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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ele tinha a paixão dos objectos

Assim ele tinha a paixão dos objectos, conchas, rodas, ramos secos, utensílios, coisas aparentemente desmembradas e soltas, que encontrava ao acaso em ferros-velhos, pequenas lojas escuras, vãos de porta, recantos poeirentos, ou apanhava do chão quando passava, entre vagos montões de sucata ou de lixo, e depois se transformavam quando ele lhes encontrava na casa um local certo, porque conhecia a sua identidade profunda, o rosto oculto que elas não revelavam facilmente. Deixava-as vir devagar à superfície de si próprias, as suas mãos eram sempre pacientes com as coisas, e também o olhar que descobria a sua intimidade e a partir delas as combinava, porque nem todas se entendiam entre si, era preciso estar atento às suas afinidades ou disparidades, mesmo às menos evidentes. Mas ele tinha o segredo da harmonia. Teolinda Gersão (n. 1940)