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segunda-feira, 19 de março de 2012

António Augusto Afonso com a Gafanha da Nazaré no coração


António Afonso

António Augusto Afonso, 87 anos, viúvo, é um emigrante nos EUA. Alfaiate de profissão, aqui na nossa terra, junto ao estabelecimento comercial conhecido por Zé da Branca, com a sua palmeira, e em terras do Tio Sam, nunca deixa de pensar nos ares, paisagens, pessoas e acontecimentos que lhe povoam a memória. 
Paralelamente à arte que o distinguiu, ainda foi exímio barbeiro, mais aos fins de semana. Numa ou noutra carta que nos escreveu e nas conversas durante as férias que passa na sua e nossa terra, António Afonso deixa transparecer, minuto a minuto, o amor que tem ao torrão natal que lhe está na alma. 
Durante a recente visita que nos fez, recordou figuras e factos doutros tempos com memória fresca e fiel, mas também das suas vivências na América. Referiu que, para vencer a solidão, nascida com a reforma, se dedica a recordar, construindo miniaturas de madeira e de outros materiais, onde aviva e enriquece a sua existência, reproduzindo, de cor, edifícios e objetos que traz na cabeça. Tornando-os presentes, longe daqui, pode, então, ao apreciá-los, voltar a recuar décadas e sentir-se gafanhão de coração. Mas António Afonso não se fica por aí. Como gosta de escrever, passa ao papel, numa caligrafia personalizada, certinha e bem medida, estórias vividas há muito tempo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Para começar este domingo, a visita de um amigo emigrante


Alberto Margaça



Alberto Margaça é um dos muitos gafanhões emigrantes espalhados pelo mundo. Vibra sempre quando se fala da terra que o viu nascer, ali à beira da Escola da Cambeia, que fica no Bebedouro, Gafanha da Nazaré. Esta escola herdou o nome que tinha, na chamada escola da Ti Zefa.
Pois o Alberto, com quem gosto de conversar, teve a gentileza de me visitar ontem. Fálamos dos seus 36 anos de Canadá e da maneira como, longe da Pátria, os nossos emigrantes mitigam as saudades. Da nossa conversa vai sair, no próximo Timoneiro, a entrevista que lhe fiz. Para já, contudo, fica a sua paixão pela música popular portuguesa, que o levou a criar um grupo musical, Searas de Portugal. Deste meu recanto, aberto ao mundo, aqui fica o meu abraço para todos os emigrantes, com votos, também, de que o Alberto faça boa viagem de regresso ao Canadá.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Os nossos emigrantes

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Adelino Caixote garante:
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As saudades de quem emigra são sempre muitas

Adelino Marques das Neves, mais conhecido por Adelino Caixote, 80 anos, está de férias na Gafanha da Nazaré, terra onde nasceu e que não lhe sai do coração, enchendo-lhe o pensamento com recordações e vivências. Casado com Zaida das Flores Sousa, natural da freguesia das Mercês, Lisboa, mas criada, desde menina, na Costa Nova. Radicados nos EUA, em New Jersey, procuram vir a Portugal, agora com mais frequência, porque estão livres de compromissos profissionais. Não tencionam, para já, regressar de vez, porque toda a família tem os pés bem assentes na terra do Tio Sam.
Conheço o Adelino desde que me conheço. Na sua oficina de bicicletas, em frente da igreja matriz, era ele quem remendava algum furo da minha bicicleta ou a afinava, para mais velocidade atingir. Vi crescer os seus filhos, sobretudo os dois mais velhos, e fui apreciando o seu esforço, de braço dada com a esposa, para governar a casa. Depois soube que emigrou para a América, em 1971, “legalmente”, com todos os seus, na esperança de encontrar dias melhores. Em conversa com o casal, senti a satisfação de ambos pelas conquistas alcançadas.
O Adelino e a Zaida estão casados desde 1954 e é um casal feliz, depois de muito trabalho e sacrifícios sem conta. Recordam o dia, 19 de Dezembro, em que o nosso prior de então, padre Saraiva, abençoou o seu matrimónio. Pais de quatro filhos, têm três vivos, “graças a Deus”. O Adelino, o mais velho, engenheiro químico, tem 55 anos. A seguir vem o Pedro, arquitecto, de 50, e por fim a Dora, de 44, bancária. Ainda têm seis netos.
Antes de emigrar para os EUA, o nosso entrevistado trabalhou como mecânico na EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), nos Estaleiros de São Jacinto e nas oficinas de Dinis Teixeira, Bóias e Piçarra. Passou pelas Minas de Queriga, perto de Santa Comba Dão. Veio a seguir a oficina na sua residência, frente à nossa igreja, onde consertou bicicletas e motorizadas durante sete anos.
“A oficina já não dava para sustentar a família, na altura com dois filhos, e fui para o bacalhau como ajudante de motorista; com a carta de motorista, fiz algumas viagens no Coimbra, no Adélia Maria e no Navegante”, explicou-nos o Adelino.
A experiência da Alemanha surgiu a seguir. Ainda como motorista marítimo, com carta tirada naquele país também. Sozinho, porque não via hipóteses de ter a família consigo, como era seu desejo. Fez duas viagens como 3.º e lá ganhou “bom dinheiro”, tendo a vantagem de não ser “trabalho forçado”, porque “tinha horário para trabalhar e para descansar, não era como nos navios portugueses”.
“Recebi a carta de chamada dos meus irmãos e fui para os EUA com toda a família, como era o meu sonho; era um país onde mais me podia realizar... e nunca me arrependi de ter dado este passo” disse. E acrescentou: “Na América trabalhei na construção de estradas, onde sofreu muito; era muito duro; não conhecia a língua...” (Aqui o Adelino emocionou-se…)
Mais sereno, referiu que tudo já tinha passado e continuou a acreditar que era na América que tinha mais garantias para um futuro melhor.
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Entretanto, apareceu um anúncio num jornal a pedir um mecânico montador. Com a ajuda de um espanhol, respondeu e foi admitido, depois de provar que estava legal e de apresentar as cartas de motorista marítimo e outros documentos profissionais. A sua função consistiu em montar uma nova fábrica de produtos químicos, no local onde uma outra tinha explodido. Ali ficou encarregado de todas as operações, com a orientação e ajuda de um engenheiro espanhol, que tinha elaborado os planos. Seleccionou, para isso, o pessoal necessário e lá ficou, até se reformar, na manutenção.
Quando deixou a Gafanha da Nazaré, só veio de férias dez anos depois. “Achei tudo muito estranho, porque estava tudo muito modificado; muitas casas, uma coisa fora do normal; os caminhos de areia foram substituídos por estradas alcatroadas com muito movimento.” E acrescentou: “As saudades de quem emigra são sempre muitas. Agora, apesar de reformado, tenho de continuar a ir para a América, porque tenho lá os meus haveres, os filhos e os netos; mas sempre que posso passo por cá uns tempos. Praticamente venho à Gafanha da Nazaré todos os anos.”
A Zaida acompanhou a entrevista, concordando com o que dizia o marido, o Adelino Caixote. E reconhece que foi difícil a adaptação. “Sempre trabalhei na confecção em série e quanto mais fizesse mais ganhava”, esclareceu.
Sem saber a língua, “no supermercado pedia o que precisasse apontando para as coisas” e com os filhos falava em Português. Nas escolas “eles começaram a falar Inglês com os colegas. E foram os filhos que ajudaram o casal a entrar na língua inglesa”.
Quando regressei à Costa Nova, fiquei admirada com o que vi, “tudo tão diferente: no vestir, no conviver, no ambiente, nas casas novas dos pescadores...”
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Fernando Martins

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

AGOSTO: Férias de Emigrantes

Encontros e Reencontros
Sempre foi agradável encontrar e reencontrar amigos. Com eles, trocamos impressões, emoções e sensações. Recordamos e revivemos momentos felizes e menos felizes. Partilhamos sonhos e sentimos a cumplicidade de muitos ideais experimentados há longos anos. E é nas férias de Agosto, normalmente, que se revêem cúmplices de vivências da meninice e juventude. Neste Agosto já reencontrei alguns. Uns que identifiquei de imediato; outros que deixaram alguns traços, muitas vezes imperceptíveis, na minha memória cheia de brancas. São denunciados uns pela voz, outros pelos olhos, uns por sinais desvanecidos do rosto, nunca pelo cabelo ou falta dele. Depois, lá vem uma frase que desencadeia um processo interminável de sequências, como a história das cerejas. Pegamos numa e logo agarrada a ela vem um cacho apetitoso. Por estes dias, senti a amizade de antigos alunos que pararam apressados os carros para um abraço do outro lado da rua. Vi quanto emigrantes regressados para férias manifestaram a sua alegria por me encontrarem, “com muito bom aspecto”, sublinham. Sempre há amigos muito gentis! Ouço histórias de dificuldades ultrapassadas, do bem-estar que por aqui talvez não pudessem ter, da vaidade natural de filhos e netos que singraram na vida, mas também do que os liga ao torrão natal, “as suas raízes” que permanecem bem agarradas ao coração. Com tudo isto, vêm à baila as notícias da região que lhes chegam pelo meu blogue e que ajudam a mitigar saudades sem medida, com apelos para que continue. Com votos de bom regresso, aqui fica a promessa da minha presença junto de todos, com um abraço amigo. Fernando Martins

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Os nossos emigrantes: Teresa e Nelson Calção

Nelson e Teresa Sempre divididos é o grande dilema de todos os emigrantes
O Nelson emigrou em Outubro de 1969 e eu em Marco de 1973, muito contra a minha vontade, porque não queria deixar para trás a minha querida avozinha. O Nelson emigrou forçado pelo denominador comum a tantos outros: em Portugal não havia futuro para as novas gerações. E também pelo facto de se ouvirem histórias lá de longe, que soavam melhor que o quotidiano que sentíamos em Portugal. O Nelson nunca tinha tido ideias de emigrar, pois no momento trabalhava na Metalurgia Casal, uma companhia bem acreditada na altura, mas de um dia para o outro a decisão foi tomada e partiu mesmo... Foi ter com uma irmã que ao tempo vivia em Newark, o que no fundo talvez tivesse sido a razão desta decisão repentina. A estada do Nelson não foi longa nos EUA devido a estar em trânsito para o Canadá, para onde seguiu e onde permaneceu dois anos. Depois voltou a Newark onde fixou residência, já como emigrante legal. Pouco tempo depois, em Fevereiro de1973, resolvemos casar e começar a nossa vida, a dois, nesse país distante mas muito acolhedor, que hoje consideramos a nossa segunda Pátria. A língua, no início, foi a maior barreira que encontrámos, mas com boa vontade e persistência tudo se ultrapassou. Basta querer, pois os estabelecimentos de ensino abundam por todo o lado, e nós, graças a Deus, também, já não sendo jovenzinhos, conseguimos frequentar a universidade por algum tempo, eu de dia e o Nelson à noite. Isto foi algo que nos marcou e nos deixou recordações inesquecíveis Um outro grande obstáculo foram as saudades, pois estávamos longe daquilo que nos fez, nos é querido e nos faz sentir seguros. Mas, a pouco e pouco, com a ajuda de novas amizades que vão surgindo e de novas experiências, a adaptação foi acontecendo. Graças, ainda, a certos grupos que, com o seu trabalho e boa vontade, nos vão oferecendo o que Portugal tem de melhor, que são as nossas tradições!

Da esquerda para a direita - sentados: Jessica, Nelson e Teresa; de pé: Peter e Ricky

Vale a pena mencionar o grande acontecimento do ano, 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, onde todos os portugueses de vários cantos da América se encontram pelas ruas da Ferry St. No meio da animação, trocam-se sempre aqueles abraços, como que a matar saudades da nossa terra e das nossas gentes. Que orgulho em ser português! Infelizmente, a nova geração, com as crises que se têm feito sentir por todo o mundo, está um pouco arrefecida, mas a área da gastronomia, essa não, porque continua em força e em cada canto, a nossa bandeira, desfraldada ao vento, convida a entrar e a desfrutar a nossa comidinha portuguesa. A família entretanto, foi aumentando. Temos três filhos, dois rapazes e uma menina, já adultos. O nosso mais velho, o Ricky, é advogado em S. Francisco, Califórnia; o Peter é economista e a Jessica, ainda estudante, residem no Estado de New Jersey. Há cerca de quase três anos, um rebentinho, o Madison, fruto do casamento do nosso filho Peter com a Christine, uma moça americana, veio enriquecer ainda mais as nossas vidas. Nos EUA sentimo-nos muito portugueses e participamos em bastantes eventos da comunidade portuguesa. Vivemos três anos no "Ironbound", nome dado ao lugar onde os portugueses vivem em Newark, e depois comprámos casa no meio americano, onde nos últimos quase trinta anos da nossa estada nos EU vivemos, participando activamente na paróquia de St. Mary's em Colts Neck, NJ, paróquia esta que é um exemplo para qualquer comunidade, devido aos programas educacionais e morais que aí se praticam e que têm feito a diferença na vida de muitas famílias. Há cerca de sete anos tomámos a decisão de voltar definitivamente às nossas raízes, a nossa querida Gafanha, um sonho tornado realidade, mas que acarreta por vezes muita tristeza, muita saudade, muita nostalgia, porque já não viemos inteiros. Parte de nós ficou na família que constituímos, nos lugares onde vivemos e nos amigos que fizemos, ao longo dos anos. Sempre divididos é o grande dilema de todos os emigrantes, e nós não somos excepção! Teresa e Nelson Nota: Texto elaborado a partir de uma entrevista, via Internet, com a Teresa e o Nelson Calção, gafanhões, com muitos anos a mostrarem uma grande alegria de viver. Fernando Martins

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Os nossos emigrantes

Tito Estanqueiro na primeira pessoa

O brasileiro é alegre e muito dado a festas


Quando cheguei ao Brasil, em 1981, tinha apenas 15 anos. Vivia o fervor da adolescência e a vontade de trilhar um caminho diferente, pois sentia que em Portugal as possibilidades não seriam muito grandes. Recebeu-me meu saudoso pai, Manuel Teixeira Estanqueiro, mais conhecido por Manuel Rito, com todo o carinho de quem muito queria a minha presença por perto.

 Manaus foi a cidade que me acolheu nos primeiros tempos. Era uma cidade de ruas largas, praças grandes, mas pouco cuidadas, e o Teatro Amazonas, fruto do período áureo do ciclo da borracha, sobressaía pela sua imponência. Tudo muito diferente da região de Aveiro.
Verifiquei de imediato que o brasileiro é alegre, muito dado a festas para comemorar tudo, com o churrasquinho no final do expediente ou a propósito de um simples jogo particular da selecção brasileira, que faz parar o país. Imaginem como é quando se trata de competição oficial para a Copa do Mundo.
As saudades não faltaram e subsistem, mas a forma como o brasileiro tudo faz para que qualquer um, que aqui chega, se sinta em casa, foi e é a tónica dominante que me fez ficar por cá até hoje.
Senti saudades da minha mãe e irmã, tal como de outros familiares e amigos. As telecomunicações não eram tão desenvolvidas como hoje. Lembro-me de ter ligado para saber o resultado final de um jogo do nosso Sporting, com que dificuldades! Tudo isto me alimentava o sonho de um dia regressar a Portugal, para estar mais perto da família e para desfrutar das coisas boas em que o nosso país é pródigo. Naquela altura, as saudades de Portugal eram de certa maneira “combatidas” com a Emissora Nacional, mesmo que as ondas curtas não permitissem escutar, com precisão, as informações e a música portuguesa.
Falando do “Funchal”, recordo que o meu pai, piloto aviador comercial, não deixava de fazer um voo rasante sobre o paquete, quando ele navegava entre Santarém e Manaus, caso passasse próximo. Desde que cheguei, convivi com jovens da minha idade, embora houvesse uma enorme diferença no relacionamento. O jovem brasileiro era mais ousado... e as meninas muito atrevidas. Entrei na escola técnica para frequentar o segundo grau (que dá acesso ao ensino superior), que não completei. Aí vi que não havia respeito para com os professores, como era habitual em Portugal. Mas nas áreas do conhecimento, não havia grandes diferenças. Com o falecimento do meu pai, num acidente de aviação, em Junho de 1982, só mais tarde, como autodidacta, me preparei e fiz os exames do segundo grau.
Perder o pai é sempre um trauma, mas a vida ensinou-me que temos de estar preparados para tudo. Talvez isso explique uma das grandes verdades que o brasileiro diz: “para que você ouse o máximo no seu dia-a-dia, viva hoje como se fosse o seu último dia, pois um dia você acerta.” Depois, em 1984, tirei o brevet de piloto comercial e comecei a voar para os locais mais distantes da Amazónia, onde o acesso só era possível por navegação fluvial ou aérea. Mesmo aí, o brasileiro acolhia os forasteiros, oferecendo-lhes o que de melhor havia na cidade.
O povo impressionou-me pela sua forma de encarar a vida, de viver o Carnaval, de opinar sobre tudo o que no dia-a-dia o afecta. Posso dizer que, pese embora as dificuldades, que são enormes, pelas disparidades regionais, é um povo muito empreendedor. Após a incursão pela aviação, mudei-me para Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, Estado que tem a maior parte do bioma Pantanal. Ingressei na Universidade Pública e completei a licenciatura de Ciências Económicas, com a qual voltei ao mercado de trabalho. Mais tarde, surgiu a possibilidade de tirar o mestrado em Ciências Económicas e lá consegui essa meta com algum brilhantismo. Foram tempos divididos entre Campo Grande e São Paulo. Esta última cidade é, sem dúvida, única; não falta nada, tem tudo o que se pode imaginar. Se visitar não deixe de conhecer o Mercado Municipal e o Museu da Língua Portuguesa. Vale a pena. Permitam-me que evoque um grande amigo, já falecido, António M. Cravo Cascais, com quem privei imensos momentos e de quem lembro a sua inegável dedicação e preocupação, após o falecimento do meu pai. Estou-lhe muito grato.
Depois de uma tentativa falhada de regressar de vez à Gafanha da Nazaré, com a Débora, pensei que talvez tenha errado em ter emigrado, mas, como diz a Ti Vitória, minha avó, agora “não adianta chorar pelo leite derramado”.
A minha vida, presentemente, está assente no Brasil. Em 2006, fruto das amizades realizadas e da competência que me é reconhecida, passei a desempenhar funções de director técnico da SEBRAE/MS, no Mato Grosso do Sul, uma instituição que apoia as micro e pequenas empresa. Assim, passei a ter a nossa Gafanha da Nazaré apenas como local das minhas férias, até porque empreendi novos desafios que vieram com a chegada do João Vítor, primeiro filho, e das novas responsabilidades assumidas.


Oásis de progresso

Quando havia a oportunidade, lá dava eu um pulo a Portugal para rever família e amigos. O período mais difícil foi entre 1982 a 1985, quando passei quase mil dias longe do que eu mais considero. Esse interregno ensinou-me que o dinheiro vale para ser usado em vida. De nada adiantaria eu fazer o habitual que os portugueses fazem: montar uma padaria, passar 20 anos sem ir a Portugal e depois regressar com alguma pompa. Quantas histórias parecidas escutei!
Desde 1985, quase todos os anos visito os parentes e amigos, como diria o meu bisavô, Ti Sarabando. Já são mais de 25 viagens que muito contribuíram para estar na nossa Gafanha.
As visitas são corridas, falta tempo para estar com todos, para partilhar horas de convívio, mas não deixo de ouvir quem me conta como tem evoluído a nossa terra. Sou um defensor do desenvolvimento económico, mas digo que faltou, durante imenso tempo, visão a alguns líderes políticos para reclamarem a expansão do Porto de Aveiro. Perdemos a chance de ter um desenvolvimento sustentável para as nossas gentes, implementando uma marina e a respectiva envolvente, que geraria mais emprego e poderia permitir uma outra dinâmica, colocando esse ponto ocidental da costa atlântica como oásis do progresso. Mas os novos Portos de Aveiro aí estão a preparar-se, certamente, para assumir um grande futuro, embora por vezes algumas obras portuárias descaracterizem o bucolismo da sempre acolhedora terra dos nossos pais e avós. ~

Texto elaborado a partir de uma entrevista, via e-mail, com o Tito Estanqueiro, economista, emigrante no Brasil, mas com as marcas das saudades da nossa terra e das nossas gentes bem presentes.

Fernando Martins