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sábado, 10 de abril de 2021

Sebastião da Gama nasceu neste dia


PEQUENO POEMA

Quando eu nasci, 
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama, 
In  Serra - Mãe

Uma singela evocação de Sebastião da Gama que nasceu neste dia, 10 de Abril, do ano 1924. Faleceu jovem em 7 de Fevereiro de 1952. Penso que este poema será, porventura, o mais conhecido do poeta. 

domingo, 21 de abril de 2019

RESSURREIÇÃO

Que a Luz de Cristo Ressuscitado nasça para cada um de nós

Senhor!
Eu bem Te vejo, apesar
da escuridão!
Inda me não tocou a Tua «Mão,
mas bem na sinto, bem na sinto em meus cabelos,
numa carícia igual a um perfume ou um perdão.

Senhor!
Eu bem te vejo, apesar
da escuridão!
Que já se abriram cinco
               (ou são cinquenta?...
                   ou são quinhentas?...)
Estrelinhas azuis no Céu azul
— as Tuas cinco, ou não sei quantas, feridas
lavadas pelas águas lá de Cima.

Vejo-Te ainda incerto e vago
como um desenho sumido,
mas esta é, Jesus, a última das noites.

Há já três
(não Te lembras, Senhor, das bofetadas
e dos cravos nos pés?...)
que Te pregaram numa cruz
e que morreste.

Até logo, Senhor!
           (Deixa ser longa a Noite e o Logo longo,
           que é de noite que eu seco os meus espinhos
           e cavo, na minh´alma, o Teu jardim.
           Rompa tarde a Manhã de ao fim
          da Tua minha Noite derradeira.

— Não quero é que Te rasgues novamente,
quando, no terceiro Dia longe-perto
                                       misericordiosamente,
ressuscitares em mim.)

Sebastião da Gama
 In  SERRA-MÃE

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A ALMA DE SEBASTIÃO DA GAMA



Minha alma abriu-se...
Que linda janela
que é a minha alma!
Não!, linda não é ela:
lindas são as vistas
que se avistam dela.

Que ouvidos tão finos
que tem a minha alma!
Não!, finos não:
finos são os cantos
que os pássaros cantam,
meus ouvidos ouvem.

Como são tão belas
as coisas lá por fora!
Minha alma em tudo,
em tudo se demora.

Que ouvidos tão finos!
Que linda janela!
Quem me compra a alma?
Quanto dá por ela?

Sebastião da Gama,
in"Cabo da Boa Esperança"

Sebastião da Gama faleceu a 7 de fevereiro de 1952, com 27 anos de idade. Recordo-o com este poema tão simples e tão belo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Menino Jesus

Sebastião da Gama

Em que se fala do Menino Jesus

Fiz a maldade e olhei Jesus.
Ele baixou os olhos e corou,
E toda a gente julgou
que quem fez a maldade foi Jesus.

E todos lhe perdoaram…

— Obrigado, Menino! Mas agora
tira os olhos do bibe e vem brincar,
que eu prometo, pra não Te ver corar,
já não fazer das minhas.
Anda jogar ao pé das flores, no chão,
comigo, às cinco pedrinhas…!
anda jogar, pra esqueceres
o preço do meu perdão…

Sebastião da Gama

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Bibliotecas da Gafanha da Nazaré com vida

Sebastião da Gama, Professor e Poeta 


Nasci para ser ignorante...

Nasci para ser ignorante
mas os parentes teimaram
(e dali não arrancaram)
em fazer de mim estudante.

Que remédio? Obedeci.
Há já três lustros que estudo.
Aprender, aprendi tudo,
mas tudo desaprendi.

Perdi o nome às Estrelas,
aos nossos rios e aos de fora.
Confundo fauna com flora.
Atrapalham-me as parcelas.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Efeméride: falecimento do poeta Sebastião da Gama


7 de fevereiro



Sebastião Artur Cardoso da Gama (Vila Nogueira de Azeitão, 10 de abril de 1924 — Lisboa, 7 de fevereiro de 1952) foi um poeta e professor do Ensino Secundário.
Sebastião da Gama licenciou-se em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1947, e exerceu a docência em Escolas Industriais e Comerciais.
A sua obra encontra-se ligada à Serra da Arrábida, onde vivia, bem retratada no livro Serra-Mãe, de 1945, e à sua tragédia pessoal motivada pela tuberculose.
O seu Diário, editado postumamente, em 1958, é um belíssimo testemunho da sua experiência como docente e uma valiosa reflexão sobre o ensino. Trata-se de uma obra cuja leitura devia ser obrigatória para todos os candidatos à missão de ensinar. E ainda para os professores no ativo.

***
Pequeno poema

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

Sebastião da Gama

sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Um poema de Sebastião da Gama: Canção Inútil


Nunca o Mar me quis ter nas suas ondas

enrolado e perdido.

Sou o Poeta das manhãs fecundas:

vivo me quer o Mar, para cantá-las

Ó Mar, onde se acaba

tudo que é vão!

Ó Mar feito do nada dos regatos

e dos rios efémeros!

Saibam minhas manhãs a maresia!

Haja ranger de cordas de navios

e searas de limos e de peixes,

haja a violência harmónica das ondas

nas manhãs que dão cor aos meus poemas!



Tudo fala verdade ao pé do Mar.

Mesmo as nuvens são velas que se rompem,

castigadas de um Sol que é vento puro

e que tem o direito de passar.

Andam gaivotas tontas à deriva

(acenos da ternura da Manhã…).

Tinem, nos estaleiros, marteladas.

E os motores monótonos, os gritos

dos homens e das aves, o inquieto

verbo do Mar, nas rochas espalmado

a todos os minutos, desde há séculos,

tudo revela a esplêndida verdade

de ao pé do Mar, em tudo que é do Mar,

a Vida estar desperta.



É o ar da Manhã, hálito alegre

do Mar, que enfuna as velas orgulhosas

desta canção poético-marítima.

Religiosamente aqui desfio

meu rosário de vagas.

Canção inútil!

Clarim que anunciou a Madrugada



depois de a Madrugada ter florido…

Sebastião da Gama 

In "Cabo da Boa Esperança"