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sábado, 10 de dezembro de 2016

Natal — Tudo se fazia para manter a tradição familiar

Do Natal da minha infância 

Maria de Lourdes Almeida


Do Natal da minha infância, na década de 1950, retenho o espaço físico, a alegria e os cheiros. Tudo era mágico! O Natal era passado e vivido a três: eu, a minha mãe e o meu pai (a minha irmã nasceu 14 anos mais tarde). Vivíamos em Lisboa e a restante família estava em Leiria. Na altura, ir a Leiria significava cerca de 5 horas de camioneta para cada lado e o horário de trabalho na véspera de Natal era igual ao dos restantes dias. 
Ao chegar do trabalho, no dia 24, a minha mãe, ainda que com a ajuda do meu pai que sempre colaborou nas lides domésticas (um homem muito vanguardista para a época), começava os preparativos para as iguarias natalícias: cozer a abóbora para as filhós que precisavam de tempo para levedar, fazer o arroz doce, preparar as rabanadas e a salada de fruta. Quando os doces estavam prontos e o cheiro dos fritos pairava por toda a casa, preparava-se o bacalhau com batatas e couve (comprava-se a que vinha de Trás-os-Montes por ser mais tenra e saborosa). 
Não me recordo se esperávamos pela meia-noite para cear, mas creio que não deveria fugir muito a essa hora. Após o repasto era hora de limpar a cozinha. Tudo tinha de ficar escrupulosamente limpo, não fosse o Menino Jesus sujar-se ao descer pela chaminé. Enquanto a minha mãe se ocupava desta tarefa de limpeza o meu pai sentava-se a engraxar os sapatos. Então, o Menino Jesus não ia deixar os presentes em cima de sapatos mal limpos. Chegava a hora de ir para a cama. Que sufoco! E o Menino Jesus não se iria esquecer da nossa casa? Ter-me-ia portado suficientemente bem para merecer os presentes?