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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Por um golo, solta-se o testo da panela


O QUE UM GOLO PODE REVELAR

Pronto. Lá terminou o sonho de ouro e recomeçou o pesadelo das desilusões. Parece que a vida tem a duração de noventa minutos, tantos quantos os de um desafio de futebol, ou que fica mais alto quem se habitua a andar no bico dos pés.
Por um golo, solta-se o testo da panela, a fervura da desilusão tanto queima como gela, os ódios ocultos vêm ao de cima, os sorrisos de conveniência esvaem-se com um sopro. Discute-se tudo, aventam-se profecias de desgraça, catalogam-se “criminosos”, cruzam-se os braços de desânimo e de revolta.
Ao que nós chegamos! Parece que, na vida, só têm lugar os vitoriosos e que perder é sinónimo de desgraça e morte antecipada.
Voltamos à barbárie romana: “Pão e jogos!” Custe o que custar. O resto não interessa.
Os homens do dinheiro desvalorizam quem não produz dinheiro. Os homens do circo só querem êxitos e vitórias, nem que tenha de se fazer das pessoas, animais submissos.
Porém, perder e ganhar é o ritmo de uma vida equilibrada, tal como a natureza nos ensina. A folha que cai ou a flor que murcha avivam sempre a esperança da primavera que chegará a seu tempo. A árvore com raízes vivas, ainda que descarnada e feia, está bem viva.
As pessoas não morrem com as derrotas, nem ficam eternos vencedores porque uma vez venceram. Rico não é o que tem muito dinheiro, mas o que tem dignidade e sabe comportar-se, como pessoa séria e sã, nos êxitos e nos fracassos que a vida traz.
O Mundial de Futebol é mais um livro aberto com páginas cheias de lições. Haja quem, sem preconceitos e sem cores de clubes rivais, as saiba ler e aplicar.
 
António Marcelino

sábado, 11 de outubro de 2008

Desta vez cai no templo...

As coisas não vão mal em todo o lado e sempre bem na Igreja. Um juízo farisaico e cego o de quem assim pensar. Todos temos telhados de vidro. Recebo, regularmente, um jornal oficial de uma das mais antigas dioceses de Espanha. Num dos últimos números, onde vêm sempre ou quase sempre coisas de interesse, dava-se nota do número de cónegos dessa diocese. 44 ao todo, nada menos. Uns são dignidades, outros cónegos comuns, outros eméritos e ainda alguns honorários. Há dias juntaram-lhe mais 5. Bem se vê que não há crise de vocações canonicais. Lá parece que também a não há de vocações sacerdotais. Não sei há alguma relação entre as duas coisas. Vi o que faziam e todos têm ocupação na catedral e nas suas capelas e ritos.Lembrei a Espanha a clamar por uma evangelização persistente. Fechei os olhos para ver ao longe e ao perto e deixei que me martelasse aos ouvidos o mandato de Cristo: “Ide, evangelizai, fazei discípulos…” E vi como lá, cá e acolá, muita gente na Igreja se ocupa, com grande zelo, em tarefas secundárias, e pouca gente na linha da frente. A lucidez manda hierarquizar as acções em função dos objectivos e os recursos em função do que é essencial, para que não se desbaratem talentos e dons, nem fiquem frentes decisivas a descoberto. Que tenho eu a ver com isto? Agora dizem-me, em documento oficial, que como emérito devo ter a solicitude de todas as Igrejas. Pois! Como conheço bem o bispo dos muitos cónegos, vou-lhe falar desta preocupação. Sei bem que o muro é alto para o poder saltar, mas pode ser que o meu desabafo lhe dê algum conforto. António Marcelino

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma Pedrada por Semana

Os ordenados escandalosos que já não escandalizam
A revista Sábado (4-10 de Setembro) dá nota dos ordenados maiores, recebidos por portugueses e estrangeiros que cá trabalham e vivem: dos políticos aos empresários, dos actores aos gestores, dos banqueiros aos futebolistas, dos médicos aos juízes, dos apresentadores de TV aos advogados… São sessenta personalidades, na sua maioria caras conhecidas de todos nós. E diz-se na reportagem como se fez o apuramento e quais as fontes de informação usadas… De longe, bem de longe, os futebolistas estão no top. Um futebolista do FCP recebe vinte vezes mais que o Procurador Geral da República; uma actriz da SIC mais que o Primeiro Ministro; um apresentador da TVI sete vezes mais que os Presidentes do Supremo Tribunal da Justiça, do Tribunal Constitucional ou do Tribunal de Contas… Eu gostava de ser capaz de ler, ver e comentar, com objectividade, esta realidade. Nem tento. Todos sabemos que há trabalhos que, pela sua complexidade e responsabilidade, devem ser bem pagos, de outro modo não há quem os faça com competência… Mas outros, por exemplo no mundo do futebol, com ordenados mensais de 114 mil, 107 mil, 85 mil euros… E eu até gosto de futebol. Não entendo e, antes que grite o que me vai cá dentro, é melhor calar… Por agora.
António Marcelino
In CV

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O marnoto de Santiago


Morreu o senhor Manuel. Com os pés desfeitos e o coração aos pedaços. Vivera os últimos tempos de pobre envergonhado, que só estendia a mão a quem o conhecia. Triste e injustiçado protagonista de uma história que merecia outro fim.
Falei aqui dele. Uma generosa voluntária, obreira de amor e de caridade que percorre ruas e casas do Bairro, deu-me a notícia da sua partida sem regresso.
Sabia que já não o encontraria, mas fui ao Bairro. Falei com vizinhos e amigos, ali junto ao café onde nos encontrávamos e conversámos.
Porque persiste, como chaga cruenta, a pobreza imerecida? Porque vale tão pouco o trabalho honesto dos humildes, que morrem tristes e desiludidos com uma sociedade ingrata, onde a uns sobra e a outros falta, onde uns contam milhões e outros nem sequer tostões? Porquê?
Porque se empenham tanto legisladores e governantes em leis e decisões que se consolam o individualismo de uns, destroem a vida e a esperança de outros? Porque não se preocupam os donos do poder, com os pobres que se descontaram para a sua reforma pouco do seu pouco, descontaram, porém, uma vida toda de trabalho, sem férias nem feriados, para que o país progredisse? Porquê?
O senhor Manuel é um grito doloroso que me acompanha e que não vou deixar de fazer ecoar. Porque, se ele já morreu, continua vivo em muitos que por aí andam, envergonhados de viver, esquecidos por quem os devia conhecer e deles cuidar com amor e gratidão.

António Marcelino

quarta-feira, 5 de março de 2008

UMA ACTUALIDADE DESACTUALIZADA

Faz falta ensinar à gente nova, porque agora já não se ensinam, e recordar aos menos novos, que ainda as aprenderam, as catorze obras de misericórdia, sete corporais e sete espirituais.
É uma aprendizagem com consequências na vida de quem sabe e na daqueles que podem beneficiar do seu saber.
O cortejo dos necessitados de misericórdia é grande e aumenta sempre mais, mesmo que se julgue o contrário. Não faltam famintos e sedentos a alimentar, nus a vestir, peregrinos a acolher, cativos a redimir e doentes a visitar e a cuidar. Não faltam ignorantes a ensinar, desviados a corrigir, perturbados a aconselhar, tristes a consolar, gente por quem se tem de ser paciente e muitos, vivos e mortos, a pedir-nos uma memória activa e um coração agradecido.
As obras de misericórdia não perderam a cotação. Elas serão a matéria de exame final sobre o valor que demos à vida e a maneira como a vivemos ao longo do tempo. A Quaresma pode levar-nos a dar-lhes atenção e sentido. Não é tempo perdido.

António Marcelino

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O Carnaval do Inverno

Em tempos idos fomos descobridores, inovadores e construtivos, gente que ensinou a outros novos caminhos de vida. Agora, não pouco se passa de copiadores acríticos nas mãos de publicitários interesseiros, que encontram com facilidade quem lhes faça a vontade e sirva os seus projectos. Na Mealhada, em Estarreja ou em Ovar, em Torres Vedras, em Sintra ou em Loulé, o Carnaval de Inverno não passa de uma imitação paupérrima do Carnaval do Verão, no Rio ou noutras cidades do Brasil. Chova ou faça neve, o que atrai gente são as meninas descascadas, as piadas brejeiras, o clima de “vale tudo porque é Entrudo”. Quanto recordo a alegria sã das nossas aldeias, os entremezes e um teatro popular que divertia, barato e sem apetências de exploração e ganhos... Porque o móbil verdadeiro não é o povo, então, para recuperar encargos e ganhos, se o tempo de chuva não o permitiu, prolonga-se o Carnaval na Quaresma, apagando ou menosprezando dados que enriqueceram e deixaram marcas culturais profundas. Há tempo para tudo, sem atropelar nem desrespeitar cada tempo. No campo lúdico, o futuro não promete ser melhor. Já vemos como os jovens, que terminaram cursos superiores, que o país lhes pagou, a não ter mais imaginação para celebrar a sua festa de fim de curso, que a generosidade das cervejeiras, com o consequente espectáculo de bebedeiras que levam dezenas aos hospitais, bem como um programado clima permissivo que despoleta desgraças que vão destruindo a gente nova. Diz-nos um estudo-sondagem recente, feito em Coimbra, que 30% das jovens universitárias estão contagiadas com HIV. Não há efeitos sem causas. António Marcelino
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Fonte CV

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Quem tem medo da história?

O centenário do regicídio trouxe ao de cima reacções curiosas. Por um lado, os historiadores a dar relevo à figura do rei, aos seus projectos e às maquinações que o levaram à morte. Por outro lado, o governo a dizer não ás iniciativas surgidas e AR a dizer que seria uma mancha, um erro sem sentido evocar-se um símbolo daquilo que foi derrotado, a execranda monarquia, e deu lugar à vitória do que somos hoje, a gloriosa república.É muito difícil encontrar competência, coragem e sensatez, para se lerem com liberdade interior acontecimentos históricos, quando tocam convicções ideológicas ou partidárias. É o caso. A monarquia não é uma ameaça, a república não tem um toque de perfeição acabada. A história é sempre mestra, para quem a souber ler sem preconceitos, nem olhos vesgos. Mais uma vez aí temos um presente vazio, um passado apagado e um futuro sem esperança.
António Marcelino

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

UMA PEDRADA POR SEMANA


Quem ficou de fora
da multidão solidária?

Um mundo de gente sentiu, mais uma vez, o coração mais voltado para os outros no tempo de Natal. Um outro mundo de gente, diariamente esquecida, humilhada e sofredora, sentiu, mais uma vez, que, afinal, apesar de tudo ainda está viva, porque outros, que nem conhece, se lembraram dela e tiveram para com ela gestos de carinho, de amor e de partilha.
No fim, fez mais e maior bem a si próprio quem fez bem aos outros, deles se lembrou e com eles partilhou amor, tempo, pão e algo mais. E, quem sabe, se esta sensação de fazer bem não vai mesmo deixar o coração para aí inclinado e para prosseguir…Numa sociedade que parece e aparece cada dia mais interesseira e menos gratuita, é consolador e positivo verificar quanta gente, neste tempo de graça, se movimenta a favor dos outros. É verdade que ainda fica muita outra de fora e sem se aperceber do que perdeu. Uns acham que não têm obrigação, outros que o seu natal tem programas mais aliciantes, outros ainda porque ninguém os ajudou a olhar para dentro de si e para lugares e pessoas para os quais nunca olham.
No fundo, as omissões dos que fazem alguma coisa podem ter sido ocasião para que outros tenham ainda desta vez ficado fora da cadeia longa do bem-fazer.
Pode ser de interesse que cada um de nós se examine sobre o que fez ou não fez neste Natal. Pobre não é só aquele a que falta muita coisa. Pobre é, também, o que só se preocupa consigo e precisa de ser acordado e incomodado. Por fim até agradece.

António Marcelino
Fonte: Correio do Vouga

terça-feira, 26 de junho de 2007

Uma pedrada por semana

MÃES DE MUITOS FILHOS
Conheci em França uma instituição chamada “Missão Possível”. Propõe-se prevenir a delinquência juvenil através da ajuda escolar. É evidente que esta ajuda pressupõe a criação de um clima de acolhimento e de amor, de respeito por si e pelos outros, de disciplina e hábitos de trabalho, de cuidado e de alegria em ter ordem na vida e êxito nos projectos pessoais.
Pais, que já desistiram de ser educadores, pedem a ajuda da instituição; o estado, porque sabe que nunca será bom educador, recorre à mesma; a sociedade, se acredita que ainda é possível salvar a gente nova quando esta perdeu o rumo, apoia a “Missão Possível”. Mas também batem à sua porta professores, polícias, gente da justiça. A fundadora foi uma magistrada que tocou na miséria e na lama de muita gente nova, acreditou e não cruzou os braços.
Lá e cá, um problema preocupante, que não se pode dramatizar nem ignorar. Uma telenovela portuguesa de grande audiência, mostra a dedicação e o carinho, sem horas nem condições, da Irmã Benedita, mãe única, por opção, de filhos e filhas de muitos pais e de diversas idades.
Não faltam, entre nós, mães e pais assim, que não geraram filhos, mas o são de muitos e de modo permanente, vivendo uma realidade, não uma telenovela. Na Obra da Rua, no Frei Gil, na Obra de Nossa Senhora das Candeias, e por aí adiante… Às vezes, mais penalizados, que apoiados. Estão nisto, porque amam, acreditam e sabem que dão a vida por uma missão possível, mesmo se a sociedade os ignora e o estado os penaliza.
A. Marcelino
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Fonte: Correio do Vouga