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sábado, 1 de janeiro de 2022

Miguel Torga para abrir o ano

SÍSIFO 

Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo 
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar 
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Do Livro "Miguel Torga - Poesia Completa"

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

TORGA, SEMPRE

"Miguel Torga é um dos escritores portugueses 
que deveria ser de leitura obrigatória, 
sem ser obrigatório."

Miguel Torga


“Abandonar a Pátria com um saco às costas? Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, o Mondego, a luz de Coimbra, a biblioteca e as vogais da língua. Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles, seria um cadáver a respirar.” Ou, noutro ângulo, “eu sou um homem de impressões digitais, das mãos aos pés. O sulco do arado é tão impressivo para mim como o traço da caneta. Leio tanto numa lavrada alentejana como num livro”.

Citado por António Bagão Félix

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

MIGUEL TORGA . CONFIANÇA


Confiança

O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura…
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova…


Miguel Torga

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Miguel Torga - PORTUGAL

Portugal
Consultório em Arganil

Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.

Miguel Torga, in 'Diário X' 

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Poesia para este tempo

Um poema de Miguel Torga


LAMENTO

Pátria sem rumo, minha voz parada
Diante do futuro!
Em que rosa-dos-ventos há um caminho
Português?
Um brumoso caminho
De inédita aventura,
Que o poeta, adivinho,
Veja com nitidez
Da gávea da loucura?

Ah Camões, que não sou, afortunado!
Também desiludido,
Mas ainda lembrado da epopeia...
Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A que ninguém colhe o mel!...
Ah, meu pobre corcel
Impaciente,
Alado
E condenado
A choutar nesta praia do Ocidente...

Chaves, 11 de setembro de 1975

Diário XII

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Um amigo


«Que belo é ter um amigo! Ontem eram ideias contra ideias. Hoje é este fraterno abraço a afirmar que acima das ideias estão os homens. Um sol tépido a iluminar a paisagem de paz onde esse abraço se deu, forte e repousante. Que belo e que natural é ter um amigo!»



Miguel Torga
Diário - 1935

Nota: Texto publicado há um ano neste meu blogue.


- Posted using BlogPress from my iPad

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

De cada popa se vê um Portugal diferente

Ver transformar em húmus 
as dunas da Gafanha




«É certo que de cada popa se vê um Portugal diferente, conforme a latitude: verde e gaiteiro em cima, salino e moliceiro no meio, maneirinho e a rilhar alfarroba no fundo. Camponeses de branqueta e soeste a apanhar sargaço na Apúlia, marnotos a arquitectar brancura em Aveiro, saloios a hortelar em Caneças, ganhões de pelico a lavrar em Odemira, árabes a apanhar figos em Loulé. Metendo o barco pela terra dentro, é mesmo possível ir mais além. Assistir, em Gaia, à chegada do suor do Doiro, ver transformar em húmus as dunas da Gafanha, ter miragens nos campos de Coimbra, quando a cheia afoga os choupos, fotografar as tercenas abandonadas do Lis, contemplar, no cenário da Arrábida, a face mística da nossa poesia, ou cansar os olhos na tristeza dos sobreirais do Sado. Mas são vistas… Imagens variegadas dum caleidoscópio que vai mudando no fundo da mesma luneta de observação.»

Miguel Torga
In "PORTUGAL"

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Sonata de outono

Por José Tolentino Mendonça 



E o outono vai-se instalando. A princípio nem parece uma estação. É quase um estado de alma, este tempo assim um pouco vago, em declive delicado, com a chuva ainda rala (mesmo se em alguns dias chega por aí aos tropeções) e o vento que parece um miúdo a aprender a assobiar. Olhamos com íntima estranheza para a brevidade destes primeiros dias, dos quais já não nos lembrávamos. Nas árvores, as folhas tremeluzem, indecisas e iluminadas, transmutadas em incríveis tonalidades. Os frutos têm perfume e sabores densos, tão diferentes daqueles que se saboreiam no verão. 
Lembro-me de um poema de Miguel Torga, que gosto de pôr a tocar como uma pequena sonata de outono: 

O que é bonito neste mundo e anima,
é ver que na vindima
de cada sonho
fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura que se não prova
se transfigura
numa doçura
muito mais pura
e muito mais nova

terça-feira, 24 de maio de 2011

Miguel Torga: O que pode o inconsciente colectivo!


Aveiro: Fórum

Numa das suas passagens por Aveiro, mais concretamente em 14 de agosto de 1973, Miguel Torga escreveu assim:

«O que pode o inconsciente colectivo! Nunca aqui venho, seja qual for o motivo que me traga, que uma força poderosa me não coaja intimamente. Sem querer, sinto-me cidadão. Parece que caminho nas ruas com todos os direitos e obrigações às costas.»

"Diário - XII" 


domingo, 17 de abril de 2011

Poesia para começar este domingo



EVASÃO

De luz são estas horas clandestinas
E vagabundas,
Roubadas à razão e à lógica dos outros.
O sol ergue-se nelas com fulgor
Dobrado.
Não há sombras no largo descampado
Onde se esconda a alma envergonhada.
Pura, campeia, íntima e liberta,
Contente
Do ensejo gratuito da aventura.
Viver é ser no tempo intemporal.
É nunca, a ser o mesmo, ser igual.
É encontrar quando nada se procura.

Miguel Torga
In Diário XVI

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Miguel Torga faleceu há 16 anos


Faz hoje precisamente 16 anos que Miguel Torga faleceu. O escritor transmontano, porém, mantém-se vivo, porque a sua poesia e a sua prosa são intemporais. Várias vezes apontado como merecer do Prémio Nobel da Literatura, nunca foi distinguido pelo mais alto galardão universal para o setor das letras, que não soube reconhecer o mérito indiscutível que lhe brotava da alma.
Passei hoje, em Coimbra, pela rua que lhe foi dedicada e lembrei-me então de inúmeros poemas que me encantaram pela beleza da harmonia e pela simplicidade do ritmo. E da prosa, para além do Diário, jamais esquecerei a Criação do Mundo, um dos poucos livros que me provocaram saudades antes de chegar ao fim: Que pena senti quando li a última página!
Natural de S. Martinho de Anta, onde repousam os seus restos mortais, Miguel Torga viveu grande parte da sua vida em Coimbra, cidade que cantou como poucos. Por isso, a Casa-Museu Miguel Torga assinalou hoje esta efeméride com um programa em que procurou realçar a forma como o grande escritor abordou a cidade universitária.

FM

segunda-feira, 18 de maio de 2009

PROJECTO “TORGA EM SMS” DESENVOLVIDO NO INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA

“DIÁRIO XII”, de Miguel Torga,
em versão integral para telemóvel ou Messenger
São 27.882 palavras, 114.796 caracteres que pretendem provocar a discussão em torno do futuro da Língua Portuguesa, numa época em que os jovens escrevem cada vez mais, mas talvez estejam a escrever cada vez pior
O “Diário XII”, de Miguel Torga, foi integralmente convertido para “linguagem SMS”. A “proeza” tem a autoria de duas alunas da Licenciatura em Comunicação Social do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), de Coimbra. Micaela Andreia Neves e Márcia Arzileiro, entretanto já licenciadas, não chegaram a converter a totalidade da obra, tendo a parte sobrante sido entregue a duas jovens de 14 anos, Mariana Alves e Laura Sobral, ao tempo frequentando o 8.º ano da Escola EB 2 3 Eugénio de Castro.
A conversão foi efectuada da 3.ª edição revista do Diário XII, composto e impresso nas oficinas da Gráfica de Coimbra em Julho de 1986. O Diário XII, com 204 páginas, inclui 251 entradas, de 17 de Maio de 1973 a 22 de Junho de 1977. 46 dessas entradas são constituídas por poemas.A versão em sms compreende 27.882 palavras, 114.796 caracteres (sem espaços), encontrando-se disponível, na íntegra, em http://diarioxii.blogspot.com/
Ao blog continente da versão integral do “Diário XII” em “linguagem SMS”, juntam-se outros três. Em http://torgaemsms.blogspot.com/ disponibilizam-se dezenas de notícias sobre o tema, do mixuguês à taquigrafia, dos etnolets às palavras em vias de extinção.
Por seu turno, o blog “Sítios” (http://mapastorga.blogspot.com/) georeferencia o itinerário do escritor na edição XII do seu “Diário”. São ao todo 62 mapas e fotos, publicação com recurso ao “Google Maps”. Por último, referência para o blog “TORGA EM SMS – OPINIÕES QUE CONTAM” (http://torgaemsms2.blogspot.com/).
A coordenação do projecto solicitou a vários especialistas opinião sobre a iniciativa, pedindo-lhes também que se pronunciem sobre os desafios que se colocam à Língua Portuguesa, tendo por base a generalização da "linguagem SMS" entre os jovens.
Fonte: Informações prestadas por Dinis Alves

terça-feira, 17 de janeiro de 2006

MIGUEL TORGA MORREU HÁ 11 ANOS

Miguel Torga



CORDIAL 

Não pares, coração! 
Temos ainda muito que lutar. 
Que seria dos montes e dos rios 
Da nossa infância 
Sem o amor palpitante que lhes demos 
A vida inteira? 
Que seria dos homens desesperados, 
Desamparados 
Do conforto das tuas pulsações 
E da cadência surda dos meus versos? 
Não pares! 
Continua a bater teimosamente, 
Enquanto eu, 
Também cansado 
Mas inconformado, 
Engano a morte a namorar os dias 
Neste deslumbramento, 
Confiado
Em não sei que poético advento 
Dum futuro inspirado. 

Coimbra, 30 de Janeiro de 1991 

In “Miguel Torga – Poesia Completa”

NB: Para conhecer melhor o grande poeta Miguel Torga, que faleceu em 17 de Janeiro de 1995 e que foi sepultado na sua terra natal, S. Martinho da Anta, junto dos pais e da irmã, clique aqui)