sábado, 16 de junho de 2007

Um livro de Senos da Fonseca

“ÍLHAVO – Ensaio Monográfico:
Séc. X ao Séc XX”




HISTÓRIA cheia de FACTOS…
e de GENTES…
que fizeram a HISTÓRIA DE ÍLHAVO



Ontem, na Livraria Bertrand, no Fórum de Aveiro, foi lançado o livro “ÍLHAVO – Ensaio Monográfico: Séc. X ao Séc XX”, do ilhavense Senos da Fonseca. Encarregou-se da apresentação da obra o antigo presidente da Câmara Municipal de Aveiro Alberto Souto de Miranda, que ajudou os presentes a recordarem factos históricos e curiosidades ligados a Aveiro e Ílhavo, cidades irmãs, que, por uma razão ou por outra, ou por razões nenhumas, tantas vezes andaram de candeias às avessas. Trata-se de uma obra extensa, com as suas 600 páginas a convidarem-nos a uma leitura demorada e meditada.
Apenas li alguns excertos, a correr e movido pelo gosto de conhecer depressa o que Senos da Fonseca descobriu e tornou público, com todo o seu amor à terra que o viu nascer e onde tem contribuído, com muito empenho, para o seu desenvolvimento, através de inúmeras intervenções cívicas, políticas, culturais, desportivas e sociais.
O seu trabalho, como o autor sublinha no prefácio, é tão-só “o diário de bordo de uma viagem através dos tempos, embarcado como moço na grande aventura das gentes desta terra” de Ílhavo. Aventura que começou, como bem recorda, “ainda Portugal não tinha nascido”.
Mais adiante, deixa uma dúvida: “Não sei se as novas gerações vão procurar o futuro baseando-se numa identidade que veio de trás, de muito longe.” E deixa uma esperança: “Quero acreditar que sim… À cautela, deixo-lhes o meu testemunho do que fomos, não para que acreditem, mas para que o discutam. Para que esta terra não seja só lugar de estar, mas de ser.”
Senos da Fonseca oferece a todos os ílhavos, neles incluindo os gafanhões, um trabalho que vai servir de estudo a todos quantos se quiserem debruçar para mais e melhor conhecerem esta terra maruja, quer por simples curiosidade, quer por razões académicas. Com muitas e expressivas fotos, bem documentada, com citações oportunas e enriquecida por uma bibliografia profusa, esta obra revela, para além de tudo o mais, uma minuciosa investigação, sem, porém, fugir a questões polémicas, reflectindo, aí, a sua opinião.
Claro que hoje e aqui apenas faço referência à publicação do livro, na esperança de que os ílhavos o leiam. Estou certo de que outras edições lhe hão-de seguir. Como outros estudos deste autor ilhavense hão-de vir a lume. Uma coisa é certa: voltarei ao assunto, como gafanhão que me prezo de ser, com outras referências ao que escreveu Senos da Fonseca, neste seu trabalho de muito fôlego.

Fernando Martins

COIMBRA





PASSEAR POR COIMBRA
É UM PRAZER

Passear por Coimbra é um prazer. Sempre que lá vou, por isto ou por aqui, sinto-me transportado a um lugar de peregrinação, onde em cada esquina há motivos para recordar e sinais de um passado histórico e cultural muito expressivo. Por lá viveram e estudaram muitos vultos da nossa história, desde políticos a artistas de muitas facetas, desde poetas a filósofos, desde escritores de muitas expressões a músicos, entre tantos outros.
Ontem andei por lá, sempre a olhar na esperança de me confrontar com esses sinais, mas a pressa não me deixou. De longe, no entanto, do outro lado do Mondego, o Basófias de sempre, lá para as bandas de Santa Clara, olhei para a cidade, com trânsito e mais trânsito a perturbar a nossa tranquilidade e a exigir a nossa atenção. Foi pena não ter podido passar pela velha Universidade, pela Sé Velha, pelo Jardim Botânico, pelo Museu Machado de Castro, pela conhecida Almedina, onde há dias alguém me ofereceu o livro África Acima, de Gonçalo Cadilhe.
Do outro lado, então, lá registei uma imagem que hoje ofereço aos meus leitores, com votos de que passem um bom fim-de-semana.

Um artigo de Jorge Pires Ferreira, no CV

50 perguntas sobre Jesus
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Jesus era solteiro, casado ou viúvo? Que afinidades políticas tinha? Qual a relação de Jesus com Maria Madalena? Estas e mais 47 perguntas obtêm resposta nesta obra
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Dizia Fernando Pessoa que “o mundo, à falta de verdades, está cheio de opiniões”. Podemos acrescentar que, à falta de verdade, está cheio de confusões. Veja-se o caso de Jesus. Sobre a figura central do cristianismo têm surgido, sucessivamente, as mais diversas teses, umas claramente estapafúrdicas, outras com aparência de ciência mas promovidas com finalidades interesseiras, e poucas com rigor histórico e científico, que levem realmente o leitor (ou ouvinte ou espectador) a aumentar os seus conhecimentos sobre a pessoa que está na origem da fé de boa parte da humanidade. Recordo algumas dessas teses. Colecciono-as com curiosidade e como sinais de que o Filho do Homem continua a ser motivo de escândalo e de especulações, de divisão. Di-zem elas que Jesus andou a aprender budismo na Índia, que pertencia à escola filosófica dos cínicos, que foi para o Egipto a aprender filosofia, que era homossexual, que era casado com Maria Madalena, que teve filhos, que não caminhou sobre as águas, mas sobre blocos de gelo, que tinha sido essénio, que era zelota, que como carpinteiro fabricava cruzes para os romanos, que não morreu mesmo mas entrou num espécie de estado de coma, que depois de morto foi levado para a Inglaterra por José de Arimateia, que foi sepultado em Jerusalém e ainda lá estão os ossos, que...
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Leia mais no CV

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Arquivo Distrital de Aveiro


À CATA DAS RAÍZES

Há dias fui com um amigo e familiar à cata das nossas raízes. O Manuel Olívio, um apaixonado por estas coisas, gosta de conhecer quem esteve na base dos seus genes. Lê, procura aqui e ali, conversa com quem possa ajudá-lo e sente um prazer enorme quando descobre pontinhas do "iceberg" da sua família, com raízes pelas Gafanhas e terras circunvizinhas. E mais do que isso, consegue incutir em mim esse gosto e esse prazer de catar e adivinhar o nosso passado, com muito de comum. Honra lhe seja feita.
Nessas andanças, fomos duas vezes ao Arquivo Distrital de Aveiro, que assentou arraiais em Aradas. Gentilmente acolhidos, logo as funcionárias, atentas e prestáveis, puseram à nossa disposição os documentos-base, que cotejámos com curiosidade e cuidado. Com curiosidade, como quem busca um tesouro perdido algures, nem sabemos onde. Com cuidado, porque a antiguidade e a fragilidade dos documentos a isso aconselhavam.
A primeira impressão com que fiquei resume-se nisto: há aqui tanta coisa que a todos diz tanto respeito, e poucos se aventuram nesta procura das suas raízes.
Pois é verdade. E se soubermos, como decerto muitos saberão, que será sempre importante conhecer quem somos e donde viemos, para melhor construirmos o futuro nos legados que quisermos deixar aos nossos descendentes, então há que perder o receio e marcarmos lugar no Arquivo Distrital de Aveiro. Há sempre uma mesa e uma cadeira à espera de quem chega. Não faltam funcionárias simpáticas e documentos que nos fazem vibrar.

Fernando Martins

Um artigo de D. António Marcelino

O ESTALAR DO VERNIZ
E O PENSAMENTO ÚNICO
Não sou leitor assíduo de Daniel Sampaio e, sem que isso lhe retire o mérito que tem, não o vejo como guru que sabe tudo sobre educação de adolescentes e jovens, nem como mestre incontestável das melhores teorias para os compreender e orientar. Também o li e comprei alguns dos seus livros. Opinião formada, agora sou observador. Em educação não se pode nem deve esperar tudo de uma pessoa só, ainda que seja professor universitário. Os problemas da educação são complexos e não são todos do foro médico e psiquiátrico. Situação familiar, contexto social, instabilidade da escola, uso livre das novas técnicas de comunicação, permissividade alargada, crise de modelos e referências, cedência dos mais velhos, diálogo geracional raro, perda de sentido na vida, janelas fechadas ao transcendente e à esperança, tudo foi tornando o mundo da gente a educar um mundo com mais problemas que diagnósticos lúcidos e soluções à vista. Quem quiser ter êxito neste campo, tem de ser humilde para acolher e escutar, pondo de parte a suficiência intelectual e o afã das palmas e dos êxitos. Não estranhei que a Ministra da Educação, ao constituir uma comissão nacional encarregada de propor caminhos para a educação sexual nas escolas, tenha escolhido Daniel Sampaio como seu coordenador. Estas escolhas têm sempre a sua lógica. Porém, não é de aceitar, sem mais, que a proposta apresentada deva ser obrigatoriamente considerada como a única opinião válida e o caminho indiscutível para um problema urgente e grave e de solução difícil. Ao falar-se de educação sexual nas escolas, fala-se de pessoas, ambiente, conteúdos, agentes, meios e instrumentos. Neste, como noutros campos melindrosos, não se podem esquecer, nem menosprezar, elementos importantes para a sua compreensão e resposta, como são os educandos concretos e os intervenientes naturais e óbvios, aos quais esta função primariamente compete, os pais e a família. O Estado não se pode considerar, como está a acontecer, dono das crianças, dos adolescentes e jovens que frequentam as escolas estatais. Por vezes, forçado por lobbys, que no ensino escolar abundam, determina e exige. Para a execução, não lhe faltam mandatários que esgotam o seu saber e acção, controlando o que se faz e se deve fazer. Muitas vezes sem respeito por quem está em campo. Um critério os domina e orienta: o que manda a senhora ministra e os senhores secretários de Estado. Muita gente viu há dias um programa na televisão pública, sobre a educação sexual nas escolas. Teve algum mérito como estratégia, mas pareceu querer dizer ao país que, neste campo, as coisas só são aceitáveis como diz e quer a sábia comissão e o seu presidente. Foi este que, aos olhos atentos dos telespectadores, abafou opiniões contrárias, não se coibindo de puxar, a despropósito, pelos galões de professor, chegando a ser deselegante para quem opinava de modo diferente, nomeadamente uma colega de mesa com reconhecido valor nacional. Tão nervoso ficou por se ver confrontado, que lhe estalou todo o verniz. Eu não esperava isto. E tinha direito a não o esperar. Interroguei-me sobre o que se pode esperar de sábios de opinião única, que não se controlam, nem aceitam opiniões e considerações alheias. Sou por uma educação sexual séria, que não se reduza a mera informação, ajude a crescer harmoniosamente, amadurecer, discernir e optar, conte com os pais, formando-os para isso, se for caso. O ME tem de dizer se os pais contam ou não para o governo. Não pode pensar que crianças, adolescentes e jovens, em formação, não passam de terra de ninguém e massa informe, a moldar segundo modelos e valores preestabelecidos. A educação escolar, objectivos pretendidos, conteúdos veiculados, modelos propostos, estratégias escolhidas, está a ser problema grave. Há gente nas escolas, com valor e competência, a dizer que vamos por caminho errado. O ME não a ouve, nem a quer ouvir. Mas as crianças não pertencem ao Estado, nem podem ser suas cobaias. Educar é arte, arte difícil. Nem as pessoas são coisas, nem os artistas se geram por decreto.

Um artigo de João Pereira Coutinho, no EXPRESSO

OS ANJOS DO SEXO
Nelson Rodrigues costumava dizer que 'o sexo é uma mijada'. A frase sempre despertou acusações de boçalidade, sobretudo disparadas por boçais com sérias pretensões de sofisticação urbana. Lamento discordar. Lendo o homem, e sobretudo o teatro do homem, entende-se facilmente que o sexo só é uma 'mijada' quando ele surge despojado de qualquer dimensão privada e humana. Para a restante criação animal, um veterinário basta para ensinar os 'mecanismos' da 'cópula' e os 'resultados' da 'ejaculação'. Mas entre seres humanos, o sexo não é uma questão técnica; é também, ou sobretudo, uma questão de descoberta e intimidade, que nenhuma escola pode, ou deve, ensinar. Fatalmente, o dr. Daniel Sampaio não concorda com a tese e na passada semana, em espectáculo televisivo digno de registo, o psiquiatra Sampaio mostrou ao país o que andam os nossos 'veterinários' a fazer com as aulas de educação sexual. Primeiro, houve um pequeno filme de animação, intitulado 'Então é Assim!' (a frase típica com que o analfabeto funcional gosta de iniciar a hostilidades), e que pelos vistos tem ampla penetração escolar. A coisa consiste em dezassete minutos de 'National Geographic' para crianças, com a única diferença de que os animais, desta vez, são os pais delas. Depois, o dr. Sampaio tratou de anunciar, em insulto directo a uma colega de profissão ali presente, que qualquer discórdia perante o filme só mostrava os 'traumas' profundos que existiam na cabeça de quem discordava. O gesto não mostrou apenas a elegância do dr. Sampaio, um verdadeiro exemplo no trato com o sexo oposto. O gesto ilustrou bem como o Estado português entregou a cabeça das crianças à tolerância destes sábios. O bom senso, que normalmente se aprende em casa, aconselharia a fugir deles enquanto as cabeças dos petizes estão intactas. Mas é provável que isto seja apenas o meu trauma profundo a falar.
: Fonte: EXPRESSO DE 9 de Junho de 2007

Ares da Primavera



APROVEITANDO UMA ABERTA...
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Com os ares da Primavera a tornarem-se raros, que o tempo de chuva e ventoso não perdoa, lá consegui fotografar o canal central que ladeia o Fórum da cidade. Um passeio pelo canal, e talvez pela ria, deve ter proporcionado a estes turistas paisagens nunca por eles vistas. Registei o acontecimento, em jeito de estímulo a quem não costuma passar por Aveiro. Venham até cá, que há muito para ver e para saborear, mesmo que a Primavera teime em não ficar.



Um artigo de António Rego

DARFUR - O QUE É ISSO?
Voltamos à questão: informar motiva para as causas ou gera saturação e indiferença? Estaremos na eminência desse paradoxo que é saber mais sobre o mundo e mais indiferentes a ele ficarmos? Há palavras e lugares que nos cansam: Iraque, Afeganistão, Sudão, Darfur… E há tantos esquecidos… Como poderemos repousar o olhar num ponto, quando tantos e tão trágicos nos roubam permanentemente o sossego? Sudão, Darfur. Uma guerra civil no coração de África, entre agricultores negros e pastores árabes. Em quatro anos morreram mais de duzentas mil pessoas, dois milhões e meio ficaram deslocadas e quatro milhões carecem de ajuda. Há operações humanitárias montadas no local pela ONU. A matriz do conflito é política pois o governo do Sudão alimenta uma violência implacável de contra-revolta. Isso quer dizer que a comunidade internacional tem de pressionar quem gere a violência e ofende os direitos fundamentais do povo, a vítima primeira e última de todo este morticínio organizado. É aqui que a informação pode acordar para uma acção concreta. Tão importante como motivar o cidadão sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa. A consciência, o debate, a pressão, a intervenção são uma arma pacífica, justa e eficaz num mundo que já tem bons mecanismos internos de promoção de justiça e paz. Por isso saudamos e integramos a iniciativa da Missão Press (imprensa missionária) pedindo a resposta de todos os que acreditam em Deus e no homem. Não acabam aqui as causas humanas. Mas é dever grave dos cidadãos acordar sobre as realidades inquietantes do nosso planeta. E esta é considerada pelas Nações Unidas “uma das piores crises da humanidade”. Com o peso da violência e da morte com que se desenrola não permite que alguém fique tranquilamente adormecido. E na hora em que Portugal assume a Presidência da União Europeia temos, como cidadãos, uma responsabilidade acrescida perante o que se passa no Darfur. Porque temos capacidade de intervir no panorama internacional. Como escreve um missionário do Sul do Sudão “cabe à União Europeia liderar uma ofensiva diplomática que force Cartum a encontrar uma solução política num Acordo Compreensivo de Paz entre as partes envolvidas…”

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Recordando


ALEXANDRE, O GRANDE
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Todos os dias, no segundo caderno, P2, na segunda página, o PÚBLICO recorda um facto histórico, um acontecimento relevante, uma pessoa, uma data célebre. Hoje, trouxe à memória de quem gosta de História Universal Alexandre, o Grande, falecido, segundo rezam as crónicas, em Junho de 323 a.C. Uns dizem que em 10 de Junho, outro em 11 e alguns em 13 do mesmo mês.
Seja como for, o que importa é lembrar esta personagem histórica, com tanto de mitológica, que criou um dos maiores impérios da antiguidade - do Mediterrâneo Oriental à Índia. Os historiadores, não sabendo bem ao certo o dia exacto da sua morte, sabem, contudo, que morreu em Babilónia. Causas da morte, aos 33 anos, depois de guerras em que o seu génio tanto se distinguiu, também não são garantidamente conhecidas. Depois de o seu exército se ter recusado a avançar para Oriente e de ele próprio ter enfrentado e sentido a contestação, faleceu, ao que se supõe, de malária. Aquele que se considerava eterno, qual deus imortal, faleceu com a idade de Cristo, 323 anos antes de Jesus ter vindo para o meio dos homens e mulheres de todos os tempos.

Ares da Primavera

Ponte da Barra, com pôr do sol.
Foto de Ângelo Ribau



PREPARE-SE PARA OS DIAS
MAIS LONGOS DO ANO




Prepare-se para os dias mais longos do ano e para a sua incom-parável claridade. Preste atenção a tudo isso. Mais: Preste atenção aos outros, ao que lhe dizem, ao que vê, ao mundo, às casas, às cores, aos nomes das pessoas; nunca mais se esqueça de um aniversário; nunca mais tenha medo de olhar os outros de frente.
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Fonte: Agenda EXPRESSO

Um Santo Popular


SANTO ANTÓNIO DE LISBOA



Santo António nasceu em Lisboa, provavelmente a 15 de Agosto de 1195, numa casa junto das portas da antiga cidade (Porta do Mar), que se pensa ter sido o local onde, mais tarde, se ergueu a Igreja em sua honra.
Tendo então o nome de Fernando, fez na vizinha Sé os seus primeiros estudos, tomando mais tarde, em 1210 ou 1211, o hábito de Cónego Regrante de Santo Agostinho, em São Vicente de Fora, pela mão do Prior D. Estêvão.
Ali permaneceu até 1213 ou 1214, data em que se deslocou para o austero Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde realizou os seus estudos superiores em Direito Canónico, Ciências, Filosofia e Teologia.
Segundo a tradição, talvez um pouco lendária, o Santo tinha uma memória fora do comum, sabendo de cor não só as Escrituras Sagradas, como também a vida dos Santos Padres.
As relíquias dos Santos Mártires de Marrocos que chegaram a Coimbra em 1220, fizeram-no trocar de Ordem Religiosa, envergando o burel de Frade Franciscano e recolher-se como Eremita nos Olivais. Foi nessa altura que mudou o seu nome para António e decidiu deslocar-se a Marrocos, onde uma grave doença o reteve todo o inverno na cama. Decidiram os superiores repatriá-lo como medida de convalescença.
Quando de barco regressava a Portugal, desencadeou-se uma enorme tempestade que o arrastou para as costas da Sicília, sendo precisamente na Itália que iria revelar-se como teólogo e grande pregador.
Em 19 de Março de 1222 em Forli, falou, perante religiosos Franciscanos e Dominicanos recém ordenados sacerdotes e, tão fluentemente o fez que o Provincial pensou dedicá-lo imediatamente ao apostolado.
Fixou-se em Bolonha onde se dedicou ao ensino de Teologia, bem como à sua leitura. Exercendo as funções de pregador, mostra-se contra as heresias dos Cátaros, Patarinos e Valdenses. Seguiu depois para França com o objectivo de lutar contra os Albijenses e em 1225 prega em Toloso. Na mesma época foi-lhe confiada a guarda do Convento de Puy-en-Velay e seria custódio da Província de Limoges, um cargo eleito pelos Frades da região. Dois anos mais tarde instalou-se em Marselha, mas brevemente seria escolhido para Provincial da Romanha.
Assistiu à canonização de São Francisco em 1228 e deslocou-se a Ferrara, Bolonha e Florença. Durante 1229 as suas pregações dividiram-se entre Vareza, Bréscia, Milão, Verona e Mântua. Esta actividade absorvia-o de tal maneira que a ela passou a dedicar-se exclusivamente. Em 1231, e após contactos com Gregório IX, regressou a Pádua, sendo a Quaresma do ano seguinte marcada por uma série de sermões da sua autoria.
Instalou-se depois em casa do Conde de Tiso, seu amigo pessoal, onde morreu em 1231 no Oratório de Arcela.
O facto de ter sido canonizado um ano após a sua morte, mostra-nos bem qual a importância que teve como Homem, para lhe ter sido atribuída tal honra. Este acto foi realizado pelo Papa Gregório IX, que lhe chamou "Arca do Testamento".
Considerado Doutor da Igreja e alvo de algumas biografias, todos os autores destas obras são unânimes em considerá-lo como um homem superior. Daí os diversos atributos que lhe foram conferidos: "Martelo dos hereges, defensor da fé, arca dos dois Testamentos, oficina de milagres, maravilha da Itália, honra das Espanhas, glória de Portugal, querubim eminentíssimo da religião seráfica, etc.".
Com a sua vida, quase mítica, quase lendária, mas que foi passando de geração em geração, e com os milagres que lhe foram atribuídos em bom número, transformou-se num taumaturgo de importância especial.
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Fonte: Transcrição da FAMÍLIA CRISTÃ,
feita pela Ecclesia, onde pode ler mais...

A nossa gente


MANUEL TELES



Nascido (1935), criado e vivido nesta Terra Maruja, no seio de uma conhecida família onde muitos artistas se revelaram, Manuel Teles bem cedo começaria a dar mostras de algum jeito para as artes de Palco.
Estreou-se assim nas célebres Récitas da velhinha Sede dos Escuteiros recitando e cantando monólogos, por mão do Reverendo Padre Miguel da Cruz.
Estudante do Secundário no saudoso Colégio João de Barros (Ílhavo), tornou-se conhecido pelo seu sentido de humor (e brincadeira), o que em nada ajudou a conclusão do Curso…
Com a aparição do “Girassol das Surpresas”, que era um espectáculo musical de Variedades, levado à cena em 1954 em benefício da aquisição da primeira ambulância dos nossos Bombeiros, Manuel Teles dá largas à sua queda para apresentador e imitador. Passou então a ser solicitado para as mais diversas actividades que tivessem a ver com o seu jeito (diziam!) para estar e falar em público. Colaborou em inúmeras iniciativas de cariz beneficente em favor das mais diversas instituições da nossa Terra (e não só).
Também no serviço militar viria a granjear grandes amizades, que perduram, graças ao seu sentido de humor e camaradagem, por vezes em situações menos alegres…
Feita a “tropa” ingressa na Fábrica da Vista Alegre (1958), primeiro como controlador/cronometrador, depois como adjunto do Serviço de Racionalização, responsável pelo Centro Gráfico, acabando como Chefe dos Serviços Sociais da Empresa. Ali teve a oportunidade de integrar o Grupo Cénico, colaborar com o Orfeão e Banda de Música, Corpo de Bombeiros Privativo e em múltiplas iniciativas que levaram bem alto o lema “Labor e Cultura”.
A par destas actividades manteve-se ligado à Rádio Faneca desde 1954, animando as tardes e noites de “picadeiro” em Ílhavo e na Costa Nova, ate 1979 e 1998 respectivamente. Ainda agora é responsável pela “reposição” das Tardes da Rádio Faneca levadas a efeito periodicamente pela Associação Chio-pó-pó.
Manuel Teles está ligado às Marchas Populares desde o seu aparecimento, sempre como apresentador/animador, mostrando com a sua graça e à-vontade, que “quem sabe não esquece”, colaborando graciosamente com a CMI na gestão desta iniciativa.
Por tudo isto, e pelo muito que Manuel Teles ainda tem para partilhar connosco, a agenda Viver Em dedica, neste mês de S. João, a rubrica A Nossa Gente ao Senhor Manuel Teles.
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Fonte: VIVER EM... da CMI

terça-feira, 12 de junho de 2007

Dia de Portugal

Presidência da República
protesta junto da RTP
A Presidência da República dirigiu uma carta ao Conselho de Administração da RTP a propósito da transmissão das Cerimónias Comemorativas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas : Em carta dirigida ao Conselho de Administração da Rádio e Televisão de Portugal, a Presidência da República questionou o modo como foram transmitidas, no canal 1 da RTP, as Cerimónias Comemorativas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Atendendo às especiais responsabilidades inerentes à prestação do serviço público de televisão, afigura-se incompreensível que a transmissão daquelas cerimónias haja sido interrompida, contrariando uma prática há muito estabelecida e sem que quaisquer razões de programação o justificassem. Ao proceder deste modo, e ao invés do que tem acontecido em anos anteriores, o canal público de televisão privou os Portugueses e as Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo de acompanharem na íntegra as cerimónias comemorativas do dia 10 de Junho, facto que a Presidência da República considera inaceitável.
Fonte: Site da Presidência da Répública
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NOTA: Há critérios jornalísticos que tenho dificuldade em compreender. Por esta e por outras, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas está a ser cada vez mais desvalorizado, levando o povo a ficar indiferente à efeméride. Pergunto: a RTP seria capaz de suspender a transmissão de um jogo de futebol, em especial da nossa selecção? Seria capaz de interromper a transmissão, em directo, da chegada de um qualquer craque de futebol ao aeroporto? Penso que não. Então...há que ter a coragem de levar os responsáveis a explicarem os seus critérios de trabalho.
F.M.

Ancoradoiro à antiga


ASSIM É QUE ESTÁ BEM...



Há dias, quando critiquei, para um amigo, o aspecto desta marina improvisada pelos pescadores, no local onde terminava a antiga ponte de madeira que ligava o Forte à Barra, logo ele adiantou, com alguma razão, por entre as minhas gargalhadas, mais palavra, menos palavra: Assim é que está bem; no dia em que fizerem uma moderna, eles terão de pagar o sítio da amarração das bateiras; como está, é de graça.
Tem razão o meu amigo. O povo, com os seus improvisos, lá se vai desenrascando sem mais gastos… A não ser que melhorassem os ancoradoiros, sem mais despesas para os pescadores.

Um livro de Gonçalo Cadilhe

Uma viagem épica
por um continente impressionante





ÁFRICA ACIMA


Acabei de ler, há dias, África Acima, um livro que recolhe crónicas semanais que Gonçalo Cadilhe publicou no EXPRESSO durante vários meses. É, no fundo, um relato de uma viagem de oito meses em que o jornalista percorreu 27 mil quilómetros através de África, viajando desde o Cabo da Boa Esperança, no Sul, até ao Estreito de Gibraltar, no Norte.
Confirmo o que reforça o título na capa. Trata-se, de facto, de “uma viagem épica por um continente impressionante”, com o viajante e aventureiro, o figueirense Gonçalo Cadilhe, a descobrir, com outros olhares, África do Sul e Namíbia, Botsuana e Zimbabué, Zâmbia e Angola, República do Congo e Gabão, Camarões e Nigéria, Níger e Mali, Mauritânia e Marrocos.
Acompanhei, com muito gosto, o autor, que antes havia escrito Planisfério Pessoal e A Lua Pode Esperar, na descoberta de paisagens únicas, no contacto com outros povos e outras civilizações, no encontro com amigos e desconhecidos, na contemplação dos mistérios africanos, nos diálogos com gente prestável e com gente corrupta, nas deslocações por estradas desfeitas e por caminhos de terra batida. Sempre por terra, com os pés bem assentes no chão. Nunca de avião, que “voar sobre África não é viajar por África”, realça o meu cicerone, nesta viagem em que nos convida a imitá-lo, um dia… se pudermos criar em nós este prazer de conhecer outras terra e outras gentes, ao vivo.
A pé ou de moto, de táxi ou autocarro, de camião, de barco e de comboio, Gonçalo Cadilhe ensinou-me a conversar com pessoas estranhas e hostis, cordatas e disponíveis, colaborantes e amigas, honestas ou desonestas, abertas ou fechadas. Recordou-me que há sempre um português em qualquer esquina, um amigo em cada canto, um gesto de simpatia onde menos se espera. Mostrou-me muita riqueza natural e pobreza extrema por todos os lados, com atrasos ancestrais e desafiarem-nos à cooperação com os africanos.
A natureza que o apaixonou também me apaixonou. E a sua visão do mundo leva-me a pensar sobre quanto e como eu poderia ser diferente, no modo de contemplar e ajudar, mesmo de longe, a humanidade sofredora daquele recanto imenso ainda à nossa espera.
Diz o autor: “Cada vez me revolta mais a existência de um jardim zoológico. São várias as violações cometidas sobre os animais, não percebo com que justificação. Para as crianças poderem passar um domingo diferente? Para poderem ver ao vivo os bichos selvagens? Não justifica a existência dessa cruel instituição que é o equivalente na natureza à prisão perpétua nas sociedades humanas, com a diferença de que os animais do zoológico não cometeram qualquer crime.”
E acrescenta: “Não falemos então dos circos de animais. Se o zoo é a prisão perpétua, o circo é o desterro com trabalhos forçados.”
Se puderem, ou quando puderem, leiam África Acima de Gonçalo Cadilhe. Será, sem dúvida, como foi para mim, uma viagem fascinante.

Fernando Martins

Um artigo de Alexandre Cruz

Que modelo de desenvolvimento?
1. Para os chamados países desenvolvidos, para os países em processo de estruturação do seu desenvolvimento, a questão sobre o modelo de vida a seguir apresenta-se cada vez mais como a questão decisiva. Sendo verdade que muitas forças (umas às claras outras obscuras) existem que condicionam os caminhos de desenvolvimento saudável e justo, tanto lá longe como cá perto, todavia, a questão fundamental do futuro das sociedades não se pode desnortear na indiferença reinante, antes terá de ser assumida por todos como reflexão transversal. Aliás, a própria indiferença generalizada convém às forças obscuras que assim melhor controlam as suas vontades unilaterais e muitas vezes menos servidoras de TODOS, porque menos auscultadoras da realidade real. Democracia, cada vez mais, terá de ser sinónimo de participação de TODOS … quando não, deixa de o ser transformando-se em oligarquia (seja política seja económica). Naturalmente, neste processo de construção comum, as elites pensantes, às claras, assumirão um papel relevante de liderança do debate… 2. Um enorme perigo atravessa os processos de desenvolvimento das sociedades: por impossibilidade de acesso ou por distracção individualista, o alienar-se da vida social do bem comum e só aparecer na hora de apagar o fogo. Há países em vias de desenvolvimento onde ainda é impossível o aceder democrático às questões fundamentais de todos nessa sociedade em embrião; há países (tipicamente ocidentais) que se têm esquecido de alimentar a liberdade participada, o que vai gerando uma certa anemia social permiável ao controle social de uns pequenos grupos na sombra, que terão tanta mais força quanto mais a indiferença avançar. Que sensibilidade para TODOS (re)pensarmos o modelo de desenvolvimento que estamos a construir? Onde estão os lugares, dos formais aos informais, para estas questões virem à ribalta e serem plataforma de diálogo, encontro, perspectiva de um futuro comum para TODOS e CADA UM? 3. Nos últimos anos tem crescido a noção e necessidade de uma cidadania assumida na vida cívica diária. Certamente que nesta cidadania pretendida não está inscrita a limitada visão provinda da Revolução Francesa (1789), quando nos direitos do homem e do cidadão não havia ainda lugar para a dignidade do ser humano. O regresso do discurso das cidadanias – espelhado em tantos movimentos cívicos - certamente quererá despertar um adormecimento generalizado naquilo que deverão ser as preocupações de TODOS, não só no cumprimento dos direitos e deveres (como é típico da cidadania) mas numa abertura disponível para a construção social ética e dignificante (como sabemos a lei – pedagógica - não pode ser o centro de tudo, até porque nem tudo o que é legal é ética e dignamente correcto). Nas nossas sociedades, viveremos ainda (ou já) numa mentalidade generalizada em que a preocupação das coisas de cada um é o centro de tudo? E a preocupação comunitária pelo bem de TODOS? Sem esta raiz a comunidade desaparece e a democracia seca… 4. A questão do modelo de desenvolvimento (?) não pode ser lateral, hoje, a todos os processos sociais, da formação/educação à política/gestão económica. O planeta que nos pede que o salvemos ecologicamente propõe-nos que nos salvemos a nós próprios numa abertura humana, sensível e solidária, capaz de reflectir abertamente para redefinir o modelo em que nos temos construído. À desigualdade social que cresce, geradora de profundos desequilíbrios que alastram, torna-se imperioso propor paradigmas de um estilo de vida que não assente no consumo do “ter” mas que revalorize bem mais o “ser”. Neste contexto, em tempos de globalização diária, uma obra de referência de Amartya Sen (prémio nobel da economia 1998), «O Desenvolvimento como Liberdade» (2003, Gradiva), propõe-nos a reflexão sobre o essencial: terá de ser a Liberdade o eixo que determina o desenvolvimento humano e não os euros, os dólares ou as menos claras vontades políticas unilaterais. Que também nas nossas sociedades a liberdade (empenhada por isso responsável no debate, na reflexão para decisões comunitárias) seja o caminho do aprofundamento da nossa própria democracia. Que modelo de desenvolvimento? Estamos disponíveis para mudar a bem de todos? E quem, no panorama mais elevado, nos dá esse generoso exemplo congregador?

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Dia de Portugal

QUANDO É QUE FIGURAS HUMILDES
TAMBÉM SÃO CONDECORADAS?
O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas foi celebrado ontem, com a já conhecida indiferença do nosso povo. Poucos são os que, neste dia, se debruçam sobre a importância destas comemorações, não obstante o Estado, através das suas figuras mais representativas, as promoverem com empenho. O povo, segundo se sabe, olha mais para o dia de descanso, em si, do que para a festa de que é suposto estar-lhe associada. É assim, aliás, com a grande maioria dos feriados nacionais e municipais. Com os dias santos, no entanto, há a componente religiosa e cultual, que ainda vai mobilizando os crentes mais fervorosos. No dia 10 de Junho, o Presidente da República costuma, respeitando a tradição, condecorar algumas personalidades que se distinguiram em várias campos da vida nacional. Umas são bem conhecidas, outras nem tanto. Sentimos sempre que falta por ali alguém que, a nosso ver, merecia a honra da distinção; estranhamos a presença de outros tantos. Este ano foi condecorado o Bispo Emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, pessoa bem conhecida de todos os portugueses, pela forma voluntariosa como ao longo de anos defendeu os interesses dos pobres, dos humildes, dos trabalhadores mais desfavorecidos. Mostrou-se honrado com a condecoração, mas logo acrescentou não ter perdido ainda a esperança de ver, um dia, condecorados “um homem ou mulher anónimos”. Daqueles que, nas nossas comunidades, fazem muito mais do que algumas figuras públicas, digo eu. Fernando Martins

domingo, 10 de junho de 2007

Outras informações, na comunicação social

ARTE E CIÊNCIA, NO PÚBLICO
No segundo caderno do PÚBLICO, P2, há, diariamente, outras informações, para além das habituais notícias. Pequenos textos, é certo, que dizem muito. Logo na página 2, na primeira coluna, podemos ler um qualquer tema, sempre interessante, sobre o nosso património artístico, valiosíssimo, a que normalmente não temos acesso. Muitos de nós, quando viajamos, raramente procuramos os museus, que os há por toda a parte, felizmente. Com estes textos, pode ser que nos habituemos a registá-los, para os vermos, ao vivo, quando passarmos pelas povoações que os acolhem. No PÚBLICO de hoje, por exemplo, podemos ficar a saber que o Busto de Santa Catarina de Alexandria integrava a antiga banqueta, constituída por seis bustos de santos, igual número de tocheiros e um crucifixo, possuindo ainda o museu o de Santo António. O busto de Santa Catarina, da primeira metade do século XVIII, pode ser apreciado no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra. Na página 3 está também, todos os dias, um pequeno escrito de divulgação científica. Desta feita, a jornalista Ana Gerschenfeld revela-nos que, a partir de estudos elaborados no âmbito da ONU, “um batalhão de peritos concluiu que, devido a uma combinação de alterações climáticas e de destruição dos habitats, a sobrevivência de 400 a 900 espécies de aves vai ficar seriamente ameaçada nas próximas décadas”.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 27


A LARANJEIRA
DE SANTA ISABEL



Caríssima/o:


Encontrei esta lenda na sala de aula do professor Saturnino, nas Práticas que faziam parte curricular do Curso do Magistério; após as orientações teóricas dos pedagogos e mestres da Didáctica, íamos para as escolas primárias onde professores devidamente credenciados nos orientavam na leccionação (planos, preparação de material, contacto com os alunos, perfil psicológico e ... a sua maneira de ser e de estar). Creio que muitos de nós seremos capazes de recitar de memória esta saborosa poesia!


«Depois da morte del-rei D. Dinis, sua esposa D. Isabel resolveu ir em peregrinação a Santiago de Compostela. Já o povo lhe chamava Rainha Santa, e acudia aos lugares por onde ela passava, a implorar a sua caridade.
Quando seguia pela estrada de Coimbra ao Porto, entrou D. Isabel numa casa que servia de estalagem, a descansar das fadigas da jornada. Estava lá uma criança cega de nascença, e bastou que a Santa Rainha lhe pusesse a mão na cabeça para que os olhos se lhe abrissem à luz do Sol.
- Real Senhora, como vos hei-de agradecer tamanho milagre? - perguntou a mãe da criancinha.
- Está muito calor! - disse D. Isabel. - Dá-me uma laranja do teu quintal.
Grande foi a confusão da mulher, porque só tinha laranjas azedas; mas, para não desobedecer à Santa, correu a buscá-las.
Ao comer uma, D. Isabel deixou cair no chão uma semente, e desta nasceu uma laranjeira que dava laranjas doces, cada uma das quais trazia junto ao pé as cinco quinas das armas de Portugal.
Nessa terra, chamada Arrifana de Santa Maria, nunca mais se puderam esquecer os milagres da Rainha. A árvore secou há muito; mas toda a gente ainda fala na laranjeira de Santa Isabel.»
[Livro de Leitura da 3.ª Classe, 4.ª edição, 1958, Lello Editores, pg. 54]

Ao recordar os dias tórridos que vivi, calcorreando as calçadas de Coimbra, acode-me esta lenda e vem-me à boca o sumo das laranjas que, ainda crianças, ali no nosso canto, nos vendiam como “laranjas de Mira”. Com este sabor azedo fácil me é imaginar a aflição e a confusão da boa mulher!
E estou convencido que qualquer um de nós gostaria de ir por um olho para fazer uma enxertia de tão maravilhosa laranjeira...
Afinal há lendas que até nos maravilham com o bom e o belo!


Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


REZAR PARA QUÊ?
REPENSAR A ORAÇÃO
DE PETIÇÃO




Não há palavras, diante de pais em choro pela perda de um filho: "Tanto pedimos a Deus que nos salvasse o nosso filho, e ele não nos ouviu!..."
Uma vez, uma senhora ainda jovem, muito doce, a quem a mãe morrera seca com o sofrimento, atirou-me: "Sabe? Às vezes penso que Deus não pode ajudar a todos. São tantos a pedir... Coitadinho!..."
É verdade: Deus não pode ouvir as orações todas nem satisfazer todos os pedidos.
O teólogo Andrés Torres Queiruga disse-o de modo chocante, quase brutal, mas, para o crente reflexivo, verdadeiro. Tomemos como exemplo esta oração: "Para que as crianças de África não morram de fome, oremos ao Senhor." "Objectivamente, uma petição deste tipo implica o seguinte: 1. que nós somos bons e tentamos convencer Deus a sê-lo também; 2. que Deus está passivo enquanto o não convencermos, se formos capazes; 3. que, se, no domingo seguinte, as crianças africanas continuarem a morrer de fome, a consequência lógica é que Deus não nos ouviu nem teve piedade; 4. que Deus, se quisesse, podia solucionar o problema da fome, mas, por um motivo qualquer, não quer fazê-lo." Conclui: "Sem pretendê-lo conscientemente, mas presente na objectividade do que dizemos, estamos a projectar uma imagem monstruosa de Deus: não só ferimos a ternura infinita do seu amor sempre disposto a salvar como, além disso, acabamos por dizer implicitamente algo que não nos atreveríamos a dizer do mais canalha dos humanos."
Quando se reflecte, percebe-se claramente que a chamada oração de petição exige ser repensada. Deus, porque é Força criadora infinita, não intervém de fora, e quem acredita que Deus é Amor não pode estar a implorar-lhe que tenha piedade. Fazê-lo é contradizer-se.
Compreende-se - isso sim - que o crente, na sua dor e frente ao horror do mundo, ore, fazendo perguntas e gritando com Deus. Job, sentindo-se inocente, queria levar Deus a um tribunal que julgasse com independência. Está na Bíblia! Jesus rezou na cruz: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?" E, como sabia o teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer, executado pelo nazismo, o crente terá cada vez mais de aprender a "viver diante de Deus e com Deus sem Deus".
Não há Homem religioso que não reze. Mas, como diz o Evangelho, é preciso pedir o que a maior parte das vezes se não quer pedir: o Espírito Santo e a conversão. Na verdade, não se trata de converter Deus à vontade humana e aos seus caprichos, ao seu orgulho e vaidade, à sua avareza e ganância, mas de o Homem se converter ao que Deus quer: simplicidade, capacidade de partilha, humildade, paciência e todas aquelas virtudes que já não estão muito em uso, mas tornam o Homem humano e trazem paz.
Quem não deseja ardentemente estar com o Amor? Rezar é marcar encontro com Deus, Anti-mal e Fundamento de todo o ser - Deus é Presença intimíssima e infinitamente activa em todo o real. Nesse encontro, o Homem faz então a experiência da religação à Fonte criadora e dinamizadora de tudo, reconcilia-se com a finitude e, depois de ter descido ao mais profundo, volta ao quotidiano da vida com esperança e serenidade, aquela serenidade de que fala Santa Teresa de Ávila: "Nada te perturbe. Nada te espante. Tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem Deus nada lhe falta. Só Deus basta."
No entanto, a serenidade não significa passividade nem resignação. Pelo contrário, quem foi ao encontro do Deus que, como diz o Evangelho, mora no oculto, "identifica-se" com ele e com o seu amor e entrega-se ao cuidado da sua obra, a começar por quem mais precisa: o pobre, o escarnecido, o humilhado, o doente, o chicoteado, o velho, o deficiente, qualquer um que sofre. Afinal, é mesmo possível, por exemplo, nós acabarmos com a fome em África!
O Evangelho diz que Deus sabe do que os seres humanos precisam, antes de lho pedirem. Por isso, previne contra o longo palavreado vão de quem reza. Manda é o silêncio e a paz interior, para que ele possa entrar: "Tu, quando orares, entra no teu quarto, e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai."

sábado, 9 de junho de 2007

JACINTA



A MELHOR ARTISTA JOVEM
DE JAZZ DA EUROPA
:

É sempre com muita satisfação que leio notícias e comentários que enaltecem o mérito de pessoas que conheço e admiro. Hoje deu-se o caso de ler que a cantora Jacinta, artista de jazz de larga projecção, foi escolhida por 20 editores europeus da revista Selecções Reader's Digeste como a "melhor artista jovem de jazz" da Europa. Jacinta, de 36 anos, é a única presença portuguesa entre as 27 categorias escolhidas, como "a melhor festa" ou "a melhor arte de rua".
Aqui ficam os meus parabéns para a minha amiga e conterrânea Jacinta, com votos de que continue a progredir na sua carreira profissional e artística.

O drama da Manuela

O ESTADO
É UMA ENTIDADE SEM ALMA
O drama da Manuela Estanqueiro, professora de 63 anos que bem conheci, veio na comunicação social do País. Com leucemia há dois anos, foi obrigada pelas leis portuguesas a regressar ao serviço, para não perder o vínculo que a ligava ao Estado desde que começou a trabalhar. Bem requereu a aposentação por incapacidade, mas a Junta Médica entendeu que ela podia regressar ao trabalho. Acabou por morrer há dias sem poder usufruir da reforma, que, entretanto, e depois dos requerimentos e protestos, o Estado decidiu atribuir-lhe. A Manuela Estanqueiro foi uma lutadora. Sofreu muito na vida, mas arranjou sempre coragem para vencer os obstáculos que se lhe deparavam. Nunca desistiu de lutar, mesmo sabendo que era difícil o caminho que tinha de trilhar. No fim de tanta luta, aconteceu-lhe a leucemia, quando se aproximava o sonho de poder gozar a reforma. Mas as entidades estatais são implacáveis. Apoiando-se no princípio de que a lei é para cumprir, e é normalmente, não conseguem olhar com humanidade para os que sofrem. Tem leucemia? Que importa? Tem de voltar à Escola para leccionar, como se fosse uma gripe. Assim mesmo. Sem contemplações. A crueza do Estado, que devia ser pessoa de bem, mas não é. A frieza de sentimentos do Estado, que não repara no drama dos seus filhos. Filhos que trata com enteados, tantas vezes. Que há portugueses a quem nada falta: pensões de reforma escandalosas, em duplicado ou triplicado, acumulações de rendimentos profissionais com pensões, benesses para uns e o estrito cumprimento da lei para a maioria. Reformas antecipadas para muitos e a obrigação de voltar ao serviço, mesmo para quem sofre de doença que não perdoa. Como aconteceu à Manuela. A família não descarta a ideia de levar o Estado a Tribunal, para que justiça seja feita. A Manuela já não lucrará com isso. Mas pode ser que a desumanidade no Estado acabe de uma vez por todas. Fernando Martins

quinta-feira, 7 de junho de 2007

POBREZA

É CADA VEZ MAIOR O LEQUE
ENTRE QUEM TEM MUITO DINHEIRO
E QUEM NÃO TEM NENHUM
:
“Papa, bispos católicos, Igrejas protestantes, grupos de crentes e missionários. Em uníssono, responsáveis religiosos de várias Igrejas cristãs apelaram, nos últimos dias, a que os líderes do G8 cumpram as promessas de ajuda aos países mais pobres. Ontem, Bento XVI pediu aos políticos reunidos em Heiligendamm (Alemanha) que respeitem o compromisso de apoio ao desenvolvimento, nomeadamente em relação a África.” Assim li no PÚBLICO de hoje, em texto de António Marujo. Há anos que as sociedades democráticas sabem que a pobreza teima em estar no mundo. Nas ditaduras, da esquerda e da direita, essa realidade tem sido ignorada ou escondida. Mas a pobreza, a vários níveis, parece não ter solução à vista. Como parece não ter solução à vista a erradicação das causas que alimentam a fome no mundo. Por mais que economistas, sociólogos, políticos e outros sábios pensem sobre o assunto… Por mais decretos e projectos que avancem sob sua tutela, a verdade é que em Portugal, por exemplo, 20 por cento da população passa fome e sofre as consequências das ditaduras das leis do mercado e do capitalismo selvagens, sem olhos e sem alma para ajudar quem precisa. E ao crescimento, progressivo, do número de pobres, de gente que tem de sobreviver com ordenados e pensões de reforma miseráveis, mostram-se, escandalosamente, os lucros dos bancos e de outras organizações que apenas pensam em gerar mais-valias para os seus cofres. Na África, na Ásia, na América Latina e em muitos países europeus a pobreza alastra, a fome aperta, os indigentes multiplicam-se e os países ricos olham indiferentes para as carruagens dos esfomeados e endividados, neste mundo em que é cada vez maior o leque entre quem tem muito dinheiro e que não tem nenhum.
F.M.

Um artigo de D. António Marcelino

Teremos ainda Portugal
por muito tempo?
O título tem um tom provocatório, mas eu vou justificar. Não digo que esteja para breve o nosso fim de país independente e livre. Mas, pelo andar da carruagem, traduzido em factos e sintomas, a doença é grave e pode levar a uma morte evitável. Aliás, já por aí não falta gente a lamentar a restauração de 1640 e a dizer que é um erro teimarmos numa península ibérica dividida. De igual modo, falar-se de identidade nacional e de valores tradicionais faz rir intelectuais da última hora e políticos de ocasião. O espaço nacional parece tornar-se mais lugar de interesses, que de ideais e compromissos. Há notícias publicadas a que devemos prestar atenção. Por exemplo: um terço das empresas portuguesas já é pertença de estrangeiros; 60% dos casais do país têm apenas um filho; vão fechar mais cerca de mil escolas ou de mil e trezentas, como dizem outras fontes; nas provas de língua portuguesa dos alunos do básico, os erros de ortografia não contam; o ensino da história pouco interessa, porque o importante é olhar para a frente e não perder tempo com o passado; a natalidade continua a descer e, por este andar, depressa baterá no fundo; não há nem apoios nem estímulos do Estado para quem quer gerar novas vidas, mas não faltam para quem quiser matar vidas já geradas; a família consistente está de passagem e filhos e pais idosos já não são preocupação a ter em conta, porque mais interessa o sucesso profissional; normas e critérios para fazer novas leis têm de vir da Europa caduca, porque dela vem a luz; a emigração continua, porque a vida cá dentro para quem trabalha é cada vez mais difícil; os que estão fora negam-se a mandar divisas, por não acreditarem na segurança das mesmas; os investigadores mais jovens e de mérito reconhecido saem do país e não reentram, porque não vêem futuro aqui; a classe média vai desaparecer, dizem os técnicos da economia e da sociologia, uma vez que o inevitável é haver só ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres; os políticos ocupam-se e divertem-se com coisas de somenos; e já se diz, à boca cheia, que o tempo dos partidos passou, porque, devido às suas contradições, ninguém os toma a sério; a participação cívica do povo é cada vez mais reduzida e mais se manifesta em formas de protesto, porque os seus procuradores oficiais se arvoram, com frequência, em seus donos e donos do país e fazedores de verdades dúbias; programa-se um açaime dourado para os meios de comunicação social; isolam-se as pessoas corajosas e livres, entra-se numa linguagem duvidosa, surgem mais clubes de influência, antecipam-se medidas de satisfação e de benefício pessoal… Não é assim, porventura, que se acelera a morte do país, quer por asfixia consciente, quer por limitação de horizontes de vida? É verdade que muitos destes problemas e de outros existentes podem dispor de várias leituras a cruzar-se na sua apreciação e solução. Mais uma razão para não serem lidos e equacionados apenas por alguns iluminados, mas que se sujeitem ao diálogo das razões e dos sentimentos, porque tudo isto conta na sua apreciação e procura de resposta.
Há muitos cidadãos normais, famílias normais, jovens normais. Muita gente viva e não contaminada por este ambiente pouco favorável à esperança. Mas terão todos ainda força para resistir e contrariar um processo doentio, de que não se vê remédio nem controle?
Preocupa-me ver gente válida, mas desiludida, a cruzar os braços; povo simples a fechar a boca, quando se lhe dá por favor o que lhes pertence por justiça; jovens à deriva e alienados por interesses e emoções de momento, que lhes cortam as asas de um futuro desejável; o anedótico dos cafés e das tertúlias vazias, a sobrepor-se ao tempo da reflexão e da partilha, necessário e urgente, para salvar o essencial e romper caminhos novos indispensáveis. Se o difícil cede o lugar ao impossível e os braços caem, só ficam favorecidos aqueles a quem interessa um povo alienado ao qual basta pão e futebol…
Mas não é o compromisso de todos e a esperança activa que dão alma a um povo?

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Um livro de João Alberto Roque

Para pais e crianças







“PIRILAMPO E OS DEVERES DA ESCOLA”




O meu amigo e conterrâneo João Alberto Roque ganhou, há bas-tante tempo, como aqui referi na altura, o primeiro prémio do V Concurso Literário da Trofa – Conto Infantil, que teve por patrona Matilde Rosa Araújo. Trata-se de um conto, agora publicado, que enaltece a importância dos estímulos na formação das nossas crianças.
João Alberto Roque escreve há muito, tendo as gavetas do disco duro do seu computador “cheias de papéis”, sobretudo poesia e contos, como se diz na sua biografia inserida nesta primeira edição de “Pirilampo e os deveres da escola”, da responsabilidade da Inovação à Leitura – Edição e Comércio de Publicações, Lda. As ilustrações são de Helena Zália.
Vou abster-me de contar a estória do David, que li num ápice. Porém, quero sublinhar que todos os pais deviam conhecê-la, para então aplicarem, o que for de aplicar, na educação dos seus filhos, regras tão simples, mas tão esquecidas. Digo mais: a estória ainda se apoia em conceitos pedagógicos, ou não seja o autor um professor da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, com larga experiência no ensino.
António Torrado, Armandina Maia, Matilde Rosa Araújo e Viale Moutinho, que integraram o júri que atribuiu a João Alberto Roque o primeiro lugar no concurso organizado pela Câmara Municipal da Trofa, apadrinharam esta estreia literária deste meu amigo e conterrâneo.
Com os meus parabéns, aqui deixo o desejo de que outras obras nos continuem a mostrar as reais capacidades literárias deste escritor da Gafanha da Nazaré.

Fernando Martins