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terça-feira, 1 de junho de 2021

Política nas redes sociais

Mais uma preocupação para quem aprecia informação e opinião independentes.
Se é que tal é possível.

«O Twitter proibiu toda a propaganda política paga em todo o mundo, justificando que o alcance de tais mensagens "deve ser conquistado, não comprado". "Embora a publicidade na internet seja incrivelmente poderosa e muito eficaz para anunciantes comerciais, esse poder traz riscos significativos à política", tuitou o CEO da empresa, Jack Dorsey.

O rival Facebook descartou recentemente a proibição de anúncios políticos pagos. Dois anos depois dos escândalos por uso de dados irregulares dos utilizadores com fins eleitorais, a rede social anunciou que lançará uma ferramenta para tornar propagandas políticas mais transparentes.»

Li no DN

domingo, 31 de janeiro de 2021

Os cristãos e a política

Crónica de Bento Domingues 
no PÚBLICO

Hoje, diante de propostas políticas que abertamente procuram dividir, de forma maniqueísta, a sociedade entre bons e maus, puros e impuros, a pergunta do Evangelho é-nos devolvida, de novo, com maior agudeza: diante destas injustiças, de quem é que me faço próximo?


1. Alguns cristãos de várias denominações (católicos, metodistas, evangélicos, anglicanos, menonitas e presbiterianos) uniram-se em valores base para as eleições presidenciais, mediante a assinatura de um Manifesto. O 7Margens divulgou-o. Não teve a cobertura mediática que a sua significação merecia, não tanto pelo seu número, mas pelo próprio gesto ecuménico, em consonância com o oitavário de oração pela unidade dos cristãos. Mais adiante, tentarei mostrar o seu alcance no contexto da nova teologia política.
Sou dos que se manifestaram contra a febre da criação de partidos confessionais em Portugal, a seguir ao 25 de Abril de 1974 [1]. A eclesiologia do Concílio Vaticano II (1962-1965) tinha superado o papel que, no passado, tinha justificado as chamadas democracias cristãs [2]. Era preciso evitar o uso do nome de Cristo, directa ou indirectamente, para cobertura de práticas económicas, sociais, culturais e políticas em contradição com a sua mensagem e a sua intervenção histórica testemunhada no Novo Testamento.
Muitos cristãos que, nessa altura, se manifestaram contra partidos confessionais envolveram-se em várias organizações políticas, como era normal no pluralismo que se defendia. Para muitos dos católicos, que tinham perdido a esperança nas reformas da Igreja, que o referido Concílio tinha proposto – os chamados vencidos do catolicismo –, o envolvimento na política partidária passou a ser um substituto da religião. Acabaram por engrossar a ambígua designação dos chamados católicos não praticantes.

sábado, 24 de outubro de 2020

FRATELLI TUTTI. 3 - Uma política sã

Cónica de Anselmo Borges 
no Diário de Notícias


 “é necessária uma reforma quer das Nações Unidas quer da arquitectura económica e financeira internacional, para que seja possível uma real concretização do conceito de família de nações.” 

Papa Francisco 

1. É evidente que é necessário defender o princípio essencial da liberdade, mas é igualmente necessário defender os outros dois princípios, o da igualdade e o da fraternidade. É a tríade que tem de estar sempre vinculada: liberdade, igualdade, fraternidade. 
Se toda a pessoa tem dignidade inviolável e, portanto, o direito de viver com dignidade e desenvolver-se e realizar-se integralmente, impõe-se que o Estado não seja apenas o garante da liberdade, nomeadamente da liberdade de empresa e de mercado. Quem nasceu em boas condições económicas, quem recebeu uma boa educação, quem é bem alimentado, quem possui por natureza grandes capacidades..., esses “seguramente não precisarão de um Estado activo, e apenas pedirão liberdade. Mas, obviamente, não se aplica a mesma regra a uma pessoa com deficiência, a alguém que nasceu num lar extremamente pobre, a alguém que cresceu com uma educação de baixa qualidade e com reduzidas possibilidades para cuidar adequadamente das suas enfermidades. Se a sociedade se reger primariamente pelos critérios da liberdade de mercado e da eficiência, não há lugar para essas pessoas, e a fraternidade não passará de uma palavra romântica.” 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Será necessário colete de salvação?



O ser humano é político, mesmo quando garante que não é. Mas há, realmente, políticos brincalhões. Repare-se nas manobras, negociações e mais negociações, com juras e promessas de que tudo está bem quando todos sabemos que não está. Alguns são mesmo brincalhões com caras de gente séria. Uns prometem tudo e mais alguma coisa, outros exigem tudo e mais alguma coisa quando todos sabemos que o país está mal. Quando digo país, digo povo sofredor com falta do essencial para viver dignamente. Um país abafado por uma pandemia terrível a somar infetados e mortos todos os dias. Até parece que vivemos na abundância quando todos sabemos que a fome entra em inúmeras famílias a toda a hora. Famílias de desempregados e muitos filhos de uma economia paralisada, com velhos de olhares perdidos nos horizontes de sonhos irrealizáveis. 
Alguns políticos prometem tudo e chegam a ter graça, mas às vezes assustam-nos. Vem isto a propósito dos “filmes” que retratam as negociações para o Orçamento do Estado passar, decisão fundamental, junto dos nossos credores internacionais, para repor a nossa credibilidade, permanentemente abalada,  e para manter o povo controlado. 
O OE vai passar, não vai haver problemas, garantem uns. As negociações não param, ou param para alimentar o espetáculo que as televisões e demais comunicação social  exigem para deleite do pessoal. Cai o Governo? Vamos para eleições? Tudo pode acontecer. 
A crise vai continuar? Estamos convencidos de que sim. Para já, o barco continua a navegar, com procelas no horizonte. Mas navega, mesmo a meter água. Será preciso colete de salvação? Ninguém sabe. Pelo sim pelo não, valerá a pena metê-lo num saco, com um farnel para uns tempinhos. 

F. M.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Ouvir com o coração

Crónica de Flausino Silva 
publicada no "Correio do Vouga"


No passado dia 11 celebrou-se o dia de São Bento, Padroeiro da Europa. São Bento de Núrsia, assim referido por ali ter nascido no seio de uma família abastada, exerceu, com a sua vida e a sua obra, uma influência fundamental no desenvolvimento da civilização e da cultura europeias.
Tendo fundado uma das maiores ordens - a Ordem dos Beneditinos -, São Bento de Núrsia foi o criador de um dos mais importantes e utilizados regulamentos de vida monástica, a Regra de São Bento, autêntico compêndio de prática de vida e de espiritualidade.
Num tempo em que se fala tanto da Europa por múltiplas e menos boas razões - pandémicas, económicas, sociais, migratórias e políticas - em que se pressente o ressurgimento e o regresso a egocentrismos nacionalistas e populistas, falar da vida e da importância de São Bento é uma ousadia.
Temos sido fustigados, desde há anos a esta parte e mais intensamente nos últimos tempos, por insidiosas ideias, princípios e decisões de índole secularista, rejeitando toda a influência da Igreja na esfera pública, empurrando-a para dentro dos templos e confinando os assuntos religiosos à esfera privada dos indivíduos.

domingo, 10 de maio de 2020

É OU DEVIA SER?

"O objecto principal da política 
é criar a amizade entre membros da cidade"

 Aristóteles (384 a.c.-382 a.c.), filósofo grego

Em Escrito na Pedra do PÚBLICO

NOTA: É ou devia ser? Em Portugal, nos tempos que correm, numa democracia a caminho do meio século de vida, não me parece que a amizade seja uma constante entre membros dos diversos partidos... 

terça-feira, 30 de julho de 2019

Políticos sem selo de garantia


Cada vez que abro o PC (não tem nada de política), fico incomodado. Há sempre novas das já velhas estórias da corrupção que nos últimos anos enxameiam a comunicação social. Se calhar foi sempre assim desde tempos imemoriais, só que não havia jornalistas de investigação e corajosos com capacidade para revelar verdades que escapam à maioria dos ouvintes, telespectadores e leitores. Hoje está tudo à mão de semear. Mas será tudo assim? Não haverá políticos honestos, transparentes, incorruptíveis e muito menos corruptores? Decerto que há… Mas como descobri-los? 
Como é possível que gente em cargos públicos ou fora deles não admite que a vigarice e a corrupção só vivem enquanto não forem descobertas? Não sabem que há subalternos em gabinetes ministeriais e noutras áreas capazes de denúncias quando se veem confrontados com compadrios e negócios fraudulentos dos seus superiores?
Com tudo isto que se tem passado e é publicitado, como havemos (nós, os eleitores) de proceder nas próximas eleições? Quais serão os parâmetros que teremos de ter em conta para acreditar nos que terão ou passarão a ter as chaves da governança? O problema é complicado porque teremos realmente de escolher. Mas como, se ninguém traz na lapela do casaco qualquer selo de garantia? 

Fernando Martins 

quinta-feira, 27 de junho de 2019

A política do facto bombástico

Querubim Silva

A política do facto bombástico, que a comunicação social empola e faz questão de deixar na cabeça das pessoas, para, a seguir, vir uma desculpa ou um retrocesso no benefício anunciado, é uma estratégia habitual. E então o "mente-desmente" tornou-se mesmo uma vulgaridade na prática política quotidiana. Nada que nos surpreenda se tivermos memória! 
Vejamos a questão do termo das taxas moderadoras. Anunciou-se o seu fim! E capitalizou-se o êxito eleitoral da medida. 
Mas, afinal, nem sequer eram tantos os beneficiados, nem vai, na realidade, ser implementada (ou será, quando calhar, com regras muito próprias, que não conhecemos). Não sei se no final o resultado não vai ser beneficiar aqueles que têm meios para pagar. 

Querubim Silva 
Diretor do Correio do Vouga

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

O país dos filhinhos do papá existe mesmo

João Miguel Tavares é um jornalista do PÚBLICO que leio quando posso. Nas suas crónicas não perdoa compadrios nem carreirismos com base em apelidos de família. Denunciar isto é importante, sobretudo quando tal situação atinge cargos governamentais. 

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Anselmo Borges — Francisco sobre: 5. A Igreja e a política


Ainda com os diálogos do Papa Francisco e de Dominique Wolton: Politique et Société. Concluo.

1. Um tema que atravessa todo o livro é a política. Francisco pronuncia-se sob múltiplos ângulos. Trump "terá dito de mim que sou um homem político... Agradeci--lhe, porque Aristóteles define a pessoa humana como um animal político, e é uma honra para mim. Portanto, sou, pelo menos, uma pessoa! Quanto aos muros..." "A Igreja deve servir em política, lançando pontes: é esse o seu papel diplomático. "O trabalho dos núncios é lançar pontes"." Mas há "a grande política e a pequena política. A Igreja não deve meter-se na política partidária. A política, a grande política, é uma das formas mais elevadas de amor. Porquê? Porque está orientada para o bem comum de todos". "Há sempre uma relação com a política. Porque a pastoral não pode não ser política", para indicar caminhos e valores do Evangelho. Mas concorda com Wolton na denúncia do fundamentalismo e "do risco de fusão da religião e da política".

2. Sobre as desigualdades. Os números: "Hoje, no mundo, 62 ricos possuem a mesma riqueza que 3,5 mil milhões de pobres. Há hoje 871 milhões de pessoas com fome, 250 milhões de migrantes que não têm para onde ir, que não têm nada. Mas o tráfico de droga envolve mais ou menos 300 mil milhões de dólares e pensa-se que, nos paraísos fiscais, 2,4 milhões de milhões de dólares circulam de um lugar para outro."
Na base, está "o ídolo dinheiro". "Caímos na idolatria do dinheiro." Segundo o Evangelho, há incompatibilidade entre Deus e o dinheiro, quando este é divinizado. "Os dois pilares da fé cristã, das nossas riquezas, são: as Bem-aventuranças e o capítulo 25 de São Mateus, que estabelece o critério pelo qual seremos julgados": tive fome, tive sede, e destes-me de comer, de beber...; "é aqui que está a nossa riqueza. Mas irá dizer que sou um Papa demasiado simplista! [risos]. Graças a Deus..."
Wolton: "Diz que é necessário o Estado e que se comprometa..." Francisco: "A economia liberal de mercado é uma loucura. Temos necessidade de que o Estado regule um pouco. E é o que falta: o papel do Estado regulador. Por isso, peço que se abandone a "liquidez" da economia para voltar a qualquer coisa de concreto, isto é, à economia social de mercado: mantenho o mercado, mas "social" de mercado." O problema é "uma economia líquida. A finança". Wolton concorda: "A finança é um modelo de liberalismo demasiado desigual. A finança comeu a economia, que comeu a política..." E Francisco: "É o virtual contra o real." Para meditação, avisa: "Na morte, não levaremos dinheiro connosco. Nunca vi atrás de um carro funerário um camião com os haveres da residência anterior..."

3. Sobre as migrações e a Europa. Francisco é o primeiro Papa jesuíta da história e também o primeiro latino-americano. Argentino, filho de pais italianos, imigrados. "A identidade do povo argentino provém da mestiçagem, porque as vagas de imigrações misturaram-se, misturaram-se... E eu senti-me sempre um pouco assim. Para nós, era absolutamente normal ter na escola várias religiões em conjunto."
Esta sua experiência contribuirá para a sua sensibilidade para com os migrantes. Considera aliás que a teologia cristã é "uma teologia de migrantes", "o próprio Jesus foi um refugiado, um emigrante".
"O problema começa nos países donde vêm os emigrantes. Porque deixam a sua terra? Por falta de trabalho ou por causa da guerra. São as razões principais... Pode-se investir, as pessoas terão uma fonte de trabalho e não terão necessidade de partir. Mas, se há guerra, de qualquer modo, têm de fugir. Ora, quem faz a guerra? Quem dá as armas? Nós."
"A Europa é uma história de integração cultural, multicultural, muito forte. Neste momento, a Europa tem medo. Ela fecha, fecha, fecha..." A questão é que "creio que a Europa se tornou uma "avó". Ora, eu quereria ver uma Europa mãe. A Europa pode perder o sentido da sua cultura, da sua tradição. Pensemos que é o único continente a ter-nos dado uma tão grande riqueza cultural, quero sublinhá-lo. A Europa é o berço do humanismo. A Europa deve reencontrar as suas raízes, também cristãs. E não ter medo. Não ter medo de tornar-se a Europa mãe". E atira de modo mordaz: "Se os europeus querem ficar só com europeus, façam filhos!" Inquietação maior: "Já não vejo estadistas como Schuman, como Adenauer..."

4. Wolton lança desafios a Francisco.

4. 1. Seja como for, "a Europa representa o maior "estaleiro" pacífico democrático da história do mundo". Porque é que as Igrejas não convocam, com todas as religiões e famílias de pensamento, um "acontecimento solene, para dizer que é fundamental" que a união da Europa resulte? Trata-se da "maior utopia democrática da história da humanidade: nunca 27 a 30 países, isto é, 500 milhões de habitantes com 25 línguas, tentaram pacificamente coabitar". Francisco: "Desejo fazer um encontro sobre a Europa com os intelectuais europeus", do Atlântico aos Urais...

4. 2. Há tensão à volta da diversidade cultural. Francisco reafirma que a Igreja não pode ser "imperialista" e que a globalização "em forma de esfera é má" enquanto a Igreja fala da globalização em "poliedro".

4. 3. É urgente uma reflexão crítica sobre a comunicação: por todo lado há comunicação técnica e, no entanto, "nunca houve tanta incomunicação"; está-se perante o perigo de "uma forma de esquizofrenia da comunicação": uma mundialização das técnicas e cada vez menos comunicação humana; não há "o toque, falta o corpo". E pense-se no poder inaudito, quanto a dinheiro e controlo, dos GAFA (Google, Apple, Facebook, Amazon)...

5. Wolton confessa que foi um privilégio dialogar com "uma das personalidades intelectuais e religiosas mais excecionais do mundo". Duas frases o marcaram: "Não tenho medo de nada" e "Não é fácil, não é fácil..."

Anselmo Borges no Diário de Notícias

*padre e professor de filosofia

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Política de Interesse



«Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. 
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.»

Eça de Queirós, in Distrito de Évora (1867)

domingo, 1 de janeiro de 2017

MENSAGEM DO PAPA PARA O DIA MUNDIAL DA PAZ

A não-violência: estilo de uma política para a paz



«Enquanto o século passado foi arrasado por duas guerras mundiais devastadoras, conheceu a ameaça da guerra nuclear e um grande número de outros conflitos, hoje, infelizmente, encontramo-nos a braços com uma terrível guerra mundial aos pedaços. Não é fácil saber se o mundo de hoje seja mais ou menos violento que o de ontem, nem se os meios modernos de comunicação e a mobilidade que carateriza a nossa época nos tornem mais conscientes da violência ou mais rendidos a ela.

Seja como for, esta violência que se exerce «aos pedaços», de maneiras diferentes e a variados níveis, provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes: guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental. E para quê? Porventura a violência permite alcançar objetivos de valor duradouro? Tudo aquilo que obtém não é, antes, desencadear represálias e espirais de conflitos letais que beneficiam apenas a poucos «senhores da guerra»?

A violência não é o remédio para o nosso mundo dilacerado. Responder à violência com a violência leva, na melhor das hipóteses, a migrações forçadas e a atrozes sofrimentos, porque grandes quantidades de recursos são destinadas a fins militares e subtraídas às exigências do dia-a-dia dos jovens, das famílias em dificuldade, dos idosos, dos doentes, da grande maioria dos habitantes da terra. No pior dos casos, pode levar à morte física e espiritual de muitos, se não mesmo de todos.»

Ler mensagem aqui 

domingo, 4 de dezembro de 2016

Semeadores de mudança: poetas sociais (1)

Crónica de Frei Bento Domingues 



1. Falar e escrever para calar os outros era uma tradição papal que João XXIII interrompeu. O exemplo não vingou, mas o Papa Francisco tem gosto em acolher, ouvir e partilhar a palavra seja com quem for, seja onde for. Não aceita que a Doutrina Social da Igreja continue a ser apenas a voz dos Papas.
No passado dia 5 de Novembro, Bergoglio acolheu, em Roma, o 3º Encontro dos Movimentos Populares. No anterior, realizado na Bolívia, ficou claro que sem transformar as estruturas não é possível vida digna para as populações. A luta continua e entusiasma o argentino: “Vós, movimentos populares, sois semeadores de mudança, promotores de um processo para o qual convergem milhões de pequenas e grandes acções interligadas, de modo criativo, como numa poesia. Foi por isso que vos quis chamar poetas sociais”.
O ritmo dessa poesia é marcado pelos passos da caminhada rumo a uma alternativa humana face à globalização da indiferença: 1. pôr a economia ao serviço dos povos; 2. construir a paz e a justiça; 3. defender a Mãe Terra.
O discurso do papa é longo e multifacetado[1]. É uma antologia da vida dos movimentos populares na resistência à tirania. Esta alimenta-se da exploração do medo e do terror. Os cidadãos que ainda conservam alguns direitos são tentados pela falsa segurança dos muros físicos ou sociais. Muros que prendem uns e exilam outros. De um lado, cidadãos murados, apavorados; do outro, os excluídos, exilados, ainda mais aterrorizados. Será esta a vida que Deus, nosso Pai, deseja para os seus filhos?

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A democracia é isto...

 Goste-se ou não, a vitória de Trump foi limpa. Tive muita dificuldade em compreender o seu triunfo, mas logo me lembrei de que o povo tem sempre razão. É ele quem mais ordena, diz a canção que todos sabemos cantar ou trautear. E a partir daí, teremos que respeitar a decisão de uma democracia madura. 
Estamos a pensar também no que virá aí a reboque das eleições nos Estados Unidos. As forças dos milhões e milhões dos descontentes, dos famintos, dos excluídos, dos sem voz e das vítimas das políticas ultraliberais hão de tentar esbofetear quem governa esquecendo-se das pessoas... 
Na nossa Europa já há sinais do que afirmo... E estou com muita curiosidade em saber o que acontecerá nas próximas eleições na França e na Alemanha, dois países que têm servido de barómetro na comunidade europeia. Digo isto porque o exemplo dos Estados Unidos vai refletir-se em todos os quadrantes. Com a vitória de Trump, o mundo ficará diferente. Estarei enganado? Oxalá.

domingo, 6 de novembro de 2016

A Igreja e a Política: que Igreja e que política? (3)

Crónica de Frei Bento Domingues 



1. Insisto neste longo e interrogativo título. Tanto no passado como na actualidade, o uso destas palavras está carregado de sentidos contraditórios. Existem muitas Igrejas. Quando se fala da Igreja Católica, muitos teimam, esquecendo o Vaticano II, em referir-se, apenas, à hierarquia eclesiástica: Papa, Cúria Romana, Cardeais, Bispos e Padres, deixando de fora a quase totalidade da Igreja. Aconteceu, entretanto, algo de muito estranho: chegou um Papa a mostrar que isso está completamente errado.
Como a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, (A Alegria do Evangelho, 2013), do Papa Francisco, é muito incómoda, procura-se fazer de conta que é um desabafo irrelevante, sem consequências. Mas ele quis deixar escrito que se trata de um documento programático e de consequências importantes,dirigido a cada cristão.
Não se trata de uma vontade de poder, de auto-afirmação, de quem quer, pode e manda, apoiado na infalibilidade pontifícia. É precisamente essa mentalidade que ele procura desterrar. A Igreja é o NÓS de todos os cristãos e é precisamente isto que Bergoglio lembra, em todas as circunstâncias, a todas as pessoas e grupos, combatendo, sem tréguas, o clericalismo sempre renascente.

domingo, 30 de outubro de 2016

A Igreja e a Política: que Igreja e que política? (2)

Crónica de Frei Bento Domingues 

1. Continuando, como prometemos, na temática do Domingo passado, lembro o que escreveu José M. Mardones [1]: depois das revoluções norte-americana e francesa, do século XVIII, marcos da modernidade, a religião abandonou o campo da política. Tinha deixado de ser necessária para legitimar o que podia ser perfeitamente legitimado pela razão humana. Ergueu-se, então, um muro entre Igreja e Estado, muito fino na América e uma separação abrupta e violenta na Europa. A partir daí, os crentes sentiram muitas vezes a tentação, não de trabalhar no âmbito da política, mas de politizar a religião e de religiosizar a política.
Emilio Garcia Estébanez estudou, de forma crítica, o percurso ocidental, desde Platão até aos nossos dias - passando por Aristóteles, os Estoicos, Sto. Agostinho, S. Tomás e Maquiavel, etc. - das relações entre ética e política [2]. Procurou esclarecer a ambiguidade da noção de bem-comum, muito celebrada na Igreja Católica.

sábado, 24 de setembro de 2016

Contas. Ética e política

Crónica de Anselmo Borges
 

Procuro seguir o velho preceito de não ir além da sandália (ne sutor ultra crepidam). Mas, desta vez, insistiram tanto que aceitei. Ir falar ao Congresso dos Revisores Oficiais de Contas (ROC). E disse.


1. Quando era pequeno, também andei na escola. Na altura, a gente ia tentar aprender a ler, a escrever e a contar. Contar pareceu-me decisivo, com o ler e o escrever. Fazer contas, o que implicava somar, subtrair, multiplicar, dividir.
Com o tempo, aprendi que alguns só sabem somar e multiplicar para eles próprios. Subtrair também sabem, sobretudo aos outros. Por vezes também subtraem tanto a si próprios que ficam na penúria - no caso dos Estados, acabam por cair na bancarrota. Dividir pelos outros os bens que são de todos - justiça social e equidade - é dificílimo e aprendizagem que exige heroicidade.

2. Ao contrário dos outros animais, que vêm ao mundo já feitos, os seres humanos, nós, por causa da neotenia, vimos ao mundo por fazer, e essa é a condição de possibilidade de sermos o que somos: precisamente humanos, pessoas livres, cuja tarefa essencial no mundo, diria, a única tarefa, é fazermo-nos a nós próprios: vindo à existência por fazer, temos por missão, fazendo o que fazemos, fazermo-nos a nós mesmos. Somos senhores de nós, das nossas acções e, por isso, somos responsáveis por elas e por nós. Que andamos no mundo a fazer? A fazermo-nos. Quem acha que isso é tarefa pouca? E, no fim, tanto pode resultar uma obra de arte como uma vergonha, uma porcaria.
E cá está. Temos de prestar contas pelo que fazemos, pelo que fizemos de nós, em primeiro lugar. Esta é a nossa tarefa ética. Somos, por constituição, seres abertos à ética.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Crónica. Sansões e Dalilas

Crónica e foto do Observador


«Nem o Governo tem a força de Sansão para enfrentar as instituições europeias, nem a direita foi uma Dalila traidora que entregou o poderoso Sansão aos filisteus porque não cumpriu o défice de 2015. Na Europa hoje só há poderes moderados – não há Sansões – com a exceção da Alemanha, da França que é a França, e dos que se vão embora, os britânicos. Como Portugal é Portugal – e António Costa não tem super-poderes para enfrentar Bruxelas –, o debate de hoje foi a cantiga do tempo que volta para trás. “O tempo não volta para trás”, disse o primeiro-ministro a Passos Coelho. “Desista de se manter em 2015 porque o mundo está em 2016”. Assistimos a uma bela sessão de passa culpas.»

NOTA: Sou dos que estão cansados de ouvir a lengalenga do costume nos debates sobre o Estado da Nação. É sempre o mesmo. Uma pasmaceira sem nada de novo com vista ao futuro deste recanto à beira mar plantado. Quem governa acusa sempre o passado e quem está na oposição acha que Portugal não tem legitimidade para escolher os seus governantes. Vai daí, surge o insulto, a grosseria, a mesquinhez, o berro, o ataque gratuito. Só conseguem ver nos adversários políticos inimigos a abater, a qualquer preço. E ninguém se lembra que o país e o povo precisam que se olhe, com coragem, para a frente. O passado é passado. Enterrem-no, por favor. E governem melhor, se souberem. Nas próximas eleições o povo tirará as suas ilações. 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Um livro de Domingos Cerqueira

“MEMÓRIAS QUE NÃO SÃO SÓ MEMÓRIAS”





Com chancela de TEMPO NOVO EDITORA, foi lançado recentemente um livro de Domingos Cerqueira — “MEMÓRIAS QUE NÃO SÃO SÓ MEMÓRIAS” — que merece ser lido, sobretudo para se conhecer a postura de um aveirense multifacetado e de uma personalidade interventiva marcante numa sociedade pluralista. Aveiro é, realmente, uma terra com espaço para todos  os homens e mulheres que sentem ser sua obrigação dar-se à comunidade na medida das suas capacidades, pondo os interesses coletivos sempre muito acima dos eventuais interesses pessoais. 

Diz-se, com razão, a meu ver, que memórias, diários, biografias e outros escritos semelhantes são a melhor forma de retratar o quotidiano das pessoas e sociedades, muito acima do que relatam os compêndios de história. É certo que atualmente têm surgido no mercado livreiro variadíssimas edições de obras que abordam questões de todos os tempos, com guerras, posições políticas, viagens, conquistas em várias frentes, esquecendo frequentemente o povo, etc., mas as memórias pessoais são mais expressivas, porque refletem o que os seus autores viveram e experimentaram.

sábado, 17 de outubro de 2015

Religião, política e saúde

Crónica de Anselmo Borges 

«Há expressões religiosas
Anselmo Borges
 que podem ser prejudiciais: 
aquelas que levam a sentimentos 
de impotência, culpa, vergonha.»


O filósofo Immanuel Kant formulou as tarefas essenciais da filosofia nestas perguntas: "O que posso saber?", "O que devo fazer?", "O que é que me é permitido esperar?" Acrescentou, depois, que estas três perguntas remetem para e reduzem-se a esta quarta: "O que é o Homem?"
Significativamente, Kant escreve que à terceira pergunta responde a religião, melhor, ela é do domínio da religião, porque tem que ver com a esperança da salvação, da felicidade, do sentido último. Deus é um postulado da razão prática, isto é, exige-se moralmente que Deus exista, para dar-se a harmonia entre o dever cumprido e a felicidade. A natureza não faz isso, só Deus.