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sábado, 25 de novembro de 2023

Laudate Deum. A crise climática

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


Com data de 4 de Outubro, o dia da festa de São Francisco de Assis, e 8 anos depois da publicação da encíclica Laudato Sí, Francisco publicou a Exortação Apostólica Laudate Deum, com a intenção de partilhar com todas as pessoas de boa vontade a sua "profunda preocupação pelo cuidado da nossa casa comum", porque, "com o passar do tempo, dá-se conta de que não estamos a reagir de modo satisfatório, pois este mundo que nos acolhe está-se esboroando e talvez aproximando de um ponto de ruptura. Independentemente desta possibilidade, não há dúvida de que o impacto da alteração climática prejudicará cada vez mais a vida de muitas pessoas e famílias. Sentiremos os seus efeitos em termos de saúde, emprego, acesso aos recursos, habitação, migrações forçadas e noutros âmbitos."
Entre a primeira afirmação do texto: "Louvai a Deus (Laudate Deum) por todas as suas criaturas" e a última: "Laudate Deum é o título desta carta, porque um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior inimigo para si mesmo, Francisco desenvolve o seu grito profético em cinco pontos: 1. a crise climática global; 2. o crescente paradigma tecnocrático; 3. a fragilidade da política internacional; 4. as conferências sobre o clima e o que se espera da COP28, no Dubai; 5. as motivações espirituais: um "antropocentrismo situado".

sábado, 12 de agosto de 2023

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias



1. Só uma cegueira maldizente não reconheceria que a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa foi um êxito. Houve muitas críticas à Igreja, umas justas, outras não, e ela só tem de reflectir, pois há imensos buracos negros na sua história - para mim, a maior tragédia são a Inquisição e a pedofilia do clero. Houve, por vezes, referências críticas aos gastos públicos, e é bom que se reflicta, mas, desde já, é fundamental pensar no retorno, e, quando se reflecte sobre o retorno, não se trata apenas de pensar que, por exemplo, o próprio altar servirá para eventos futuros e que o país acabou por ser publicitado por todo o mundo, pois impõe-se pensar também no retorno imaterial do evento: pense-se no que significa a vivência dos grandes valores, como a alegria, a amizade, a solidariedade, toda a mensagem transmitida pelo Papa, a fé. Por vezes, invocou-se uma possível agressão ao Estado laico. Penso que, evidentemente, é preciso estar criticamente atento, pois a laicidade enquanto Estado não confessional é essencial para garantir a liberdade religiosa de todos, incluindo a liberdade de não ter religião, mudar de religião - aliás, o Papa fez questão de receber representantes de várias religiões, pois o diálogo inter-religioso é essencial para a promoção da consciência da fraternidade universal e a paz -, mas, por outro lado, é preciso prevenir que não se pode confundir laicidade com laicismo, que pretenderia reduzir a religião à esfera privada, sem lugar no espaço público.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Na Páscoa mudou a sorte do mundo



"Sim, irmãos e irmãs! Na Páscoa, mudou a sorte do mundo, e hoje (dia que coincide com a data mais provável da ressurreição de Cristo) podemos alegrar-nos de celebrar, por pura graça, o dia mais importante e belo da história”

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

ENTRE A SABEDORIA E A LOUCURA

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO de domingo

Papa com jovens em África

1. O conhecimento das sabedorias do passado é indispensável, mas não nos deve escravizar. O que sempre assim foi não pode abolir a novidade do presente e do futuro. Seria uma prisão e não uma luz. Este discernimento é essencial. Aliás, o sempre assim foi nem sequer é verdade. Pode-se também verificar que no começo não era assim. Não há culturas sem passado, mas culturas com muito passado, pouco presente e isoladas não abrem para um futuro imprevisível.
Da Bíblia, não consta apenas a Lei de Moisés e os profetas. É muito forte a corrente da literatura sobre a Sabedoria. Esta é um conhecimento baseado na experiência acumulada ao longo da vida e enriquecida através de várias gerações, que se fixou gradualmente em máximas, sentenças e provérbios breves e ritmados, recheados de imagens e comparações.

sábado, 17 de dezembro de 2022

Papa Francisco fez anos

O Papa Francisco completa hoje 86 anos de idade. Nasceu em 17 de Dezembro de 1936 e marcou a vida de muitos crentes e mesmo de não crentes. Pela sua personalidade, fraqueza, amor aos mais pobres e mais desprotegidos ficará no coração de muitos. A escolha do nome para o exercício do seu pontificado — Francisco — diz claramente o que pretendia: Ser pobre e amar os pobres, sem pompas e luxos, sem portas fechadas, mas  de coração aberto.
Sai da sua residência simples, que não de um palácio, e vai ao oculista comprar a armação para as mesmas lentes; e noutra altura sai para comprar uns sapatos. Também teve de assumir uma crise sem limites provocada pela pedofilia e outros crimes sexuais, na Igreja e fora dela. Apesar das suas limitações físicas, mostra à evidência a lucidez da sua inteligência. Que Deus o ajude, são os meus votos.

sábado, 3 de setembro de 2022

Os artistas são pregadores da beleza


O Papa Francisco disse, num encontro internacional, que os artistas “são pregadores da beleza”. E acrescentou: “A beleza é boa, a beleza cura, a beleza leva-nos adiante no caminho!”.
Depois indicou alguns caminhos de comunicação como “a verdade, o bem e, particularmente para os artistas, a beleza, um caminho de contemplação”. Ainda referiu que “Quem está no caminho está em busca, a arte atrai para uma viagem”, salientando que quem está no caminho tem a consciência de ser esperado.

Li aqui

sábado, 19 de fevereiro de 2022

O mundo precisa de beleza



"No difícil contexto atual que o mundo conhece, em que a desorientação e a tristeza parecem por vezes prevalecer, a vossa missão revela-se mais do que nunca necessária, porque a beleza é sempre uma fonte de alegria, colocando-nos em contacto com a bondade divina. Se há beleza é porque Deus é bom e dá-a. E isto dá-nos alegria, alenta-nos, faz-nos bem. O contacto com a beleza puxa-nos para cima, sempre, a beleza faz-nos ir mais além."

sábado, 8 de janeiro de 2022

O Papa Francisco em tempo natalício

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias

Apesar dos seus 85 anos, Francisco continua atento aos problemas da Humanidade e incansável na sua missão. Mostrou-o de modo exemplar neste tempo natalício. Ficam aí apontamentos, extractos de mensagens, chamadas de atenção...

1. Lembrou: "O nascimento de Jesus é um acontecimento universal que afecta todos homens." "Para chegar a Belém é preciso pôr-se a caminho, correr riscos, perguntar e até enganar-se." "Hoje, quereria levar a Belém os pobres e também aqueles que julgam não ter Deus, para que possam compreender que só n'Ele se realizam os nossos desejos e se chega a ser profundamente humano". "Os Magos representam também os ricos e os poderosos, mas só aqueles que não são escravos da posse, que não estão "possuídos" pelas coisas que julgam possuir."

2. Migrantes e refugiados. "A família de Nazaré experimentou na primeira pessoa a precariedade, o medo e a dor de ter de abandonar a sua terra natal.
"São José, tu que experimentaste o sofrimento dos que têm de fugir para salvar a vida dos seus entes mais queridos, protege todos os que fogem por causa da guerra, do ódio, da fome. A História está cheia de personalidades que, vivendo à mercê dos seus medos, procuram vencê-los exercendo o poder de modo despótico e realizando actos de violência desumanos."

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Acolher o Ano Novo como Maria, a Mãe de Deus

Reflexão de Georgino Rocha
para o Dia Mundial da Paz

Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, e valei-nos nos esforços e acordos que somos chamados a fazer para a construção da paz, obra artesanal de todos os dias, suavizando tensões e acalmando conflitos, sanando feridas, promovendo a justiça e a solidariedade, educando as relações humanas e laborais, assumindo o compromisso da não-violência activa e alicerçando a firmeza das nossas convicções em Jesus Cristo, vosso filho, o príncipe da paz.

Tendo a esperança como estrela que ilumina o nosso caminhar, iniciamos o Ano Novo, invocando a Bênção divina, a protecção da Mãe de Deus e o Dom da Paz. Bênção que é Jesus que veio trazer a paz à humanidade (Jo 14, 27); Mãe de Deus é Maria que a liturgia da Igreja apresenta como mãe da humanidade a abrir-se ao Ano Novo que se inicia; Dom da Paz que é a plenitude do bem-estar global e da felicidade humana e a harmonia do universo.
“O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor para ti os seus olhos e te conceda a paz”, proclama-se na primeira leitura.
Maria surge no Evangelho, numa atitude modelo para todos os que buscam Jesus: contempla o seu Menino, escuta os dizeres dos pastores, guarda-os no seu coração e medita a mensagem contida nestes acontecimentos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Papa Francisco celebra 85 anos

O Papa Francisco celebra hoje 85 anos, razão para humildemente o felicitarmos com votos de que continue a pautar a sua vida por uma entrega total à missão que assumiu, já com idade avançada. O seu amor à Igreja, indesmentível e estimulante, não deixa ninguém indiferente, mesmo os não crentes. Que Deus o proteja e o ajude a manter-se firme ao leme da barca de Pedro.

sábado, 11 de dezembro de 2021

Papa Francisco em Lesbos

“Estamos na época dos muros e do arame farpado. […] mas não é erguendo barreiras que se resolvem os problemas e melhora a convivência. Antes pelo contrário, é unindo as forças para cuidar dos outros [...] colocando sempre em primeiro lugar o valor incancelável da vida de cada homem, de cada mulher, de cada pessoa.” O Cardeal Tolentino Mendonça conclui a sua crónica na Revista E do EXPRESSO — QUE COISA SÃO AS NUVENS — com estas palavras do Papa Francisco proferidas em Lesbos “diante de uma dolorosa migração real que não devemos esquecer”. 
A revista do EXPRESSO concluiu cada número semanal com a crónica do Cardeal Tolentino, em jeito de sugestão para nos fins de semana termos algo de positivo e expressivo para reflexão.

Se gostar de conhecer o que o Papa Francisco disse na última visita a Lesbos, clique aqui.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Papa Francisco, cidadão do mundo (2)

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Em Outubro, aconteceu a abertura oficial de um sínodo, já não exclusivo dos bispos, mas de toda a Igreja. Atrevo-me a dizer que é a decisão mais importante de todo o pontificado de Bergoglio.

1. No meu entender, o que unifica o percurso polifacetado do Papa Francisco é a luta por uma Igreja outra ao serviço de um mundo outro. Na crónica do domingo passado, tentei uma leitura desse percurso até 2018. Prometi que não deixaria em branco os anos de 2019 a 2021.
2019 ficou marcado por três grandes acontecimentos. O primeiro foi a assinatura do documento Fraternidade Humana pela Paz Mundial e a Convivência Comum, pelo Papa Francisco e pelo Grão Imame de Al-Azhar, Ahamad al-Tayyeb, em Abu Dhabi. É um documento extraordinário em si mesmo e ficará, para sempre, como referência do que devem ser as relações entre cristãos e muçulmanos. Além de encorajar e fortalecer o diálogo inter-religioso, promove não só o respeito mútuo, como condena, de forma radical, o terrorismo e a violência em nome de Deus. Em nome de Deus só se pode fazer o bem.

domingo, 14 de novembro de 2021

Não tenhamos medo de olhar de perto os mais frágeis

DIA MUNDIAL DOS POBRES 



Por iniciativa do Papa Francisco, celebrou-se este domingo, pela quinta vez, o Dia Mundial dos Pobres com objetivos de se pôr fim à pobreza de multidões de pessoas em todo o mundo. «O Dia Mundial dos Pobres, que estamos a celebrar, pede-nos que não viremos a cara para o outro lado, que não tenhamos medo de olhar de perto o sofrimento dos mais frágeis», lembra o Papa.
Na sua mensagem, o Papa denuncia «a multiplicação de novas formas de pobreza, questionando discursos políticos que fazem dos pobres “responsáveis pela sua condição” e mesmo um “peso intolerável” para o sistema económico». Diz ainda que «Um estilo de vida individualista é cúmplice na geração da pobreza e, muitas vezes, descarrega sobre os pobres toda a responsabilidade da sua condição. Mas a pobreza não é fruto do destino; é consequência do egoísmo».
Perguntaram um dia a Teresa de Calcutá se haveria forma de erradicar de vez a fome no mundo. E madre Teresa respondeu de pronto:  Claro que há; bastaria que cada um de nós matasse a fome, cada dia, ao primeiro  pobre que encontrasse na rua. (Citei de cor).

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

A ti, Senhor, a glória; a nós, a vergonha

«O Papa reagiu hoje publicamente à divulgação de um relatório independente sobre casos de abusos sexuais na Igreja Católica, que aponta para mais de 215 mil vítimas entre 1950 e 2020.
“Desejo manifestar às vítimas a minha tristeza e a minha dor pelos traumas que sofreram e também a minha vergonha… A nossa vergonha, a minha vergonha, pela incapacidade demasiado longa da Igreja de as colocar no centro das suas preocupações, assegurando-lhes a minha oração”, referiu Francisco, durante a audiência geral, que decorreu no Auditório Paulo VI, no Vaticano.
“Rezo, rezemos juntos, todos: a ti, Senhor, a glória; a nós, a vergonha. Este é o momento da vergonha”, acrescentou.
A comissão estimou em 2900 a 3200 o número de padres e religiosos envolvidos em crimes de abusos sexuais de menores na França desde 1950.»

Ler mais na Ecclesia 


NOTA: O Papa Francisco manifestou a sua vergonha pelos crimes de pedofilia descobertos no seio da Igreja Católica. Não há forma de perdoar à Igreja esta vergonha e estes crimes hediondos. Há no seio dela imensa gente impoluta, mas o joio está muitas vezes misturado com o trigo que mata a fome a multidões. Mas a solução estará só no fim do celibato? Não creio. Há pedófilos casados, garantidamente. Então que caminho poderemos seguir?

domingo, 3 de outubro de 2021

Não há família. Há famílias

Crónica de Bento Domingues
no PÚBLICO


Os modelos de família dependem das culturas em que se afirmam. Nunca foram os mesmos em todo o tempo. A sua diversidade não é contra a família, são formas diferentes de testemunhar a sua importância. Nenhuma delas é o céu na terra.

1. A crise religiosa de muitos adolescentes e jovens, que frequentaram a catequese, revela-se sobretudo na escola, quando as descobertas que vão fazendo desautorizam o que ouvem na Igreja. O padre Resina, que ensinou Física no Instituto Superior Técnico, defendia que a catequese devia antecipar-se a desfazer os conflitos entre as apresentações e interpretações da fé e a linguagem das ciências. As próprias narrativas bíblicas, na grande diversidade dos géneros literários, nunca pretendem fazer ciência, mas a sua floresta simbólica deu e dá muito que pensar, com grande presença na literatura, na música e na pintura.

domingo, 11 de julho de 2021

Perguntas e mais perguntas

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Papa e Edgar Morin

A encíclica Fratelli Tutti é o livro da nossa identidade, servida ou traída. É o grande tratado prático de antropologia dos começos do século XXI.

1. Já foi dito, de muitos modos, que o ser humano nasce prematuro. Para estar pronto para a vida, seria preciso, não apenas nove meses, no seio da mãe, mas vinte. Como isso não é possível, os pais têm de contar, à partida, com a fragilidade da criança. Somos frágeis por natureza, não nascemos prontos, equipados para enfrentar os desafios da vida, como acontece com outros animais. Isto não tem só inconvenientes. O ser humano forja-se, desde o nascimento, como relação, num face-a-face carinhoso.
A sua natureza é dotada, no entanto, de capacidades de conhecimento e afecto a desenvolver, com os outros, em culturas inventivas de interajuda ou em astúcias da vontade de dominação, traindo a sua condição original. Em ambos os casos, será sempre um ser frágil e incompleto que tem de se realizar ou destruir-se com os outros. A sua autonomia não se realiza pelo isolamento, mas pelo reconhecimento das outras autonomias fraternas, pois será sempre uma autonomia relativa. Descobrirá que o seu passado começou pelo acolhimento de um dom. Quando se toma verdadeiramente consciência dessa condição fundamental, podemos receber também a suprema iluminação: tenho de fazer da minha vida um dom. 

sábado, 5 de junho de 2021

Hans Küng e Francisco

Crónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias

A Igreja não pode entender-se como um aparelho de poder ou uma empresa religiosa, mas como povo de Deus e comunidade do Espírito nos diferentes lugares do mundo

1 Faz amanhã dois meses que, como aqui dei a devida notícia, morreu Hans Küng, o teólogo católico mais conhecido dos últimos decénios e um pensador de influência mundial.
Küng tinha imensa esperança no Papa Francisco, que lhe escreveu duas vezes, inclusivamente a dizer que a infalibilidade pontifícia era questão a estudar, e lhe enviou uma bênção antes da morte. Lamentavelmente, talvez para não ferir Bento XVI, não o reabilitou de modo oficial. De qualquer forma, julgo que é inegável a influência do seu pensamento na primavera da Igreja prosseguida por Francisco, não só por causa das suas investigações sobre o cristianismo primitivo mas também do seu contributo incalculável para o encontro da fé com o mundo moderno e pós-moderno e um ethos (nova atitude ética) global.

domingo, 30 de maio de 2021

Fazer acontecer

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Esta é a primeira vez que um Sínodo começa a partir da base. Isto pode significar que entrámos numa nova fase da vida da Igreja.


1. O Papa Francisco acaba de fazer oito anos de pontificado. Não é no espaço desta crónica que me atreveria a fazer o balanço do que representaram e representam esses anos no interior da Igreja católica, no movimento ecuménico, no diálogo inter-religioso, nas iniciativas para desenvolver uma nova ética económica, social, política e ecológica.
Teve de enfrentar resistências organizadas à reforma da Cúria romana, estancar os escândalos da banca do Vaticano e aplicar medidas drásticas para erradicar o cancro da pedofilia. Retomou de forma criativa as grandes intuições do Concílio Vaticano II. Mediante gestos, palavras, acções e iniciativas exemplares, mostrou o que deve ser uma Igreja de saída para todas as periferias. É a partir dessas periferias que a Igreja encontra o seu caminho e a sua missão no Mundo contemporâneo.
Os documentos que publicou abrangem as questões fundamentais do nosso tempo. Não é por acaso que vários líderes mundiais desejam que o Papa Francisco participe na Cimeira de Glasgow sobre a crise climática, em Novembro, pela “autoridade moral” da sua voz em relação à matéria e também por estar “acima da política e fora dos conflitos nacionais”.

sábado, 27 de março de 2021

Francisco e o pós-pandemia. 1

Crónica de Anselmo Borges
no Diário de Notícias


São 187 os países que têm relações diplomáticas com a Santa Sé/Vaticano. Também várias organizações internacionais, como a União Europeia, a Liga dos Estados Árabes, a Organização Internacional para as Migrações, o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, a Ordem Soberana Militar de Malta, têm um representante junto do Papa.

1 Como habitualmente, também este ano o Papa Francisco saudou o Corpo Diplomático num discurso com propostas para o futuro novo. Derrotar o vírus é "uma responsabilidade que nos envolve a todos: cada um de nós pessoalmente e também os nossos países". O ano de 2020 "deixou atrás de si um peso de medo, desânimo e desespero, a par de muitos lutos". A pandemia mostrou como somos interdependentes: os seus efeitos são verdadeiramente globais, afectando toda a Humanidade. "Pôs-nos em crise, mostrando-nos o rosto de um mundo doente, não só pelo vírus, mas também no meio ambiente, nos processos económicos e políticos, e ainda mais nas relações humanas. Colocou diante de nós uma alternativa: continuar pelo caminho que temos seguido ou empreender uma nova via."

domingo, 21 de março de 2021

A alegria não se decreta (2)

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

A prática da fraternidade religiosa deve estar ao serviço da fraternidade universal, em colaboração com todas as pessoas e movimentos, sem descriminações

1. A viagem do Papa ao Iraque já foi muito comentada. Parece-me, no entanto, que não foi destacado o seu contributo para robustecer a alteração profunda que está a acontecer, na história e no relançamento do diálogo inter-religioso, com incidência dirceta nas práticas sociais.
Não basta denunciar a cobertura falsamente religiosa dos discursos do ódio e da violência e proclamar o diálogo como caminho para abordar as dificuldades nas relações entre seres humanos.
No primeiro momento de qualquer diálogo, o mais importante é a escuta do outro na sua irredutível alteridade e nas suas imprevisíveis manifestações. No chamado diálogo inter-religioso, como é praticado nas mesas-redondas dos meios de comunicação e noutros espaços, em geral não se vai muito além de uma escuta inconsequente, pois não parece destinado a alterar o presente e o futuro dos intervenientes. Apresenta-se, por vezes, como uma passagem de modelos religiosos: os representantes de cada religião em foco passam a fazer a apologia da sua própria religião, procurando desfazer as acusações que habitualmente lhe são feitas, fruto de ignorâncias e preconceitos persistentes.
É uma fase necessária, mas muito insuficiente, porque lhe falta a análise crítica da situação actual e as propostas de reforma para o futuro.
O que, no entanto, está a acontecer, ao nível das grandes lideranças religiosas, anuncia o despontar de algo que julgo muito novo.