Chega de Bois
Numas férias de agosto, em Chaves, fomos, com uma família
amiga que nos acolhia com imensa amizade, a família Fernandes, de António
(infelizmente já falecido) e Nazaré, até Montalegre, com o destino assente na
Chega de Bois, tradição daquela zona. Dia quente, com temperatura abafada,
prenunciando trovoada, no dizer dos entendidos. A viagem correu bem, apesar das
curvas e contracurvas desgastantes.
Tinha ouvido falar e lido bastante sobre a etnografia
transmontana, graças aos trabalhos publicados, na altura, por Barroso da Fonte, Lourenço Fontes (o célebre Padre Fontes, de Vilar de
Perdizes), Alberto Machado, Santana Dionísio e outros. A curiosidade era muita,
apesar de não gostar de lutas brutais, quer entre pessoas quer entre animais,
mas conhecer a tradição, ao vivo, aguçou-me o desejo.
Quando chegámos a Montalegre, o céu estava pesado de negro,
fazendo adivinhar chuva forte e trovoada rija. Assim foi. Bem lá no cimo, perto
do Castelo, a chuva, grossa e intensa,
parecia adivinhar um dilúvio. Em simultâneo, cai sobre nós, assustados nos
carros, uma girândola de trovões e relâmpagos como nunca tínhamos visto. Era,
realmente, de meter medo ao mais corajoso. E nunca mais acabava aquela cena
aterradora.
O tempo, de curtos minutos terríveis, parecia sem fim. Mas lá
passou e de imediato depois solta-se um sol radioso. Haverá Chega de Bois? — foi
pergunta que ficou no ar.