UM DIA DIFERENTE...…

Crónica de viagens de Maria Donzília Almeida

“A maravilha em preservar sempre viva criança interior é que podemos abandonar, sempre que necessário, o cárcere da vida adulta!” 

Valeria Nunes de Almeida e Almeida

Daqui houve nome Portugal

Porta Estandarte

Palácio Duque de Bragança

Casa Brasonada

Anjo

Centro Histórico

Varandas Floridas

O pau
Este ano, o Dia Mundial da Criança teve um sabor diferente. Sobretudo para um grupo de meninos já crescidinhos, a que eu, carinhosamente, chamo JovenSeniores. E, já que há uma segunda infância, regressámos à nossa meninice. Neste dia, por todo o lado se organizam visitas de estudo, que antigamente se chamavam passeios da escola. A componente pedagógica sempre presente. Assim, é frequente ver-se por esse país fora, bandos de “passarinhos”, de chapeuzinhos todos iguais, sob a supervisão dos educadores. Vão inculcando, empiricamente, as regras da cidadania, numa educação cívica, que deve começar no berço. Lá diz o povo “De pequenino, se torce o pepino!”
Com a irreverência própria das crianças, lá foi o grupinho aos cuidados do prof. João, com destino a Guimarães. Mas, as traquinices desta gente de vários palmos e meio, depressa se manifestaram. Têm muita vivacidade, estas “crianças”!
A 1.ª travessura aconteceu em Campanhã, onde nos esperava um minigrupo, que fora de carro, com uma placa feita de um tosco ramo de árvore, onde se lia: Bem-vinda a US da Gafanha da Nazaré. A placa, tal como usam os guias turísticos, passou de mão em mão, até que foi entregue, por unanimidade, ao menino mais traquina e espigadote. Era o porta-estandarte à altura! Desta forma, ninguém se perderia do grupo e o mestre podia seguir tranquilo, sem receio de alguma ovelha tresmalhada.
E de mochila às costas, lá seguiu o grupo para mergulhar na história, na arquitetura e na descoberta da urbe.
Guimarães, uma antiga cidade romana, foi escolhida por D. Afonso Henriques como capital do Reino de Portugal após a sua vitória, na Batalha de São Mamede em 1128.
Começámos pelo Castelo. Guardo, na memória de uma remota visita, a chave enorme com que o porteiro nos abriu a porta. Hoje, há portaria eletrónica. As “crianças” empoleiravam-se, nas escadas de granito, carcomidas pelo tempo. “Cuidado, não se debrucem nas ameias”, ouvia-se a voz do “Menino do Pau.” “Há zonas perigosas!”
No século X, a Condessa Mumadona Dias manda construir, na sua herdade de Vimaranes, um Mosteiro que sofria constantes ataques por parte dos mouros e
normandos. Houve a necessidade de construir uma fortaleza para defesa dos monges e da comunidade cristã, que vivia em redor. Surge assim o primitivo Castelo de Guimarães. No século XII, com a formação do Condado Portucalense, vêm viver para Guimarães o Conde D. Henrique e Dª Teresa que mandam realizar grandes obras de ampliação. Diz a tradição que teria sido, no castelo, que os condes fixaram residência e aí terá nascido D. Afonso Henriques. Perdida a sua função defensiva, o Castelo entra num processo de abandono e degradação progressiva até ao século XX.
Seguiu-se a visita ao Palácio Ducal, construído no século XV pelo primeiro Duque de Bragança. Acabou por cair em ruínas, tendo sido restaurado durante a ditadura de Salazar. O museu abriga belas peças de mobiliário renascentista, soberbas tapeçarias flamengas e tapetes persas. Hoje é usado como residência oficial do Presidente da República.
Percorrendo o centro histórico, entre outros monumentos, visitámos a igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Oliveira, fundada por D. Afonso Henriques. Foi restaurada no reinado de D. João I para comemorar a sua vitória, na Batalha de Aljubarrota, em 1385. Famosa pela torre em estilo manuelino, a igreja é também conhecida por uma curiosa lenda segundo a qual teria sido plantada, à sua frente, uma oliveira para fornecer de azeite as lâmpadas de altar.
Guimarães, “o berço da nacionalidade” é uma cidade rica em património que merece uma visita mais dilatada. Mas há “criancinhas” que se cansam com as longas caminhadas e não fosse o “Menino do pau”, alguma se teria desorientado.
Ao fim da tarde, todos regressámos de comboio, exaustos mas com mais conhecimento e cultura na sua bagagem.

22.06.2017

segunda-feira, 19 de junho de 2017

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Crónica de Maria Donzília Almeida 


O país está de luto. Há um sentimento de consternação geral, perante a tragédia que se abateu em Pedrógão Grande. Houve, ontem, até, uma amiga que manifestou o seu repúdio, por alguém que atirou foguetes, nesta zona, no momento dramático que o país atravessa. A alegria de um/s não deve sobrepor-se à tristeza de todos. O Fb também tem esta vertente.
A comunicação social não para de fazer a atualização permanente da evolução do incêndio e do trabalho incansável dos bombeiros. Muito já se disse sobre esta calamidade, numa atribuição de culpas mútuas, que sempre acontece por estas ocasiões. 
O luto nacional de três dias, decretado pelo governo, é uma manifestação de pesar, não uma declaração de intenções, ou uma assunção de medidas a tomar no futuro. Sem culpar a, b, ou c, que não é o meu propósito, lembro aqui, a sabedoria popular que diz “Mais vale prevenir que remediar. No fundo, não de forma direta, todos temos a nossa quota-parte de responsabilidade, pois fazemos parte da humanidade.
Foi dito que o fogo ocorrido, naquela localidade, foi devido a causa naturais, às chamadas tempestades secas. Há, no entanto, uma ligação entre os fogos florestais e as alterações climáticas. Estas são mudanças, no clima, que se manifestam durante um longo período de tempo. A Terra tem passado, naturalmente, por momentos mais frios e mais quentes na sua história, mas as mudanças atuais estão a acontecer a um ritmo acelerado. São causadas principalmente pela atividade humana e não por um processo natural.
Desde a era industrial que há emissões de gases poluentes: os níveis de dióxido de carbono, na atmosfera, estão a aumentar exponencialmente, criando o efeito de estufa.
A adaptação às alterações climáticas deve ser encarada como um investimento no futuro e não como simples imposição política que apenas acarreta encargos financeiros. Os governos dos países devem recorrer a novas fontes de energia e tecnologias mais limpas para melhorar o ambiente, combater essas alterações climáticas e promover a saúde humana.
Nesse sentido, o Protocolo de Kyoto, um instrumento internacional, ratificado em 15 de março de 1998, visa reduzir as emissões de gases poluentes. Entrou oficialmente em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, após ter sido discutido e negociado em 1997, na cidade de Kyoto, no Japão. Aderiu um número substancial de países.
É pena que os Estados Unidos da América, o segundo maior emissor de gases poluentes e, historicamente, o que mais contribuiu para o problema, que já é sentido pelos próprios americanos, tenha recuado na sua adesão ao dito protocolo. Este presidente Donald Trump considera, na sua visão míope, o aquecimento global como um embuste. Foi a maior deceção de que há memória, na história do país, que já teve, à frente dos seus destinos, grandes vultos, inclusive o seu antecessor.
Se o arrependimento matasse…

quarta-feira, 7 de junho de 2017

À DESCOBERTA DE MANGUALDE

Crónica de Maria Donzília Almeida


A vida é o que fazemos dela. 
As viagens são os viajantes. 
O que vemos não é o que vemos, 
senão o que somos.”

Fernando Pessoa

Nelas - Enoturismo 


Lápide
Altar
Igreja - Escadório

Igreja - Pirâmides

Igreja Senhora do Castelo






“À descoberta de Portugal” e “Por terras de Portugal” são dois livros alinhados na estante, muitas vezes consultados, para organizar roteiros e conhecer o património local. No século passado. Com o avanço da tecnologia, a literatura de viagens ficou relegada para secundaríssimo plano e a internet assumiu esse papel. É fácil, é barato e está sempre ao nosso alcance. Aí se colhe a informação necessária, se fazem os itinerários, e é possível saber-se de antemão, o que se vai ver e o que se vai saborear.
Quanto ao alojamento, não há sombra de dúvidas – Hotel? Trivago!
Com a curiosidade, a disponibilidade e a sede de cultura/conhecimento, lá foi um minigrupo de “jovenseniores” à descoberta de Mangualde. Pertencente ao Distrito de Viseu, região Centro e sub-região do Dão-Lafões, recebeu em 1102, o foral do Conde D. Henrique.
Do seu património, salientam-se alguns monumentos: a Anta da Cunha Baixa um monumento funerário em granito, a Capela da Senhora de Cervães, o Castro do Bom Sucesso, a Citânia da Raposeira, a Fonte da Ricardina que herdou o nome de uma rapariga, filha de um pretenso abade, que proíbe os amores da jovem, em cartas trocadas com Bernardo Moniz, numa fonte ali situada. Serviria de mote, a Camilo Castelo Branco para escrever o seu "Retrato de Ricardina"; a Igreja da Misericórdia de Mangualde, a Igreja Matriz de S. Julião, o Palácio dos Condes de Anadia obra dos fidalgos Pais do Amaral que a partir do séc. XVIII se tornam a família de relevo. É Simão Pais do Amaral quem ultima a parte arquitetónica da mansão; o Real Mosteiro de Santa Maria de Maceira Dão, o Pelourinho de Abrunhosa-a-Velha, o Pelourinho de Chãs de Tavares, etc.
Para ganharmos energia e absorvermos este banho de cultura e história, tivemos, ao jantar de 6º feira, um suculento repasto no restaurante Valério, uma referência local, cujas paredes estão revestidas por fotos de famosos que por ali passaram. A de Maria José Valério ostenta a sua madeixa verde, como imagem de marca. Também tirámos a foto da praxe com o Sr Valério para se juntar às demais. Em terras em que a Nobreza teve forte expressão, senti-me como peixe na água. (!?)
Apesar do vasto património, por limitação de tempo, a nossa atenção concentrou-se apenas em alguns pontos. O primeiro, em que nos detivemos, foi a capelinha de Santa Maria do Castelo, que deu o nome ao hotel, ali próximo. Erigida no começo do séc. XV, evoca a batalha travada em Trancoso entre soldados de Portugal e de Castela. De linhas simples, nela ressalta a altíssima torre, elevada a prumo sobre a fachada. O interior mostra uma elegante capela-mor com um retábulo de sabor neoclássico. Recebeu nos finais do século XIX, a honrosa visita dos reis D. Luís e a rainha Maria Pia e do rei D. Carlos com a ilustre rainha D.ª Amélia.
Esta minha atração pela monarquia, num misto de fantasia e realidade, assenta em fundamentos históricos. Segundo rezam as crónicas, através de relatos orais, há indícios que a avó materna seria filha da fidalguia que um dia, veio à sua procura, numa caleche, puxada a cavalos. A menina que tinha passado pelo Mosteiro de Jesus, não quis aparecer ao presumível pai biológico. A sua origem, provavelmente nobre, perdeu-se na bruma dos tempos, numa sociedade hipócrita que camuflava os desmandos da Nobreza. Dessa avó, herdei o sobrenome …de Jesus.
Passadas estas elucubrações, a nossa digressão prosseguiu por terras beirãs.
A próxima paragem foi em Fornos de Algodres, onde almoçamos com um espetáculo delicioso: o vai vem das andorinhas que nidificaram a todo o comprimento do beiral de um prédio ali em frente. Até a refeição se tornou mais gostosa. Aí visitámos, no edifício do turismo, uma exposição da Confraria da Urtiga. Uma planta amaldiçoada por tanta gente foi reabilitada e apresentada como uma fonte de nutrientes, que rivaliza com muitos produtos hortícolas.
Já no regresso, visitámos um empreendimento de Enoturismo, em Nelas, onde só os grandes apreciadores e conhecedores do precioso néctar, fazem paragem obrigatória. Os carros de alta cilindrada, ali estacionados, são reveladores! 
Em pleno coração do Dão, o enoturista tem a possibilidade de visitar as vinhas, a adega e realizar uma prova de vinhos. 
Como não somos dados a esses eflúvios etílicos, ficámo-nos pela visita ao local e degustámos um café quente.
Outros espaços, outras visitas ficarão para a próxima escapadela. Este país tem encanto em qualquer recanto apesar de dizerem que a beleza está nos olhos de quem vê!

06.06.2017

sábado, 13 de maio de 2017

O fim de linha

Crónica de Maria Donzília Almeida



É uma verdade tacitamente aceite que a vida é uma viagem. Tem o seu início após o nascimento, isto é, a entrada neste planeta azul em que vivemos e vai-se desenrolando em sucessivas estações e apeadeiros, onde deixamos um pouco de nós, como trazemos um pouco dos locais e das pessoas com quem privámos.
Não há duas viagens iguais, apesar de haver muito de comum entre as pessoas, os lugares e as circunstâncias. Cada pessoa tem o seu próprio percurso de vida.
Quando se é criança, jovem ou até adulto, vislumbra-se um longo caminho à frente, em que o tempo parece dilatar-se até ao infinito. Ilusão da juventude, dizem os mais velhos.
Quando se atinge a idade da reforma, impõe-se uma paragem mais prolongada, para uma reflexão profunda. Começa a ter-se a perceção de que o percurso já vai adiantado e provavelmente, mais de 2/3 já percorridos. Sente-se a vida estremecida! Se durante o período de atividade, o tempo era escasso para a multiplicidade de tarefas que preenchiam o nosso dia-a-dia, eis chegada a oportunidade para a pausa que se impõe.
As pessoas aposentadas, ainda com energia para saborearem a vida e rentabilizá-la, procuram preencher o seu tempo, da forma que mais lhes agradar e que lhes traga um sentimento de gratificação. Das múltiplas ofertas disponíveis, há uma que parte de cada um de nós e que traduz um sentimento de partilha e pertença à sociedade em que vivemos – o voluntariado.
Pode revestir-se de variadas formas, desde lecionar, transmitir saberes numa Universidade Sénior, até à mais frequente, como visitar doentes nos hospitais ou utentes em lares de idosos.
Já que tenho um tempo alargado e o posso gerir como me aprouver, optei pela última modalidade. Uma vez por semana tenho encontro marcado numa casa de acolhimento de idosos, de ambiente familiar, onde cada um é tratado mediante as suas especificidades. Ali, não há a massificação que é a característica das instituições.
Aproveito para fazer uma caminhada, respirando o ar puro que ainda existe na nossa vila e deliciando o ouvido com a sinfonia dos grilinhos, numa orquestra sempre bem afinada.
O ambiente acolhedor e amistoso desta “Casa de Hóspedes” cria uma atmosfera de bem-estar que a todos contagia. A dona faz disso questão, pretendendo recriar ali, o ambiente familiar que ficou para trás
Sou sempre recebida, com certo alvoroço e ouço, essencialmente, o que os idosos têm para contar. Encontrando-se numa fase descendente da vida, vivem agora do passado, já que não se podem projetar no futuro. Vivem de memórias, sobretudo de boas memórias, da sua luta pela vida, que se vai aproximando do fim. Contam repetidamente as mesmas histórias, os episódios de vida em que foram protagonistas; as alegrias e tristezas, as vitórias e as derrotas, enfim o tecido das suas vidas.
Passando ali o dia inteiro um a seguir ao outro, apreciam a lufada de ar fresco de quem os visita. Ser bom ouvinte é qualidade de quem ouve com o coração e não só com os ouvidos. Ouvir e escutar são coisas diferentes. Eu escuto pacientemente, tudo o que têm para me contar, ainda que pela enésima vez.
“O que está a fazer é apostolado” disse já uma senhora, em tom de reconhecimento. Sem pretender ser “o bom samaritano”… reservo uma fatia do meu tempo para dar aos outros. “Volte sempre que puder” é a frase que ouço à despedida.

13.05.2017

domingo, 26 de março de 2017

A galinha

Crónica de Maria Donzília Almeida



Estava eu com as mãos na massa, no sentido literal do termo, quando toca a campainha. Não estava a amassar o pão, em concorrência desleal com o diabo que já amassou muito, algum do qual lhe tenha tomado o gosto.
Estava apenas a dar uma ajudinha à massa, antes de a pôr na máquina de fazer pão. Uma volta à massa evita que a farinha aglomere nos cantos redondos da cuba e o pão ficando por cozer. Com os avanços da tecnologia, houve uma redução drástica no trabalho das donas de casa, que agradecem, restando-lhes assim mais tempo para a família.
Há uma diversidade de eletrodomésticos que facilitam, agilizam e economizam tempo e dinheiro, revertendo a morosidade e fadiga das tarefas domésticas em tempo de exercício e convívio familiar.
Tiro as mãos da massa e vou à porta ver quem chamou. Para meu grande espanto, deparo com algo tão insólito quão inesperado: um jovem, cheio de piercings e tatuagens e um corte de cabelo que está na berra – com um rabicho no alto da cabeça. Uma personagem de telenovela foi o modelo e logo ditou a moda. A juventude permeável a estas inovações segue-as logo, numa pura imitação.
Pouco dada a preconceitos e a juízos apriorísticos, confesso que o meu pensamento pecou um pouco, mas assumo-o — mea culpa! 
A minha estupefação não se ficou por ali, quando observei que o jovem trazia uma galinha debaixo do braço. O que estará ele aqui a fazer, naquele preparo? Foi o primeiro pensamento que aflorou ao meu espírito.