sexta-feira, 8 de julho de 2005

Ainda as Mulheres da Gafanha

Mulheres gafanhoas da década de 40 do século passado 


Retrato “pintado” com muita ternura

Raul Brandão foi para mim o escritor que melhor retratou a Ria de Aveiro e as gentes ribeirinhas, quando por aqui andou em 1922, para depois publicar no seu muito badalado livro “Os pescadores”. Já tenho falado e escrito deste escritor que se apresenta assim: “Este tipo esgalgado e seco, já ruço, que dorme nas eiras ou sonha acordado pelo caminhos, sou eu. Sou eu que gesticulo e falo sozinho, envolto na nuvem que me envolve e impregna. Que força me guia e impele até à morte?” 

Quando relembra o seu regresso do mar, das muitas viagens que fez, para depois descrever, com arte e poesia, o que viu e sentiu, diz que vem sempre “estonteado e cheio de luz” que o trespassa. Depois pega nos “apontamentos rápidos”, em “meia dúzia de esboços afinal, que, como certos quadradinhos, do ar livre, são melhores quando ficam por acabar”. E acrescenta com nostalgia de poeta da prosa: “Estas linhas de saudade aquecem-me e reanimam-me nos dias de Inverno friorento. Torno a ver o azul, e chega mais alto até mim o imenso eco prolongado… Basta pegar num velho búzio para perceber distintamente a grande voz do mar. Criou-se com ele e guardou-a para sempre. – Eu também nunca mais o esqueci…” 

Mas, para esta brochura que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré organizou para o Festival de 2005, quero apenas transcrever o quadro que Raul Brandão “pintou” sobre as mulheres da Gafanha, em que figura como personagem principal a Ti Ana Arneira. Foi um retrato feito com muita ternura por um escritor que não pode ser esquecido. Diz assim: “Quando passei na Gafanha, vi as cachopas da beira-rio, todas molhadas, sempre metidas na água a rapar o moliço. Feias e ingénuas. A uma calculei-lhe: – Tem para aí treze ou catorze anos. – Tenho vinte e um, e três filhos, respondeu. – Outra tinha ficado a olhar para mim com olhos inocentes de bicho e as mãos postas sobre os seios redondinhos – sobre aquilo, como diz a Ti Ana, que o Senhor lhe deu e ela precisa… 
A Ti Ana Arneira, com cuja amizade me honro, é um dos meus melhores conhecimentos da Gafanha. Mulher capazona, como por lá se diz. Acompanha-me pelo areal, e conta-me logo à primeira a sua vida. Tipo atarracado e forte, de grossos quadris, vestida de escuro, chapéu na cabeça e aguilhada em punho. O homem foi para o Brasil há muitos anos (– É o rei dos homes!...), ficou ela e os filhos por criar. Criou-os todos. Netos, doenças, lutos. Nunca desanimou. 
A força que a sustenta é admirável, profunda, e radicada, como a de quase todas as mulheres do povo que conheço. Deitou-se à vida – lavrou campos. Vieram mais aflições e outras mortes. – Então de que lhe morreram os filhos? – Sei lá, a morte não se quer culpada. Era preciso sustentar a família. Pegou nos bois e no carrinho e começou a transportar sal da Gafanha para Mira. Fez mais: antigamente no Arião também havia companhas, e quando faltava um pescador a Ti Ana agarrava-se ao remo como um homem e ia ao mar no barco. – Nem do diabo tenho medo. Só tenho medo aos cães loucos. – A extensa planície que atravessa, duas, três vezes por dia, é um deserto. A Ti Ana vai e vem de noite, sozinha, com os bois que lhe fazem companhia. Agora tem um campo, barcos para o moliço, novos netos para criar – e olha cara a cara o destino sem esmorecer. A sua vida é uma grande lição de energia.” 

Fernando Martins

Bibliotecas Públicas

Posted by Picasa Centro de Artes e Espectáculos, à esquerda, e Museu e Biblioteca, à direita Complexo cultural da Figueira da Foz
merece uma visita Felizmente, por onde quer que andemos em gozo de férias, se olharmos bem, há sempre uma Biblioteca Pública, para conviver com os livros, e não só. Na Figueira da Foz, por exemplo, os residentes ou veraneantes podem usufruir de uma boa biblioteca, servida por funcionários diligentes e atenciosos. Além de livros, que é o seu forte, para consulta e para leitura em casa, a Biblioteca oferece, ainda, jornais e revistas, música variada para todos os gostos e idades, filmes em vídeo e Internet, em salas para adultos e para crianças. Como passo por este espaço cultural com alguma frequência, posso testemunhar que não falta quem a ela recorra, quase a todas as horas do dia. Por ali vejo gente idosa, gente de meia-idade, jovens estudantes e crianças que circulam com muita naturalidade, mostrando hábitos de quem conhece bem o ambiente e as regras. A Biblioteca da Figueira da Foz integra-se num complexo cultural que inclui o Museu António Santos Rocha. Ao lado, pode apreciar-se o CAE (Centro de Artes e Espectáculos) com exposições temporárias, cinema e espectáculos diversos, nomeadamente de música, ópera, teatro e dança, entre outros. A quem vem à Figueira da Foz, recomendo uma passagem com calma por este complexo cultural, banhado pelo parque verdejante das Abadias. F.M.

TERRORISMO

Os responsáveis religiosos devem rever
métodos e pedagogias do ensino religioso A propósito dos actos sangrentos de ontem, em Londres, o antigo Presidente da República Mário Soares disse à TSF que o Ocidente tem de combater o terrorismo com inteligência, lutando contra a pobreza. Questionado sobre se o fim da pobreza leva ao fim do terrorismo, acrescentou que sim. É óbvio para toda a gente que as revoltas das pessoas são, na maioria das vezes, fruto de injustiças e de profundos descontentamentos. Mas não será só por isso. Haverá outras razões ligadas aos fundamentalismos religiosos que são ancestrais. No livro “Religião e violência”, da editorial Paulus, são abordados, com muita pertinência, temas como Extremismos Religiosos, Violência, Cultura e Guerra Santa, que nos ajudam a compreender, de certa maneira, o porquê do terrorismo, no contexto actual, com opiniões de José Jacinto Ferreira de Farias, Peter Stilwell, Alfredo Teixeira e Joaquim Carreira das Neves. Recomendo, por isso, esta obra. Carreira das Neves, depois de recordar a história das três religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), apresentou dados curiosos que nos devem levar a meditar, sobre as guerras que todas alimentaram através dos séculos. Os primeiros, porque precisaram de conseguir vencer, à força das armas, os cananeus politeístas para chegarem “à sua terra santa”. Os cristãos, que aceitaram a lei do “amor para amigos e inimigos e sobre o perdão”, posteriormente esqueceram esse ensinamento e assumiram a fé ligada à “verdade do poder e da ideologia em circunstâncias históricas especiais, o que originou guerras e violências”. Os muçulmanos depararam-se com os seus irmãos árabes animistas e politeístas e decidiram que todos se deviam converter ao Deus Único – Alá – , a bem ou a mal, “para poderem formar a grande nação árabe, a Fraternidade árabe ou Umma, também em oposição a judeus e cristãos”, o que deu origem às leis alcorânicas a favor da Guerra Santa. Isto quer dizer que, durante séculos, houve circunstâncias que conduziram os crentes monoteístas a combater os seus inimigos, que eram os que se opunham às suas crenças, mesmo entre cristãos e entre estes e os chamados infiéis, ou não-cristãos. Claro que tem havido grandes avanços, no sentido do entendimento entre as diferentes religiões, não havendo nenhuma razão para se guerrearem. O cristianismo, a meu ver, foi a religião que mais se aproximou dos seus fundamentos de amor e de paz entre todos. E mesmo os crentes do judaísmo e do Islão, na sua grande maioria, seguem estes princípios, embora haja, no alcorão, regras e leis que podem levar à violência e à vingança, em nome da fé em Alá. A religião islâmica, diz Carreira das Neves, “é a religião do Absoluto que, facilmente, pode levar a posições de fanatismo contra quem não é islâmico. Quem abandonar a religião islâmica por outra religião passa ao mais imperfeito e é digno de ser punido ou, inclusivamente, de ser morto”. O diálogo inter-religioso, que os últimos Papas têm proposto e dinamizado, vai continuar com Bento XVI, conforme já diversas vezes sublinhou depois da sua eleição, sendo certo que todos temos de o apoiar no esforço de defender a verdade religiosa de todos os crentes, “a partir da pessoa e não a partir da verdade absoluta e objectiva, pois essa não existe. Cada crente deve viver em conformidade com a verdade da sua fé ou crença, mas sem a impor aos outros crentes ou não-crentes”, defende Carreira das Neves. Por outro lado, diz que é preciso que os “países mais ricos, mais democráticos, com a maior valia da ciência e da técnica”, passem a olhar “de maneira diferente para os países mais pobres, onde os mais ricos vão buscar, tantas vezes, as suas matérias-primas. O nosso olhar diferente tem a ver com a riqueza cultural e religiosa do outro. Sem diferença e alteridade só pode haver indiferença”, sublinha Carreira das Neves. Defendeu que os responsáveis religiosos devem rever métodos e pedagogias de ensino religioso, “a começar pelos próprios textos sagrados, de modo que o primado da pessoa e do amor seja defendido pelo sistema da crença baseado nos mesmos textos sagrados”. Por fim, referiu que o terrorismo “é obra de criminosos e fanáticos islâmicos e não da maioria absoluta dos muçulmanos que vivem a sua religião, cumprindo os cinco pilares da mesma, com fé e alegria, paz e amor”. Fernando Martins

Igreja Católica cresce, mas tem menos padres

O “Instrumentum laboris” do Sínodo dos Bispos de Outubro apresenta os números da Igreja Católica no mundo, mostrando que há mais católicos, mas menos padres.No primeiro capítulo do documento, o balanço estatístico apresentado revela que o número de católicos no mundo aumentou em 15 milhões entre 2002 e 2003, chegando a um total de 1,086 mil milhões. É na África que se regista o maior crescimento, com um aumento de 4,5%, seguindo-se a Ásia (2,2%), a Oceania (1,3%) e a América (1,2%). A Europa não conheceu nenhuma flutuação de relevo, nesta matéria.
Os 250 Bispos que se vão reunir em volta do Papa, de 2 a 23 de Outubro, sabem que o mundo mudou e que o coração da Igreja se deslocou para a América, onde vivem quase metade dos católicos do Mundo - contra 25,8% na Europa, 13,2% em África e 10,4% na Ásia.Apesar de o número de Bispos ter crescido em 27,68% entre 1978 e 2003 (passando de 3. 714 para 4.742), os números distribuídos no “Instrumentum laboris” assinalam uma quebra de 3,69%, no número de padres nesse mesmo período (de 421.000 para 405.000).
Esse dado, quando cruzado com o aumento dos fiéis, mostra que o número de católicos por padre passou de 1.797 para 2.677, quebra de mais de 40%. O número de padres religiosos diminuiu bastante (13,3%) nesses 25 anos, acompanhando a quebra significativa de religiosos e religiosas no mundo (27,94% e 21,65% respectivamente).
No documento base enviado aos Bispos é sublinhado o papel dos missionários leigos e dos catequistas no mundo, representando um total de 172.331 e 2,8 milhões de pessoas, respectivamente.
Outro dado importante é o aumento do número de diáconos permanentes no período de 1978-2003 - 466,7%. A América e a Europa (que conta com um terço dos diáconos permanentes de todo o mundo) são os continentes em que esta realidade eclesial mais se expandiu.
Fonte: ECCLESIA

quinta-feira, 7 de julho de 2005

Uma visão pessoal de João Paulo II e Bento XVI

À conversa com... a jornalista e escritora Aura Miguel
VP – A primeira questão não pode deixar de ser alusiva ao Papa João Paulo II, por ter estado com ele tantos anos. Conte-nos os conteúdos das conversas privadas com ele...
Aura Miguel (AM) – Os encontros pessoais com João Paulo II aconteceram em contextos muito diferentes. Um deles, a primeira vez, foi inserido numa visita Ad Limina, que os Bispos portugueses fizeram, em 1987, e que fui convidada a acompanhá-los. No final, quando o Papa cumprimentou toda a gente eu tomei a iniciativa de uma coisa que eu não sabia que não devia fazer: pedir um autógrafo ao Papa. Ele ficou muito divertido, pegou na Encíclica e saiu donde estava. Sentou-se, com a minha caneta na mão, aproximei-me e o Papa assinou. Entretanto houve uma série de peripécias: a caneta não escrevia e ele riu-se dizendo que ela estava viciada. Era uma caneta de tinta permanente, lá lhe expliquei como funcionava. Conversas não elevadas para ter com o Papa logo da primeira vez. Mas foi muito divertido porque, no fim, sabendo que tinha acabado de o acompanhar na Viagem à Polónia, disse-me: “Olhe que eu viajei à Polónia, mas viajo pelo mundo inteiro”. E para mim isto foi como uma profecia. Desde aí nunca mais deixei de viajar com ele e fiz 51 viagens. Depois, durante as viagens, voltei a vê-lo porque ele gostava de falar com os jornalistas no avião. Aí não eram encontros privados, mas tive a oportunidade de lhe fazer perguntas, que já estão referidas nos meus livros. São momentos inesquecíveis.
(Para ler toda a entrevista, clique aqui)

Um artigo de D. António Marcelino

Toquem sirenes e repiquem sinos a rebate
Quando há cerca de trinta anos, ainda na euforia de uma revolução mal digerida, a obsessão de nacionalizar tudo chegava a querer nacionalizar também as pessoas, uma assembleia, a nível nacional, de pais de alunos das escolas do Estado, cresceu ao rubro e gritou aos responsáveis da política e do ministério: “Os nosso filhos não são cobaias. Basta. Os pais somos nós, não é o Estado!” O grito de revolta e de indignação fez tremer aqueles a quem se dirigia e as decisões, já anunciadas, pararam por ali.
A tendência estatizante no ensino não terminou, porque a semente ficou lá dentro de casa, ora calada, ora assomando no terreno, como que a experimentar se já pode avançar e impor-se, criando situações de facto, mais ou menos irreversíveis. Vemo-lo todos os dias e, agora, de modo mais concreto e assumido, com a protecção de forças que dão a cara e que, parecendo exteriores, germinaram dentro de um sistema que lhes é familiar.
Caiu-me, ontem mesmo, debaixo dos olhos o relato de uma intervenção do membro mais responsável da Confederação das Associações de Pais (Confap), que dizia, em entrevista a um canal de televisão: “ Temos de assumir, entre todos nós, que os filhos são biologicamente nossos, mas socialmente de toda a comunidade”. Assim parece querer defender que compete, sem mais, ao Estado definir o “modelo educativo” para os cidadãos. Aos pais restará apenas o papel de serem “produtores de crianças”. Uma tal opinião, bem pouco lúcida, contradiz, não apenas o bom senso, porque ninguém pode tirar aos pais o direito de educarem os filhos que geraram, mas, também, a Declaração dos Direitos do Homem e da Criança e, para não ir mais longe, contradiz a nossa própria Constituição.
Que o Estado vele pelo currículo escolar, bem pensado e definido, e o torne paradigma obrigatório para o conjunto da população e para o reconhecimento oficial de competências, está certo, contanto que não asfixie, mas favoreça, a mais séria capacidade inovadora de pessoas, grupos e instituições, testada no seu valor presente e futuro. Definir, porém, um “ modelo educativo” único e sem apelo, impô-lo aos educandos, aos pais e aos cidadãos em geral, é um abuso que se deve denunciar, sem meias palavras.
O Estado nunca foi nem pode ser um bom educador, porque não tem coração; e não há educação sem afecto. Lamentavelmente, muitos a quem se paga para educar, estão eles próprios ressequidos de amor e de afecto e muitos políticos, dos mais responsáveis a todos os níveis, dão, no seu dia a dia, um péssimo exemplo ao país pela sua linguagem, gestos, sentimentos e atitudes, mormente quando se referem aos seus adversários. O teimar em fechar as portas a quem tem o direito de as ter abertas para uma participação pessoal e responsável, denuncia fraqueza do sistema e medo de concorrência. O Estado, enquanto tiver a sua razão apenas na força do poder, não construirá nunca uma comunidade de pessoas livres.
A nacionalização das crianças em Moçambique, enviadas depois para Cuba e para o leste comunista, foi uma experiência infeliz e dolorosa, que deixou feridas que ainda não sararam. A estatização é uma bola de neve que não pára, se não é desfeita a tempo.
A preocupação é maior ao vermos quem tem obrigação de incarnar e defender os direitos dos pais e ajudá-los a capacitarem-se para um missão que não se aliena, reduzir estes a meros reprodutores de crianças. Só falta a recomendação de gerarem poucas, porque os tempos vão maus e o “deficit” não permite desperdícios…Toquem sirenes e repiquem sinos a rebate. É preciso que os pais acordem, vejam o que se está passando e gritem, de novo, que os seus filhos não são cobaias.

A escola pública não traduz o pluralismo educativo

No “PÚBLICO”, Mário Pinto, professor universitário, abordou a questão do Estado Educador, com a frontalidade que lhe é conhecida. Aqui deixo aos meus leitores um excerto do artigo que escreveu, como mais uma achega para a reflexão que se impõe sobre a educação. “Quando a educação se torna monopólio de Estado, sejamos claros, não estamos em democracia civil e cultural, mas sim numa (pseudo)democracia formalmente político-institucional e realmente ideológica. Pode o Estado não se definir às claras como Estado de Cultura ou luta cultural e como Estado-Educador; mas inviamente recusa-nos uma real democracia pluralista cultural e educativa. Não foi o actual Presidente da República que (a meu ver, muito bem) nos deu, no seu discurso do último 25 de Abril, a ideia de que há ilhas de totalitarismo na nossa democracia? Pois bem: em matéria de educação, o monopólio da escola pública não autónoma pode pretender autolegitimar-se em nome do pluralismo, do neutralismo, do igualitarismo ou de outro qualquer ismo, pouco importa. O que sempre será é uma ilha de totalitarismo de Estado na democracia pluralista. Porque uma Administração Pública de um sistema monopolista de escolas públicas não autónomas (como é o caso do ensino básico e secundário obrigatórios) nunca poderá traduzir o pluralismo educativo, porque não pode incluir pela afirmativa projectos pedagógicos de escola que sejam directamente escolhidos pelos cidadãos, únicos titulares constitucionais da liberdade de aprender e de ensinar: pais, alunos e professores.”

quarta-feira, 6 de julho de 2005

Um artigo de António Rego

A pura perda de tempo
Será patriótico falar de repouso num momento complexo em que todo o trabalho é pouco para a recuperação económica do país? Fará sentido falar de entretenimento quando parece que toda a sociedade mediática se atravessa na vida das pessoas com o livre trânsito do espectáculo e do divertimento, por vezes desbragado, como o primeiro dos bens?
Oportuno foi o tema nas Jornadas Culturais que decorreram em Fátima, onde parecia, de início, travar-se o choque entre cultura e entretenimento. E todavia foi interessante a reflexão trazida por alguns mestres que recordaram as olimpíadas gregas, os teatros romanos, os espectáculos de coliseu com gladiadores, jogos sanguinários, e a lista de divertimentos que, com algumas variantes, se repetem nos tempos modernos com os mesmos mecanismos lúdicos, culturais, massivos, espectaculares e, por vezes, morais e imorais.
E por aí adiante, nos tempos. As tertúlias, as conversas de corte e costura, os contos, fábulas, as acrobacias de circo ou atletismo, os livros, a música, a dança, as viagens, os jogos, a pausa. Há divertimentos nobres e vilões, outros, diferentes no invólucro, e próximos no miolo. O pão e o circo nunca estiveram longe das necessidades primárias do homem, não como interregno dos seus momentos mais nobres, mas como elemento integrante do seu todo. Assim sendo, é tão importante para o homem o lazer como o trabalho. Foi nessa integração que dançou David, ou que os peregrinos entoam canções no seu caminhar, e os soldados se exaltam ao toque das marchas militares e gritos de guerra. Os técnicos chamam-lhe catarse, descarga e impulso para o recomeço... Gostaríamos de mais saber o que foi o descanso de Deus no sétimo dia…
Não se trata duma patologia. O entretenimento, o repouso, o ócio são uma saudável distensão de tempo. Quando falamos de férias, juntamos por vezes uns ligeiros pós de auto-figurino ao interregno do trabalho. O importante é que sejam mesmo diferentes do trabalho. Para não termos de preencher dolorosamente uma agenda que nos tranquilize o laborioso cumprimento do repouso. A pura perda de tempo não é um vício. É uma etapa do recomeço. E um acto de cultura.

terça-feira, 5 de julho de 2005

Sentido de Estado dos políticos

Desde sempre me habituei à ideia de que os governantes devem ter “sentido de Estado”, isto é, gestos e atitudes compatíveis com os altos lugares que ocupam. Infelizmente, nem sempre isso se vê entre nós, com alguns políticos a comportarem-se como banais carroceiros, dando mau exemplo aos governados. Se quem está em cima se porta com grosseria, nunca pode esperar respeito e consideração dos governados. Em Portugal, temos um exemplo deste tipo de políticos que não medem as palavras e os actos, que não pensam no que dizem em público, que não pesam as consequências das afirmações ridículas que proferem perante tudo e todos. É ele o Presidente da Região Autónoma da Madeira, Alberto João Jardim, conhecido como um indivíduo desbocado e inconveniente, sobretudo quando fala Portugal continental e dos políticos do continente. E o mais curioso é que o faz, normalmente com a complacência e cumplicidade das mais altas figuras do Estado, que por norma se calam. Se o que ele diz fosse dito por um normal cidadão, é certo e sabido que seria preso na hora. Alberto João Jardim pode dizer, neste país de brandos costumes (em especial para a classe política), o que quer e o que lhe apetece, que nada lhe acontecerá. Até parece que os mais altos representantes do poder têm medo de o chamar à ordem. Agora, na habitual festa preparada para o Presidente da Madeira mandar as suas “bocas” ridículas e ofensivas, o homem resolveu mostrar que é xenófobo e racista, com um desplante incrível. Não quer na Madeira chineses e indianos, nem os de Leste, que estão a fazer concorrência a Portugal. Seria bonito se os emigrantes madeirenses, às centenas de milhares, fossem expulsos dos países em que se encontram a trabalhar e a viver. Face ao silêncio cúmplice de algumas autoridades políticas, o Alto-Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, o padre Vaz Pinto, resolveu repudiar as afirmações ofensivas e baratas de Alberto João Jardim, esperando-se agora que se cumpra a lei portuguesa, que proíbe a discriminação racial e étnica. Todos os portugueses que aprenderam a respeitar toda a gente, independentemente da sua raça ou nacionalidade, ficam à espera de alguém que, no nosso país, chame à pedra o Presidente madeirense. Fernando Martins

Moçambique, Filha-Pátria de Naguib Elias

Entre Nós” é um programa da Universidade Aberta para a 2:. Raquel Santos é o rosto de belíssimos momentos culturais. Por ali têm passado escritores, nomeadamente prosadores e poetas, e músicos, artistas plásticos, investigadores, entre outras pessoas ligadas a variadas formas de expressão. Hoje, assisti ao programa que nos ofereceu o pintor moçambicano Naguib Elias Abdula, já condecorado pelo Presidente Jorge Sampaio. De facto, foi bom ver e ouvir a simplicidade do artista, que não tem ambições de riqueza pessoal, mas cultiva uma certa doação aos outros. Em especial ao seu país, que baptizou de Filha-Pátria. Para o artista, Moçambique foi a sua Mãe-Pátria que tudo lhe deu, em especial de sensibilidade e de cultura que o marcaram para a vida. Agora, que o pintor já tem 50 anos de vida, chegou o momento de lhe retribuir o que dela recebeu, como se fora filha que é preciso ajudar. Gostei desta imagem que o pintor nos ofereceu da sua pátria, velha Nação e jovem Estado, que ainda não deixou a situação de um dos mais pobres países do mundo. E gostei, porque a sua lição pode servir-nos a todos, portugueses, como exemplo, que só exigimos de Portugal, como se exige de um pai ou mãe. O Pai-Portugal, ou Mãe-Portugal, a quem continuamos a pedir tudo e mais alguma coisa, como se não pudéssemos viver a nossa vida, como gente adulta e responsável. O Presidente John Kennedy, num dos seus célebres discursos, recomendou um dia aos americanos que não perguntassem aos EUA o que é que o país lhes poderia dar, mas o que é que eles poderiam oferecer ao seu país. Assim mesmo. Naguib veio mostrar, de forma muito simples mas muito concreta, que nada espera de Moçambique, porque chegou a hora de tudo lhe dar. Por isso, divulga o seu país, apoia jovens na sua fase inicial de criação artística, promove os artistas adultos, seus compatriotas, no mundo que frequenta, avança com iniciativas de ajuda aos que, doentes, não têm meios de subsistência, procura a aproximação entre Moçambique e outros países, lusófonos e não só. Bom exemplo, este de Naguib Elias. Fernando Martins

CUFC homenageado

Associação Académica da Universidade de Aveiro presta homenagem ao CUFC Assinalando o 27º Aniversário da AAUAv (Associação Académica da Universidade de Aveiro), no dia 29 de Junho, na sua sede, no Campus Universitário, com a presença dos Reitores da Universidade e autarquia aveirense, a Associação Académica prestou homenagem ao CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura), atribuindo-lhe uma Menção Honrosa de Mérito pelo serviço dinâmico e diário prestado à comunidade académica.
Lembre-se que o CUFC, criado a 25 de Março de 1987 (hoje com 18 anos de vida), é instituição da Diocese de Aveiro para responder aos desafios da Pastoral para o Ensino Superior, na área diocesana em geral, e especialmente no contexto de uma das mais dinâmicas e inovadores Universidades Portuguesas, que é a Universidade de Aveiro.

segunda-feira, 4 de julho de 2005

Um artigo de Sarsfiel Cabral, no DN

HIPOCRISIA
O Governo britânico, com destaque para o ministro das Finanças, Gordon Brown, pretende fazer da próxima reunião do G8, na Escócia, no dia 7, o início de uma nova era na ajuda ao desenvolvimento de África. Por isso se empenhou no perdão da dívida e na promessa de duplicar até 2010 a ajuda à África ao sul do Sara. Creio ser genuíno este interesse britânico pela economia africana, onde impera a fome. Mas importa lembrar algumas realidades.
A ajuda financeira nem sempre é a melhor forma de auxiliar os países pobres. Abrir-lhes o mercado dos países ricos, sobretudo no sector agrícola, seria bem mais eficaz. Depois, importa intensificar a ajuda no campo da saúde. Hoje, a miséria africana é também resultado dos milhões que ali morrem de sida, malária, etc. Os países ricos têm obrigação de financiar o acesso dos africanos a medicamentos caros.
Mas a minha maior dúvida sobre a eventual generosidade do G8 tem a ver com a actual atitude nos países ricos, nos Estados Unidos antes de mais, quanto à China e à Índia. Graças a políticas mais favoráveis ao mercado, estes países conseguiram grandes progressos económicos. Em larga medida venceram a fome. E agora exportam para as economias desenvolvidas, desde têxteis chineses a serviços informáticos da Índia. Mas parece, afinal, que o sucesso chinês e indiano é uma desgraça para as nações ricas... Se, por milagre (infelizmente improvável), o desenvolvimento de África desse um grande salto, daqui a anos teríamos muitos dos que hoje apelam (e bem) à ajuda aos africanos a reclamarem contra a concorrência "desleal" das suas exportações. Esta hipocrisia é também míope o êxito económico dos outros é bom para todos, é bom para nós.

SANTA SÉ contra casamento homossexual

Vaticano considera legalização do casamento homossexual como «derrota da humanidade»
A polémica em torno da legalização dos casamentos homossexuais em Espanha continua na ordem do dia no Vaticano, com o jornal “L’Osservatore Romano” a qualificar na sua uma derrota da humanidade”. O jornal do Vaticano afirma que a oposição da Igreja católica a esta iniciativa não é uma “guerra de religião”, pois a família não é algo imposto pela Igreja, “mas um património das grandes culturas”.“Causa incredulidade e amargura o tom triunfalista com os que alguns políticos e intelectuais ‘progressistas’ comentaram a lei que legaliza as uniões homossexuais, equiparando-as ao matrimónio heterossexual”, diz o artigo.“Não só os crentes, mas qualquer pessoa com senso comum, livre do preconceito, não pode deixar de reconhecer neste acto uma derrota da humanidade”, afirma “L’Osservatore Romano”.
(Para ler mais, clique aqui)

Monopólios são sempre perigosos

Numa democracia madura, não há nem pode haver monopólios. Os monopólios, seja em que área for, fazem sempre lembrar totalitarismos que cerceiam a liberdade individual e colectiva. Na educação, ainda se tornam mais perigosos, porque é a partir daí que se formam as consciências e se edificam as sociedades. É certo que as democracias têm de garantir o ensino e a educação a todos os seus membros, mas devem fazê-lo no respeito pelas convicções e opções de todos. Assim, e tendo em conta que os primeiros responsáveis pela instrução e pela educação dos filhos são os pais, o Estado democrático não pode impor, seja a quem for, um modelo único de escola, onde se ministra o que os partidos no poder entendem ser o mais correcto, que pode não ser o mais certo para os pais. Na impossibilidade de o Estado oferecer um modelo educativo a cada família, importa aceitar que outros o façam, respondendo, deste modo, às necessidades e aos gostos das famílias. Isto significa que, se uma família deseja para os seus filhos uma educação de matriz cristã, tem de haver liberdade de escolha, cabendo ao Estado a obrigação de apoiar esses projectos. Dir-me-ão que o Estado só pode oferecer um tipo de escola, porque não tem possibilidades de responder a todos os gostos. Ora aí é que está o problema que tem de ser ultrapassado, sob pena de termos escolas estatais com projectos educativos que possam ofender as convicções de muitos. Foi-me garantido que há escolas oficiais onde estão a querer banir os sinais religiosos. Há professores que estão a ser ameaçados com processos disciplinares, caso proponham aos seus alunos, por exemplo, actividades do âmbito das religiões que professam, num quadro da aula de Educação Moral e Religiosa. Isto significa que é proibido cultivar o sentido do religioso e do divino nos alunos, mas legítimo cultivar o indiferentismo e até, a partir daí, o ateísmo. Fernando Martins (Voltarei ao assunto)

Em férias, mas presente

A gozar um período de férias, direito que assiste ou deve assistir a todos os cidadãos, prometo que, sempre que possível, por aqui passarei. Os meus assíduos leitores merecem de minha parte este modestíssimo esforço, até porque já não me sinto bem sem nada fazer. Entretanto, quero desejar a todos umas boas férias, com muita tranquilidade e com muita alegria. No regresso, prometo dar conta do que vi, senti ou li no ambiente descontraído em que me encontro. F.M.

domingo, 3 de julho de 2005

Um poema de Cabral do Nascimento

ADEUS Manhãs serenas, pálidos Dias sem sol, enevoados céus, Opacas noites de perfumes cálidos, Vejo tudo isso e digo adeus. Frutos doirados, flores de estuante viço, Rochas, praias, ilhéus, Ondas do mar azul… Vejo tudo isso E digo adeus. Que importa que este fosse o meu desejo, Se o envolve a sombra de pesados véus? A vida existe para os outros. Vejo Tudo isso, e digo adeus. E porque é tarde, e estou cansado, sigo A estrada do regresso; e quando volvo os meus Olhos, além, vejo tudo isso e digo: Adeus!

Jornadas de Universitários Católicos

Posted by Picasa Padre Bacelar, D. António Carrilho e Lurdes Figueiral, do Conselho Nacional de Pastoral do Ensino Superior
Para redescobrir a cidadania Face ao conhecido e inquietante desinteresse da maioria dos portugueses pelas questões da cidadania, o Movimento Católico de Estudantes e o Serviço Nacional de Pastoral do Ensino Superior vão avançar com as IX Jornadas de Universitários Católicos. O tema, “Redescobrir a cidadania – Contributos para a mudança”, pretende alertar e mobilizar os estudantes do Ensino Superior, para que assumam, na vida, nesta área como noutras, uma maior co-responsabilidade.
O projecto desta iniciativa foi apresentado no sábado, em Fátima, na reunião do Conselho Nacional de Pastoral do Ensino Superior, que decorreu sob a moderação de D. António Carrilho, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família. Estiveram presentes, para além da Equipa Executiva, representantes de algumas dioceses do País e de Lares Académicos. As jornadas vão ter lugar em Leiria, de 17 a 19 de Março do próximo ano, sendo certo que o anúncio ora feito pretende, tão-só, sensibilizar os universitários para uma participação mais activa e muito mais empenhada, desde já. Nessa linha, urge que todas as estruturas estudantis, ligadas às Universidades e à Igreja Católica, descubram a importância desta iniciativa, no sentido de a divulgarem com mais consciência e com bastante eficácia. “Mudanças e consequências: rumos e valores da nossa sociedade” e “Cidadania – A nossa responsabilidade na mudança” vão ser as conferências que abrirão o debate de temas tão importantes como cidadania e associativismo, ecologia e economia, sociedade de informação e interculturalidade, participação política e os portugueses, conflitos e inquietações, entre outros. Em mesa redonda, o tema “Mudança, Cidadania e Ensino Superior” vai servir como motivo de reflexão, em ambiente sereno mas objectivo, na esperança de se encontrarem respostas para questões tão pertinentes como são estas, nos tempos que correm. Ainda haverá espaços para debater as respostas urgentes que a Igreja Católica tem de dar, face às mudanças que toda a gente reconhece como inevitáveis, e tendo em conta, sobretudo, os desafios que se nos põem, hoje, para dizer Deus. Fernando Martins

LER JORNAIS

Para muitos, e falo do que conheço, os jornais só nos trazem e mostram tragédias, dramas, tristezas, desgraças. Mas não é assim. Se corrermos com olhos bem abertos as suas páginas, com preocupações positivas, descobriremos sempre coisas bonitas e agradáveis de ver e de ler. Do “PÚBLICO” de hoje, transcrevo, para oferecer aos meus leitores, um parágrafo do artigo de Frei Bento Domingues. “Diante do mistério de Deus, toda e qualquer fórmula humana não pode ser mais do que um balbuciar ligado a determinadas condições linguísticas, históricas e filosóficas. As fórmulas podem oferecer pistas úteis, talvez mesmo indispensáveis, para orientar os nossos passos para Aquele que chama por nós para além de nós. Gosto do Credo do padre Serge de Beaurecueil, alma da sua impressionante liberdade, manifestada ao longo desta aventura: ‘Para falar como o profeta Jeremias, encontrei Alguém, o Deus vivo, que me seduziu. Não acredito nas ideologias, mas creio em Jesus de Nazaré. Não creio na moral, mas creio no Espírito Santo, guiando, a partir de dentro, os meus passos. Não creio possuir a Verdade que do alto da minha superioridade distribuiria aos outros. Desejo apenas, com eles, muitas vezes por eles e através deles, passo a passo, dia após dia, caminhar para ela. Que seja ela a possuir-me. Por maior que possa ser a obscuridade da nossa noite, creio por eles e por mim, com todo o meu ser, na radiosa Estrela da manhã’.”

BOAS FÉRIAS - 2

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O prazer de ler As férias, para serem bem vividas, têm de nos levar a sentir e a experimentar alguns prazeres. Na passada semana abordei o prazer de conviver e hoje sugiro o prazer de ler. É certo e sabido que muitos compram livros ao sabor das propostas das editoras e dos críticos. Também os compram porque os amigos lhes falaram das suas saborosas leituras e dos autores das suas predilecções. Depois, há livros que ficam à espera de serem lidos, meses e meses e até anos. As férias podem ser, pois, excelentes oportunidades para todos pormos as leituras em dia. Claro que não vamos, de modo nenhum, passar os dias todos das férias a ler, porque a vida não se faz só de leituras. Mas, se houver boa vontade, podemos cultivar o prazer de ler, lendo com regra os bons poetas e prosadores portugueses, que os temos, felizmente. Não vou aqui e agora sugerir nomes e livros, porque seria impossível agradar a toda a gente. Neste meu espaço, aliás, tenho escrito sobre um ou outro escritor, sobre um ou outro livro, dos que mais me sensibilizaram no momento e nas circunstâncias.
Há horas para tudo, se quisermos. Horas para o romance, horas para a poesia, horas para o ensaio, horas para o religioso, horas para o espiritual, horas para o bíblico, horas para a Bíblia, horas para o teológico, horas para o biográfico, horas para o filosófico, horas para a crítica literária, horas para o comentário sobre o que se leu, horas para o jornal e para a revista, horas para tudo, afinal. O que é preciso é que a leitura tenha um espaço próprio nas nossas férias. E se tivermos em conta que os livros são, sem sombra de dúvidas, dos nossos melhores amigos, então mais razões haverá para lhes dedicarmos parte significativa dos tempos livres, que os temos, decerto, nas férias deste ano. Fernando Martins

sábado, 2 de julho de 2005

Em Fátima, com gente solidária

Hoje, em Fátima, onde participei num encontro sobre Pastoral do Ensino Superior, encontrei um médico conhecido e uma enfermeira amiga. Não foram participar em encontros de formação, mas estavam ali para prestar auxílio aos peregrinos que, neste sábado escaldante, foram encontrar-se com a Mãe de Deus.
Risonhos, brincalhões até, mostravam uma alegria contagiante, ou não estivessem animados do verdadeiro espírito de serviço, de doação aos outros, em especial aos que mais precisam. E pelo que fiquei a saber, fazem desta actividade um hábito regular, conscientes de que a felicidade autêntica está mais no dar do que no receber.
Quando encontro gente generosa e disponível, como aconteceu neste sábado, não posso deixar de reconhecer que, afinal, neste mundo de tanto egoísmo, ainda há muitos homens e mulheres que são capazes de deixar tudo, em especial fins-de-semana carregados de futilidades, férias desgastantes e sem sentido, reformas apenas geradores de ociosidades castradoras, tempos livres cheios de nada, simplesmente para ajudarem quem necessita.
Quando regressei a casa, não pude calar-me, porque é imperioso dizer que o mundo continua a gerar, realmente, pessoas que sabem amar.
Fernando Martins

Dívida moral para com África

O combate à pobreza africana é uma dívida moral que os países ricos têm para com o continente negro
O combate à pobreza africana é “uma dívida moral que os países ricos têm para com o continente negro. Primeiro, depauperaram-no das suas gentes através da escravatura. Depois, roubaram-lhe as riquezas naturais através da colonização. Agora, estão a levar-lhe os melhores cérebros. Mas a reparação é também em proveito próprio, pois traduz-se num investimento na segurança global. A pobreza gera migrações ilegais, violência e terrorismo” – denuncia o Pe. José Vieira, no último editorial da Revista «Além-Mar».
África é um continente rico em recursos naturais e humanos para “poder sonhar com um futuro melhor. Hoje, 280 milhões de africanos já podem encarar o futuro com esperança, mas continuam a precisar de ajuda para combaterem a pobreza, a malária, a sida e a tuberculose. Se é algo que é devido a qualquer população de um qualquer continente, em relação aos africanos a nossa responsabilidade é maior” - refere o sacerdote Comboniano.
Fonte: ECCLESIA

Concerto contra a POBREZA em ÁFRICA

Posted by Picasa Solidariedade só possível com gente solidária
Em dez palcos do mundo (Londres, Versalhes, Berlim, Roma, Filadélfia, Barrie, Tóquio, Joanesburgo, Moscovo e Cornualha), decorreu, em simultâneo, um concerto planetário para combater a pobreza em África. É garantido que amanhã, daqui a um mês e mesmo nos próximos anos a pobreza persistirá e milhões de pessoas acabarão por morrer na extrema miséria. Isto não significa que seja de condenar a iniciativa que há-de levar outros milhões de seres humanos a concluir que urge construir uma nova ordem social, que, de uma vez por todas, consiga matar a fome a quem a tem no dia-a-dia.
Mas se é verdade que todos concordam com a urgência de se darem passos firmes, no sentido de erradicar a pobreza, que não deixa de nos envergonhar a todos, também é justo admitir que o egoísmo ainda é, infelizmente, uma marca indelével dos tempos em que vivemos.
Como é que queremos acabar com a fome e com a pobreza extrema em África, se não somos capazes de dar pão aos que o não têm, quantas vezes perto de nós? Comecemos, pois, pelos pobres que há entre nós e logo a seguir, mas mesmo logo a seguir, olhemos para os africanos pobres, muitos dos quais falam e rezam em Português.
Entretanto, não deixemos de apoiar as instituições que estão no terreno a lutar para que muitos sobrevivam, enquanto o pão não chega. Afinal, a solidariedade universal só é possível com gente solidária, generosa e com capacidade para amar.
Fernando Martins

sexta-feira, 1 de julho de 2005

Luta contra a pobreza global

Dia Internacional da Banda Branca, símbolo da luta contra a pobreza no mundo Celebra-se hoje, 1 de Julho, o Dia Internacional da Banda Branca, símbolo escolhido para representar a luta contra a pobreza no mundo. Em Portugal pretende-se mobilizar a sociedade para a acção em torno da luta contra a pobreza e para os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). A campanha “Pobreza Zero” (ver em www.pobrezazero.org) quer alertar os políticos que passados 5 anos da assinatura da Declaração do Milénio as promessas continuam por cumprir. Por isso, sob o lema “Pobreza Zero”, a campanha apela “à sociedade para que se mobilize, actue e pressione os líderes políticos, e exija, como primeiro passo para a erradicação da pobreza, o cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”. Em cada 5 segundos que passa, morre uma criança de fome. “A persistência da pobreza e da desigualdade no mundo de hoje não tem justificação” – refere o site da campanha.
No ano de 2000, 189 chefes de Estado e de Governo assinaram a Declaração do Milénio que levaram à formulação de 8 objectivos de desenvolvimento específicos, a alcançar entre 1990 e 2015. Estes objectivos, chamados os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), podem ser resumidos da seguinte forma:
1- Reduzir para metade a pobreza extrema e a fome.
2- Alcançar o ensino primário universal.
3- Promover a igualdade entre os sexos.
4- Reduzir em dois terços a mortalidade de crianças.
5- Reduzir em três quartos a taxa de mortalidade materna.
6- Combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças graves.
7- Garantir a sustentabilidade ambiental.
8- Criar uma parceria mundial para o desenvolvimento.
Poderá obter todas as informações sobre a luta contra a pobreza global, sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e sobre a forma de participar activamente nesta iniciativa internacional em www.pobrezazero.org
Fonte: ECCLESIA

BÍBLICA: onde a Bíblia se faz vida

Posted by Picasa Não posso deixar de recomendar a sua assinatura
Ao completar meio século de existência, a revista BÍBLICA bem merece uma referência neste meu espaço, ou não lhe estivesse eu ligado desde há quase 45 anos. Foi nela e com ela que me aproximei mais da Palavra de Deus, sendo cada número motivo de reflexão e de aprofundamento das verdades que me sustentam. Confesso que nem sei que mais admirar. Se a análise aos textos bíblicos com o contributo de especialistas, se a divulgação de curiosidades do Povo de Deus através dos séculos, se o esclarecimento de dúvidas a quem as tem, se as ilustrações sempre de grande qualidade, se as reportagens sobre temas oportunos, se as notícias ligadas à Sagrada Escritura e à Terra Santa. Tudo me merece atenção, tudo me leva a meditar, tudo me ajuda a compreender o mistério de Deus em cada um de nós e no mundo. O último número, o 299, referente a Julho-Agosto, com textos sobre João Paulo II e Bento XVI, não deixa de nos oferecer curiosidades que vale bem a pena ler e reler. Ninguém me encomendou o sermão, mas não posso deixar de recomendar a sua assinatura (7.5 euros, por ano, para Portugal). Para isso, basta escrever para Difusora Bíblica, Rua São Francisco de Assis, Apartado 208, 2496-908 FÁTIMA. F.M.

Um artigo de Alexandre Cruz

Posted by Picasa Univer(sal)idades Teilhard de Chardin,
homem universal 1. Diz-se que vivemos tempos de parcialidade, o provisório é quase o definitivo. De repente, do “ouviu-se dizer” passa-se a “aconteceu”. Até do problemático caso tipo do “arrastão da praia de Carcavelos”, quando alguém disse que “eram p’raí uns 500”, então passaram a ser mesmo esses. Uma certa desagregação social como atitude de espírito, que cria permiabilidade para as meias abordagens, faz tantas vezes do sensacionalismo a real notícia. As próprias narrativas históricas, da história do Ocidente à história de Portugal vão-se esbatendo, perdendo-se a memória do colectivo que unificava. Afinal, o que não é conversado é esquecido! Não se dá por isso, e isto mesmo faz parte do fenómeno, mas a cultura, na sua essência, está a fugir, a transferir-se para um novo paradigma de referências (com ou sem elas) em que a tecnologia está-se a substituir à dimensão relacional, estamos “entre” (qualquer coisa). Um “entre” de anos a fio com horizonte agravado, “ivado”, queimado no Portugal que temos de amar. Os pais e os filhos, os educadores e educandos, para todos o tempo que foge vai, também, limitando uma experiência humana conversada, saboreada, que saiba caminhar para uma verdadeira síntese dos valores universais assimilados. As grandes mensagens não passam, ou passam pouco. Tal como a amizade se alimenta com gestos e palavras, assim este crescimento global da pessoa exigirá caminho, processo, para além do intelectual; é importante navegar nas águas da própria existência onde a procura do sentido para a vida e de uma experiência humana saudável preencha de luz toda a pessoa. Por outro lado, também uma super-ocupação e necessária especialização dos nossos dias faz das pessoas especialistas interessantes de certas matérias mas torna-as incapazes de comunicar para além da sua área. Dinâmicas como o “espírito crítico construtivo” e a “cultura geral” serão certamente dos elos fundantes de unidade social. Se com tanto conhecimento não somos capazes de, todavia, conseguir plataformas comuns de pensar e viver em sociedade acaba por ser infecundo e inconsequente o projecto da proclamada sociedade de informação e comunicação. A cultura faz a síntese entre o conhecer, as máquinas e o viver, e a este respeito, de cultura, estamos bem aquém do ideal. Habitar a nossa época da modernidade deverá fazer de todos não espectadores mas interlocutores e actores cívicos que buscam ideias universais. Estas são o caminho óbvio da identidade dos grandes líderes sociais (que escasseiam), daqueles que (ainda que muitas vezes solitários) arriscam mudar o rumo da história.

Ousou criar pontes ente a Fé e as Ciências

2. É neste contexto que se eleva, entre tantos outros, uma personalidade ímpar que destacamos. Não muito amada pelos seus contemporâneos, nomeadamente pelo meio eclesiástico. Pierre Teilhard de Chardin, em conferência (projecto “derivas”) do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro mereceu justa homenagem. De origem francesa, nasceu a 1 de Maio de 1881. Percorreu caminho de cientista paleontólogo, filósofo, teólogo e padre Jesuíta. Foi também geólogo e, de certa forma, antropólogo social. Procurou, em tempos de reacção antimoderna da Igreja, e em contextos de existencialismo asfixiante, explicar, desenvolver inovadora linha de pensamento especulativo sobre toda a realidade criada. Como esferas da evolução do homem e do mundo, na sua magnífica obra “Fenómeno Humano”, apresenta: hilosfera (matéria); biosfera (vida); noosfera (inteligência) e logosfera (razão). Apresentando esta evolução partindo da matéria, refere que estamos na noosfera. Todavia não poderá o ser humano parar aí: diz ele que “um dia o homem vai transcender a noosfera” (fase da inteligência), e chegar à logosfera (razão absoluta). Teilhard oferece-nos uma chave de leitura de tudo. Procurando escapar a acusações de panteísta (moldar Deus demais a ponto de O “usar”, diminuir nas “coisas”…), como que nos coloca na escada do Absoluto, possibilitando uma ponte tão urgente quanto necessária entre a Fé e a Ciência. Nesta procura sempre convergente de toda a realidade, no seu dizer, o ponto de atracção supremo é o próprio Logos, Jesus Cristo. No seu discurso de uma cosmovisão integrada propõe a elevação de tudo até ao que ele chama de Cristo Cósmico; ou seja, nada anda ao acaso, o tempo, a história, os astros, a terra, as coisas, tudo tem um sentido, significado, uma meta…tudo vai convergindo para a razão absoluta, que atinge a sua perfeição na Pessoa Divina, por isso há uma dinâmica imparável de Cristificação do Universo. Bom, desçamos à terra! Independentemente da sua reflexão de fronteira, considerada por alguns de herética, mas citada pelos papas de Paulo VI ao actual, o certo é que foi uma profecia de reflexão que vai proporcionando, um pouco por todo o mundo, momentos de Jornadas, Conferências no contexto do cinquentenário da sua morte (10 de Abril de 1955). O mesmo já decorrera em 1991, no centenário do nascimento do teólogo que ousou criar pontes explícitas entre a Fé e as Ciências. Para que não se perca o comboio do pensamento contemporâneo haverá uma nova estrada teológica a abrir. Theilard é oportunidade de repensar a ciência que precisa da luz transcendente e a fé que carece de uma inclusão do conhecimento actual (ciências humanas e hoje as neurociências) no processo da revelação divina. Claro, desta fusão, não anuladora de identidades, virá certamente uma nova linguagem sobre a fé mas também a conjuntura para revisão de alguns dogmas (?). Que coragem e profetas sofredores capazes de tamanha obra?
Theilard, silenciado, não pode publicar suas obras… O certo é que para o mundo global da ciência um dia podem ser mil anos, e as instâncias éticas que estão no terreno ou nas pontes explícitas com o mundo científico, enquanto é tempo, propõem urgente actualização das linguagens da fé, a fim de não se perder a significatividade do próprio discurso. É que hoje, e ainda bem, não chega trazer, sensibilizar as pessoas para o discurso antigo… É preciso ir ao encontro e sondar a percepção e os sentidos dos nossos dias, e aí propor a verdade de sempre.