Mostrar mensagens com a etiqueta Pedro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Pedro. Mostrar todas as mensagens

domingo, 20 de junho de 2021

As lágrimas de Pedro

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO



Todas estas três cartas exemplares ajudam, não apenas a uma nova visão da Igreja, mas ao seu exercício em actos e compromissos efectivos.

1. Há gestos, atitudes, acontecimentos que abrem um futuro de esperança, sem enterrar os crimes do passado e a responsabilidade actual de toda a Igreja. Não me vou referir às iniciativas e decisões corajosas e radicais do Papa Francisco, sobre a protecção de menores e pessoas vulneráveis na Igreja Católica, nem às resistências que têm encontrado na sua aplicação. Já existe muita informação disponível acerca dessa questão vergonhosa.
Vou limitar-me a três cartas exemplares: a justificação do pedido de renúncia do cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising; o Papa, em vez de aceitar a renúncia, agradece a atitude do cardeal, confirma-o na sua missão e envolve toda a Igreja no pedido da graça da vergonha; o cardeal não resistiu à carta do Papa, que o comoveu.
Não vale a pena comentar essas cartas sem as conhecer. Como não podem ser apresentadas na íntegra, o melhor é dar a palavra aos intervenientes, no que julgo que têm de essencial. Todas elas ajudam, não apenas a uma nova visão da Igreja, mas ao seu exercício em actos, em tomadas de posição, em compromissos efectivos.
Comecemos pela carta do cardeal: “Na minha opinião, para assumir a responsabilidade, não basta reagir apenas quando os erros e omissões podem ser comprovados a partir dos autos dos processos. Em vez disso, como bispos, temos de deixar claro que nós também representamos a instituição da Igreja como um todo.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Georgino Rocha — A coragem de ser cristão


Georgino Rocha

O diálogo de Jesus com Pedro, em Cesareia de Filipe, é esclarecedor e persuasivo. Manifesta um choque frontal de critérios em relação à missão a realizar. Os de poder e prestígio, típicos ainda do Antigo Testamento. E os da novidade que Jesus anuncia e que convergem no amor que leva à doação total, ao assumir a cruz da morte ignominiosa. Mas afinal, da manhã ressuscitadora, da Páscoa gloriosa.
Ser cristão discípulo exige coragem e ousadia confiante, determinação e coerência. Seguir Jesus é abraçar a sua mensagem na íntegra. Também na luta contra a corrente e na defesa da humanidade, da criação e do ambiente. A nossa fé, diz o Papa Francisco, ensina-nos uma forma de pensar, de sentir e de viver. 
Acredita, ama e dá. Esta é a batalha da vida. O mal ganha, dividindo a pessoa humana nas suas apetências e destruindo a sua harmonia interior. Deixa-a amargurada no vazio, na pobreza da esterilidade, na sensação da derrota. Mas cada um de nós pode revoltar-se contra o mal e preferir seguir caminhos de bem, de verdade que liberta e de amor que irradia. Como Jesus.
Pedro fica perplexo com o que ouve a Jesus. Contrastava tanto com o que havia experimentado. Realmente, era frustrante. Sentia-se desiludido, ele que tinha recebido tão rasgado elogio: Feliz és tu, filho de Jonas, por teres descoberto que eu sou o Messias; ele, o porta-voz, do grupo apostólico, que recebe a promessa de ser o alicerce da construção da Igreja e de ficar com as chaves da entrada no Reino; ele, que deixa o nome de família, e aceita ser chamado de modo novo – o da missão que lhe é confiada. 
Perante o contraste, o impulso do coração leva-o a agir. A simples hipótese do sofrimento anunciado e do enfrentamento, com os chefes religiosos e políticos, poder conduzir à morte de cruz, constituía um verdadeiro tormento. Espontâneo e generoso, como era, resolve aconselhar o Mestre. Toma-o à parte e contesta-o abertamente. A sós, pensava, seria mais fácil dizer-lhe tudo o que entendia ser prudente e sensato, ele que não largava a ideia de um Messias vitorioso, libertador, capaz de desarmar todos os seus inimigos e instaurar a nova ordem anunciada. À medida que fala, dá conta que o semblante de Jesus se altera. Parece que transmite irritação profunda, fúria incontida. E de facto, a resposta ouvida é tão áspera e dura que o surpreende completamente. Fica em silêncio, sabe Deus com que amargura, a “gemer” a reprimenda e a tentar ouvir as instruções que Jesus ia dando aos discípulos. E por quanto tempo estas palavras o hão-de acompanhar: Põe-te no teu sítio, não queiras desviar-me do caminho traçado, tem em conta as coisas de Deus, não sejas ocasião de escândalo, retira-te, Satanás.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Passagem pelo Parque Infante D. Pedro









Hoje fui matar saudades ao Parque Infante D. Pedro, onde não ia há anos. De carro e mesmo a pé passei várias vezes, mas nunca me ocorreu entrar para apreciar a vegetação, o lago, os painéis cerâmicos com motivos aveirenses e a Casa de Chá que já serviu vários fins. Hoje estava com sinais de algum abandono.
Não subi as escadarias para apreciar o jardim superior, porque as pernas não davam mais. E então contornei o lago de águas esverdeadas, dois patitos marrecos ou de raça desconhecida, o arvoredo variegado. Mas nada de cisnes como antigamente. Um pombal no meio do lago servia de hotel aos pombos que decerto se deleitavam com árvores e arbustos para todos os gostos. Pouca gente por ali andava. Alguns estudantes à conversa, um grupo de idosos de chapéu amarelo lanchava sob os cuidados atentos de funcionárias, um ou outro, como eu, fotografava e nada mais.
As passadeiras superiores não estavam a ser muito frequentadas para conduzir as pessoas para o outro lado das rua de trânsito intenso. 
Segundo reza a história, o parque foi construído numa propriedade dos frades franciscanos a partir de 1862, na zona do Convento de Santo António. O coreto de Arte Nova fica no jardim superior onde desta vez não fui. Também pode ser apreciado nesse jardim uma homenagem ao insigne aveirense Jaime de Magalhães Lima.

 Fernando Martins

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Confiar em Jesus, surpreende. Experimenta

Reflexão de Georgino Rocha


«A abundância foi caminho 
para o encontro com o Senhor. 
Que bela lição!»

Pedro acaba de chegar da faina da pesca. Amarra a embarcação, limpa e enrola as redes, olha mais um vez o mar tranquilo e, apreensivo e amargado, senta-se na proa, dando largas ao “ruminar” da experiência frustrante que está a viver. Com ele, certamente os companheiros da noite aziaga. Ele, que sabia da arte, não consegue nada. Ele, homem experiente na escolha das horas e das rotas, engana-se redondamente. Ele, chefe da companha, vê-se sem nada nem para si e nem para os trabalhadores contratados. E claro para as suas famílias e os cobradores de impostos. Dura e amarga decepção que se prolonga enquanto não surge outra oportunidade! Esta não tarda, mas tem um alcance especial, simbólico.
Chega Jesus rodeado da multidão. Senta-se na sua barca, pede-lhe que se afaste e começa o ensinamento desejado. Depois diz sem rodeios: “Avança para águas mais profundas e lança as redes para a pesca”. Grande desafio que, simultaneamente, é enorme provocação. Simão Pedro vence todas as resistências interiores, supera as dúvidas e os medos, esquece o cansaço, anima os companheiros e exclama: “Em atenção à Tua palavra, vou lançar as redes”. A confiança surge do abatimento consciente qual flor mimosa do charco pantanoso.