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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Homenagem às mulheres das secas


Deolinda - bons anos depois

A Deolinda veio de Fafe para a nossa terra em 1955. Tinha 11 anos e como habilitações possuía a 4.ª classe. Também já tinha feito a Profissão de Fé. Quando chegou, foi trabalhar com as irmãs, Maria da Luz e Ilda, para a seca do Milena. Na Cale da Vila. Como ela, assim menina, havia outras. Na altura não se reparava no trabalho infantil.
A Deolinda não teria verdadeiramente a noção do trabalho, mas sentia que tinha de ajudar a família. A primeira tarefa que lhe deram resumia-se a guardar o bacalhau que secava pendurado nas redes da vedação da seca, não fosse algum transeunte tentar-se e sacar algum peixe ainda não completamente seco. Outro era estendido nas mesas de arame.
O tempo ali especada a olhar custava a passar. Vai daí, começou, para se entreter, a jogar “à macaca”, um jogo muito habitual naqueles tempos entre a criançada. E assim ganhava a vida. «Os patrões eram amigos e boas pessoas», confidenciou-me.
Depois, estendeu bacalhau pelas mesas e ao fim do dia de sol recolhia-o até à manhã seguinte, se a temperatura fosse adequada e se houvesse vento. Saltou a seguir para as tinas, onde se lavava o peixe mais consumido pelos portugueses naquela época. Era miúda e mal conseguia esfregar o fiel amigo. Não ganhava tanto como as mulheres, mas já nem recorda o preço da jorna. Era de facto pequena, a Deolinda. Mas uma irmã, mais crescida e mais sabida, apressa-se a sugerir-lhe, para se assemelhar às adultas, ganhando como tal:
— Estica-te, Deolinda, para pareceres uma mulher!

Fernando Martins

Nota: Reedição para mostrar  aos mais jovens