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sábado, 28 de novembro de 2020

AS ROSAS DE SOPHIA


As rosas 

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.

Sophia

Publiquei em Dezembro de 2004 no meu blogue 

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

LER A REVISTA LER

 


A revista LER, que assino desde o número um desta segunda fase, chegou-me há dias com uma carrada de informação sobre o que há para ler para todos os gostos. A capa brinda-nos com vários títulos, qual deles o mais desafiante, desde a entrevista feita a José Ferreira Fernandes, colunista do PÚBLICO e ex-diretor do DN, até ao texto de de José Tolentino Mendonça, Em defesa do livro, figura ilustre da Igreja e escritor multifacetado. 
A revista LER vive à sombra das estações do ano, quatro números anuais, e o seu conteúdo diz tudo. Sugere, propõe, defende e divulga o que há para ler, em sintonia com o mercado livreiro e com as propostas dos mais variados colaboradores, complementares entre si. Lendo-a, ficamos informados do que há nas livrarias, enquanto somos desafiados e estimulados a procurar o que mais nos interessa. Em tempo de confinamento, a leitura é sempre um desafio a ter em consideração. Eu falo por mim.

Na badana da capa pode ler-se: 

POESIA PARA O TRIMESTRE 


O ÚLTIMO GRÃO DA NOITE 

O que escapa à mão de Deus 
é o desmoronado horizonte 
a vacilação das coordenadas 

Como pode a aranha de areia 
erguer a torre do extremo 
com o último grão da noite 
mais obscuro do que exílio 

Será preciso inventar 
a paciência infinita do nada 
para que o enigma desperte 
com a graça de uma boca dupla 

António Ramos Rosa [1924-2013] 

Obra Poética II 

Assírio & Alvim, 2020

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Para momentos de inquietude



(Clicar)

Sobre esta obra, Lídia Jorge diz, na revista LER, que, “num tempo de destruição, este livro ajuda a acalmar, no coração de quem o lê, a noção da ameaça que nos cerca”. E acrescenta que, para ler Ana Luísa Amaral, “é necessário sair da esfera do conforto gramatical herdado, entrar no domínio da sua cultura e erudição, e, sobretudo, na intimidade de um sentimento capaz de passar do microcosmo da domesticidade para o domínio das esferas celestes, uma harpa de mil cordas coordenadas segundo um código que lhe é muito próprio”. 
Acrescento apenas que gostei muito de o ler e que o recomendo a quem gosta mesmo de poesia. Hão de sentir, como eu, que, neste tempo de pandemia, a boa poesia nos ajuda a esquecer momentos de alguma inquietude.

F. M. 

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Poema de João Mulemba para este tempo

Publicado no meu blogue
em 26 de Agosto de 2010




TEMPO

Sonhos atados nos mastaréus do tempo,
matam o tempo, do tempo-homem.
O Homem-tempo, soltando velas,
cruza o Além, no Além dos tempos.
Não há cais para o Tempo.
Não há ferros para o Homem.
O homem rasgando o tempo
Faz o Tempo. Faz o Homem.
Homem?
Tempo?
Tempo do Além?
Além do Tempo?
Homem. Só.

João Mulemba

In "Antologia de Poetas Ilhavenses", organizada por Jorge Neves

domingo, 28 de junho de 2020

Poesia


"A história provou a capacidade demolidora da poesia 
e nela me refugio incondicionalmente"

Pablo Neruda (1904-1973), poeta

Publicado hoje no PÚBLICO, 
em Escrito na Pedra

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Árvore parada



Procuro o lento cimo da transformação
Um som intenso. O vento na árvore fechada
A árvore parada que não vem ao meu encontro.
Chamo-a com assobios, convoco os pássaros
E amo a lenta floração dos bandos.
Procuro o cimo de um voo, um planalto
Muito extenso. E amo tanto
A árvore que abre a flor em silêncio.

Daniel Faria,

no livro POESIA

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Poesia no jardim

Figueira da Foz





A arte na rua chega, inevitavelmente, a toda a gente. E quem a lê ficará mais sensível ao que o rodeia. Se pensarmos bem, reconheceremos que há artes e história em cada esquina. Em cada largo, praça e  ruas, com os nomes com que foram batizados, poderemos ver motivos para descobrirmos marcas indeléveis de quem foi importante na região e até no país.
Quem passeia deve ter nos seus horizontes a valorização pessoal. Eu sei que nem sempre há tempo para isso, mas urge aproveitar as caminhadas para aprendermos algo que contribua para a nossa formação. 

NOTA: Clique nas fotos para ampliar.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Eugénio de Andrade para este fim de semana


O SAL DA LÍNGUA

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém — mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

Eugénio de Andrade

Do livro "O Sal da Língua"
1.ª Edição -1995


NOTA: A Nina, gata cá de casa, tem a mania de cirandar por entre livros. E de vez em quando alguns caem sem que ela se incomode com isso. O dono que os apanhe. Hoje foi dia de cair Eugénio de Andrade. Tive sorte e reli "O Sal da Língua".

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Um poema para este tempo


Outono

Os tons dourados
Do teu manto
E os avermelhados
Em espanto
Ou nostalgia,
Descem em nós
A melancolia.
Cobre-se a natureza
Que rescende a mosto
Dum véu de tristeza.
Sentido ao sol-posto.
E neste sabor
Há pranto
Ou louvor?

Madona

sábado, 27 de julho de 2019

Há dias assim...



LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Um poema de Senos da Fonseca para o Dia Europeu do Mar




Poder de novo voltar a ser... Mar...


Olho a tua grandeza
A imensidão das tuas lonjuras
E de um modo absurdo
Sinto que (ainda) existo
Num passado que foi teu.

Sinto-o no desassossego que me causas
Sinto-o na pequenez que me rodeia
E apetece-me perguntar:
Porque nos não ajudas
De novo a cumprir Portugal?

A partir para achar,
Cá dentro,
A árvore, a flor, a praia, a ave e a fonte
A encher de esperança as horas navegadas
Para assim ultrapassar o medonho.

Galgar valas, aldear encostas, subir os montes,
Em conquista de novo o sonho
A recuperar altivez,
E entre o chão encontrado e o império perdido
De novo, tão só, voltar a ser português.

A desejar querer
Poder de novo ser
Povo de um país amanhecido.

Senos da Fonseca

In MARESIAS

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Senos da Fonseca - 45 Anos de Abril.



 45 Anos de Abril

Sobre a verde bruma do dia
Vê-se no céu pardacento
Um sol sem brilho nem fulgor.
A ria corre sombria.
Parece triste por nenhum barco
Sobre ela, a novo futuro rumar.

Dia de melancolia carpida,
Naquele que foi
Um dia,
O dia de todas as alegrias vividas.
A minha alma de hoje
Não é igual à alma de ontem.

Na minha alma de ontem soava
Num tambor feito de prata
Do tamanho do meu país,
a liberdade, então conquistada.
Hoje bate um trémulo tlim-tlam
Soando triste, na madrugada.

SF - 25 abril 2019


quinta-feira, 4 de abril de 2019

Domingos Cardoso e o vento cortante como gume


FOI O VENTO

Foi o vento cortante como gume,
Que me fez companhia nessa espera
Em que só a saudade mais austera
Me falava de ti, como um queixume.

Foi o vento que trouxe o teu perfume
Nessa clara manhã de Primavera,
E, então, eu senti, que antes de quimera,
Eras rosa vermelha em fogo e lume.

E os dias se passaram a correr
Num tempo de alegrias e prazer
Como só haveria em pensamento.

E essa ardente harmonia em nossa vida
Foi repartida ao mundo, a toda a brida,
Por esse arruaceiro que é o vento!

Domingos Freire Cardoso

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Um poema de Vitorino Nemésio para variar...



SEMÂNTICA ELECTRÓNICA 

Ordeno ao ordenador que me ordene o ordenado 
Ordeno ao ordenhador que me ordenhe o ordenhado 
Ordinalmente 
Ordenadamente 
Ordeiramente. 
Mas o desordeiro 
Quebrou o ordenador 
E eu já não dou ordens 
Coordenadas 
Seja a quem for. 
Então resolvo tomar ordens 
Menores, maiores. 
E sou ordenado, 
Enfim — o ordenado 
Que tentei ordenhar ao ordenador quebrado. 
— Mas — diz-me a ordenança — 
Você não pode ordenhar uma máquina: 
Uma máquina é que pode ordenhar uma vaca. 
De mais a mais, você agora é padre, 
E fica mal a um padre ordenhar, mesmo uma ovelha. 
Velhaca, mesmo uma ovelha velha, 
Quanto mais uma vaca! 
Pois uma máquina é vicária (você é vigário?): 
Vaca (em vacância) à vaca. 
São ordens... 
Eu então, ordinalmente ordeiro, ordenado, ordenhado, 
Às ordens da ordenança em ordem unida e dispersa 
(Para acabar a conversa 
Como aprendi na Infantaria), 
Ordenhado chorei meu triste fado. 
Mas tristeza ordenhada é nata de alegria: 
E chorei leite condensado, 
Leite em pó, leite céptico asséptico, 
Oh, milagre ordinal de um mundo cibernético! 

Vitorino Nemésio, Limite de Idade (1972)

domingo, 10 de março de 2019

Mais quadras de António Aleixo



Olá amigo, adoro António Aleixo e essas quadras são maravilhosas. Linda homenagem ao poeta. Aqui vão algumas quadras do poeta e que eu adoro.

Beijos com carinho

Rosa-Branca

Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado
O ribeirinho não morre
Vai correr por outro lado.

Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço,
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.

Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.

Uma mosca sem valor
Pousa co'a mesma alegria
Na careca de um doutor
Como em qualquer porcaria.

Sou um dos membros malditos
Dessa falsa sociedade
Que, baseada nos mitos,
Pode roubar à vontade.

Finges não ver a verdade,
Porque, afinal, tu compreendes
Que, atrás dessa ingenuidade,
Tens tudo quanto pretendes.

Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que ás vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência.

Nós não devemos cantar
A um deus cheio de encantos
Que se deixa utilizar
P'ra bem duns e mal de tantos.

Veste bem já reparaste
Mas ele próprio ignora
Que por dentro é um contraste
Com o que mostra por fora.

Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.

António Aleixo

NOTA: Repito  a publicação de quadras de António Aleixo que me foram enviadas há anos por uma boa amiga, Rosa-Branca. Recordo-a hoje como amiga de boas colaborações na Ação Católica: eu da JOC e ela da JACF.  Irmã da Maria do Carmo, também de saudosa memória, que os pobres da região conheciam muito bem pela sua disponibilidade em os atender e ajudar em horas difíceis. As quadras de António Aleixo têm bastantes visitas, como pode ser confirmado  na rubrica "Mensagens Populares", aqui ao lado direito da página deste blogue.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

António Aleixo para pensar

 

                                     Para não fazeres ofensas 
                                      E teres dias felizes,
                                      Não digas tudo o que pensas,
                                      Mas pensa tudo o que dizes.
 
 
NOTA: No meu blogue, na margem direita, há o registo das mensagens mais vistas e porventura mais lidas neste meu recanto do ciberespaço. Programe eu o que programar (mais vistos no mês, no ano ou na semana), têm lugar garantido as quadras de António Aleixo. Mas há outras, claro. Ainda tentei publicar outras quadras  do mesmo poeta popular, no sentido de satisfazer os gostos dos meus leitores, mas falta-me a paciência para fazer a escolha. Se algum amigo se quiser dar a essa seleção, agradeço.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Um poema de Sophia para este tempo


O mar dos meus olhos

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Nota: Por sugestão de "Portos de Portugal" 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Um poema de Miguel Torga para este tempo

A Virgem Gloriosa e as Sibilas
- Livro de Horas da Duquesa de Borgonha.
Museu Condé, Chantilly

ÚLTIMO NATAL

Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça,
Com ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.


In "POESIA COMPLETA", de Miguel Torga

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Um poema de Octavio Paz para este tempo


Entre o que vejo e digo,
entre o que digo e calo,
entre o que calo
e sonho,
entre o que sonho e
esqueço
a poesia.
Desliza
entre sim e não:
diz o que calo,
cala
o que digo.
Sonha o que esqueço.
Não é um dizer:
é um fazer.
É um fazer que é dizer.

Octavio Paz, 1914-1998