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sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Cuidar da Vinha do Senhor. É a nossa vez!

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XXVII


Finalmente, nossa! – declaram, alegres e triunfantes, os vinhateiros homicidas na parábola narrada por Jesus. Mt 21, 33-43. A herança, que tanto ansiámos e tanto trabalho nos deu, é nossa. Valeu a pena. Tudo ultrapassámos. Estão neutralizados ou liquidados os enviados do dono para receberem a colheita. Acabámos de dar a morte ao próprio filho. Conseguimos a vinha, apesar de ficarmos com as mãos cheias de sangue. Afirmámos a nossa determinação e rasgámos o contrato. Ouvimos palavras duras, mas escutámos a razão emotiva que clamava pela posse da terra e dos seus produtos. Finalmente livres de quem se aproveita do nosso trabalho! 
“Esta parábola, afirma Castillo, teólogo espanhol, é seguramente a mais dura e directa que ficou recolhida nos evangelhos, como denúncia contra os dirigentes religiosos do judaísmo”. 
O dono da vinha, cheio de paciência, dá-lhes tempo para serem razoáveis. Aumenta, não apenas o número de enviados, mas a sua representatividade. O filho, herdeiro por natureza e por lei, entra em acção. Tudo em vão. Resolve, então, enfrentar os arrendatários usurpadores. E aplica-lhes uma sentença “sem piedade”, cruel. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Patrão Bondoso, Trabalhadores Ciumentos

Reflexão de Georgino Rocha 
para o Domingo XXV



Pedro continua com as suas dúvidas interiores. E quer dissipá-las. Tinha aderido ao grupo do Mestre sem condições. Havia assinado um contrato em branco. Depois de tudo o que viu e ouviu, acha que chegou a hora de o preencher: E desabafa: Deixámos tudo. Qual vai ser a nossa recompensa? Que nos espera no futuro? Com que podemos contar? 
Jesus, que conhece bem os corações, dá-lhe uma resposta clarificadora. Aproveita a oportunidade do encontro com os discípulos e lança mão de um costume usual no campo que serve de base à sua parábola: a dos trabalhadores da vinha contratados pelo proprietário. Mt 20, 1-16. 
Este dono da vinha sai de madrugada, às nove da manhã, ao meio-dia, às três da tarde e, ainda, às cinco (uma hora antes de terminar a jornada laboral). Que o levaria a tantas saídas? Que segredo animaria a sua e preocupação? 
De facto, uma grande paixão se esconde nesta azáfama. É o amor que tem à sua vinha, em tempo de colheita, é a consideração que lhe merecem os sem emprego e os tarefeiros, vindos para a praça com alguma expectativa, é a vontade clara de que haja trabalho para todos e a justa remuneração, é desvendar uma nova dimensão do ser humano na qual se espelha a bondade e gratuidade – reflexos qualificados do rosto de Deus. 

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Georgino Rocha — Chamados a dar bons frutos na vinha do Senhor

Jesus encontra-se, em Jerusalém, na esplanada do Templo. Vive dias de enorme tensão. Os adversários apertam o cerco para o eliminar. Só o medo da reacção popular serve de contenção. A vinha, figura bem conhecida pelos ouvintes, constitui ponto de partida para nova mensagem, directa e provocante, aos sumos sacerdotes e aos anciãos. A narração de Mateus é sóbria, sem floreados, para evidenciar o que está em causa. E Jesus quer deixar claro o contraste entre o proceder de Deus e a atitude dos dirigentes de Israel, ali representados pelos funcionários do culto.

O rosto de Deus surge bem traçado nos gestos do dono da vinha. Ele faz tudo por ela: prepara a terra e planta-a com cuidado, ergue uma sebe de protecção, constrói um lagar para a recolha das uvas, levanta uma torre de vigia e confia-a a uns trabalhadores vinhateiros. Com esta descrição, Jesus realça a solicitude de Deus para com Israel, o povo eleito. Faz uma leitura dos factos acontecidos ao longo da história. Retoma a perspectiva de Isaías, hoje lembrada na primeira leitura: “A vinha do Senhor do Universo é a casa de Israel e os homens de Judá são a plantação escolhida”. Retoma e redimensiona o seu alcance. A atitude final do dono da vinha não é de retaliação aos trabalhadores nem de destruição da vinha. Mas da sua opção definitiva: chamar outros para a cuidarem com diligência a fim de darem frutos de qualidade.

O amor à sua vinha surge na paciente espera, na diligente procura, no risco assumido, na clemência usada, na persistência confiante, na vontade positiva de levar por diante o seu projecto de salvação com a colaboração de todos. De facto, Jesus apresenta um Deus que é desconcertante. Como não haveriam de reagir aqueles fiéis judeus habituados a um outro rosto de Deus, a uma outra linguagem religiosa? E nós, sentimo-nos envolvidos na parábola dos trabalhadores da vinha?!

Isaías prossegue, dizendo: “Ele esperava rectidão e só há sangue derramado; esperava justiça e só há gritos de horror”. É uma leitura que, infelizmente, ainda hoje se pode fazer. Em muitas situações, nem sequer são nomeadas estas duas características maiores do agir humano, da ética familiar e social, da moral cristã. E parece campear a mentira, ainda que disfarçada, a corrupção provocada, a desigualdade assumida. “Sede juízes entre mim e a minha vinha”, clama Isaías, dando voz ao dono que se interroga: “Que mais podia ter feito?”.

A carta aos cristãos de Filipos, na Grécia, traça o retrato de quem deixa que Deus seja o dono do seu coração: ama o que é verdadeiro e nobre; justo e puro; amável e de boa reputação; e, em jeito de conclusão, adianta: tudo o que é virtude e digno de louvor é o que deveis ter no pensamento. E para os persuadir ainda mais, Paulo acrescenta: “O que aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim é o que deveis praticar”. O apóstolo que havia evangelizado a cidade e gerado para a fé aqueles cristãos, ousa dizer-lhes: segui o meu exemplo, lembrai-vos de como me comportei no meio de vós. Belo testemunho para nós hoje. Oxalá sintamos a provocação que faz ao nosso estilo de vida que devia suscitar desejos de imitação por parte de quem procura a verdade do Evangelho.

A Rede Mundial de Oração, ligada aos Jesuítas, divulga a intenção do Papa Francisco para este mês de Outubro que se pode resumir a “recordar sempre a dignidade e os direitos dos trabalhadores, a denunciar as situações nas quais se violam esses direitos, e a ajudar no que contribua para um autêntico progresso do homem e da sociedade”. E insiste que é um dever de todos. Na vinha do Senhor há lugar para cada um. A importância do trabalho está sobretudo em ser o meio privilegiado de realização humana e fonte de provisão pessoal e familiar, de contribuição para o bem de todos, designadamente a empresa empregadora. O Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa e do Movimento Eucarístico Juvenil (MEJ), padre Fréderic Fornos, jesuíta, lembra que o tema do emprego é “um dos principais desafios para os próximos anos. É algo sobre o qual o mundo da política e a sociedade devem trabalhar em conjunto para encontrar soluções sustentáveis e de longo prazo”. E reforça o pedido do Papa Francisco.

A 7 de Outubro, ontem, ocorreu a Jornada Mundial pelo Trabalho Digno em vários locais de Portugal com um objectivo bem definido: incentivar e consciencializar as comunidades cristãs, autarquias, governo, sindicatos, comissões de trabalhadores e organizações empresariais “a colaborar para colocar no centro a pessoa e a sua humanização”. E como justificação aduz que “o trabalho é um dom e um projeto de humanização imprescindível para a construção da sociedade e para a realização humana e não apenas uma fonte de remuneração”. Objectivo semelhante surge na abertura do Ano Apostólico. Todos têm capacidades a desenvolver para bem das pessoas e das suas associações, dos movimentos, da paróquia e da diocese. A parábola de Jesus afirma que o dono da vinha faz o arrendamento aos trabalhadores durante um certo tempo. Depois quer receber os frutos. Agora é a nossa vez. Este é o nosso tempo. João Almiro, casado e pai de 7 filhos, o fundador da “Casa das Andorinhas” para acolher e recuperar pessoas com toxicodependência, mulheres prostitutas, alcoolizados e outros excluídos sociais, farmacêutico de profissão em Campo de Besteiros, Tondela, deixa um bilhete no bolso das calças como testamento espiritual: “Vivo feliz e tranquilo, aguardando ser chamado ao encontro com Deus, com o coração cheio de amor e serviço que dei e que também recebi, sem me preocupar em demasia com a conta bancária». Escreveu-o aos 89 anos e morre aos 91, no passado dia 28 de Setembro. É a vinha do Senhor no seu melhor.